A importância das ações transmídia na segunda temporada de Stranger Things


 
Finalmente, após 4-6-8 dias (pegou a referência?!), Stranger Things voltou para as nossas vidas! Uma das séries mais aclamadas pelos fãs, que conquistou crianças, jovens e adultos pelo mundo estreou seus novos episódios no último dia 27 no serviço de conteúdo on demand Netflix. Com uma sacada de lançar nas vésperas do Halloween, a temporada aprofunda os arcos narrativos e, é claro, apresenta inúmeras referências de filmes de terror e comédia.

Para quem não viu a temporada ainda (shame on you!), nessa nova aventura, Will enfrenta um “estresse pós-traumático” que ao longo da série vai se mostrando algo bem maior do que isso, a inserção de uma nova e misteriosa personagem, Dustin e Lucas conhecendo pela primeira vez o sentido de crush, Mike se encontra desolado e desesperado à procura de Eleven, e a grande pergunta deixada no final da primeira temporada é esclarecida: pra onde foi e o que aconteceu com El?

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Seguindo a proposta cronológica da franquia de Harry Potter, a trama da Netflix explora o amadurecimento dos personagens com a transição da fase infantil para o começo da adolescência, onde os perigos enfrentados se tornam maiores, mais poderosos e obscuros. A medida em que os arcos narrativos vão se desdobrando, podemos observar a quebra do padrão Scooby-Doo de “crianças enxeridas resolvendo mistérios” se transformando em algo mais denso, levando os telespectadores a refletirem sobre questões como, por exemplo, o amadurecimento e a busca pela a identidade.




Os novos episódios de Stranger Things também exploram a (assustadora!) imbricação entre a imaginação e o mundo real e como o resultado dessa mistura pode ser mais assustador do que parece. Nesse contexto, o terror deixa de ser uma leve brincadeira, se revelando algo que pode transformar e mudar a sua vida, e a todos ao seu redor para sempre.


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Como não podia faltar, a segunda temporada da série veio cheia das referências, algumas já mostradas aqui, que levam os fãs a nostalgia e a histeria. Os roteiristas de Stranger Things não economizaram nas intertextualidades. As alusões aos filmes, programas de TV, livros e a estética da década de 1980 perpassa a trama da Netflix e abrange as ações transmídia.

Discutido por Jenkins (2008) o conceito de narrativa transmídia que nada mais é do a expansão de uma trama (seja ela uma série, um filme, um livro, etc.) em várias plataformas. Como ressalta o autor, cada meio explora um ponto da nave mãe, porém é fundamental que esses desmembramento da história central sejam independentes para que o público não tem que consumir, obrigatoriamente, cada uma deles.

As ações transmídia podem ser observadas em várias narrativas ficcionais seriadas estadunidenses. Como, por exemplo, em Supernatural, do canal americano CW. Para aprofundar um dos arcos narrativos do programa a emissora publicou o Diário de John Winchester. Um diário ficcional, criado pelo pai dos personagens principais da atração, que sempre os ajuda nos momentos de tensão.



Lançado semanas antes da estreia da segunda temporada, o jogo Stranger Things: The Game faz referência aos clássicos de 16 bits como, por exemplo, Super Mario Bros (até os efeitos sonoros fazem referência às fases do Mario Bros).



Além de alimentar a nostalgia do público, o jogo, disponibilizado gratuitamente, apresenta conteúdos inéditos da cidade onde se passa a trama e aprofunda os sub plots dos episódios. Após enfrentar os perigos e enigmas de Stranger Things: The Game o interagente tinha acesso ao trailer (ainda inédito na época) da segunda temporada.






Além do jogo, a Netflix em parceria o serviço de streaming musical Spotify lançou playlists personalizadas para cada personagem, e desta vez, recheadas de músicas com temas relacionados ao Halloween. Na plataforma criada pelo próprio Spotify, o público pode descobrir qual personagem se aproxima mais do seu gosto musical e escutar sua playlist. O serviço gratuito entra em sua conta e lê os seus estilos musicais favoritos, e traça relação com o perfil de cada personagem.




Cada um possui uma playlist, com as músicas que dizem sobre sua personalidade. Por exemplo, a playlist do Lucas é toda voltada para as músicas Disco e Black Music, como Prince, Stevie Wonder, Michael Jackson e outros. Já a playlist de Will é mais puxada para o rock clássico e o indie, com canções do Queens, The Killers, David Bowie e The Clash. Até o Demogorgon tem uma playlist. E quando é tocada no app do Spotify para notebook e desktops, após um certo tempo sem mexer na tela, a imagem da plataforma se transforma numa aparência do mundo invertido.



A convergência entre a ficção seriada e a Internet proporcionam uma interatividade maior dos jovens com as produtoras e canais, criando assim, um diálogo que beneficia os telespectadores e as empresas. Como ressaltado por Lacalle (2010, p.92) , a juventude busca o que lhe facilita o entendimento das coisas e “ se aproxima do que lhes interessa de maneira multidimensional, explorando todas as possibilidade a seu alcance”. Esse engajamento norteado pela transmídia e pela economia afetiva faz com que grandes empresas produzam conteúdos que continuem chamando a atenção do público durante os hiatos e pausas de exibição. Desta forma, por ser uma série anual e ter um universo ficcional denso as ações como o jogo e as playlists são tão importantes para manter o interesse o público e explorar novas perspectivas dos arcos narrativos.

Referências:

JENKINS, Henry. Cultura da convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2008.

LACELLE, Charo. As novas narrativas da ficção televisiva e a internet. In Matrizes, v.3, n.2, 2010, p.70-102. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/38260/41059>. Acesso em: 11 nov. 2017. 


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