DiaTV: é uma TV na internet ou é a internet na TV?

Por: Rafael Tiago


Lançada nas redes em maio de 2023, a DiaTV é um projeto audiovisual construído pela Dia Estúdio, uma produtora que, segundo informações disponíveis no site da empresa, “conecta e oferece para a comunidade, não só produtos de entretenimento, mas valores” (DIATV, 2023, On-line). Sabendo disso, pensar na Dia Estúdio e em toda a sua trajetória é um ponto muito importante quando queremos falar sobre a DiaTV.

Ao longo dos anos, a Dia Estúdio construiu e participou da construção de conteúdos nas redes sociais em parceria com marcas e criadores digitais que, consequentemente, passaram a obter sucesso com a colaboração da produtora os agenciando e ajudando na construção de novos conteúdos e, por conta do alcance e sucesso das produções, a Dia Estúdio decidiu expandir seus horizontes e implementou uma TV na internet, a DiaTV.


Como afirma Rafa Dias, CEO da Dia Estúdio e diretor geral da DiaTV, ao Meio & Mensagem. “[...] queremos ter um canal que faça companhia ao nosso público durante o dia, em que ele possa se conectar aos programas e ter opções contínuas de conteúdo” (Meio & Mensagem, 2023, On-line)

Com transmissões diárias, 24 horas por dia, pelo YouTube, assim como pelos canais dos criadores que participam do projeto e por outras redes sociais digitais, a Dia promete trazer originalidade e construir algo que seja para todos.

Toda a popularidade da DiaTV se dá por vários motivos e, mesmo que existam semelhanças, ficam claras, também, as diferenças em relação a outros canais televisivos convencionais como a TV Globo e o SBT. Mesmo ambos tendo suas próprias plataformas de streaming na internet, existe uma diferença quando falamos de um formato televisivo criado, exclusivamente, para ser transmitido online, como a DiaTV —, fazendo com que pelos assuntos abordados, públicos-alvo e formato explorado, eles consigam mostrar as mudanças e similaridades entre o tradicional e o novo.

A convergência entre TV e internet: é algo antigo, mas é novo

A televisão é um dos principais meios de comunicação atuais, que, além de ser muito importante para a disseminação de informações, é voltada para diversos tipos de produções midiáticas, como telenovelas, séries e outros programas de entretenimento. Por muito tempo, isso fez com que as pessoas se vissem conectadas ao que era transmitido, estando focadas em assistir ao conteúdo durante o tempo de transmissão e tendo a chance de discutir o assunto, posteriormente, com outros espectadores.

Afinal, quando um espectador compartilha com os responsáveis pela emissão e com milhares de outros espectadores de um mesmo tempo, é como se todos estivessem, ao mesmo tempo, num mesmo "lugar"- um lugar que não se constitui mais materialmente, que é um espaço semiótico, um espaço "vivido" e forjado tão somente pela duração da transmissão (Fechine, 2002, p. 3).

Com o mundo contemporâneo, e as diversas modificações e evoluções da internet, a televisão foi implementando novas formas de se comunicar, para que, assim, fosse possível abranger mais pessoas e reter a audiência delas para além das transmissões feitas na TV. Deste modo, a televisão passou a integrar a internet, principalmente através das plataformas de streaming, deixando de lado as limitações de dias e horários específicos que o meio trazia, fazendo com que as pessoas tivessem mais liberdade para acessar e consumir o que desejassem.

A forma de se comunicar, seja ela verbal ou não, tem passado por constantes transformações ao longo dos anos. Antes, havia apenas o rádio, então veio a televisão e atualmente temos vivido cada vez mais o desenvolvimento da internet, com novas tecnologias que proporcionam ainda mais a visualização e consumo de determinados produtos midiáticos.

Mas, apesar disso, os meios de comunicação anteriores não deixaram de existir. O rádio ainda existe, a televisão ainda existe, e a internet chegou para acrescentar, utilizando mecanismos e formatos de produção dos meios já existentes, os reformulando para que se enquadrem melhor na proposta das redes sociais, e isso acontece com a televisão, uma vez que ela também consome muito da forma de produzir da internet (Jenkins, 2009). Como pontua Thurler (2005),

Com o surgimento das tecnologias digitais, observamos que as mídias tradicionais passaram a se apropriar das linguagens das novas mídias - e vice-versa - em uma reformulação de seus conteúdos e das maneiras como as informações são produzidas e consumidas a fim de ampliarem os serviços de comunicação e entretenimento. (Thurler, 2005, p. 4)

Segundo Jenkins (2009), as principais mídias estão convergindo para a internet, não deixando de existir, mas se adaptando para que possam englobar o pensamento cultural atual das pessoas. Por esse motivo, é possível que o prévio conhecimento do formato televisivo, agora introduzido na internet, que, por sua vez, é um ambiente de fácil acesso e que traz comodidade para seus usuários, torne a DiaTV um ponto de sucesso, com grande influência e engajamento no meio em que está inserida.

Mas tem originalidade mesmo?

Apesar de tudo isso, é importante pensarmos se toda a proposta não está apenas seguindo uma fórmula padrão para alcançar o sucesso, utilizando de forma direta uma formatação de produção já existente e utilizando a internet como uma ferramenta facilitadora.

Neste sentido, a DiaTV segue uma formatação muito baseada no que é a televisão que conhecemos, mas que isso não invalida a originalidade que ela carrega, não só por estar inserida na internet, mas sim por, constantemente, trazer narrativas e formas de fazer comunicação diferentes das que são vistas na TV. Claro, o consumo televisivo é muito forte e tem influência de diversas formas em todos os meios, mas, mesmo assim, o que é comunicado, com quem é comunicado e, o mais importante, como é comunicado, torna a DiaTV original a sua própria forma.

Através da flexibilidade que a internet proporciona, a facilidade de adaptações para diferentes tipos de audiência e o menor custo de produção em relação à televisão tradicional, o que possibilita que diferentes nichos sejam atingidos, a DiaTV incorpora o que Anderson (2006) abordou com a teoria da cauda longa. A teoria da cauda longa tem a ideia central de que produtos de nicho podem trazer mais lucros do que grandes sucessos, já que são produtos pouco encontrados pelas pessoas, o que os dá um ponto forte pela variedade oferecida, se diferenciando do restante dos produtos frequentemente comercializados, sejam eles físicos ou virtuais.

Com criadores como: Blogueirinha, Gabie Fernandes, Nátaly Neri, Lorelay Fox, Samira Close, Foquinha, Bielo, Edu e Fih (Diva Depressão), e vários outros, além de conteúdos e programas voltados, principalmente, para a comunidade LGBTQIA+, trabalhando constantemente com a diversidade de pessoas, ideias e assuntos, a produtora passou a aumentar o engajamento e a atrair mais consumidores para as produções feitas, tornando cada vez mais forte a imagem do projeto entre o público.


Sabemos que ainda hoje existem limitações no que se é consumido entre os meios de comunicação, onde o consumo tende a ir muito mais para um viés de massas, fazendo com que cada vez mais produções com os mesmos temas e aspectos sejam elaboradas, uma vez que sabem que determinado tipo de conteúdo será consumido. Mas, mesmo que esses tipos de conteúdo sejam consumidos com mais frequência, não quer dizer que novos conteúdos com as mesmas características farão sucesso, exatamente porque tantas outras produções já existem e estão, agora mesmo, sendo consumidas.

Já com a DiaTV, vemos a busca por um público diversificado, que conta com uma gama de criadores de diferentes aspectos culturais, tornando possível que temáticas anteriormente excluídas, ou pouco procuradas, sejam mais vistas e consumidas pelas pessoas.

Experiência do usuário e a interatividade com as produções da Dia

Com as redes sociais é possível que os criadores construam uma rede de engajamento com pessoas que acompanham constantemente os conteúdos produzidos por eles. Na última década, o YouTube possibilitou que isso acontecesse com diversos youtubers, aumentando o engajamento não só dos vídeos, mas também da comunidade de fãs como um todo, formando grupos de pessoas que estavam sempre comentando — interagindo entre si e com os criadores.

Com a DiaTV tendo vários desses criadores como integrantes das programações do canal atualmente, construindo uma rede de canais dentro do YouTube e nas outras redes sociais, foi possível agregar diversas pessoas na internet para acompanhar tudo o que está sendo transmitido.

Segundo Rafa Dia, “O sucesso da DiaTV está em três pilares: os influenciadores, a qualidade de produção semelhante à televisão, ao qual as pessoas se acostumaram, e a comunidade desses creators” (Meio & Mensagem, 2024, On-line)

Com a possibilidade de acompanhar tantos criadores de forma mais simplificada, com interações dentro do próprio YouTube e nas outras redes, coisa que a TV tradicional não permite dentro do próprio meio de exibição, os usuários se veem com a chance de compartilharem seus feedbacks, elogios e até mesmo críticas, diretamente na plataforma que estão usando para consumir os produtos, sejam eles ao vivo ou não.

Esse contato facilitador pode tornar a experiência mais fluida, fazendo com que as pessoas passem a ser mais ativas nas redes sociais, o que, consequentemente, contribui para o engajamento das produções feitas pela Dia em todas as redes em que ela está ativa.

O futuro do audiovisual

Com diversos meios de comunicação audiovisual coexistindo, muitas coisas podem acontecer. Mas o que podemos enxergar de agora é que, sem dúvidas, novas produções serão criadas, englobando as diversas plataformas e formatos possíveis de criação de mídia, utilizando do tradicional para criar o novo e, assim, construindo cada vez mais possibilidades de alavancar o que é criado, seja através de onde esses conteúdos estão inseridos ou até mesmo com quem eles querem alcançar e a forma que estão sendo feitos para que alcancem o que almejam.

A internet tem nos entregado coisas que antes não seriam possíveis, a integração de comunidades virtuais até a facilidade de criação de conteúdos para nichos específicos faz com que ela seja um meio de muitas possibilidades.

A DiaTV soube aproveitar isso e tem aproveitado a cada momento através do que oferecerem às pessoas que estão conectadas. Diversos produtos para consumo vêm sendo criados e alcançando engajamentos avassaladores. Desde realities shows até novelas, a Dia está conseguindo fazer uma nova forma de se comunicar, mas sem excluir o tradicional, apenas utilizando dele para, como falado anteriormente, ser original a sua própria forma.


O futuro se baseia no presente, na visualização do que está acontecendo agora. Com isso conseguimos enxergar possibilidades para o que acontecerá em semanas, meses e anos, e, sabendo dos atuais grandes sucessos da DiaTV, além das constantes possibilidades que surgem no mundo digital, podemos dizer que outros grandes sucessos estão por vir.

REFERÊNCIAS

ANDERSON, Chris. A Cauda Longa: a nova dinâmica de marketing e vendas: como lucrar com a fragmentação dos mercados. São Paulo: Campus, 2006.

DIATV. DiaTV - A tv de graça da internet | Dia Estúdio. YouTube, 19 abr. 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uLbSPSQpRAo. Acesso em: 27 de out. 2024.

HONORATO, Renan. DiaTV une criadores de conteúdo em grade de programação. Meio&Mensagem, 2023. Disponível em: https://www.meioemensagem.com.br/midia/diatv-une-criadores-de-conteudo-em-grade-de-programaca. Acesso em: 24 de out. 2024.

ENTENDA O CONCEITO de Cultura da Convergência e como aplicá-lo no Marketing Digital. Rock Content, 2022. Disponível em: https://rockcontent.com/br/blog/cultura-da-convergencia/. Acesso em: 25 de out. 2024.

FECHINE, Yvana. Televisão e estesia: considerações a partir das transmissões diretas da Copa do Mundo. Significação: Revista de Cultura Audiovisual, 2002. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/significacao/article/view/65543. Acesso em: 01 de out. 2024.

JENKINS, Henry. Cultura da convergência. 2ed. São Paulo: Aleph, 2009.

HONORATO, Renan. Quais são os desafios dos canais digitais para consolidar audiências na internet?. Meio&Mensagem, 2024. Disponível em: https://www.meioemensagem.com.br/midia/quais-sao-os-desafios-dos-canais-digitais-para-consolidar-audiencias-na-internet. Acesso em: 24 de out. 2024.

QUEM SOMOS. DiaTV. Disponível em: https://diaestudio.com/quem-somos/. Acesso em: 24 de out. 2024.

THURLER, Lamiza. TV na Internet: Reflexões sobre remediação e interatividade. Intercom, 2005. Disponível em: https://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/50851778168562590313185809035391808549.pdf. Acesso em: 25 de out. 2024.

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