Por: Jorge Ricardo
“Shigatsu wa Kimi no Uso” (四月は君の嘘 em japonês), também conhecido como “Your Lie in April”, é um anime japonês baseado numa história de mangá escrita e ilustrada por Naoshi Arakawa, de drama romântico. O mangá foi adaptado para diversos tipos de conteúdo, tais como um filme live-action, produções teatrais e um anime. O romance de Naoshi é originário de uma pequena competição, o escritor baseou a obra em si próprio e inspirou-se em mangas musicais, tais como Beck, Nodame e Cantabile. O mangá, do tipo shounen, conta com 11 volumes e foi adaptado para uma série de anime pelo estúdio A-1 Pictures, sendo lançada e exibida pela estação Noitamina da Fuji TV, a 9 de outubro de 2014, tendo o seu último episódio estreado cerca de 4 meses depois, a 19 de março de 2015. O mangá foi considerado um dos melhores mangás shounen no 37º Kodansha Manga Awards, tendo ainda sido escolhido como um dos melhores na Comic-Con International Best & Worst Manga de 2016. Em junho de 2017, já estariam em circulação cerca de 5 milhões de cópias do mangá, o que pode ser considerado um número bastante satisfatório para qualquer obra de estilo semelhante.
Capa do primeiro volume do mangá “Your Lie in April”
O anime conta com 22 episódios disponíveis, com cerca de 23 minutos, além de um vídeo original de animação (OVA). A direção é de Kyōhei Ishiguro, o roteiro de Takao Yoshioka e a música de Masaru Yokoyama. O título da obra é pautado por diversas origens e significados. É possível verificar como se liga de forma natural e pensada aos personagens e às suas falas ao longo dos episódios, onde “Shigatsu” ou “April” advêm de uma frase usada pelo personagem Kousei para descrever Kaori (“She exists inside spring”), que fica evidente ao longo do anime que a primavera é usada de forma simbólica para descrever e destacar Kaori. A palavra “Lie” revela uma mentira que será contada durante toda a obra, existindo diferentes interpretações quanto a qual será essa mentira e que ficará apenas mais evidente na conclusão de todos os episódios. Desta maneira, “Your Lie in April” revela que uma mentira será contada fazendo total alusão à personagem Kaori, tal como mencionado. Your Lie in April, após o lançamento do anime, recebeu inúmeras críticas positivas, entre elas as mais chamativas tais como o enredo, a animação e os personagens envolvidos, tendo como ponto mais alto a trilha sonora. A série de anime foi ainda caracterizada como bastante sentimental, sendo capaz de emocionar os espetadores, na sua maioria.
Sendo capaz de ser avaliado como um drama romântico, com alguns momentos de comédia e de um ambiente escolar, o anime retrata tópicos bastante sensíveis e pouco trabalhados na indústria. Nunca descorando de ser bastante realista na sua temática e desenvolvimento de personagens, o anime é capaz de debater vários temas sensíveis em simultâneo, tais como estados de saúde frágeis, amizades de infância, traumas relacionados a violência, ou a forma de como uma pessoa pode influenciar todas as outras ao seu redor, em um determinado momento. Esta valorização do protagonista e da sua influência, que o próprio desconhece em si próprio, nos restantes personagens ao seu redor, revela como um dos principais objetivos do anime é o da valorização de cada pessoa e na capacidade da singularidade e da indiscutível interferência nas demais.
O anime contém 2 músicas de abertura e 2 músicas de encerramento, sendo a primeira música de abertura (“Hikaru Nara” do grupo musical Goose House) exibida entre o 1º e o 11º episódios e a primeira de encerramento (“Kirameki” do músico Wacci) exibida na mesma altura. A segunda música de abertura (“Nanairo Symphony” de Coalamode) e de encerramento (“Orange, Orenji” de 7!!) foram tocadas entre os 12º a 22º episódios.
Imagem referente ao anime “Your Lie in April”
O anime tem como protagonista principal o estudante Kousei Arima (voz de Natsuki Hanae). O prodígio do piano e vencedor de inúmeras provas e competições, apresenta uma educação musical bastante rígida em termos musicais, que terá sido conduzida pela sua mãe Saki Arima (voz por Mamiko Noto). Após a morte da sua mãe, Kousei terá tido um colapso mental durante uma competição, que não o permitiria ouvir o som do piano em que toca, ainda que a sua audição seja totalmente saudável e normal. Desde então, Kousei é incapaz de ver um mundo colorido, vivendo de forma monótona, conformando-se com a sua condição. Após os acontecimentos exibidos nos primeiros três episódios, é possível deslumbrar uma reviravolta na sua vida, ao conhecer a violinista Kaori Miyazono (voz por Risa Taneda), uma rapariga bastante animada e livre, cuja maneira de tocar é capaz de caracterizar a sua personalidade, onde se pode assistir pela primeira vez no episódio 2, quando toca Beethoven, a sonata para piano e violino nº 9, Op.47. Kreutzer. Ainda que viva de forma monótona, Kousei tem como amigos principais Tsubaki Sawabe (voz por Ayane Sakura), sua amiga de infância e vizinha, e Ryota Watari (voz por Ryota Osaka), capitão da equipa de futebol escolar. Todos os amigos apresentam a mesma idade, cerca de 14 anos. Kaori viria a conhecer Kousei e Watari por intermediário da sua colega de turma, Tsubaki, a quem teria confidenciado ter uma “fraquinho amoroso” por Watari. Os episódios desenrolam-se ao ponto de Kousei Arima aceitar ser o acompanhante de piano de Kaori, numa competição, que será o ponto fulcral e de análise principal, deste 4º episódio. O episódio em questão foca-se na primeira tentativa de o protagonista voltar a tocar piano, sendo o acompanhante.
Kousei acompanha Kaori, na sua primeira tentativa
de voltar a tocar piano numa competição.
O episódio 4, chamado de “The Journey” em inglês, começa exibindo uma espécie de flashback de Kousei e de sua mãe, onde esta impõe ao seu filho que siga e repita uma partitura, até a decorar, tocando repetidamente, de forma a tornar-se perfeito e preciso do ponto de vista do propósito do compositor. Durante o flashback, é possível ver-se a mãe de Kousei, que vem sendo acompanhada por um metrónomo em movimento e que marca o ritmo, e que lentamente se posiciona na frente da imagem da mãe. Ao ser totalmente substituída pela imagem do metrónomo, é possível escutar-se ainda um sermão à criança, por esta errar novamente, sendo ameaçado de não dormir até acertar. Após esse, existe um novo flashback de seguida, desta feita, no que parece a saída de mais uma competição em que Kousei é destaque por vencer. Contudo, nesta memória, Kousei movimenta-se no centro de participantes e espetadores que comentam acerca dos abusos que sofre da mãe, além de ser comparado a uma máquina, refletindo acerca das palavras que ouve.
Kousei movimenta-se no meio da multidão
de forma solitária e melancólica.
Esta cena inicial do episódio é passada, de seguida, para a abertura de nome “Hikaru Nara” e a sua respectiva animação. A primeira cena em destaque é a de um gato preto, deitado nas teclas de um piano, passando repentinamente para um céu aberto onde se confundem notas musicais com os protagonistas da história, seguida de uma apresentação dos personagens com fundos diferenciados e maior destaque em Kaori. As duas cenas seguintes apresentam o grupo de quatro amigos em conjunto, em um cenário escolar e outro no exterior. Prontamente, os vários personagens principais são exibidos em várias imagens e animação em estilo alternativo ao do anime. Fica então claro uma sequência de cenas mistas, variando entre estilos de artes, imagens e animação fluída, apresentando os personagens individualmente ou em conjunto e dando relevo às qualidades de cada. A vista marítima e de céu aberto é algo que parece também aparecer a espaços na abertura. A certa altura, são apresentadas duas personagens (uma masculina e uma feminina, respetivamente) ainda desconhecidas ao público. A abertura termina com uma passagem na praia pelos amigos e novamente pelo gato preto exposto no começo. Torna-se assim evidente que, de alguma forma, um gato preto terá envolvimento na trama principal. A letra da abertura pode ser considerada como um paralelo aos acontecimentos dos episódios, e à transformação e evolução do protagonista Kousei e às suas aprendizagens. A música é cantada por vozes masculinas e femininas, o que torna quase explícito que as partes cantadas por cada voz estão intrinsecamente relacionadas com os personagens Kousei e Kaori. A letra refere ainda uma história de superação e romance, implicitamente dos personagens “errados”, uma vez que não são esses os sinais dados pelo enredo até ao quarto episódio, o que deixa implícito os verdadeiros sentimentos de cada um dos personagens referidos.
Imagens referentes à música de abertura, ao estilo de animação
diferenciado e ao ambiente escolar a que estão envolvidos.
Sem tardar, o episódio retorna a sua exibição normalmente, retornando a uma cena final do episódio anterior, onde os quatro amigos se deslocam em duas bicicletas de forma apressada para a competição onde Kousei será acompanhante de Kaori. Ainda que não tenham qualquer experiência juntos a tocar ou ensaiado, Kaori sente-se motivada. Por outro lado, enquanto tenta rever a partitura que irá tocar, Kousei mostra-se preocupado com a obtenção das bicicletas e o seu uso, sendo prontamente respondido por Watari, para não se preocupar com “detalhes insignificantes”. Ao chegar perto do edifício do concurso, Tsubaki trava a sua bicicleta com violência e de súbito, o que causa um momento de alguma comédia, com a queda de Kousei, e posterior entrada no edifício, puxado (quase arrastado) por Kaori. Nesse momento, Watari repreende o seu amigo devido aos sapatos com mau aspeto, e ambos fazem uma troca, em mais um momento propenso a comédia e estilo de animação simplificado. Ao questionar se ambos seriam capazes de uma boa performance, Tsubaki responde a Watari de que “logo a primavera vai chegar”.
Tsubaki comenta a Watari que “a primavera vai chegar”,
momentos antes da audição dos dois amigos.
É então apresentado o palco do concurso, que já contém dois participantes tocando, e os bastidores do mesmo, onde um dos responsáveis chama pelas próximas atuações. É a segunda fase de preliminares. Instantaneamente, é possível verificar uma das participantes a ser motivada pela sua responsável (não existindo confirmação se é professor ou parente) no sentido de ter de ficar em primeiro lugar, o que se mostra contraditório e uma pressão acrescida, referida pelo próprio funcionário do concurso. Kousei, por outro lado, mostra-se naturalmente nervoso, enquanto treina na partitura com seus dedos, fingindo que toca. O jovem prodígio, no seu pensamento, necessitava de um maior período de tempo para puder praticar até chegar à perfeição, onde não precisaria mais de uma partitura. É visível o suor de nervoso do personagem nesta cena, por não ter tido tempo para analisar a partitura e por ter de acompanhar a amiga, que toca num estilo livre. Simultaneamente, Kaori apresenta-se no corredor de espera, com um vestido e violino. Animada com a audição, esta questiona o seu amigo acerca de como se irão organizar a tocar ou do vestido que usa, não tendo qualquer resposta, uma vez que o pianista está submerso nos seus pensamentos pessimistas e de desistência. Sem hesitação, a violinista dá uma cabeçada violenta em Kousei, como forma de acalmá-lo, pedindo sem demora para que levante o rosto e olhe para cima, motivando-o, ao mesmo tempo em que coincidem memórias em formato de flashback de cenas do episódio anterior, onde este esteve sempre em contacto com a partitura. Kaori revela ainda não ter medo de passar qualquer tipo de vergonha, em conjunto. Praticamente após a sua fala, é chamada pelo funcionário para a sua atuação, dando a mão ao seu amigo e deslocando-se alegremente até ao palco. Enquanto isso, Kousei tem um pensamento onde ouve a sua mãe, e esta fala-lhe para seguir exatamente a partitura, que é interrompida por novos flashbacks referentes a memórias com Kaori. Antes de entrar em palco Kousei refere que Kaori é “a liberdade em pessoa”, sendo contradito por Kaori que refere que “a liberdade é a música”.
Foco nos rostos dos dois musicistas momentos antes de entrarem em palco.
Admiração de Kousei a Kaori.
Prestes a começar a atuação, ambos se colocam em posição, tendo no meio dos espetadores os amigos Tsubaki e Watari. Um dos juízes revela entusiasmo para escutar novamente Kaori tocar, surpreendendo-se com o seu novo acompanhante no piano, sendo poucos momentos antes de começar, reconhecido como o prodígio que parou de tocar. Antes de começar a tocar, Kaori aparenta ter uma espécie de ritual de sorte, ou oração, ao referir algumas palavras. De imediato, ambos os músicos se encaram no palco, evidenciando a tranquilidade de Kaori e a intranquilidade de Kousei, bastante notórias. A partitura tocada é a Introdução e Rondo Capriccioso, Op. 28 de Camille Saint-Saëns. Kousei e Kaori entram num tom certo, sendo possível ler os pensamentos do primeiro em relação à atuação. Todavia, o tom mais lento e pausado é quebrado com uma troca de olhares dos dois protagonistas, onde Kaori assume um maior aceleramento que obriga Kousei a acompanhá-la, captando a estupefação do público e comentários interiores positivos, do juiz. Sem embargo, quando tudo parecia se alinhar numa prestação positiva, o jovem pianista apresenta visões da sua falecida mãe, a assistir também ela à sua prestação. Sentindo o nervosismo crescer, o foco fica exclusivamente voltado para o si, enquanto as notas musicais desaparecem na frente dos seus olhos, para espanto e preocupação do personagem. Rapidamente o ambiente em sua volta torna-se diferente, como se estivesse submerso em água, tornando-se incapaz de ouvir o som do seu piano. Sem explicação para os espetadores e juízes, o som torna-se confuso e pesado, sendo totalmente notório o acompanhamento fora de tom. O desespero de Kousei é evidente nas cenas seguintes, ao ser retratada de forma escura e longínqua o ambiente ao seu redor e o “cair” do personagem, num buraco escuro e profundo. Questionando-se enraivecido do porquê de não conseguir ouvir apenas o seu piano, Kousei desiste do seu acompanhamento a Kaori, julgando ser a melhor opção a tomar, como proteção ao desempenho da sua amiga. Ainda assim, e sem nada fazer prever, a violinista abstém-se de tocar só, causando o espanto generalizado de toda a plateia, uma vez que dessa forma ficaria praticamente desclassificada. A sequência de acontecimentos é seguida por flashbacks dos momentos em que Kaori convida e implora ao seu amigo para ser seu acompanhante.
Imediatamente, Kaori diz a Kousei, de forma alegre, para tentarem novamente, sendo possível uma vez que ainda têm tempo de atuação para cumprir. Retomando ao começo, existe um novo flashback por parte de Kousei, referente a momentos antes da atuação, que o motiva a retomar, também, a sua performance, focando o seu olhar na violinista. Ao entrar novamente, enquanto acompanhante, o musicista demonstra uma maior convicção, ainda que continue “debaixo de água”. Kousei dispõe então de novos flashbacks, sendo o mais relevante o de sua mãe, quando esta o ensinava a não ser “rude” enquanto toca piano e com conselhos de como clicar nas teclas, com gentileza e suavidade. Retornando ao cenário da atualidade, o pianista melhora significativamente no seu desempenho, imaginando o som, uma vez que não o ouve. A melhora é de tal forma notada, que a própria plateia fica atônita, ao assistir. Um dos juízes, a quem é dado bastante destaque durante o episódio, interpreta inclusive a atuação dos dois como um confronto, que enfeitiça e deixa boquiaberta o público presente, considerando os dois como solistas. Kousei demonstra, por fim, confiança e animação ao tocar acompanhado por Kaori. Posteriormente ao desempenho da dupla, o público levanta-se em êxtase, a aplaudir, o que leva ao incómodo de um dos juízes mais velhos, Kazama (voz por Nobuo Tobita). O episódio termina então de forma súbita e invulgar, com a violinista Kaori a cair no palco, desmaiada, de forma desamparada, sem qualquer tipo de explicação, o que pode evidenciar algum tipo de condição ou estado de saúde desconhecido até então.
Comentário positivo e satisfeito de um dos juízes, ao apreciar o talento de ambos os jovens,
à medida que entram na melhor fase da audição.
Kaori cai desmaiada, sem qualquer explicação prévia, e logo após o fim da atuação.
A música de encerramento, “Kirameki”, é revelada, por fim, e demonstra ser quase exclusiva à personagem Kaori, sendo as imagens referentes apenas à mesma, e contendo nos últimos segundos algumas cenas do episódio seguinte. A letra desta relata uma experiência conjunta, de partilha do tempo e acontecimentos, fazendo alusão à felicidade envolta nessas vivências. Tal como a canção de abertura, o encerramento ilustra um romance, que ganha um maior significado, mais claro, após a exibição deste episódio. A letra pode ser caracterizada como romântica e sentimental.
Imagens referentes à música de encerramento e respectivas cenas.
A ambientação deste episódio é composta sobretudo por locações internas (edifício onde será realizado o concurso) mas também por externas (as ruas por onde os protagonistas se deslocam de bicicleta e o espaço exterior ao edifício do concurso), não existindo uma grande diversidade de espaços. Os cenários exibidos são bastante focados, tendo um grande tempo de utilização nos mesmos, não se verificando mudanças constantes de ambiente, onde as ações se desenrolam e desenvolvem. Ainda assim, vale ressaltar a presença no palco por parte dos personagens, onde se concretizou o maior tempo despendido do episódio. A delimitação dos espaços é neutra ou alegre, tal como é exibido na cena em que os quatro amigos se deslocam de bicicleta e existe uma vista global da cidade, bastante organizada e colorida, ou do momento do palco, onde existe uma neutralidade, com exceção do começo do episódio, onde é visível um tom carregado e incomodativo, na forma vazia e cinzenta com que Kousei se movimenta num espaço totalmente sem cor e depressivo, rodeado de pessoas. A maior permanência em cada espaço torna possível ao espetador experienciar de forma mais vívida e presente cada momento das respetivas ações em curso, sejam essas ações e acontecimentos positivos ou negativos.
Visão geral da cidade, quando os protagonistas se dirigiam de bicicleta ao edifício do concurso. Espaço externo visualizado.
Um dos aspetos centrais do episódio encaixa no facto dos protagonistas Kousei e de Kaoria nunca terem tocado ou treinado em conjunto, e, ainda assim, possuírem um talento de tal forma singular que se conseguem, não complementar, mas superar um ao outro, tal como é referido por um dos juízes na segunda tentativa de atuação dos musicistas, onde ambos são considerados solistas e não acompanhantes. Não obstante, ambos evidenciam estilos completamente diferenciados, sendo o pianista alguém mais restrito às regras e precisão da partitura e a violista uma pessoa mais ágil e dinâmica na sua forma de se expressar ao tocar, ainda que o primeiro esteja a mudar o seu pensamento “quadrado”, de forma lenta e gradual. Ambos os personagens sentem também uma necessidade da presença do outro, como seu suporte, em especial, Kousei de Kaori. Durante o episódio, é bastante visível uma cadeia de situações em consonância que levam ao desfecho final do episódio. De forma subconsciente, Kousei revela ter bastantes lembranças relevantes para o desenrolar de suas ações. É revelado, inicialmente, que o jovem prodígio sofria abusos quando criança, que o levaram a ter uma certa reputação e forma de pensar bastante intransigente quanto à música. Ao falar com Kaori antes do espetáculo, esta revela pensamentos completamente contraditórios aos seus, mas que não o desagradam, inclusive, deixam-no perplexo de admiração. A repetição deste tipo de ações e falas por parte de Kaori voltadas para Kousei são positivas para o seu crescimento enquanto personagem. Porém, os flashbacks do pianista revelam confusão na sua mente, uma vez que se misturam e entrelaçam entre memórias boas e recentes e memórias mais tristes e antigas. Todavia, é possível denominar o momento chave deste tipo de situações e pensamentos entrelaçados, quando Kousei consegue rever uma lembrança positiva de sua mãe, muito possivelmente antes desta adoecer e do começo das aulas da criança, não se focando mais no pensamento destrutivo, mas um pensamento mais positivo, que o permite “sentir” o piano, sendo mais gentil e suave ao tocá-lo, referindo inclusive, novamente, o suporte e força que a sua acompanhante de palco lhe transmite. No episódio em análise, é possível evidenciar vários estados de espírito diferenciados, sendo os mais fáceis de identificar a desmoralização e medo da parte de Kousei, a motivação e felicidade de Kaori, ainda que tenha ficado praticamente eliminada da competição, e as reações mistas de êxtase e desilusão do público, que flutuaram consoante a participação ao piano de Kousei.
Não foi observado qualquer tipo de contraponto neste episódio, sendo bastante claro todas as emoções, sentimentos e atitudes dos personagens. Pode-se quase mencionar a transparência relevada por todos os personagens nas suas ações e desempenho ao longo do episódio. Talvez a única dúvida que valha ressaltar neste tópico seja a da expressão facial de Tsubaki, ao ver o amigo de longa data voltar a tocar, expressando quase um rosto de surpresa e dúvida ao invés de felicidade plena, ainda que momentos antes tenha expressado o seu apoio num grito vindo da plateia. Essa dúvida pode ser explicada como um sinal de ciúme ou de não se sentir mais a “amiga especial” de Kousei, pois este é suportado por Kaori no palco. Este momento de dúvida de Tsubaki é apresentado, de forma importante, logo após um novo olhar entre os dois musicistas, onde Kousei refere que Kaori está presente, existindo implicitamente o entendimento de que a sua amiga de infância não estaria. Sendo um anime centralizado em dois musicistas, um pianista e uma violinista, o anime tem como principal cenário de aparição destes instrumentos no palco principal onde decorrem as atuações. Não existe qualquer outro instrumento representado, sendo que o único instrumento que aparece mais de uma vez é o violino, na presença de outros concorrentes do concurso. O piano aparece repetidamente também, mas sem novidade (é o mesmo piano a ser exibido e não pianos diferentes, de diferentes pessoas). A imagem inicial do episódio, onde é exibido um metrónomo, considera-se importante para o restante episódio, uma vez que demonstra a forma repetitiva e excessiva com que Kousei era educado e ensinado, sendo comparado a uma máquina ou a um metrónomo humano. Na sua performance com Kaori, demonstra saber os tempos da partitura, mas uma vez que não escuta o seu próprio piano, vira uma pessoa nervosa, que “trata mal” o instrumento e este “trata-o mal”, reciprocamente.
Kousei e Kaori tocam juntos no palco, onde é exibida a vista de frente para o auditório.
As várias cores e sombras usadas ao longos dos vários momentos do episódio demonstram uma clara importância e relevância em cada ação distinta, transmitindo sentimentos diferenciados em cada cena. As cores que são apresentadas no começo, focando exclusivamente em preto, branco e tons de cinza refletem o estado anímico do protagonista e têm como objetivo o de transmitir ao espetador, de forma direta e simples, um ambiente pesado, triste e melancólico. Numa das cenas em que Kousei toca piano, as sombras são usadas de forma a dar-lhe uma postura mais séria e de foco. Um dos personagens apresentado com este tipo de cores é a mãe de Kousei. Ainda que o anime seja bastante “vivo” em termos de cor, a sua mãe (visão de Kousei) revela sempre uma cor mais fraca, mais sombria. Fundamentalmente, este fenómeno pode revelar o estado melancólico com que Kousei imagina a sua falecida mãe. A única cena do episódio onde a mãe não revela este tipo de cor é quando Kousei está em atuação, e recorda-se de ser ensinado o modo de tocar num piano.
Tons cinza presentes no começo do episódio, num flashback, revelando o estado
melancólico e sombrio da imaginação do personagem relativamente ao seu passado.
Sombras presentes no personagem de forma a destacar um lado
mais sério e concentrado do mesmo.
As cores usadas ao longo do episódio são por norma uma mistura entre cores vivas e quentes e cores frias e mais melancólicas. É comum também observar cenas de comédia em que a animação dos personagens e respetivas cenas têm um estilo mais simplificado e caricato.
Cenas cómicas do episódio, com estilos mais simples e caricatos.
O episódio tem uma luminosidade constante e brilhante em praticamente todos os seus momentos. A cena do palco onde se realizará a atuação de ambos é, visivelmente, capaz de fazer-se passar por um palco sem erros de animação ou de luminosidade. Existe foco nas luzes e na experiência do telespectador de vivenciar e sentir-se verdadeiramente integrado, como se fosse ele a estar no palco ou a assistir a partir do público sentado do auditório. Além do mais, as luzes também destacam bastante a cor dos olhos dos personagens e o brilho nos olhos dos mesmos, sendo de bastante qualidade este facto. Os tons de azul-marinho usados durante a atuação de Kousei e Kaori também são de bastante qualidade. Assim que Kousei se enerva e fica mais nervoso, é possível assistir a uma gota de suor do mesmo a cair no chão, e a transformar todo o ambiente à sua volta em como se estivesse debaixo de água. A forma natural e fluída com que a passagem do ambiente e cores se dá é bastante marcante para o espetador, pois este sente-se imerso na própria trama e ambiente, existindo até o detalhe da sonoridade e visualidade (bolhas saem do piano ao tocar nas teclas). Nesta cena, o ambiente ficou mais pesado, em resultado do azul usado e de cores bem mais escuras em volta de Kousei, que chega a afundar-se no escuro, exemplificando um abismo. É de relevo notar o uso de linhas visíveis de acompanhamento dos olhos de Kousei às suas notas, logo após os momentos de maior aflição do mesmo, onde este já que não consegue ouvir, irá imaginar.
Tons azul-marinho, de modo a interpretar a experiência de Kousei e o seu “sufoco”.
O figurino dos protagonistas é de tema escolar, com exceção de Kaori na atuação, que usa um vestido de tom quase branco e uns sapatos e gancho de cabelo (formato de flor) rosa, simbolizando a sua “paz interior” e confiança, tendo os sapatos e o gancho um significado mais romântico e de juventude e ternura. Os olhos de Kousei são de um azul-claro, rodeado por um azul mais escuro, o que pode antecipar muito da sua personalidade.
Olhos de Kousei, em diferentes estados anímicos, onde fica evidente a sua cor e expressão facial, de nervoso.
A música de abertura revela uma edição de recorte bastante direta. As cores são bastante vivas e variam entre vermelho, verde, roxo, amarelo, mas de forma muito mais assente, o azul. Os personagens destacados com o vermelho são Kaori e Kousei, em segundo plano, onde esta cor é usada para representar a paixão de ambos na música, mas ainda mais a energia e animação por parte de Kaori. Representados pelo verde e amarelo estão presentes Kousei e Tsubaki, em segundo plano. Esta mistura de cores pode ser interpretada como uma ligação entre a personalidade de ambos os personagens, onde é possível evidenciar o otimismo e esperança de Tsubaki em Kousei voltar a tocar piano, mas ainda a descontração e alegria que Kousei apenas ganha com o passar dos episódios, e que não tinha, de todo, relativamente a este tema. Watari e Tsubaki também são apresentados com o vermelho, mas também o púrpura, ainda que apenas em detalhes. Desta forma, simboliza a intuição de ambos em ajudar o seu amigo, sobretudo do parte de Tsubaki, a personagem em destaque neste frame. Watari é apresentado com uma cor branca e pormenores púrpuras, o que revela, de certa forma, a sua pouca ligação aos demais. Por fi, a cor verde é extremamente usada, ao mesmo tempo em que a personagem Kaori aparece no ecrã do espetador, deixando de forma percetível a influência desta no estado anímico em termos de esperança e otimismo dos restantes personagens. Os temas usados ao longo da composição são relativamente ao meio escolar ou social. Destaca-se o uso de bastantes imagens estáticas e pintadas e não tanto de uma animação fluída, além de cenas com um tipo de animação divergente do usado nos episódios. As cores dessas imagens variam, de estado anímico para estado anímico dos personagens do que já foi referido. Kousei é bastante destacado com tons azuis, refletindo o estado de tristeza e melancolia do mesmo. Existe uma mistura de imagens claras e vivas e escuras e mais tristes. O tema de azul e de mar, muitas vezes usado, pode relacionar-se com o episódio em questão, que reflete o medo do protagonista em afogar-se sozinho na sua própria música e erros, por não ouvir as próprias notas. A música de encerramento é focada em imagens praticamente estáticas ou de movimento bastante lento, com claridade e luminosidade abundante.
Artes estáticas e imagens referentes à música de abertura, e o uso das cores nessas.
Os planos que têm um maior realçamento e distinção são originários de momentos de maior stress ou nervosismo na sua larga maioria, tendo como exceção planos de rosto inteiro da mãe de Kousei no começo do episódio ou de incentivação por parte de Kaori a Kousei. O rosto da mãe de Kousei não tem qualquer tipo de expressão visível e não é possível verificar os olhos da mesma. Relativamente ao protagonista, é possível assistir a um foco no nervosismo de Kousei, ao suor do seu rosto e ansiedade dos seus olhos. As expressões faciais são muito trabalhadas e os detalhes da face muito bem interpretadas, tal como no maior momento de tensão do episódio, quando Kousei demonstra erros ao tocar o piano. É possível o espetador sentir várias emoções e sentimentos diferentes ao longo destes momentos, tais como empatia e tristeza no momento de tensão e falhanço de Kousei, ou de alegria e serenidade, aquando Kaori demonstra a sua confiança em Kousei, com um sorriso ou discurso motivador. Algumas das cenas onde nos é permitido reparar nas expressões faciais e corporais de forma mais focada é momentos antes da atuação, onde Kousei reflete o seu nervosismo prévio, no discurso motivacional de Kaori ou logo após esse momento de nervosismo, onde estão em destaque os dois rostos. Os olhos dos personagens são dois fatores importantes a ter em conta nesta análise, pois têm bastante realçamento. Durante a atuação, o rosto dos espetadores, juízes, amigos e musicistas também tem a sua importância reforçada. É de salientar o momento em que a imagem apresenta um reflexo de Kousei, no olhar de Kaori, ou do reflexo das teclas do piano nos olhos de Kousei, sendo notória a entrega e trabalho desenvolvido nos olhos dos personagens e na importância deles. Tal como referido anteriormente, o acompanhamento de linhas imaginárias visíveis nos olhos de Kousei também têm um foco maior em alguns frames, em complementaridade ao seu rosto dedicado e suor.
Reações faciais expressivas da parte do pianista e o foco nas mesmas.
O destaque e realce nos olhos de Kousei, e o reflexo de elementos do episódio nele.
O episódio desenrola-se de forma pouco linear, existindo uma vasta gama de flashbacks e de memórias passadas ou de episódios anteriores. Ainda que existam múltiplas lembranças de momentos da infância, por parte do pianista, ou de flashbacks de episódios anteriores, o episódio não se torna confuso ou difícil de compreender. Esses momentos temporais e a sua exibição têm o intuito de centralizar e elucidar o espetador, relativamente a emoções, estados psicológicos ou sentimentos do jovem pianista. Apenas Kousei expressa este tipo de recorte temporal, sendo estes momentos exclusivos do mesmo. Pode-se referir como uma temporalidade complexa, mas de fácil compreensão. A passagem para cenas seguintes é bastante fluída, não se notando quebras repentinas. As passagens são realizadas de modo natural e o espetador tem a capacidade de visualizar os acontecimentos passo a passo, praticamente.
O destaque e realce nos olhos de Kousei, e o reflexo de elementos do episódio nele.
A música é uma constante em todo o episódio, nas suas várias etapas. É possível encontrar música que acompanha as ações, mas também momentos ocasionais de sons com o objetivo de desvendar comédia ou complementação de cenas. É possível reconhecer alguns momentos diferentes acompanhados por música, sem contar com abertura e encerramento. Após a música de abertura, onde os jovens adolescentes se deslocam de bicicleta para o edifício, com uma música alegre. No corredor de espera para as audições, onde se vislumbra uma música referente a um violino, desde o momento de entrada até ao momento da cabeçada e discurso motivacional por parte de Kaori que é seguida por outra música, desta feita, focada no piano, com um pouco de acompanhamento de violino. O violino com uma transmissão de sentimento de ansiedade, de preparação, e no momento seguinte até à atuação, o piano, que transmite calma e serenidade. Momentos de flashback são também acompanhados por música. Todavia, o momento mais marcante e importante relacionado a música é, sem dúvida, o momento da performance dos dois musicistas.
Momentos que ocorrem acompanhados por uma música complementar
e transmissora das emoções e sentimentos.
A maior referência exterior ao universo ficcional que interfere diretamente no desenvolvimento da trama é a partitura tocada por Kaori e Kousei. A Introdução e Rondo Capriccioso, Op. 28 de Camille Saint-Saëns. É verdade que o anime é focado em música clássica, e isso é evidente desde o começo, contudo, as músicas tocadas têm um valor sentimental e emotivo em cada ocasião. Neste caso em específico do episódio em análise, esta tem um valor emocional que se relacionada com a ansiedade do pianista. O ritmo acelerado protagonizado por Kaori no violino e o nervosismo protagonizado por Kousei ficam destacados com esta escolha, que proporcionam ao telespectador uma experiência muito mais apurada da dedicação de ambos, sendo possível ganhar-se ainda um apreço por este tipo de música, até mesmo para pessoas pouco familiarizadas com este tipo de arte.
Partitura da obra que Kousei irá tocar.
A Introdução e Rondo Capriccioso é uma composição escrita em 1863 por Camille Saint-Saëns tendo sido tocada pela primeira vez em 1867, por Pablo de Sarasate ao violino. O compositor escreveu esta partitura e enviou-a a Pablo, alguém que admirava muito. Desta feita, o valor e significado por detrás desta atuação dos dois protagonistas ganha um maior destaque e significância. Não é apenas uma composição a apresentada no episódio, mas é uma composição e uma performance que representam admiração e apreço. Tal como Camille e Pablo, Kousei e Kaori admiram-se mutuamente, e têm um sentimento de respeito e deslumbre um pelo outro. Conclui-se que a paragem de Kaori após a desistência de Kousei não foi aleatória. Kaori tinha como objetivo tocar em conjunto no mesmo palco que o jovem prodígio e amigo, e perder uma competição não era sua preocupação, ficando explicado o valor simbólico de ambos tocarem juntos e de se complementarem nesta partitura. As setas chamativas na trilha sonora e música, evidenciam e dão pistas ao telespetador acerca do estado de espírito dos personagens. Também as expressões faciais dos personagens dão sinais de emoções e facilitam a leitura do estado emocional, a quem assiste. São muito recorrentes ao longo de todo o episódio, com momentos já relatados nesta análise.
Desilusão e admiração, respetivamente, relativamente à própria
desistência de Kousei e ao recomeço por parte de Kaori.
Existem alguns efeitos especiais narrativos ao longo do episódio, com especial atenção sempre no ponto central do mesmo, a performance dos dois jovens no palco. Ainda que Kousei sempre evidencie nervosismo e falta de confiança, desde o começo do episódio, não seria assim tão expetável a sua desistência no decurso da audição. Poderia ser inclusive um momento chave para um negativismo superior e consequente cadeia de ações previsíveis de culpa, sofrimento e momentos mais deprimentes no seu decorrer. Todavia, tal não acontece. O espetador é surpreendido pela paragem da sua companheira e amiga, sem que existissem sinais de tal. Ao invés desta apresentar um ar entristecido, por perder a prova, a violinista solicita uma nova tentativa ao pianista. Uma nova oportunidade. Um novo momento para tentar e recomeçar. Tocar música com o simples objetivo de acompanhá-lo e de marcar o coração e ouvidos do público, numa experiência inesquecível. Olhando o contexto da sociedade e da atualidade, esse é um ato nobre muito pouco observado. O universo musical, sobretudo nas idades mais jovens (recordar que ambos os musicistas apenas possuem 14 anos) exige muito treino, aulas, prática e repetição. Ambos os jovens demonstram capacidades singulares o que evidencia o talento nato, mas sobretudo o trabalho e tempo dedicados para possuírem tal destreza. Num mundo cada vez mais individualista e competitivo, o simples ato de estar ao lado do acompanhante no seu momento mais difícil e desistir no meio da competição pode ser chocante para alguns espetadores e emocionar outros demais.
Incredulidade da parte do público, ao ato de recomeçar a atuação por parte de Kaori.
Apesar de discutir uma temática cuja maioria do público desconhece, o anime e episódio abordam temas importantes, tais como a restrição deste tipo de música e a sua rigidez, não abrindo espaços à improvisação e ser focada apenas na execução ou o abuso infantil e traumas derivados dessa. Ainda que pareça um romance típico e cliché, a realidade é que a história consegue aprofundar fielmente os tópicos que aborda e relacionar o espetador com a trama, mesmo que este seja um profundo desconhecedor do tipo de música em foco. A pertinência e relevância dos temas não são propriamente de uma agenda mediática emergente ou popular da atualidade, mas conseguiram captar o espetador e educá-lo, mesmo que de forma implícita. A sua originalidade é considerável do ponto de vista musical, ainda que seja mais típica e comum de um ponto de vista de romance escolar. Ainda assim, o público pode sempre surpreender-se pela positividade e alegria da jovem Kaori e pelas ações decorrentes desse estilo de personagem. O anime obteve uma larga discussão e notoriedade nas redes sociais pelos seus fãs, acerca do conteúdo exibido, podendo o seu enredo ser considerado um sucesso, sendo o tópico principal de discussão o do enredo triste e alegre em simultâneo, capaz de criar mistos de emoções fortes ao público.
No 4º episódio em específico, existem algumas reviravoltas e momentos de surpresa, contando ao longo do episódio com vários desenvolvimentos emotivos. Pode-se concluir dessa forma que este é construído a partir de algumas fases, tais como: equilíbrio, interrupção, clímax, resolução de conflitos e retorno do equilíbrio.
Clímax: Momento alto da performance, onde ambos os protagonistas se destacam pela positiva e deixam o público estupefacto e maravilhado.
Equilíbrio: Momentos antes da atuação, com a deslocação ao local e a preparação do desempenho, Kousei revela nervosismo, ainda que consiga ter um bom começo no piano.
Interrupção: Kousei revela sérias dificuldades em fazer o acompanhamento, em consequência do seu trauma relacionado à sua mãe, e desiste a meio, parando.
Resolução de conflitos: Kaori deixa a sua atuação incompleta e pede a Kousei, que já tinha parado antes, para que recomecem, juntos. Kousei experimenta uma nova estratégia, inspirado pela amiga, e melhora o desempenho.
Retorno do equilíbrio: Com o desmaio de Kaori, Kousei revela no seu olhar preocupação.
Kousei melhora significativamente a sua atuação, devido a Kaori.
Kaori solicita a Kousei para que recomecem a atuação.
O arco narrativo é complexo pela forma como foram implementados flashbacks e lembranças do passado, tendo uma ligação emocional entre os personagens bastante visível e importante para o contexto e desenrolar das fases de ação. A construção dos dois protagonistas musicistas é plural, e é algo bastante trabalhado ao longo do anime e do episódio, com maior destaque para a influência mais marcante de Kaori em Kousei.
As características diversas dos personagens e sua respectiva diversidade revela-se em fatores psicológicos e de gostos pessoais. Kousei revela ser um jovem com problemas psicológicos ao nível de traumas de infância, com um talento inato no piano, com falta de confiança, muito quieto e sossegado. Pode comparar-se o estado do personagem quando toca a alguns delírios ou alucinações, nos momentos em que se sente vigiado e amaldiçoado pela própria mãe, ou ao sentir-se no profundo do oceano. Kaori, revela ser uma jovem violinista bastante alegre, sem medo de errar e muito confiante. Ainda assim, fica explícito no final do episódio um estado de saúde débil ou frágil, depois do seu desmaio. Tsubaki e Watari são os dois amigos dos protagonistas e revelam apreço por desporto, tal como futebol ou beisebol. A mãe de Kousei revela ter tido um tipo de doença terminal, não identificada. O episódio não dispõe de estereótipos visíveis ou desproporcionais, sendo o único digno de apontamento o de um dos juízes do concurso, que se indigna com a forma de tocar mais livre de Kaori e com aplausos da plateia, depois da prestação, por este ser um concurso “solene”.
Juiz mais rígido do concurso, que facilmente fica incomodado, e respetivos momentos.
O anime teve um sucesso bastante considerável, tendo a sua trilha sonora sido bastante aclamada. É possível constatar este facto pelas visualizações e vídeos referentes às músicas ou momentos mais impactantes. Em termos de visualizações de momentos de episódios, uma grande quantidade chega a milhares de visualizações, mas é quando a trilha sonora está envolvida, com as participações e partituras tocadas, que os números sobem aos milhões. Marcas extremamente relevantes e de se destacar. Os vídeos das aberturas são um bom indicador da popularidade.
Quando procurado por “Hikaru Nara” na plataforma do Youtube, é possível ver dois vídeos com um destaque maior. A primeira, com 14 milhões de visualizações, que contém a tradução da letra em diversas línguas, e a segunda do canal de Youtube oficial dos Goose House, com 13 milhões. Depois de uma pesquisa mais aprofundada ao canal Goose House, é encontrado um vídeo com cerca de 53 milhões de visualizações da mesma canção de abertura, ainda que a qualidade do som não seja a mais apropriada. Quando procurado por “Kirameki” na mesma plataforma, do músico Wacci, o vídeo mais popular tem 6 milhões de visualizações. A segunda canção de abertura “Nanairo Symphony”, de Coalamode conta com praticamente 3 milhões de visualizações no canal VEVO da artista. Ainda assim, aquela que possuí mais visualizadores e espetadores é a segunda música de encerramento do tema “Orange, Orenji” de 7!!. Conta com mais de 68 milhões de visualizadores. Um número impressionante no contexto Youtube. Os comentários dos vários vídeos variam entre citações da letra e grandes mensagens de apreço e contentamento.
Alguns comentários relativos aos vídeos mencionados.
Fonte: Youtube (Capturas de tela referentes a 2023)
Pode-se concluir então, que, de forma muito singela o anime e episódio fogem do estilo “Shounen” cliché. A construção dos personagens apresenta-se consistente e original, com características psicológicas ímpares e de relevância para a atualidade e realidade, ainda que seja mais aprazível para um nicho acostumado a música clássica, não descartando a capacidade de tornar um leigo num apreciador real deste tipo de música ou de fazê-lo emocionar-se com o enredo. Todos os detalhes do episódio e anime são relevantes na história e construção das personalidades dos personagens.
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