As nostálgicas intertextualidades de Stranger Things


Já parou para pensar no que te faz ficar viciado em uma série? Fazer maratonas por horas seguidas, sem nem ver a luz do dia? Bom, parece que os irmãos Duffer descobriram essa fórmula e as usaram muito bem! Pra quem não os conhece, os irmãos Matt e Ross Duffer são os criadores de nada mais, nada menos, que Stranger Things, uma das séries mais assistidas e de maior sucesso da Netflix em 2016. Porém, qual o segredo (um dos segredos) deste sucesso?

Além de um enredo impecável, com muita aventura, suspense, terror e um pouquinho de diversão, a grande fórmula usada é a NOSTALGIA. Como pontuam Alzamora et al, (2017, p.55) a "Netflix não apenas apostou na construção de um produto com diversas referências a títulos que possuem uma base consolidada de fãs, como também investiu em conteúdo original que dialoga intensamente com essas referências". Nesse sentido, os criadores da série não pouparam esforços para trazer ao público, o máximo de elementos que remetessem a era de ouro cinematográfica, com filmes e séries que fizeram parte da infância de muitos, que mesmo não crescendo nos anos 80 e 90, assistiram os filmes na Sessão da Tarde comendo pipoca.

Outro ponto que chama a atenção em Stranger Things e que iremos tratar mais adiante é a forma como essas referências estão imbricadas com a história. Isto é, para reconhecê-las o telespectador deve estar atento aos detalhes. Segundo Jost (2017), a ‘granulosidade’ da unidade mínima se modificou das narrativas ficcionais seriadas se modificou. O autor pontua que as séries contemporâneas apresentam uma composição imagética que instiga o público a analisar minuciosamente as cenas em busca de novas informações e intertextualidades na trama.

Com base nas discussões de Alzamora et al (2017) e Jost (2017) iremos analisar as principais referências e easter eggs de Stranger Things. Mostrando como a composição imagética da série é norteada por uma relação simbiótica com filmes, músicas e outras referências ao universo ficcional dos irmãos Duffer.

Você entendeu essa referência?

Utilizar referências de outras produções é algo muito comum no âmbito das narrativas ficcionais televisivas. Como explica Johnson (2012), o desenho Os Simpsons, apresenta inúmeras referências à filmes e programas de TV, as intertextualidade são usadas tanto para prestar homenagens quanto para ironizar as situações. Apesar das referências serem recorrentes, em sua maioria, elas não interferem no entendimento do episódio, mas para quem as entende, a experiência de assistir a série é muito mais interessante (JOHNSON, 2012).

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Mundinho do cinema

Em Stranger Things, as referências complementam o contexto da série, mas não são necessárias para o entendimento do episódio. Logo no primeiro episódio, temos referências ao longa metragem Alien, na cena em que os cientistas entram no laboratório interditado pela fuga de algo misterioso; ao clássico da Sessão da Tarde Goonies, na seqüência onde os meninos estão jogando Dungeous & Drangons, jogo de RPG muito famoso, no porão de Mike, e quando eles saem andando de bicicleta à procura de Will, na rádio escolar. Até o sucesso de Steven Spielberg, E.T, o extraterrestre, é homenageado pela trama quando os garotos encontram Eleven perdida na floresta.

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Além das referências, os easter eggs, ou ovos de Páscoa (livre tradução), isto é, pequenos detalhes que compõem a trama, também estão presentes na série da Netflix. Os easter eggs são muito usados em produções da Disney com a Pixar, como Monstros S.A., Procurando Nemo, Toy Story, entre outros. Em Stranger Things podemos observar logo de cara, na camisa do Dustin, um easter egg de Karatê Kid, filme que fez a cabeça de inúmeras crianças dos anos 80, e também seu boné inspirado no personagem Ash Ketchum de Pokémon.



Outro easter egg importante na trama é a referência a HQ #134 de X-men, que tem o título da Saga da Fênix Negra. O desdobramento narrativo da HQ dialoga diretamente com os acontecimentos da season finale da primeira temporada da atração da Netflix. Até a escolha do elenco remete a nostalgia e aos detalhes intertextuais, interpretando Joyce a atriz Winona Ryder foi conhecida pelo grande público após protagonizar filmes emblemáticos da década de 80 como, por exemplo, Os fantasmas se divertem, Edward Mãos de Tesoura e Atração mortal.

Além da elaborada composição imagética, as intertextualidades também estão presentes na trilha sonora de Stranger Things. Recentemente, a Netflix liberou para os fãs toda a trilha sonora no Spotify. As maiorias das canções foram sucesso nos anos 80, como Dolly Parton, The Clash, Toto.




A nova temporada de Stranger Things estreia dia 27 de outubro e conta com um cartaz que já traz mais uma referência. Não perca essa série maravilhosa, e se prepare para novas maratonas!




Referências:

ALZAMORA, G. C. Estranhar os algoritmos: Stranger things e os públicos de Netflix. In Revista GEMInIS, São Carlos, UFSCar, v. 8, n. 1, p.38-59,2017.

JOHNSON, Steven. Tudo que é ruim é bom para você: como os games e a TV nos tornam mais inteligentes. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

JOST, François. Amor aos detalhes: assistindo a Breaking Bad. In Matrizes, vol.11 n.1, p. 25-37, 2017. 

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