Dorama? O que é isso? É de comer?


Você já ouviu falar no termo Hallyu? Korean Wave ou Onda Coreana foi o início de um fenômeno expansivo da indústria cultural sul-coreana no público estrangeiro com interesse na cultura deste país tão famoso pelo k-pop (música pop coreana) e seus k-dramas (dramas de TV). 


Há quem acredita que o Hallyu começou com o famoso GangnamStyle do Psy (2012), mas o seu surgimento é marcado pela Crise Financeira Asiática de 1997. Quando a Coreia do Sul aproveitou a instabilidade financeira dos seus países vizinhos para expandir os seus produtos televisivos a baixo preço, comparado aos japoneses e honcongueses, para preencher a programação televisiva daqueles países que passavam pela crise (MAZUR apud SHIM, 2017). 

A China contribuiu para que a Coreia do Sul se tornasse um fenômeno transnacional através da importação dos k-dramas, que apesar do conteúdo estrangeiro, havia um diálogo cultural entre estes países, gerando melhor aceitação em comparação aos conteúdos ocidentais, por exemplo, o posicionamento moral e tradicional em relação ao respeito aos mais velhos, à hierarquia e a importância da família, influenciada pela ideia do Confucionismo. Tal proximidade cultural também estimulou a circulação dos produtos televisivos sul-coreanos nos países do Leste e Sudeste Asiático. 

Mas o que são dramas de TV? Urbano (2017) define como produções seriadas das indústrias televisivas do Leste e Sudeste Asiático. Um formato híbrido entre telenovela e séries televisivas que surgiu no Japão na década de 1950 a partir dos “doramas”, pronúncia japonesa para a palavra drama, não caracterizando o gênero, mas o formato, e que possui entre 8 e 25 episódios, com duração médica de 1 hora. Cada obra costuma ter início com arcos grandes que abrem o primeiro episódio e se encerra no último, dando pouco espaço para que se estenda para outras temporadas, as tramas também apresentam poucos personagens, o que facilita o fechamento do arco após alguns episódios. Com o passar do tempo, cada país acabou adquirindo sua identidade regional: os dramas japoneses são conhecidos como doramas, enquanto as produções de Taiwan são conhecidas com TW-Drama, os chineses como C-Drama, os tailandeses como lakorns e os coreanos como k-dramas. 

Segundo Madureira, Monteiro e Urbano (2014) as temáticas abordadas nessas produções são caracterizadas por relacionamentos românticos e familiares, contextos históricos e nacionais, além doo dia-a-dia no trabalho e na escola, influenciadas por gêneros, formatos, linguagens locais e transnacionais, mas com forte característica da cultura daquele país. 


Okay, mas o que essas produções todas têm a ver com o Brasil se aconteceu do outro lado do continente? Graças a Japão Mania que se popularizou aqui no Brasil através dos animes japoneses na TV brasileira na década de 1990 como, por exemplo, “Pokémon” e “Dragon Ball”, essas produções se tornaram “manias nacionais”, gerando uma maior aceitação da cultura asiática pelos brasileiros, assim como a cultura coreana (URBANO, 2017). 

Tae Hyung, conhecido como V do grupo sul-coreano BTS ♡ no k-drama Hwarang.Gif: Pinterest. 

Como uma lurker, entendido por Hills (2015) como membro de uma comunidade online que observa, mas que não participa ativamente, é notável o crescimento dos dramas de TV no território brasileiro, principalmente pelos k-dramas ocasionado pela forte influência do k-pop no cenário mundial, usando os seus idols nas produções televisivas afim de direcionar os consumidores da música pop sul-coreana para o seu consumo de dramas de TV. 


Desde já, aqui vai o meu agradecimento aos fansubs, que trabalham como produtores e consumidores dando nova forma na produção cultural para os fãs terem acesso às produções televisivas dos países asiáticos. Estes conteúdos propiciam a divulgação e interação de pessoas interessadas nesse âmbito, seja por meio de sites que são disponibilizadas a tradução e legendagem dos dramas, assim como os grupos no Facebook ou Twitter que permitem a interação e atualização deste mundo dos dramas. 

Por fim, vale destacar a crescente distribuição dos dramas de TV pelas plataformas de streaming como o Viki e a Netflix (saudades DramaFever) de forma licenciada. O Viki surgiu em 2008 e desde 2014 atua no Brasil de forma online e gratuita, disponibilizando os dramas legendados através do trabalho voluntário dos fãs. Vale ressaltar que a plataforma oferece a opção de adquirir o VikiPass na forma mensal ou anual a fim de evitar os comerciais e propagandas para aqueles que utilizam a plataforma de forma gratuita. Já a Netflix estabeleceu suas conexões televisivas com o Japão e Coreia do Sul entre os anos de 2015 e 2016. Resultando em parcerias de produções de dramas de TV originais entre as emissoras locais destes países como serviço de conteúdo ondemand, além de dar maior visibilidade a este tipo de seriado e a sua coprodução como um atestado de qualidade (URBANO & ARAÚJO aput ROSSINI & RENNER, 2017). 

Com a evolução da internet e o aumento de fãs por este tipo de conteúdo, cresceu também a prática do fansubber como maior incentivador de crescimento e popularização dos dramas de TV em terras brasileiras, com fácil acesso para aqueles que querem conhecer um pouco mais sobre as culturas asiáticas. E aí, vamos assistir um dorama? 



Uma pequena observação: Aqui usamos o termo dramas de TV, assim como a identidade regional da produção de cada país: o inicial do país seguido pela palavra drama, sendo dorama a identificação das produções japonesas, mas não se assuste se ouvir a palavra dorama sendo referência das produções não nipônicas, porque né, falar que é dorameira fica bem melhor que drameira, não é mesmo? 

Referências

BENNETT, Lucy. Tracing Textual Poachers: Reflectionsonthedevelopmentoffanstudiesand digital fandom. In Journaulof Fandom Studies, v. 2, n. 1, 2014. Disponível em: inserir link. Acesso em: 3 jun. 2019. Disponível em: https://onedrive.live.com/?authkey=%21AC8uvQOEhoqHnSg&cid=ED3654AB29E7DE63&id=ED3654AB29E7DE63%214685&parId=ED3654AB29E7DE63%214664&o=OneUp. Acesso em: 3 jun. 2019. 

GRECO, Clarice. O fandom como objeto e os objetos do fandom. In MATRIZes, v. 9, n. 1, p.147-156, 2015. 

MADUREIRA, A, MONTEIRO, D, URBANO, K. Fãs, Mediação e Cultura Midiática: Dramas Asiáticos no Brasil. Anais...I Jornada Internacional Geminis: Entretenimento Transmídia, São Carlos, 2014. Disponível em: https://www.academia.edu/9152520/F%C3%A3s_Media%C3%A7%C3%A3o_e_Cultura_Midi%C3%A1tica_Dramas_Asi%C3%A1ticos_no_Brasil. Acesso em: 3 jun. 2019. 

MAZUR, D. A televisão sul-coreana no atual contexto global: Um panorama introdutório. Anais... I Congresso TeleVisões, Niterói, 2017. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1D8XNrszEkWVQlBWXMdJyR6sFDw1PU_n-/view. Acesso em: 3 jun. 2019. 

URBANO, K, ARAUJO, M. Os novos modelos de distribuição e consumo de conteúdo audiovisual asiático nas redes digitais: O caso dos dramas de TV na Netflix BR. Anais...X Simpósio Nacional da ABCiber: Conectividade, Hibridação e Ecologia das Redes Digitais, São Paulo, 2017. Disponível em: https://www.academia.edu/37189868/OS_NOVOS_MODELOS_DE_DISTRIBUI%C3%87%C3%83O_E_CONSUMO_DE_CONTE%C3%9ADO_AUDIOVISUAL_ASI%C3%81TICO_NAS_REDES_DIGITAIS_O_CASO_DOS_DRAMAS_DE_TV_NA_NETFLIX_BR. Acesso em: 3 jun. 2019. 

URBANO, K. Entre japonesidades e coreanidades pop: da Japão-Mania à Onda Coreana no Brasil. Anais...INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação: 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Curitiba, 2017. Disponível em: https://www.academia.edu/34330553/Entre_japonesidades_e_coreanidades_pop_da_Jap%C3%A3o-Mania_%C3%A0_Onda_Coreana_no_Brasil. Acesso em: 3 jun. 2019.


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