A narrativa intertextual nos videoclipes de Felipe Sassi

Antes de tudo, talvez você esteja se perguntando quem é Felipe Sassi, certo?! Se você for fã da Lady Gaga, provavelmente já conhece o trabalho dele, mas nem percebeu. Felipe é formado em Publicidade no Centro Universitário de Belas Artes de São Paulo, e para um projeto de Semiótica, ele ‘dirigiu’ - de maneira fictícia - um videoclipe para a música Bloody Mary, de Gaga, que integra o álbum Born This Way. Na época, os fãs pediam muito, em fóruns e nas redes sociais, para que a música fosse single (inclusive eu), mas, infelizmente, a equipe de Gaga não produziu um videoclipe para a canção. O trabalho, ‘dirigido’ por Felipe conta com mais de 300 mil visualizações no YouTube. Apesar de não ter sido lançado os fãs conseguiram ter um vídeo, mesmo que não oficial, para a música. 


Este trabalho foi o pontapé inicial de Felipe no cenário de produção de videoclipes no Brasil. Após formado, o primeiro videoclipe que ele participou foi Tombei, da Karol Conká, Sassi assinou como assistente de direção, roteirista e editor. Em seguida trabalhou com Boss In Drama, em Lista VIP, e agora trabalha com diversas cantoras do cenário da música pop brasileira. Ludmilla (Jogando Sujo), Iza (Ginga) e Maria (Toda Vez), são alguns exemplos. 

Porém, talvez o boom de sua carreira, até o momento, foi a narrativa que ele criou com os videoclipes de Lia Clark, Wanessa, Glória Groove e Iza. Felipe desenvolveu todo um universo com os clipes dessas cantoras, fazendo com que eles se cruzem em determinados momentos. 

Felipe Sassi no set de gravações de “Loko”, de Wanessa 

Bumbum no Ar – Lia Clark ft. Wanessa 

Em Bumbum no Ar Felipe conta a história de Lia e Wanessa tentando matar Jota Palhares, um político misógino, homofóbico, racista e machista (parece que, infelizmente, conhecemos alguém assim, né Brasil?!), cujo número de sua campanha é 28 (não tente subtrair 1 de cada número!). Após a tentativa de assassinato elas descobrem pelo “Bafão News”, um programa fictício de TV, que Jota ainda estava vivo. Então Lia e Wanessa vão atrás dele de novo, mas acabam presas no final do vídeo. 

Segundo Lia Clark, no podcast Santíssima Trindade das Perucas, este clipe era para ser único, mas Felipe decidiu colocar um “continua” no final, pois poderia surgir alguma oportunidade futura de continuar essa história e ela acabou topando, mas sem muitas esperanças. 

“Bafão News” anunciando que Jota Palhares ainda estava vivo 


Glória Groove – Coisa Boa 

Este videoclipe se passa num presídio, que Glória está liderando uma rebelião. Neste momento, começa a ficar mais explícita a perpetuação de um videoclipe para o outro. Em um momento que a câmera mostra as prisioneiras de uma das celas, observamos Wanessa, traçando um plano na parede, e Lia sentada lendo uma revista. É possível ver que Wanessa escreveu na parede as palavras: show, frigorífico e cobra, que serão elementos fundamentais no desenvolvimento de seu videoclipe para a canção Loko. A revista que Lia Clark está lendo tem uma manchete na capa com o nome Terremoto, que é sua parceria com Glória Groove, presente em seu álbum É da Pista. Outro momento importante para o desenrolar da narrativa é o poster de Iza colado na parede da cela de Glória. 

Wanessa tramando seu plano para fugir do presídio 

Lia Clark lendo a revista com a manchete “Terremoto” 

Poster da capa de “Dona de Mim”, disco de Iza, colado na parede 


Wanessa - Loko 

Em Loko, Wanessa já conseguiu sair da prisão e está fazendo um show para alguns homens com uma cobra amarela pendurada em seu pescoço (dá vontade, né Britney?). No fim deste vídeo, Wanessa prende estes homens em um frigorífico e fica torturando os mesmos até a morte. 


Yoyo - Glória Groove ft. Iza 

Lembra de rebelião que Glória causou no presídio, né?! Pois é, agora chegou a hora dela finalmente sair, e ninguém menos que Iza chega para buscar a amiga. A relação entre as duas já havia sido apresentada sutilmente em Coisa Boa, quando vemos o poster de Iza na cela de Glória. No início do clipe enxergamos uma família, aparentemente tradicional, assistindo TV. Naquele momento, o programa Bafão News, está noticiando que chegou um terremoto no país, então a TV perde o sinal e o videoclipe de Yoyo começa a ser transmitido para aquela família, que acaba se rendendo ao som das duas. 

 Família assistindo o clipe de Yoyo 

Glória e Iza conseguiram colocar a família tradicional brasileira para dançar 


Terremoto – Lia Clark ft. Glória Groove 

Todas fugiram do presídio, mas e a Lia Clark? Finalmente temos um desfecho para ela, no início vemos ela numa favela lendo um jornal (ela gosta de ler, né?!) com umas manchetes que criticam algumas situações que o povo brasileiro vem passando nos últimos tempos. O jornal também tem uma parte para pessoas foragidas da polícia, e adivinha quem está lá?! Isso mesmo, Glória, Iza, Wanessa e Lia (bamm!). Este videoclipe mostra um pouco do cotidiano de Lia e ela conversando com a amiga Wanessa no celular, aparentemente tudo estava bem. Até que a polícia bate em sua casa e ela se desespera, ligando imediatamente para Iza, que diz que a GG (Glória Groove) já está chegando para ajudá-la. Lia até tenta fugir, mas é pega pela polícia. É então que Glória Groove chega e ajuda a amiga a se livrar dos policiais. Dando fim a este universo (será?). 

 Jornal com as manchetes que remetem aos outros clipes 

Glória chegando para ajudar Lia a se livrar dos policiais 


Considerações finais 

A prática de videoclipes com histórias muito elaboradas, arcos narrativos e continuações, nunca foi muito usual aqui no Brasil (BEZERRA; COVALESKI, 2016) Sassi está popularizando um pouco desta prática, fazendo com que o público volte a ter empolgação e prestígio pelos lançamentos de videoclipes dos artistas brasileiros. Lady Gaga e Beyoncé tentaram fazer isto quando anunciaram a continuação para sua parceria, Telephone, mas essa sequência nunca existiu (#triste). Toda a produção por trás destes videoclipes brasileiros contribuíram para o surgimento de, talvez, uma nova forma de se pensar ao produzir este conteúdos no país. Nos resta acompanhar, e torcer, para que possamos continuar vendo produções ricas e, acima de tudo, valorizadas aqui no Brasil. 

É interessante também, analisar os assuntos que Felipe ressaltaem seus roteiros, sempre procurando de alguma forma relatar os problemas que o país vem passando, sempre atento com questões LGBT+’s, de negritude e também de feminismo. 


Referências

BEZERRA, B.; COVALESKI, R. Pós-Modernidade, Entretenimento e Consumo Midiático: a Narrativa Intertextual Bad Blood. RuMoRes, v. 10, n. 19, p. 190-208, 7 jul. 2016.

0 Comentários