Não é novidade alguma o peso que a mídia tem na formação de padrões estéticos e comportamentais aceitáveis na sociedade (KELLNER, 1995). A Internet, como um campo aberto de discussões e exposições pessoais, amplia essas regras impostas e torna-se uma potencial ferramenta nociva na construção social e formação de opiniões. A mídia se torna ferramenta fundamental e cada vez mais ativa no nosso cotidiano. Sendo assim, não podemos ignorar que ela também traz suas importâncias e um campo de interação social que se renova a cada momento. A mídia é capaz de ampliar o espaço comunicacional e as nossas interatividades sociais, criando e influenciando novas culturas e nossos próprios comportamentos.
Uma das funções das mídias é o entretenimento, que se torna mais presente em nosso dia a dia, seja ao assistir uma série de uma plataforma de streaming, ao acompanhar notícias em blog e sites informativos, atualizar as redes sociais e interagir com pessoas que estão a distância. Através disso, a mídia influencia nosso cotidiano, afinal, passamos a ocupar esse novo espaço de “convivência” usufruindo de inspirações diversas e inevitavelmente nos deparamos com séries de exemplos que nos faz idealizar pelo corpo, relacionamento, vida perfeita, valores morais, identificação representativa e cultural tais quais como temos referência no nosso consumo. A mídia influencia e dá suporte para modelar nossa própria visão de mundo: o que é bom e mau, moral ou imoral, aceitável ou não. Nessa cultura midiática “[…] muitas pessoas constroem o seu senso de classe, de etnia e raça, de nacionalidade, de sexualidade, de nós e eles” (KELLNER, 1995, p. 9).
Essa cultura na qual somos submetidos a viver e pensar de acordo, com frequência reprimindo e nos fazendo desejar se adequar a esses padrões através das publicidades e estrelas do cinema ou da TV que expressam de forma impositiva padrões de vida e identidade — seja ao impor e perpetuar os papéis da mulher na sociedade, a masculinidade, o corpo perfeito e modelo de vida “moralmente” aceitável. Como pontua Kellner (2001, p.10),
Numa cultura contemporânea dominada pela mídia, os meios dominantes de informação e entretenimento são uma fonte profunda e muitas vezes não percebidas de pedagogia cultural: contribuem para nos ensinar como nos comportar e o que pensar e sentir, em que acreditar, o que temer e desejar — e o que não.
O cinema vai além de um produto e forma de entretenimento, é preciso encará-lo como reflexo de uma sociedade e uma ferramenta social. Nesse contexto, é impossível ignorar as representatividades (ou falta delas) presentes nas narrativas. Além da perpetuação de senso e de moral refletidos no cinema e como essas características afetam, reprimem e excluem a diversidade consumidora dessa mídia. O cinema é como um elemento que, em diversificados níveis, reflete a realidade através da narrativa que ressalta alguns aspectos da existência e escondem outros devido ao uso de uma linguagem que revela a forma de como um realizador e seu grupo social abordam temas pertinentes de sua época (FERRO, 1993). E quando tratamos esses “temas pertinentes”, é possível destacar no cinema hollywoodiano, massivo, feito para a indústria, como os pensamentos e as morais dominantes dessa época.
No cinema temos a construção da imagem do corpo feminino “perfeito”, da masculinidade admirável e inspiradora, da fragilidade feminina, da construção familiar ideal e inúmeros outros padrões estéticos e de condutas sociais representados ao longo de anos de produções cinematográficas. Entretanto, é também no cinema que temos o apagamento de características físicas e sociais que fogem desse padrão construído ao longo não somente de anos de uma indústria, mas de uma construção eurocêntrica e patriarcal — desde historinhas infantis, ainda fora do cinema, até blockbusters, filmes vencedores de bilheteria e propagandas de TV.
Não podemos esquecer também que é preciso observar esse ciclo como um processo retroativo que acontece não somente porque a indústria cinematográfica ou publicitária quer perpetuar o discurso, mas porque nós, como um público generalizado, consumimos esse tipo de produto. Tanto que filmes comerciais que fogem dessa “norma” conservadora, tendo seus protagonistas e temas uma abordagem que inclui essa diversidade, são produtos com produções e divulgações voltadas para um nicho específico.
Logo, chegamos ao ponto fundamental do texto: a importância dessas abordagens e a presença de personagens e protagonistas diversificados nos filmes para adolescente e jovens adultos. Temas que, apesar de terem presenças consolidadas em outros meios, como livros, as séries de TV e streaming e, aos poucos, ganhando espaço nas novelas, são isolados, pouco aproveitados no cinema e ainda carregado de estereótipos ou ironizados.
Podemos começar pontuando a importância desses papéis na forma de representar públicos que, não apenas no longo histórico dessa linguagem audiovisual, mas por muito tempo, através de conceitos fechados sobre identidades e normas de ser, foram reprimidos e vulgarizados — quando essas minorias não eram sexualizadas nas ocasiões que convinha para a sociedade. Suas imagens não se tornaram símbolos de poder, de beleza ou de seriedade, e nessa narrativa normativa, assim se estabeleceu por algum tempo.
Mantendo uma visão bem otimista sobre o quadro social e político ao qual passamos, podemos enxergar uma mudança nesse cenário representativo, no qual aos poucos as representatividades invisibilizadas vão ocupando espaços. Esse movimento nos estimula a imaginar uma mudança e acreditar na importância de continuar impulsionando, consumindo, motivando e falando sobre o assunto.
Exemplo disso são filmes recentes e voltados para o público juvenil e jovem adulto que abordam essas temáticas colocando-as no protagonismo. Entre acertos e erros, conseguem encontrar na narrativa formas de representar um papel importante e poderoso e ainda, comerciais — filmes como por exemplo Mulher-Maravilha (2017, Patty Jenkins), Pantera Negra (2018, Ryan Coogler), Capitã Marvel (2019, Anna Bonden e Ryan Fleck), etc. —, mas donos de suas próprias histórias e capazes de enfrentar seus rotineiros conflitos.
Para o percurso dessa linha de raciocínio, vamos nos concentrar em filmes “água com açúcar” que colocam esses protagonistas comuns, em conflitos comuns, e ainda assim são donos de representatividades importantes — às vezes, até mais importantes porque são seres humanizados nos quais o público é capaz de se ver no personagem.
A representatividade e identificação se fazem ainda mais importante quando se pensa que este tipo de filme se apropria de uma linguagem fácil, portanto, que alcança um maior público que na maioria das vezes o assiste pelo simples entretenimento. Para entender essa linguagem e essa função social, utilizaremos o discurso da competência midiática que se insere de forma pedagógica na linguagem formal do discurso audiovisual. A competência midiática decorre a partir do domínio de conhecimentos, habilidades e atitudes que estão relacionadas a seis dimensões: linguagem, tecnologia, interação, produção e difusão, ideologia e valores, e estética (FERRÉS, J; PISCITELLI).
Entretanto, para que essas representatividades pudessem permear esses espaços na mídia — espaços dos quais enfrentam, ainda hoje, resistência de um público conservador, para ocupar o protagonismo, desconstruído de estereótipos e de uma visão marginalizada e/ou sexualizada — o processo perpassa por discussões de políticas sociais e princípios morais de uma cultura majoritariamente branca, masculina e heterossexual. Nessa discussão não se deve ignorar a constante supremacia masculina — e de seus ideais perpetuados em morais religiosas e culturais de uma sociedade machista — nos meios de poder, não somente de controle de criação na indústria cinematográfica, mas da moldura do aceitável e não aceitável no consumo do próprio público que também consome dessa cultura.
Foucault (1985) nos mostra que a sexualidade se torna uma temática cada vez mais central na constituição do sujeito moderno. Vindo dessa valorização da intimidade, levou o desenvolvimento de ciências que tratam particularmente sobre essa questão, tais quais como a psicologia, sexologia e a psicanálise. O surgimento de movimentos feministas e LGBT+ politicamente organizados emergem nesse contexto da politização do íntimo e da sexualidade, no final do século XIX. Esses movimentos políticos foram chaves no combate de preconceitos e exclusões que estavam bastante ligados aos discursos médicos, psicológicos e religiosos. Foram chaves numa luta de igualdade de direitos numa sociedade que marca uma diferença de gênero — que não envolve apenas o sexo biológico, mas o comportamento e a expressão de identidade e sexualidade com uma universalização de um valor euro-norte-americano branco e heterossexual.
A quebra de tabus e o reconhecimento da centralização da sexualidade e de sua ligação com nossa própria identidade e nosso posicionamento no mundo influencia nossos próprios consumos e criações, não à toa como observamos grandes produtos, na TV, no rádio, na internet, no qual a sexualidade passa a ser politizada.
O próprio cinema, nas palavras de Nazario (2007), sempre sugeriu a existência da homossexualidade, nos pequenos e superficiais detalhes que faziam fronteiras a um fato e o imaginário sexual. A primeira sugestão, por exemplo, acontece em The Gay Brothers (1898) de Thomas Edison com a simples cena de dois homens dançando valsa. O cinema flertava com um certo tipo de sensualidade, beirando o erotismo, quando se tratava da sexualidade na sétima arte. Entretanto,
[…] as liberalidades dos anos de 1920-1930 foram reprimidas pelas Igrejas que, preocupadas com a moral, impuseram em Hollywood o Código Hays, impedindo que a simpatia do público fosse dirigida para o “lado do crime, do erro, do mal e do pecado”. O cinema devia mostrar modelos de vida corretos e respeitar as leis divinas, natural e humana. (NAZARIO, p 97, 2007)
Então, em um espaço em que a homossexualidade ainda reprimida começava a ocupar potenciais espaços de ocupar, apesar de possíveis construções estereotipadas em cima desses papéis, e a sexualidade da mulher ainda se submetia a uma universalização masculina, o Código Hays veio com um papel impositivo de valores morais religiosos que passa a reprimir ainda mais a identidade sexual representada no audiovisual. Marco que passa a se refletir e influenciar em um formato linguístico do audiovisual em outros lugares, uma vez que Hollywood crescia como referência. O cinema passava a representar uma idealização de vida puritana que neutralizava as realidades.
Essa repressão de temas sexuais permitiu que o erotismo sublimado se desenvolvesse de forma camuflada em hiperssexualizações dos corpos e a criação de padrões de beleza e símbolos sexuais; construindo, mais uma vez, padrões narrativos em personagens que são aceitáveis e outras formas que passam a ser marginalizadas e rejeitadas. A mídia, ao invés de representar o público, cria símbolos de desejos e idealizações. O escape para a sétima arte foram os cinemas underground, que fugiam do modelo comercial hollywoodiano e permitia, com frequência, tratar temáticas rejeitadas pelo público já submetidos a idealizações propostas pela mídia cinematográfica e replicada pelos outros modelos midiáticos.
Tendo pontuado e apresentado essa visão geral, seguimos para os filmes, todos voltados para o público adolescente e jovem adulto, em modelo comercial de produções cinematográficas, que apresentam essa representatividade e a resistência na forma de ocupar esses espaços para falar. Lembrando ainda que, para tratar de forma aprofundada de cada temática e discussão de minorias e dos valores estéticos, sociais e morais, é necessário uma imersão maior, tratando particularmente cada um dos temas e vertentes desses movimentos sociais, como por exemplo, o papel da mulher no cinema, o papel da mulher negra, o papel da mulher lésbica ou bissexual, a sexualização do corpo negro representado no cinema, a invisibilidade de pessoas transexuais no cinema, a perpetuação de um discurso que desvaloriza a bissexualidade nas narrativas, etc. Esse tipo de aprofundamento não será o foco desse texto, mantendo uma discussão superficial da representatividade e de sua importância nesses tipos de filmes.
Com Amor, Simon (2018)
Com Amor, Simon (Love, Simon) é um filme dos estúdios FOX que foi lançado em 2018 e foi dirigido por Greg Berlanti. O longa é uma adaptação do livro Simon VS. The Homosapiens Agenda (que por conta do filme acabou tendo o título mudado para Love, Simon) e conta a história de Simon Spier. Simon é um garoto de 17 anos que leva uma cotidiana vida norte-americana, entretanto esconde sua própria sexualidade dos amigos e da família. O personagem também se caracteriza por não sentir a necessidade de se assumir. O conflito do filme surge quando Simon começa, através de trocas de e-mail, a se sentir atraído por um personagem anônimo.
O filme apresenta uma trama simples que, apesar de toda a discussão sobre a necessidade de se assumir ou não e a descoberta dessa identidade sexual, não foge de narrativas comuns e que tanto atraem o público juvenil. Ele coloca em prova que há muitas histórias não-heteronormativas para serem contadas e que elas precisam ser contadas. O filme não reforça estereótipos e possibilita a abertura de outros filmes no mercado cinematográfico — filmes plurais e que sejam capazes de incluir narrativas, personagens e conteúdo diversos, que sejam capazes ainda, de normalizar um tabu construído por muito tempo.
Dumplin’ (2019)
Dumplin’ também é um filme adaptado de uma obra homônima, da autora Julie Murphy. O filme foi dirigido por Anne Fletcher, e a responsável pela distribuição foi o serviço de streaming Netflix. O filme nos apresenta à Willowdean Dickson, uma jovem “acima do peso” que estabelece uma relação bem confiante com seu próprio corpo, entretanto nunca recebeu esse respeito pela mãe, ex-miss do estado do Texas. O conflito do filme é quando Will desafia não apenas a sua mãe e os padrões estéticos que a sociedade impõe, mas a si mesma ao concorrer em um concurso de beleza do qual mãe já foi vencedora. O filme ainda tem uma linguagem bem juvenil, sendo responsável por trazer questões e temáticas ao público jovem e nos conquistar através do envolvimento com a narrativa.
Embora a mensagem esteja explícita o tempo toda durante o filme, ao contrário de Com Amor, Simon, o filme aborda com naturalidade e potencializa a importância de se questionar esses padrões em cima do corpo feminino e amar o próprio corpo. Uma das frases que marca o filme por exemplo é: “Todo mundo tem corpo de biquíni”. O filme ainda usufrui de referências da cultura drag queen para fazer um divertido e importante questionamento aos padrões.
O Ódio Que Você Semeia (2018)
O Ódio Que Você Semeia (The Hate U Give) talvez seja o filme mais sério da lista. Também adaptado de um livro young adult, escrito pela Angie Thomas vai muito além de uma narrativa juvenil água com açúcar. O filme se potencializa ao trazer o protagonismo juvenil em um papel importante e decisivo na luta de movimentos sociais e de autoafirmação. Dirigido por George Tillman Jr., o filme retrata a vida de Starr Carter, uma jovem negra que lida com um cruel mundo racista, no qual precisou aprender com seus pais a como se comportar na frente de um policial. O conflito do filme inicia-se quando Starr Carter presencia o assassinato de seu melhor amigo pela polícia, e nesse impasse, precisa utilizar de sua voz não apenas para lutar contra o racismo institucional, mas contra a marginalização de pessoas negras e na violência no subúrbio através da rixa de gangues e policiais.
O filme não só possibilita a identificação de jovens, negros e mulheres no papel do protagonismo, mas também a visibilidade de seus papéis no movimento social e de que sua voz importa e deve ser ouvida, mas também retrata e expõe uma realidade que, com frequência é banalizada e convertida a um olhar euro-norte-americano branco.
Mas e as Competências Midiáticas?
Os filmes adotam uma linguagem juvenil que se adequa ao público ao qual os produtos são direcionados. Através dela suas temáticas e tramas são expressadas com narrativas facilmente “digeríveis” e envolventes, se aproveitando de pegadas de romance, drama e comédias para cativar o público e torna-los empáticos com as histórias e os personagens, e receptivos para receber o discurso do filme — seja através de conflitos emocionantes pelos quais os protagonistas passam durante suas jornadas..Os filmes utilizam de referências externas para construir a própria estrutura narrativa e na construção e influências que os personagens recebem no universo de cada filme. Nesse contexto, podemos estabelecer um diálogo com a dimensão da Linguagem, proposta por Ferrés e Piscitelli (2015, p. 13-14).
Simon, de Com Amor, Simon, por exemplo, confessa a atração que tinha por Harry Potter quando criança, ou ainda que escutava Panic! At the Disco apenas porque achava o vocalista da banda bonito. Através desses fragmentos do filme a linguagem possibilita uma identificação entre o espectador e o personagem, criando uma significação afetiva e empática com Simon. Já em Dumplin’ temos a as influências que Willowdean recebia de sua tia através das músicas de Dolly Parton e, ainda mais marcante, a forma como usam a cultura drag queen para destacar o discurso dos padrões de beleza. Em O Ódio Que Você Semeia, utiliza-se a linguagem de uma cultura negra, suburbana, e do discurso que dá origem ao título original: The Hate U Give Little Infants Fuck Everybody (T.H.U.G. L.I.F.E). A linguagem do filme se apropria para trazer uma dimensão, cenário e ainda motivação da personagem na história.
Ainda seguindo a metodologia de Ferrés e Piscitelli (2015, p. 13-14), ideologia e valores é a dimensão da competência midiática envolve a capacidade do espectador de formar uma perspectiva crítica sobre as representações midiáticas segundo nossa própria percepção de realidade, avaliando intenções e interesses presentes no conteúdo. Nesse contexto, os filmes apresentados se apropriam de um discurso social que se repercute não apenas na sociedade, em um geral, mas em como essas realidades são, com frequência, marginalizadas e representadas de maneiras estereotipadas ou, ainda, excluídas das narrativas cinematográficas. A dimensão da linguagem contribuiu para que os valores que cada filme carrega sejam compreendidos e capazes de uma comparação com nossa percepção de realidade.
O espectador é capaz de desenvolver uma leitura crítica sobre as temáticas que cada filme trata, mesmo que sejam narrativas voltadas para o entretenimento juvenil. A identificação emocional com os personagens e as histórias se tornam mecanismos para criar uma empatia sobre o assunto, inserindo o espectador, mesmo que não se sinta representado, em uma situação em que se sinta comovido e receptivo para o discurso social, se abrindo a uma percepção de mundo ao qual, talvez, não estivesse atento antes.
Essa dimensão talvez seja a mais notória e importante dado as temáticas dos filmes e a quem eles são direcionados. Temas como racismo, violência institucional, autoestima, identidade, padrões de beleza, gordofobia e LGBTfobia são assuntos que repercutem e se tomam grandes proporções no público juvenil — que se perpetua com frequência porque os assuntos não são abordados e conscientizados de maneira adequada.
A forma como Com Amor, Simon, por exemplo trata uma narrativa juvenil e um romance “água com açúcar” fugindo de um padrão heteronormativo possibilita o contato com diferentes realidades e a identificação do público com a trama. Ao mesmo tempo o filme traz abordagens descontraídas e séries sobre aceitação familiar e ainda questões sobre amizade e confiança. Enquanto que Dumplin’ confronta os padrões da indústria da beleza e da moda com uma personagem confiante de si e de seu próprio corpo, relações familiares e o luto. Já O Ódio Que Você Semeia tende a uma narrativa mais séria, mas não abandona a responsabilidade enquanto filme direcionado ao público jovem de abordar e exibir realidades negras marginalizadas em constante confronto à uma violência policial e um racismo institucional, presente em uma construção cultural.
Conclusão
Talvez, por muito tempo, a capacidade crítica dos jovens tenha sido subestimada de diversas formas — reflexo que os inferiorizam em discussões sociais e políticas. Esse processo acaba por restringi-los a abordagens necessárias para um desenvolvimento enquanto cidadãos politizados e responsáveis em seus próprios discursos, em sincronia a uma constante falta de representatividade nos produtos midiáticos.
Filmes como os apresentados nesse texto não apenas motivam um pensamento crítico e percepção de mundo e suas diferentes realidades sociais e identificação de pessoas que as necessitam para se reforçar enquanto suas próprias características, mas possibilitam a quebra da perpetuação de um discurso excludente e estereotipado nas mídias. É reconfortante se identificar com um personagem e perceber que também somos capazes de ser fortes, de nos aceitar e de viver uma vida como qualquer outra. É especial olhar para a mídia, que nos cercam a todo momento do dia, e ver que há um super-herói negro, uma super-heroína tão forte quanto os outros super-heróis, um jovem gay em busca de um final feliz, longe de uma caricatura cômica ou banalizada, uma mulher gorda se sentindo bem com o próprio corpo, sem ser o alívio cômico da narrativa e ainda, uma jovem negra enfrentando um sistema, racista, falho e injusto.
Referências
FERRO, M. Cinéma et Histoire. Paris: Gallimar, 1993
MASCARELLO, Fernando. História do Cinema Mundial. Campinas: Papirus, 2006.
NAZÁRIO, Lukas. O outro Cinema. Aletria: Revista de Estudos de Literatura, v.16, 2007. Disponível em: <www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/aletria/article/download/1408/1506>. Acesso em: 25 mai. 2019.
KELLNER, Douglas. A Cultura da mídia - estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru: EDUSC, 2001.
FERRÉS, J; PISCITELLI, A. Competência midiática: proposta articulada de dimensões e indicadores. In Lumina, v. 9, n, 1, p. 1-16, 2015. Disponível em: <https://periodicos.ufjf.br/index.php/lumina/article/view/21183>. Acesso em: 25 mai. 2019.
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