Phil Coulson e as ações transmídia no Universo Marvel


Você conhece Phil Coulson?

Coulson e seu conversível voador Lola em Agents of S.H.I.E.L.D.

Se você não assiste à série Agents of S.H.I.E.L.D. (2013 – presente, ABC) a resposta provavelmente é não. Mas se já viu aos filmes do Universo Cinematográfico Marvel (MCU), você deve se lembrar de um homem de terno, fã do Capitão América que é fatalmente ferido por Loki (Tom Hiddleston) em uma cena de Os Vingadores (2012). Mesmo com poucas aparições durante os filmes, o personagem interpretado por Clark Greeg esteve presente desde Homem de Ferro (2008) e serviu como uma das principais representações da S.H.I.E.L.D. nos longas. Coulson é primordial para a narrativa de Vingadores, pois, além de ser a principal ligação entre todos os filmes solos dos heróis, sua morte é usada por Nick Fury (Samuel L. Jackson), então diretor da S.H.I.E.L.D., para motivar o time a lutarem juntos e não entre si como até então.
 
Phil Coulson e Nick Furry em Os Vingadores

Voltando um pouco no tempo, antes de sua morte, Coulson apareceu em outras mídias: para aumentar a representatividade e a importância da S.H.I.E.L.D. junto aos fatos narrados no cinema, o estúdio criou os Marvel One Shot – série de curtas que compunha os materiais extras das versões em Blu-ray dos filmes. Nos dois primeiros curtas lançados – The Consultant (2011) e A Funny Thing Happened in The Way to Thor's Hammer (2011) – o agente Coulson foi utilizado para este fim. No primeiro, o personagem avisa a outro agente da S.H.I.E.L.D. sobre o desejo da agência de indexar o Abominável – vilão de O Incrível Hulk (2008) – à Iniciativa Vingadores; cientes do perigo, decidem sabotar a reunião com o General Ross, enviando Tony Stark para fazê-lo recuar a ideia – cena pós-créditos do filme do Gigante Esmeralda. Já no segundo, como o título sugere, enquanto Coulson vai para o Novo México investigar a queda do Mjölnir, ele se depara com um assalto à loja de conveniência do posto de gasolina onde para abastecer seu carro, o agente luta com os assaltantes e impede o assalto, mostrando uma faceta dantes não mostrada nos filmes.

Coulson negocia com assaltantes em A Funny Thing Happened in The Way to Thor's Hammer

Um ano após a morte de Coulson nos cinemas, vemos uma equipe de agentes da S.H.I.E.L.D. surgir na TV. A série, que teve o piloto dirigido por Joss Whedon, responsável por Os Vingadores, trouxe de volta a vida o personagem de Greeg. Ambientada após a Batalha de Nova Iorque, Agents of S.H.I.E.L.D. repercute os principais acontecimentos do MCU no âmbito da Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão. Uma das ligações mais importantes entre cinema e televisão se deu à época de Capitão América e o Soldado Invernal (2014), quando se descobre que a organização possuía diversos agentes leais à Hidra, um órgão subversivo dedicado à conquista do mundo. Na semana após a estreia do longa, acompanhamos os desdobramentos da queda da S.H.I.E.L.D. na série, pelo olhar de Coulson e sua equipe, que precisavam descobrir em quem poderiam ou não confiar.

A equipe original de Agents of S.H.I.E.L.D., série que trouxe o agente de volta à vida no MCU

Esse é um dos pontos fundamentais da estética transmídia: uma forma de explorar plots e sub plots da narrativa principal que não são efetivamente aproveitados na nave-mãe – no caso, os filmes. Os curtas e a série puderam mostrar novas narrativas a partir de outros pontos de vista com suporte nos fatos narrados no cinema. Aproveitando o exemplo citado anteriormente, no filme do herói bandeiroso, não se pôde mostrar o que houve após a queda da organização, muito menos com a equipe de Coulson, já que o Rogers precisava deter o principal vilão do filme – o Soldado Invernal – fato mais relevante na narrativa do longa. Já a série permitiu mostrar, de forma mais ampla, as repercussões desses acontecimentos. Para Jenkins, o desenvolvimento de narrativas em diferentes plataformas midiáticas permite “[...] uma conexão de vários elementos, com um fluxo menos linear de informação, criando um espaço no qual poderemos partilhar com outros usuários aquilo que encontrarmos” (NAVARRO, p. 24, 2010). É importante ressaltar que essas distintas produções, em diferentes mídias, não devem impossibilitar a compreensão do espectador casual, que não acompanha os filmes sem conhecer o universo compartilhado, ou de quem acompanha só os filmes ou as séries de TV.
 
A web-série Slingshot mostra os fatos ocorridos na série de TV, sob a visão da inumana Yo-Yo

Assim como série narra os fatos da perspectiva dos membros da organização, na terceira temporada da trama, uma das personagens ganhou uma web-série mostrando sua versão de um dos fatos ocorridos na atração. Ambos os casos envolvem mais um ponto da estética transmídia: o foco em múltiplos planos ou múltiplas formas de subjetividade (NAVARRO, 2010). É o caso de Agents of S.H.I.E.L.D.: Slingshot, que apresenta a postura da inumana Yo-Yo sobre o órgão e os Acordos de Sokóvia, refletindo os valores e opiniões da personagem. 

Outra característica ressaltada por Jenkins na entrevista com Navarro (2010, p.24, 2010) é uma mudança de foco, que resume bem a experiência do MCU: a ênfase recai não sobre personagens individuais e suas histórias, mas sobre formas cada vez mais complexas de construção de mundos. Essas narrativas criadas entre cinema, curtas-metragens em Blu-ray, televisão e streaming permite a construção de um universo compartilhado que, até o final de 2017, vai englobar um total de 34 produções.

Nos quadrinhos, os agentes da TV lutam ao lado dos maiores heróis do universo Marvel

Apesar de grande parte dos personagens adaptados pelo MCU terem origem nos quadrinhos, em Agents of S.H.I.E.L.D. o fato ocorreu de forma inversa. Criado diretamente para os filmes, o agente migrou para as HQs ainda em 2012, fazendo participações em histórias dos Vingadores Secretos, Thor, Deadpool e Quarteto Fantástico. Posteriormente, em dezembro de 2014, os demais personagens da trama foram introduzidos ao cânone dos quadrinhos na série S.H.I.E.L.D., publicada recentemente no Brasil. Nas seis edições, Coulson, May, Fitz e Simmons lutam ao lado de personagens do primeiro escalão da Marvel – coisa impossível de acontecer na série de TV. Essas histórias, mesmo fazendo parte de outra linha temporal e, portanto, uma perspectiva diferente das dos filmes, permitem aos fãs acompanharem diferentes arcos narrativos dos agentes, contribuindo para a expansão do universo de Agents of S.H.I.E.L.D..


Referências

NAVARRO, Vinicius. Os Sentidos da convergência: Entrevista com Henry Jenkins. In: Revista Contracampo – UFF, Niterói, n.21, 2010. Disponível em: <http://www.contracampo.uff.br/index.php/revista/article/view/77> . Acesso em: 8 ago. 2017.


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