A complexidade narrativa em The Last of Us

Por: Mariana Albuquerque


No dia 5 de março de 2020, foi anunciado pela Naughty Dog a produção da série pela HBO, meses antes do lançamento oficial da segunda parte do jogo The Last of Us part II em 19 de junho de 2020. A data de estreia foi anunciada em novembro de 2022, no pôster divulgado pela HBO. O canal trouxe a data 15 de janeiro de 2023 como lançamento oficial. The Last of Us é um trabalho dos showrunners Neil Druckmann e Craig Mazin que expandiram o universo ficcional do jogo em 9 episódios variando de cinquenta minutos a uma hora de duração por episódio. A série foi distribuída semanalmente na HBO entre 15 de Janeiro de 2023 à 12 de Março na Max e possui diversos conteúdos transmídia que complementam a coleção de The Last of Us na plataforma.

Mittell (2015) afirma que a complexidade narrativa muda a maneira como as histórias são contadas e absorvidas pelo público, isso cria uma experiência de imersão mais rica e desafia os padrões tradicionais de narrativa clássica. A maneira como The Last of Us equilibra os requisitos de uma narrativa episódica e seriada na primeira temporada ressalta esta característica da complexidade narrativa , criando uma hibridização estrutural que enriquece a trama e aprofunda os personagens.

      



O equilíbrio entre narrativas episódicas e seriadas é um ponto norteador da complexidade narrativa (Mittell, 2012; 2015). A hibridização está presente na fruição das micro e macro narrativas, como pontua Mittell (2012, p.16),

O tipo de fruição mais distinto nesses programas é admirar o desafio narrativo apresentado a partir da violação das regras de narração de uma maneira espetacular. Através da estética operacional essas narrativas complexas convidam os espectadores a se engajarem no programa assumindo o mesmo patamar de analistas formais, dissecando as técnicas utilizadas para transmitir demonstrações espetaculares da arte do storytelling; este modelo de acompanhamento formalmente consciente é altamente encorajado já que sua fruição está associada ao nível de consciência que transcende o foco tradicional na ação diegética típica de muitos espectadores.

A fruição narratológica envolve a forma como a narrativa televisiva convida o telespectador a participar ativamente da análise dos acontecimentos, permitindo que ele monte um quebra-cabeça da história ao longo dos episódios. Essa característica da complexidade narrativa é exemplificada em The Last of Us por meio de cenas em que Ellie menciona acontecimentos passados que só serão revelados completamente mais tarde na história, criando uma tensão e envolvimento mais profundo do público. A série é composta por um arco narrativo central, mas também episódios isolados. As micronarrativas têm a função de explicar diversos acontecimentos e situações dos personagens que foram comentados ao longo dos episódios, mas sempre deixados em aberto sem uma explicação. 

Em diversos momentos ao longo da série, Ellie faz alusões a situações que viveu antes de conhecer Joel, mas sem apresentar detalhes completos. Este ponto pode ser observado, por exemplo, no episódio piloto, When You're Lost in the Darkness, dirigido por Craig Mazin. Nele, Joel e Tess começam a jornada para levar Ellie até um grupo dos Vagalumes que estava fora da Zona de Quarentena na cidade de Boston. Após terem sido pegos por um soldado da FEDRA, que os testa para saber se possuem o fungo, Ellie dá positivo para infecção deixando Joel e Tess desconfiados da garota. No episódio seguinte, Infected, os dois questionam Ellie sobre a infecção e ela conta que é imune ao Cordyceps. Joel, Tess e o público ficam sabendo que ela é uma chave importante para o desenvolvimento de uma cura, mas os detalhes de como foi mordida e de sua imunidade permanecem em aberto.

Essa questão é aprofundada ao longo dos episódios, principalmente em diálogos entre os protagonistas. Ellie constantemente questiona sobre seu propósito e destino, demonstrando muitas vezes incerteza sobre o que sua imunidade realmente significa. Essa ausência de respostas concretas instiga o telespectador a continuar acompanhando a série para entender melhor a origem de sua imunidade. A resposta concreta é apresentada apenas no episódio final intitulado Look for the Light – um complemento do título do episódio piloto que faz referência ao lema dos Vagalumes When you're Lost in the Darkness, Look for the Light. O episódio abre com um flashback do passado de Ellie, mostrando sua mãe Anna dando a luz enquanto é atacada por um infectado. Durante a luta, Anna é mordida, mas consegue cortar o cordão umbilical momentos após o nascimento de Ellie. Marlene, líder dos Vagalumes e amiga de Anna, acredita que a infecção da mãe pode ter levado a uma resposta imune incomum em Ellie. A informação liga as peças do quebra-cabeça que foram oferecidas ao longo da série, fechando o plot principal da protagonista, iniciado no piloto.

Episódio (S0xE9), Anna encontrando Marlene após o Nascimento de Ellie

A fruição narratológica discutida por Mittell (2012;2015) também pode ser observada durante o segundo episódio Infected e o quarto episódio Please, Hold My Hand de The Last of Us. Ellie menciona que, assim como Joel, ela também já passou por momentos difíceis e que já havia matado uma pessoa anteriormente. Porém, a jovem não explica quem ou em quais circunstâncias aquilo aconteceu. O telespectador é deixado no escuro, a ausência da seta chamativa estimula curiosidade para descobrir o que realmente aconteceu no passado da personagem. Dessa forma, encontramos algumas respostas apenas no sétimo episódio Left Behind, uma adaptação da DLC, um conteúdo extra oficial do jogo que trás o passado de Ellie. A resposta para as alusões da protagonista aparece neste episódio que não possui relação direta com o arco principal da série. Left Behind volta ao passado da protagonista durante o tempo em que vivia na escola da FEDRA, revelando sua relação com sua melhor amiga Riley, que se integrou aos Vagalumes sem contar a Ellie. Na sequência, as duas amigas saem pela cidade até um shopping, na qual passam horas se divertindo juntas sem se preocupar com a presença de infectados.

(S0xE7) Ellie chegando no Shopping

No decorrer dos acontecimentos, descobrimos o interesse amoroso de Ellie por Riley esclarecendo ao público a orientação sexual da personagem como parte da comunidade LGBTQIAP+ e também seu primeiro contato com bebidas alcoólicas. Left Behind mostra o momento em que Ellie e Riley são mordidas por um infectado, decidindo juntas que vão sucumbir à infecção. Porém, enquanto Riley enlouquece pelo Cordyceps e precisa ser morta pela amiga, Ellie descobre que é imune, revelando seu principal plot na série. A fruição narratológica é exemplificada neste momento, pois o telespectador é desafiado a juntar as peças da história de Ellie. Ao ouvir os comentários misteriosos da protagonista nos episódios anteriores, o público é estimulado a preencher algumas lacunas informacionais como, por exemplo, quem era importante para ela e como ela descobriu sua imunidade. Entretanto, quando o sétimo episódio é exibido essas informações são reveladas. Deste modo, o público passa a ter uma compreensão mais clara e rica do caráter, motivação e traumas de Ellie.

Ambas as linhas narrativas – imunidade de Ellie e a informação de que a personagem já tinha matado uma pessoa – exemplificam alguns de vários momentos da fruição narratológica presente em The Last of Us. Ao invés de oferecer todas as respostas de uma só vez, a série fornece fragmentos e informações, sugestões e diálogos que alimentam a curiosidade e o engajamento do público. Isso cria uma experiência ativa, em que o telespectador deve estar atento aos detalhes e se engajar cognitivamente para preencher as lacunas deixadas pela narrativa. A revelação gradual da imunidade de Ellie e os detalhes de seu passado demonstram como The Last of Us utiliza a complexidade narrativa para transformar a experiência de assistir a série em uma atividade de descoberta contínua, ao invés de consumir de forma linear todos os arcos narrativos da história.

A segunda característica da complexidade narrativa discutida por Mittell (2012; 2015) é o deslocamento temporal. Segundo o autor este ponto está relacionado com as diversas cronologias que são exploradas ao longo da trama, as temporalidades (passado, presente e futuro) podem ou não apresentar setas chamativas. Conforme afirma o autor;

Em todos esses programas, a falta de indicações e sinalizações explícitas sobre a forma de contar gera momentos de desorientação, implicando que os espectadores tenham que se engajar mais ativamente na compreensão da história e premiando espectadores comuns que conseguiram dominar as regras internas de cada programa narrado complexamente. Tais estratégias podem ser similares à dimensão formal do cinema de arte, mas nesse caso elas se manifestam em contextos expressamente populares para uma audiência massiva – podemos ficar temporariamente confusos em alguns momentos de Lost ou de Alias, mas esses programas demandam de nós que confiemos que a recompensa virá eventualmente no instante da compreensão complexa, mas coerente, e não a ambiguidade e causalidade questionável de muitos filmes de arte (Mittell, 2012, p.19)





Em The Last of Us o deslocamento temporal se configura como uma das ferramentas principais para criar tensão, desenvolver personagens e dar contexto a determinados acontecimentos. Este ponto pode ser observado no episódio piloto, em que esse recurso da complexidade narrativa é utilizado de forma eficaz principalmente para explicar as origens científicas do Cordyceps.


(S0xE1), Grafismo do Deslocamento Temporal e os Cientistas

O episódio piloto começa com uma cena de talk show com um deslocamento temporal apresentado por um grafismo no canto da tela no ano de 1968. Dois cientistas discutem a possibilidade de uma infecção fúngica pelo mundo, especialmente o fungo Cordyceps, evoluir a ponto de afetar os seres humanos. Um dos cientistas explica que, se o mundo aquecer o suficiente para que o fungo adapte suas necessidades de temperatura, ele poderia devastar a população humana, pois não há tratamento e nem cura. Esse prólogo serve como uma apresentação da mitologia da série e reforça a aporto científico que justifica o apocalipse que ocorreu anos depois. Essa explicação traz credibilidade e uma certa verossimilhança para a história, pois o telespectador vê a possibilidade apresentada pelos cientistas acontecer, já que o fungo existe no mundo real em condições semelhantes às da série.

O uso de deslocamento temporal sinalizado por uma seta chamativa contribui para o entendimento do público. Isto é, além de indicar didaticamente a localização temporal da infecção fúngica, o recurso traz um sentimento de inevitabilidade, um presságio sobre todas as cenas que virão a seguir. A escolha de começar com uma cena de décadas antes dos eventos principais da narrativa se contrasta com outro deslocamento temporal que integra a primeira temporada de The Last of Us. Os saltos cronológicos para a cidade do Texas em 2003, com o surto em andamento, e logo após para 2023 em Boston prepara o telespectador para uma natureza não-linear da narrativa. Sugerindo que o tempo será “manipulado” ao longo da série durante a jornada de Joel e Ellie, indicando informações importantes em momentos específicos da história.


(S0xE1), Marcação de Deslocamento Temporal com Setas Chamativas

A narrativa de The Last of Us também aciona o deslocamento temporal para cobrir grandes passagens de tempo. Como podemos observar durante toda a jornada de Joel e Ellie pelos Estados Unidos até os Vagalumes em Salt Lake City. Além das marcações temporais indicadas com grafismos na tela, a série sugere a passagem de dias e semanas através de imagens de paisagens desoladas, mudança de luz do dia para noite e o estado crescente de exaustão e desgaste dos personagens durante a jornada. Esses trechos, ao contrário do episódio piloto e a maioria dos deslocamentos durante os episódios, não apresentam uma setorização narrativa explícita indicando o tempo exato. A sinalização se configura a partir de pistas visuais como, por exemplo, roupas sujas ou a troca delas ao longo do tempo, mudanças de expressão e diálogos que mencionam os locais percorridos. Como acontece entre os episódios 3 e 4, que correspondem a saída da casa de Bill e Frank até Kansas City onde conhecem Henry e Sam. Desse modo, o telespectador é levado a entender que a viagem é longa e cheia de dificuldades, essa característica cria uma sensação de progressão lenta e árdua, que reflete a natureza da jornada de Joel e Ellie.

A Long, Long, Time, o terceiro episódio da primeira temporada, além exemplificar a hibridização dos formatos na fruição narrativa, também se configura como um principais tipos de deslocamento temporal em operação na trama da HBO. Apresentando tanto marcações de setas chamativas para a passagem do tempo de Bill e Frank quanto mecanismos de transição na fotografia para representar a mudança cronológica do presente de Joel e Ellie para o passado do casal no início e final do episódio. A Long, Long, Time conta a história de amor de Bill e Frank, abraçando o período de 20 anos. O episódio permeia diferentes momentos da vida dos personagens a partir da adoção de marcadores óbvios para indicar a passagem do tempo. A narrativa começa um pouco depois do surto causado pelo Cordyceps, quando Bill, um sobrevivente solitário, se isola em sua casa na cidade de Lincoln que está abandonada.

No episódio, acompanhamos dois momentos na cronologia da narrativa: Joel e Ellie e Bill e Frank. Os protagonistas começam buscando algumas armas e suprimentos escondidos por Joel em uma loja abandonada e seguem viagem até Lincoln, onde Joel levaria Ellie até o casal como havia prometido a Tess no final do segundo episódio. O primeiro deslocamento temporal acontece após um diálogo entre Joel e Ellie em que ela vê ossos de pessoas inocentes que haviam sido mortas pelos soldados do governo no início do surto, mesmo sem estarem infectadas.

A transição do presente, em 2023, com os protagonistas para o flashback do passado se dá por uma transição na fotografia, onde a câmera dá um close no tecido de roupa velha e desbotada em um dos esqueletos e uma movimentação de câmera desloca para o mesmo tecido anos atrás como o vestido de uma mulher que carrega um bebê nos braços em meio a vários sobreviventes e soldados. Só após essa transição, uma seta chamativa é inserida no canto da tela indicando que se tratava do dia 30 de setembro de 2003, ano em que o surto começa.


(S0xE3),Transição de Cena para Deslocamento Temporal de 2023 para 2003

A maior parte do flashback do passado de Bill e Frank é marcado por diversos deslocamentos temporais que contam a vida que o casal construiu ao longo dos anos. No início, Bill que vivia sozinho na cidade abandonada, anos antes de conhecer Frank, transforma a cidade em uma zona segura e protegida com armadilhas contra invasores e infectados. Em uma das cenas, Bill faz com que a cidade volte a ter energia elétrica e conserta uma máquina de cortar madeira, entre outros reparos. Logo em seguida, depois de uma transição, uma visão aérea mostra o personagem no campo cortando árvores e madeira para suas construções. Analisando o roteiro original disponibilizado pelo perfil oficial da Naughty Dog e de The Last of Us no Instagram, podemos notar que nessa cena haveria um deslocamento temporal de 2 anos do surto até 2005, quando Bill corta a árvore e vive tranquilamente sozinho em sua casa segura e protegida. No entanto, a série mudou esse ponto trazendo apenas cortes de cenas mais rápidas e dinâmicas de Bill, passando para o público uma sensação de que tudo aconteceu em pouco tempo. O deslocamento temporal foi inserido apenas no ano de 2007, como indicado por setas chamativas, quando o personagem conheceu Frank.

(S0xE3) Deslocamento Temporal indicado no Roteiro e suas Cenas 

Uma das cenas de deslocamento temporal ocorre quando Frank cai em uma armadilha ao redor da casa de Bill, algum tempo após o surto. Eles inicialmente se encontram como estranhos, mas a interação leva a uma amizade e logo a um relacionamento romântico. Nesse momento, há indicação explícita de quanto tempo se passou desde o início do surto até o encontro, no ano de 2007. Além de algumas pistas visuais, como a falta de degradação total da área e o estado relativamente novo das armadilhas de Bill.

Conforme o relacionamento entre Bill e Frank se desenvolve, o episódio faz vários saltos cronológicos. Após uma sequência de sexo do casal, há um corte brusco de cena para um deslocamento temporal que indica o ano de 2010. Nesse sentido, o telespectador é estimulado a identificar a passagem dos anos através de mudanças sutis tais como o envelhecimento dos personagens, a transformação de suas aparências (barba de Bill crescendo, cabelos grisalhos), a decoração de interiores da casa (que se torna mais aconchegante e cheia de objetos pessoais), e a inclusão de tecnologias mais modernas, como um sistema de irrigação que Bill constroi. Deste modo, o público entende que muitos anos se passaram através dessas mudanças.

(S0xE3), Bill e Frank se Conhecendo (2007) e Seu Ultimo dia Juntos (2023

O episódio explora o passar dos anos da vida construída pelos personagens até os últimos dias de Bill e Frank, já mais velhos e enfrentando problemas de saúde como a doença degenerativa de Frank. A seta chamativa da sequência marca o ano de 2023, algumas semanas antes da chegada de Joel e Ellie em Lincoln. A passagem do tempo é indicada através das setas chamativas, mas também a partir da composição imagética. Como, por exemplo, a fragilidade de Frank, o uso de cadeira de rodas e o envelhecimento do casal. A mudança de tom e a suavidade da iluminação também refletem o fim de suas vidas, contrastando com a paleta de cores mais vibrante usada em suas primeiras interações. Em uma transição em fade in a narrativa volta para Joel e Ellie. Os personagens estão na entrada da cidade, à medida que se aproximam da casa do casal de amigos, o salto temporal entre a morte de Bill e Frank e a chegada dos protagonistas só é evidenciada pela composição imagética. Contrastando a ambientação abandonada do local, que antes era bem cuidada por Frank, com plantas e jardins secos, poeira nos móveis e a mesa posta com pratos cheios de comida do último jantar de Bill e Frank. Deste modo, o telespectador deduz o que aconteceu e, principalmente, tem a confirmação de que ambos morreram pela carta deixada para trás em nome de Joel.


(S0xE3), Detalhes Abandonados da Casa e Carta de Bill

Essas cenas exemplificam o deslocamento temporal discutido por Mittell (2012; 2015), tanto em situações que apresentam setas chamativas quanto as sequências que dependem de uma leitura atenta do telespectador para observar mudanças visuais e contextuais para entender a passagem do tempo. A narrativa trabalha com a dualidade e o hibridismo desses formatos, ressaltando a complexidade narrativa da série. Estimulando a leitura atenta e demandando uma análise das pistas e lacunas informacionais deixadas nos episódios.

4.4 PERSONAGENS TRIDIMENSIONAIS

A terceira característica da complexidade narrativa abarca os personagens tridimensionais. Como pontua Mittell (2012; 2015), as tramas são compostas por personagens complexos, multifacetados e intrincados que mudam ao longo da narrativa, tanto em suas relações emocionais quanto em decisões de atitudes extremas. Personagens que são moldados por conflitos internos, dilemas éticos, traumas pessoais e desenvolvimento emocional.

Ao acompanhar uma história permeada por personagens ambíguos, o público colocaria em prática exercícios cognitivos semelhantes aos propostos no teste de matrizes progressivas de Raven. De acordo com Johnson (2012), ao procurarem padrões de comportamento que se desdobram de maneira, muitas vezes, ocultas, os telespectadores colocariam em prática sua inteligência social. (Sigiliano, 2024, p 82)

Em The Last of Us, tanto Ellie quanto Joel possuem características dos personagens tridimensionais, pois passam por mudanças emocionais significativas e tomam decisões difíceis baseadas em suas transformações internas. Joel é um personagem complexo e tridimensional, que evolui ao longo da temporada, principalmente em suas motivações e decisões morais. Ele começa a série como um homem endurecido pelo trauma da perda de sua filha, Sarah, durante o surto em 2003. O protagonista é apresentado, num primeiro momento, como um personagem cínico, emocionalmente fechado e disposto a fazer qualquer coisa para sobreviver em um mundo pós-apocalíptico. À medida em que os arcos avançam acompanhamos Joel lentamente se conectar com Ellie, apesar de suas reservas e dúvidas iniciais. A relação começa de maneira conflituosa, mas gradualmente, ele a vê menos como uma carga e mais como uma substituta da filha que perdeu. Essa transformação é o arco emocional central na narrativa de Joel, revelando seu lado mais protetor e vulnerável.

Sua tridimensionalidade começa logo no episódio piloto, após o surto de 2003 quando perdeu Sarah. Em 2023, na Zona de Quarentena de Boston, observamos sua moralidade ambígua como, por exemplo, na sequência em que ele joga uma criança morta na fogueira, na imparcialidade com as regras cruéis da FEDRA com enforcamentos e violência com a população. Também no seu trabalho contrabandista, em que o personagem age sem se importar com as consequências, mantendo foco apenas em seu objetivo, encontrar Tommy, seu irmão desaparecido a meses.

A figura de Tess é muito importante para o emocional de Joel. Além de uma indicação sutil de um relacionamento amoroso, que nunca foi confirmado, e uma amizade forte de anos, podemos relacionar a personagem como uma âncora racional e humana do protagonista. Como, por exemplo, nos diálogos de Tess em que descobrimos que Joel tem uma popularidade negativa na Zona de Quarentena por ser impiedoso e causar medo em algumas pessoas. Essas questões começam a mudar no momento em que ambos tomam responsabilidade de proteger Ellie. A princípio, Joel tinha desconfianças e receio quanto à menina, mas precisou mudar de atitude no segundo episódio. Após prometer a Tess que levaria Ellie em segurança até os Vagalumes, já que ela acreditava em uma esperança, algo que Joel perdeu por muito tempo.

Ainda desconfiado e distante de Ellie, conversando apenas o necessário, Joel no terceiro episódio ainda se encontra em conflito interno com relação a sua missão de proteger a jovem. Sua perspectiva começa a mudar após a leitura da carta de Bill no final do episódio, em que o personagem diz a Joel que pessoas endurecidas e cheias de traumas como eles possuem um propósito na vida, que é proteger a todo custo as pessoas importantes para eles. Esse plot, faz com que Joel reflita sobre sua missão e siga o caminho com Ellie até Kansas City, agora um pouco menos distante e mais aberto para conversar e falar de questões pessoais para ela.


Roteiro da Cena e Leitura de Joel da Carta de Bill

No quarto e quinto episódio, chegando em Kansas City, após serem atacados Ellie é obrigada a atirar em alguém para salvar Joel. Essa atitude da protagonista surpreende Joel, criando um sentimento de compaixão e cuidado no protagonista ao desejar que ela, mesmo tão nova, não tivesse que passar por situações difíceis e traumáticas como matar ou atirar em uma pessoa. Ao notar a coragem de Ellie, ele deixa uma arma com ela para que se proteja caso necessário. Demonstrando confiar nela, o que ele não conseguia nos episódios anteriores. No decorrer do quinto episódio, ambos passam por diversas situações e dificuldades juntos para sair da cidade, o que fortalece a relação de cumplicidade. Os protagonistas se tornam mais próximos a ponto de Joel se sentir confortável e à vontade com Ellie, rindo juntos das piadas da garota mesmo em situações difíceis. Joel, então, se vê novamente em uma situação familiar ao ajudar Henry e Sam, dois irmãos que estão sendo caçados pelos líderes que comandam a cidade. Henry questiona Joel sobre ser pai de Ellie, o que o faz manter um certo distanciamento ao negar o fato. O fim trágico dos irmãos é um marco profundo nos protagonistas que não puderam fazer nada para ajudá-los, principalmente para Ellie que havia se apegado a Sam.

(S0xE5), Cena de Sam e Ellie Conversando sobre seus Medos

A fragilidade das relações e a violência constante de um mundo pós-apocalíptico fazem Joel entrar em uma crise emocional no sexto episódio, intitulado Kin. Quando chegam a Jackson, o personagem tem duas crises de ansiedade ao sentir medo de não ser suficiente e capaz de proteger Ellie até o fim e também de perder novamente alguém que ele já estava se afeiçoando como uma filha. Quando Joel se encontra com Tommy e expressa sua preocupação sobre não ser capaz de proteger Ellie, vemos um Joel mais frágil e autoconsciente. Ele fala sobre seu medo de falhar novamente como aconteceu com Sarah, expondo sua vulnerabilidade e o conflito entre sua fachada de durão e suas verdadeiras inseguranças. Isso acrescenta camadas tridimensionais ao personagem, que se vê dividido entre o instinto de afastar o perigo e o desejo de proteger.

No episódio final Look for the Light, a trajetória de Joel é posta em evidência quando ele toma uma decisão moralmente ambígua e emocionalmente carregada, fortalecendo o viés do anti-heroi. Como pontua Sigiliano (2024, p. 58) na complexidade narrativa “[...] o universo que envolve os anti-herois é tênue e contraditório, exigindo que, a todo momento, o telespectador acione as motivações, as ações e as fragilidades dos personagens para identificar e compreender o paratexto.”

Quando Joel descobre que os Vagalumes pretendem realizar uma cirurgia em Ellie para extrair o fungo de seu cérebro, que a matará, ele enfrenta uma decisão difícil. Ele precisa escolher entre o que poderia ser a salvação para a humanidade e a vida de Ellie, que ele agora vê como uma filha. Dessa forma, Joel decide salvar Ellie a qualquer custo, matando todos os Vagalumes que tentam impedi-lo, incluindo médicos, soldados e até mesmo Marlene. Este é um momento decisivo de sua transformação interna. Ao tomar essa decisão moralmente ambígua, ele se mostra disposto a sacrificar o bem maior por causa de seu amor por Ellie, ressaltando o seu caráter anti-heroi.

Joel justifica a decisão para si mesmo e para Ellie, mentindo sobre o que aconteceu no hospital, mostrando o quão longe ele está disposto a ir para proteger ela, mesmo que isso signifique omitir informações importantes. Joel toma decisões moralmente ambíguas e questionáveis, suas ações são impulsionadas por um desejo pessoal intenso de proteger Ellie, mesmo que isso implique atos violentos e egoístas. Joel é ao mesmo tempo empático e brutal, fazendo o telespectador questionar suas próprias crenças sobre moralidade e o que significa "fazer a coisa certa".

(S0xE9), Momentos antes de Joel Matar o Médico que Faria a Cura

Ellie também se configura como um personagem tridimensional em The Last of Us. Seu desenvolvimento é mostrado em profundidade no sétimo e no oitavo episódios. Em que a protagonista enfrenta desafios emocionais e físicos que a transformam de maneira significativa. Em Left Behind, a trama apresenta um deslocamento temporal para explorar o passado de Ellie, antes de seu encontro com Joel. A narrativa revela camadas emocionais e psicológicas da protagonista que ajudam a entender sua complexidade como personagem. À medida que brincam e se divertem, a relação entre Ellie e Riley se aprofunda, revelando um lado mais vulnerável e carinhoso de Ellie.

Deste modo, o telespectador vê a protagonista como uma jovem tentando encontrar normalidade e felicidade, mesmo em um mundo apocalíptico. Esse lado dela é contrastado por sua atitude frequentemente dura, imatura e independente em outras partes da série. Quando Riley revela que foi recrutada pelos Vagalumes e planeja deixar a Zona de Quarentena, Ellie se sente traída e desamparada. Essa cena mostra o medo de abandono de Ellie e seu profundo desejo de conexão emocional. Sua vulnerabilidade é exposta quando ela implora para que Riley fique. Esse é um momento que revela sua profundidade emocional e o conflito interno sobre seu desejo de não ficar sozinha.

Quando as duas são atacadas por infectados e mordidas, Ellie entra em pânico, mostrando seu lado mais desesperado e humano. Porém, à medida que ela percebe que Riley não sobreviverá, a narrativa apresenta um crescimento repentino e doloroso em Ellie. Ela precisa aceitar a perda de alguém que ama, que ela mesma matou, além de processar sua própria imunidade. Essa experiência traumática reforça sua força emocional e sua complexidade como personagem, já que ela tem que enfrentar uma situação em que não pode salvar a pessoa de quem gosta. Já no oitavo episódio, Ellie é confrontada com um desafio que testa sua força e moralidade de maneira intensa.

Neste episódio, Joel está ferido e incapacitado de proteger Ellie. Dessa forma, cabe a menina salvar e proteger Joel enquanto tenta mantê-lo vivo. A sequência explora Ellie em sua forma mais determinada e feroz, quando ela é capturada por um grupo de sobreviventes liderados por David, um líder religioso. Quando Ellie percebe que o grupo é composto por canibais e que David pretende estuprá-la e matá-la , ela precisa usar todas as suas habilidades de sobrevivência e esperteza para escapar. Aqui, Ellie mostra sua habilidade para enfrentar ameaças mortais, mas também uma profundidade emocional ao lidar com o medo e a repulsa moral diante de David.

(S0xE8), Ellie Reencontrando Joel após Matar David
Fonte: HBO (2023)

Durante a luta final com David, Ellie consegue se libertar e o mata de maneira brutal. Essa cena é particularmente importante para entender a tridimensionalidade de Ellie, pois demonstra seu instinto de sobrevivência e, ao mesmo tempo, revela um lado mais sombrio de sua personalidade – o trauma de ter que matar para se proteger. Sua reação após o evento, onde ela sai abalada e quase incapaz de reconhecer Joel, revela um impacto emocional profundo. Ellie demonstra tanto vulnerabilidade quanto força, o que a torna uma personagem tridimensional.

Joel e Ellie são exemplos importantes para compreender a tridimensionalidade dos personagens na complexidade narrativa. Ambos passam por mudanças emocionais significativas, tomam decisões extremas que refletem suas transformações internas e apresentam múltiplas camadas psicológicas que desafiam o telespectador a vê-los além de simples herois ou vilões. Ellie é retratada como uma personagem que, apesar de jovem, é forçada a amadurecer rapidamente em um mundo perigoso, enfrentando dilemas morais e emocionais. Joel, é mostrado como um anti-herói em que suas escolhas são guiadas por seu trauma passado e por um amor profundamente pessoal, mas que também se revelam moralmente duvidosas, tornando o protagonista um personagem ao mesmo tempo compreensível e questionável. A narrativa de The Last of Us utiliza a tridimensionalidade de seus personagens para enriquecer a história, criando uma experiência mais envolvente e emocionalmente complexa para o telespectador, ao explorar temas de perda, sobrevivência e as escolhas difíceis que definem quem somos.

A metalinguagem e ironia são usadas na complexidade narrativa para ampliar e aprofundar elementos do próprio universo ficcional da série e também para explorar easter eggs, que se configuram como piadas internas sobre o metatexto. Em The Last of Us, todos os detalhes, planos, ângulos, diálogos, trilha sonora, atores e demais pontos que fazem referência direta ao jogo original podem ser observados como exemplos de metalinguagem e ironia. Os “[...] recursos reforçam as regras do universo ficcional, além de engendrar novas camadas interpretativas à história” (SIGILIANO, 2024, p. 58)



Em The Last of Us, a série frequentemente utiliza essas ferramentas para homenagear o jogo de 2013, da Naughty Dog. Criando um significado especial para os telespectadores que conhecem bem o material original. Essas referências podem ser observadas nos diálogos, trilha sonora, escolha de planos, ângulos de câmera e até mesmo nas participações especiais dos atores do jogo. O episódio piloto, por exemplo, estabelece muitas das referências e homenagens ao jogo original, capturando o sentimento e os momentos icônicos através de detalhes visuais, diálogos e a maneira como as cenas são filmadas.

Logo no início do episódio, Sarah está acordando em seu quarto no dia do aniversário de Joel. É possível notar a cenografia fiel do ambiente que se iguala ao jogo. Com pôsteres, fotos, cores e objetos da personagem que integram o The Last of Us Part I. O cartão de aniversário que Sarah faz para o pai faz alusão à jogabilidade de Sarah no jogo. Além disso, Sarah veste uma blusa da banda Halican Drops, a mesma que a personagem usa no jogo, que contém nas costas uma lista de todas as cidades que Joel e Ellie visitam em sua jornada. Vemos também, Sarah preparando o café da manhã para Joel em uma cena filmada com uma composição de plano médio, semelhante à introdução do jogo, focando na relação entre pai e filha.

A característica da complexidade opera de forma norteadora no relógio que Sarah entrega a Joel. O relógio o acompanha durante toda a narrativa como uma lembrança do último presente que Sarah deu, para aqueles que conhecem o jogo, a cena carrega uma ironia trágica, pois sabem que o relógio será quebrado e se tornará um símbolo da perda de Joel. A série utiliza o mesmo objeto como uma "piada interna", fazendo com que o telespectador entenda que esse é o ponto de virada emocional de Joel.

(S0xE1), Quarto de Sarah e o Relógio de Joel

O diálogo entre pai e filha é quase uma reprodução exata das cenas no jogo, incluindo o filme favorito do protagonista Curtis E Viper, que aparece em cartaz no poster do cinema abandonado do shopping em Left Behind. A escolha do enquadramento e dos ângulos de câmera reflete o ponto de vista do jogador, conectando emocionalmente os telespectadores que possuem carinho pela obra original. Além disso, a trilha sonora de Gustavo Santaolalla, compositor original do jogo, é usada para trazer o mesmo sentimento de conexão e antecipação que os jogadores experimentaram, usando temas musicais que remetem diretamente ao jogo, como as músicas de introdução The Last of Us, The Path, All Gone. Assim como trilhas sonoras de bandas conhecidas como ABBA com Take on Me, presente em Left Behind, tanto no jogo quanto na série. A cena final, quando Joel e Ellie caminham juntos após os eventos no hospital, é acompanhada pela música The Path de Gustavo Santaolalla, a mesma trilha sonora que toca em momentos importantes no jogo. Essa escolha musical serve como uma referência direta e uma conexão emocional, ligando a narrativa da série ao seu material de origem. O som dos gritos, sirenes, o barulho dos infectados ao redor também são replicados da mesma forma como aparecem no jogo, reforçando o efeito de imersão e metalinguagem, permitindo que quem jogou consiga reconhecer imediatamente a trilha sonora.

Durante o primeiro ato no jogo, seguimos a visão de Sarah do momento em que acorda até sua morte. Na série, vemos essa mesma perspectiva ao acompanhar a menina durante todo o momento, seja no café da manhã, na escola, na relojoaria, na casa dos vizinhos e também na fuga. Quando o surto do Cordyceps se inicia, a sequência de fuga de Joel, Tommy e Sarah em um carro é filmada de maneira idêntica ao jogo, a câmera é posicionada no banco de trás, simulando o ponto de vista de um jogador que observa tudo como se estivesse dentro do carro, enquanto o caos se desenrola ao seu redor. Essa escolha de ângulo de câmera é uma referência direta ao modo como o jogo apresenta esta cena, criando uma experiência de imersão que ecoa a jogabilidade, desde a sinalização das placas pelo caminho, a fazenda pegando fogo, assim como os diálogos entre Joel e Tommy no trajeto.


(S0xE1), Visão de Sarah Durante a Fuga

No segundo episódio, a cena em que Tess e Joel encontram um infectado recentemente morto em uma sala abandonada é filmada de forma semelhante ao jogo. A maneira como a câmera se move ao redor do ambiente imita a perspectiva de terceira pessoa, em que o jogador deve inspecionar o ambiente para encontrar pistas e evitar perigos. Joel comenta sobre a mutação do fungo, mencionando detalhes específicos sobre diferentes tipos de infectados. Essa conversa é uma referência direta aos jogadores que enfrentaram diferentes variantes de infectados no jogo, trazendo um sentimento de familiaridade com quem jogou. Além disso, no terceiro episódio, após a morte de Bill e Frank, Joel e Ellie tomam banho e pegam suprimentos suficientes para seguir sua jornada, um detalhe importante se encontra na cena em que Ellie e Joel aparecem de roupas limpas, as mesmas que os personagens usam durante todo o jogo. Embora a história de Bill e Frank seja expandida na série em comparação ao jogo, há diálogos e ambientações que fazem referência como, por exemplo, a disposição dos móveis e o estilo visual do ambiente, o uso do mesmo modelo de cercas, vegetação e outros elementos ambientais que trazem familiaridade para os jogadores, criando uma sensação de ironia e reconhecimento.

No oitavo e nono episódios, respectivamente, os atores Troy Baker e Ashley Johnson, que originalmente deram voz e movimentos para Joel e Ellie no jogo, fazem participações especiais na série. Troy Baker interpreta James, um dos membros do grupo de David, enquanto Ashley Johnson faz uma aparição como a mãe de Ellie, Anna. Essas participações servem como uma forma de metalinguagem, conectando diretamente a série com o jogo e criando um easter egg para os fãs. Troy Baker, que originalmente deu voz a Joel no jogo, em uma cena tensa entre James e Ellie entrega um diálogo que reflete o estilo de fala de Joel. A presença de Baker, interpretando um personagem que se opõe diretamente a Ellie, traz uma camada de ironia, uma vez que ele foi a voz original da figura paterna protetora de Ellie. Para os fãs que conhecem o jogo, essa interação carrega um peso profundo, na ideia de que o próprio Joel (na forma de Troy Baker) está, de certa forma, "traindo" Ellie. A ironia é reforçada pelo fato de que Baker agora interpreta alguém que se torna uma ameaça para ela, em oposição ao seu papel original de protetor no jogo.


(S0xE8) e (S0xE9), Participações de Ashley Johnson e Troy Baker

De acordo com o site The Enemy em 2023, uma conexão interessante na dublagem da série é a escalação dos dubladores brasileiros originais do jogo para as vozes de Pedro Pascal, Bella Ramsey, assim como a maioria dos personagens da série. Essa informação foi utilizada como estratégia promocional pelo perfil oficial da Playstation Brasil no antigo Twitter, atual X (Figura 36). A série e o jogo contaram com vozes de Carlos Persy como Joel, Luiza Caspary como Ellie, Clécio Souto como Tommy, Miriam Ficher como Tess e Vic Brow como Sarah, que trazem nostalgia as jogadores que possuem uma ligação com os personagens e suas vozes desde o lançamento em 2013.

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Outro momento a ser destacado é a conversa entre Joel e Ellie, em que o personagem mente sobre o que aconteceu com os Vagalumes no episódio final Look for The Light. Ela é filmada com uma série de closes que enfatizam as expressões faciais dos personagens, especialmente a incerteza de Ellie e a convicção de Joel. Isso espelha a direção da cena no jogo, onde a câmera também foca nas expressões sutis de ambos os personagens, criando um senso de intimidade e tensão. Para os telespectadores que jogaram o jogo, há uma ironia profunda nesta cena. Eles sabem que Joel está mentindo e que Ellie, de alguma forma, suspeita disso. A série faz uso da mesma estrutura narrativa para reforçar essa dualidade, permitindo aos espectadores compartilhar um entendimento que talvez o próprio Joel não queira reconhecer, que seu ato de proteção também é um ato de egoísmo.

(S0xE9),Cena final com Joel e Ellie voltando para Jackson

The Last of Us utiliza elementos de metalinguagem e ironia para homenagear o jogo original, proporcionando uma experiência rica tanto para novos telespectadores quanto para aqueles que conhecem o material de origem. Ao recriar cenas icônicas do universo ficcional, utilizando a trilha sonora original, incorporar diálogos e participações especiais dos atores do jogo, a série constrói uma narrativa multifacetada que valoriza a familiaridade do público com o jogo, ao mesmo tempo em que adiciona camadas de significado para todos os públicos e expande de forma significativa a narrativa.

Referências

MITTELL, Jason. Complex TV: The Poetics of Contemporary Television Storytelling. New York: NYU Press, 2015.

MITTELL, Jason. Complexidade Narrativa na Televisão Americana Contemporânea. In Matrizes, v. 5, n. 2, p. 29-52, 2012. Disponível em: https://bit.ly/2Q2KVzD. Acesso em: 17 mai. 2024.

SIGILIANO, Daiana. Literacia Midiática: a compreensão crítica e a produção criativa no universo ficcional de Euphoria. 2024. Tese (Doutorado em Comunicação) - Programa de Pós Graduação em Comunicação, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2024. Disponível em: .https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/16959. Acesso em: 20 set. 2024.

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