tag:blogger.com,1999:blog-64485383478652560272024-03-13T08:58:19.750-07:00MediaBox | Observatório do AudiovisualObservatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.comBlogger130125tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-10784320912605095732022-09-15T14:21:00.005-07:002022-09-15T14:23:08.586-07:00A narrativa transmídia no universo ficcional de Jogos Vorazes<div style="text-align: right;">Por Ana Luiza Alves Pires</div><br /><div style="text-align: center;"><img border="0" height="188" src="https://media.giphy.com/media/krlI3HIux5pJe/giphy.gif" width="400" /></div> <br /><div style="text-align: justify;">Em <i>Jogos Vorazes</i>, obra de Suzanne Collins, conhecemos uma história distópica e pós-apocalíptica, em que os habitantes vivem no país de Panem e em uma forma de governo totalitária, na qual todos são dominados pela Capital e devem agir de acordo com as suas vontades e os princípios de Snow, o cruel presidente da nação. Na história, o país é dividido em 13 Distritos, e cada um possui funções específicas e maneiras próprias de contribuírem para as vontades da Capital. Katniss Everdeen, a protagonista, vive no distrito 12, este o distrito dos mineradores.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Todo ano a Capital realiza o evento “<i>Jogos Vorazes</i>” no país. Nele jovens de 12 a 18 anos são obrigados a participar, e a cada ano são escolhidos um menino e uma menina de cada distrito. A partir disso eles devem ir para a arena dos Jogos e lutarem até a morte, de modo que reste apenas um sobrevivente no final. Apesar de cruel, os <i>Jogos Vorazes</i> são a única oportunidade que os jovens possuem de melhorarem de vida e ajudar suas famílias.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A morte dos jovens é entretenimento para os moradores ricos e esnobes da Capital, e todo ano a população aguarda ansiosamente pelo início do jogo. No entanto, após Katniss se voluntariar a ir para a Arena no lugar de Prim, sua irmã mais nova, as coisas começam a mudar. Ao lado de Peeta, este também um morador do Distrito 12, Katniss não demora a se tornar uma grande representatividade para aqueles que assim como ela desejam lutar contra o totalitarismo e o domínio da Capital. E é na arena dos Jogos que as atitudes de rebelião de Katniss, apesar de sucintas, são explícitas, e aos poucos uma rebelião se inicia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A história protagonizada por Katniss foi desenvolvida em três livros, no qual o primeiro livro da trilogia foi lançado originalmente no ano de 2008. No ano seguinte, veio ao público a continuação da história, com o lançamento do livro “<i>Jogos Vorazes - Em Chamas</i>” e, posteriormente, “<i>Jogos Vorazes - A Esperança</i>”, o último livro da trilogia. A história original da série foi adaptada para as telas de cinema pouco depois, no ano de 2012. No entanto, assim como é comum nas grandes franquias, como é o caso de <i>Harry Potter</i> e <i>Crepúsculo</i>, o último livro foi dividido em duas partes quando adaptado. Ademais, no mesmo ano do lançamento do primeiro livro da trilogia também foi lançado o <i>audiobook </i>da história.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Atualmente a história de <i>Jogos Vorazes</i> é contada em diferentes meios e plataformas. A narrativa se tornou uma grande franquia e, quando adaptada para as telas de cinema, obteve liderança de bilheteria por semanas nos Estados Unidos. Além disso, em 2020 Suzanne Collins lançou o primeiro <i>spin-off</i> da trilogia, um livro com o nome de “<i>A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes</i>” e com foco na vida do Presidente Snow, contando a sua história antes do nascimento da protagonista Katniss Everdeen, e sua ascensão como um mentor dos <i>Jogos Vorazes</i> quando ainda tinha 18 anos. Apesar de ter sido lançado recentemente, já está confirmada uma adaptação da história para as telas de cinema, sendo produzida pela Lionsgate, a mesma produtora de <i>Jogos Vorazes</i>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No entanto, a história não foi somente adaptada dos livros para o cinema. Em 2011, antes do lançamento do primeiro filme da trilogia, <i>Jogos Vorazes</i> ganhou seu primeiro jogo de realidade alternativa, o <i>Panen October</i>. Este é um jogo colaborativo e gratuito, e tudo que ocorreu nele obteve uma duração de seis meses, começando em outubro de 2011 e finalizando-se em março de 2012, perto do lançamento do primeiro filme. Segundo o blog <i>Distrito 13</i> (2011),</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>“[...] esse jogo de realidade-alternativa, mistura ficção com realidade, utilizando múltiplas plataformas para contar a história: como o uso de e-mails, mensagens de texto e números de telefone. Conforme os usuários progridem através da história, eles serão apresentados a novos meios e formas de experimentar o jogo” (DISTRITO13, 2011, On-line).</blockquote></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em 2015 a Lionsgate, produtora de <i>Jogos Vorazes</i>, lançou o aplicativo “<i>O Tordo</i>”. Este é um aplicativo para <i>smartphones </i>e um lançamento oficial de <i>Jogos Vorazes - A Esperança</i>. Assim como o <i>Panen October</i>, o aplicativo veio a público próximo ao lançamento do filme e possui alguns recursos exclusivos feitos para os fãs e usuários, como maquiagens virtuais inspiradas no filme, <i>graffitis </i>virtuais em apoio à revolução presente na história, aerodeslizadores e plantas subterrâneas em modelo 3D em realidade aumentada.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Grandes ações com o intuito de promover o lançamento dos filmes são comuns na franquia de <i>Jogos Vorazes</i>. Em 2013 a produtora lançou uma linha de roupas oficial com o nome de <i>Capitol Couture</i> para o lançamento de <i>Jogos Vorazes - Em Chamas</i>. As roupas foram desenhadas por Trish Summerville, a própria figurinista da saga e contaram com 16 peças diferentes, dentre elas joias, camisetas e roupas de couro.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Assim como é característico de grandes franquias, o universo de <i>Jogos Vorazes</i> foi expandido para os parques temáticos. O primeiro parque temático da saga foi inaugurado em 2017, na <i>Motiongate Dubai</i>, com o nome de <i>The World of The Hunger Games</i>. Segundo o site <i>Jovem Nerd</i>, dentre as principais atrações do parque inspirado em <i>Jogos Vorazes</i> tem-se o <i>Capitol Bullet Train</i>, uma montanha russa inspirada na Capital, o <i>Panem Aerial Tour</i>, um simulador que sobrevoa por toda a área do parque, e restaurantes que são vistos nos filmes (JOVEM NERD, 2017, On-line).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em <i>Lionsgate Entertainment World</i>, na China, foi inaugurado o segundo parque inspirado na franquia, realizado pela própria produtora dos filmes. As atrações chegaram ao público em 2019 e, apesar de <i>Jogos Vorazes</i> dividir as atrações com outras franquias da Lionsgate, o mesmo possui brinquedos inusitados como simuladores, lojas e restaurantes, além do <i>Mockingjay Flight: Rebel Escape</i>, em que através de Projeções 3D as pessoas são levadas para dentro do universo da história, e tem que fugir dos pacificadores e da cidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;"><b>A narrativa transmídia</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVriHfFzMw-Eb1tOkZ9p4MvnDn3soFym_LNrQXdtBlDVDky3m6-8_m8evfUBNvIw4jebLHss2zpeyke3IDiBAwMfVfnbshZ32retB0BydJuLLzl5ggns2i3bxD0hr3s6aWsxzE8KM7bT-CVin72OJGI9WuoJo026z-Xh3766l3jHFpq_YQ9BGX2fXT/s512/1.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="509" data-original-width="512" height="318" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVriHfFzMw-Eb1tOkZ9p4MvnDn3soFym_LNrQXdtBlDVDky3m6-8_m8evfUBNvIw4jebLHss2zpeyke3IDiBAwMfVfnbshZ32retB0BydJuLLzl5ggns2i3bxD0hr3s6aWsxzE8KM7bT-CVin72OJGI9WuoJo026z-Xh3766l3jHFpq_YQ9BGX2fXT/s320/1.png" width="320" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Atualmente, é notável a maneira como as produções têm apostado cada vez mais na criação de histórias e conteúdos que se desdobram em múltiplas plataformas, abrangendo diferentes mídias. Na transmídia, a compreensão da narrativa se dá no cruzamento entre várias mídias, nas quais elas se estendem e suplementam a narrativa principal, a fim de melhorar a experiência dos usuários em relação às produções, e renovar o interesse dos fãs pela história (JENKINS, 2011). No entanto, é válido ressaltar que a transmídia não possui somente interesses narrativos, mas também mercadológicos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>A narrativa transmídia representa um processo em que elementos integrais de uma ficção são dispersos sistematicamente por vários canais de distribuição com o objetivo de criar uma experiência de entretenimento unificada e coordenada. Idealmente, cada meio dá sua própria contribuição única para o desenrolar da história. (JENKINS, 2011, Online).</blockquote></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Cada uma das mídias possui um mecanismo e planos de expressões próprios, de forma que os usuários não precisem conhecer todas as plataformas para entender a história principal. No entanto, em uma narrativa transmídia, é necessário que em cada nova plataforma ou meio em que a história for contada alguma informação nova seja acrescentada, de modo a expandir o entendimento inicial da obra e oferecer novos elementos ficcionais e novas experiências.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>Uma história transmídia desenrola-se através de múltiplas plataformas de mídia, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo. Na forma ideal de narrativa transmídia, cada meio faz o que faz de melhor – a fim de que uma história possa ser introduzida num filme, ser expandida pela televisão, romances e quadrinhos; seu universo possa ser explorado em games ou experimentado como atração de um parque de diversões. Cada acesso à franquia deve ser autônomo, para que não seja necessário ver o filme para gostar do game, e vice-versa. Cada produto determinado é um ponto de acesso à franquia como um todo. A compreensão obtida por meio de diversas mídias sustenta uma profundidade de experiência que motiva mais o consumo. (JENKINS, 2006, p. 79).</blockquote></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Visto isso, é válido ressaltar que uma adaptação por si só não configura uma história como uma narrativa transmídia, uma vez que ela não acrescenta algo novo à história, mesmo que essa adaptação traga um maior aprofundamento da narrativa, seu universo e personagens. “A adaptação de um produto cultural de uma plataforma para a outra não configura narrativa transmídia, uma vez que não acrescenta elemento novo à história, como quando um livro dá origem a um filme fiel à história original.” (SANSEVERINO, 2016, p. 6).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A narrativa transmídia se populariza em meio à cultura participativa e para Jenkins (2006) o fenômeno apresenta sete princípios, sendo eles: Potencial de compartilhamento X Profundidade; Continuidade X Multiplicidade; Imersão X Extração; Construção de Universos; Serialidade; Subjetividade e Performance.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No <b>potencial de compartilhamento e profundidade</b> temos uma fragmentação do conteúdo e o compartilhamento do mesmo de maneira significativa. Na profundidade o conteúdo é fragmentado e disperso em diferentes plataformas, completando o universo narrativo construído. Nesse aspecto, cada meio deve conter uma informação única e aprofundada do conteúdo, explorando-o com aprofundamento. Já o potencial de compartilhamento traz uma grande participação do público de forma ativa, sendo o maior responsável pela circulação do conteúdo. “O potencial de compartilhamento seria a habilidade e o grau de compartilhamento do conteúdo, somado aos fatores que motivam alguém a compartilhá-lo” (CADDEL, 2009 <i>apud </i>GRUSZYNSKI, 2016, p. 7).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como segundo princípio da narrativa transmídia temos a <b>Continuidade e a Multiplicidade</b>. Em seu blog, Jenkins (2011, Online) fala sobre a Continuidade na narrativa transmídia como um elemento que requer “alto nível de coordenação e controle criativo e que todas as peças devem ser coerentes em uma narrativa ou mundo consistente”. Segundo o autor, esse elemento acaba sendo um fator negativo por não possibilitar que os fãs e a audiência contribuam de forma direta para a construção da narrativa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A multiplicidade se opõe à continuidade. Na multiplicidade vemos uma grande participação dos fãs e do público geral, na qual extensões não oficiais da história funcionam como uma forma de expansão do universo da narrativa e do conhecimento da obra original. De acordo com Jenkins (2011), a multiplicidade traz um processo de transmídia mais amplo, no permitindo ver a mídia produzida pelos fãs e nos mostra novas versões da história e de seus personagens de formas totalmente diferentes. Como exemplo podemos citar as <i>fanfics</i>, histórias fictícias escritas pelos fãs e que, na maioria das vezes, são baseadas no enredo original da obra.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como terceiro princípio, temos a <b>Imersão X Extração</b>. No princípio da imersão, o espectador entra no universo da história, funcionando como um membro da narrativa. Nesse princípio há um alto nível de interatividade e de descoberta de novas informações a respeito da história. Como exemplo de imersão podemos citar a criação dos parques temáticos. Já na extração os aspectos da história podem ser vistos no cotidiano dos fãs, e é nesse princípio que os produtos de uma obra se encaixam. Na extração tem-se uma relação maior entre a ficção transmídia e o nosso cotidiano. Como exemplo podemos citar a utilização de camisetas, moletons, canecas e até meias da série, filme, livro e etc.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A <b>Construção de Universos</b> é o quarto princípio citado por Jenkins. Nesse aspecto, há uma mudança de foco na narrativa, na qual as histórias passam a dar maior visibilidade a outros personagens envolvidos na trama, e não somente aos personagens principais. “A ênfase recai não sobre personagens individuais e suas histórias, mas sob formas cada vez mais complexas de construção de mundos” (JENKINS, 2010, p. 23). Neste ponto, as extensões da história não precisam estar diretamente ligadas ao enredo principal, e os elementos da construção aparecem como um acréscimo dos conteúdos que são descobertos a partir do conhecimento específico de cada espectador.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O quinto princípio tem relação com a <b>Serialidade</b>. Este termo está relacionado com as histórias que estão sendo demonstradas de forma expansiva e se desdobram em múltiplas mídias, de modo a conectar diferentes elementos e criar espaços para compartilhamentos dos usuários. Na serialidade há uma fragmentação dos arcos narrativos, em que parte do conteúdo é desenvolvido em outras plataformas, de modo que permite a audiência transitar entre os meios e agir de forma ativa. Nesse aspecto, a narrativa nos traz histórias mais longas e com divisões de episódios e, assim como cita Jenkins (2011), a maioria das narrativas transmídias possuem uma grande estrutura serial e episódica.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A <b>Subjetividade </b>é o sexto princípio em que Jenkins traz como uma característica da narrativa transmídia. Na subjetividade a história é contada em múltiplos planos e nos possibilita ter um maior envolvimento com diferentes personagens da trama. Nesse ponto, personagens secundários e situações que não tiveram resoluções passam a ser explorados com maior profundidade, trazendo uma expansão do universo narrativo da história.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como último princípio tem-se a <b>Performance</b>. Nela as criações e conteúdos próprios dos fãs e espectadores se tornam parte do canon da narrativa. Na performance nota-se uma grande relação entre o público e a mídia, além de que a narrativa é assimilada e as novas informações se transformam em um novo conteúdo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Visto isso, é válido ressaltar que apesar dos princípios citados, não há uma fórmula exata para definir uma narrativa transmídia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>Não existe uma fórmula transmídia. Transmídia se refere a um conjunto de escolhas feitas sobre a melhor abordagem para contar uma história particular para um público particular em um contexto particular, dependendo dos recursos específicos disponíveis para produtores específicos. (JENKINS, 2011, Online).</blockquote></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Outro ponto a ser destacado é que a narrativa transmídia também se difere de uma franquia. Apesar de possuírem pontos semelhantes, na franquia vemos uma história mais longa em que ícones e marcas são movidos através das mídias e seus respectivos canais, mas não há a necessidade de expandir a história e seus significados. Além disso, “grande parte da franquia tem sido baseada em acordos de licenciamento que tornam difícil para os produtores de mídia adicionar ou alterar qualquer coisa além do que já está no texto primário ou na nave-mãe” (JENKINS, 2011).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;"><b>Jogos Vorazes e a narrativa transmídia</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://i.gifer.com/C9fS.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="245" data-original-width="245" src="https://i.gifer.com/C9fS.gif" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">A história de <i>Jogos Vorazes</i> não somente foi expandida e contada em multiplataformas, mas em cada uma delas os fãs conseguem obter uma nova experiência em relação ao universo da história. Além disso, assim como é característico das narrativas transmidiáticas, todos os meios em que a história é contada são autônomos e independentes. Cada uma das mídias possui um mecanismo e planos de expressões próprios, de modo que não seja necessário consumir todos os produtos e conhecer todos os meios para que se tenha entendimento da história. Deste modo, os sete princípios da narrativa transmídia propostos por Jenkins (2011) podem ser observados no universo de <i>Jogos Vorazes</i>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O potencial de compartilhamento X profundidade pode ser notado em <i>Jogos Vorazes</i>. A profundidade é fortemente notada, visto que a história ultrapassou os livros e filmes, tornando-se presente em aplicativos, jogos, parques e coleção de roupas. Em cada meio é possível notar a presença de informações únicas e aprofundadas do conteúdo. Nos parques a atenção é voltada para o cenário, no aplicativo “<i>O Tordo</i>” tem-se um maior foco na revolução presente na narrativa, enquanto a <i>Capitol Couture</i> traz um maior foco para as roupas e figurinos. O potencial de compartilhamento também é notável na trilogia, e os fãs são de extrema importância para o cumprimento do mesmo. No <i>fandom </i>de <i>Jogos Vorazes</i> é possível encontrar uma Wikipédia feita pelos próprios fãs, na qual eles compartilham diferentes tipos de conteúdo, fatos e curiosidades em relação à saga. Além da <i>Wiki</i>, também tem a criação do blog <i>Distrito 13</i>, páginas e postagens no Instagram, YouTube e Twitter.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na franquia de <i>Jogos Vorazes</i> também é possível perceber o princípio da Continuidade X Multiplicidade. A continuidade é notada através da forma como a narrativa se mantém coerente nos diferentes meios na qual é contada, de modo que as plataformas se complementam. Em relação à multiplicidade, é possível percebê-la de maneira significativa no universo da saga. Os principais exemplos são os blogs criados pelos fãs e as <i>fanfictions</i>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O princípio da Imersão X Extração é fortemente notado em <i>Jogos Vorazes</i>. Como exemplo de imersão, em que o espectador consegue entrar na história e funciona como um membro da narrativa, podemos citar o<i> Lionsgate Entertainment World</i> e o <i>The World of The Hunger Games</i>, os parques temáticos. Em relação à extração, em que os aspectos da história podem ser vistos no cotidiano dos fãs, aparecem na franquia de maneira significativa. São inúmeras as camisetas, moletons, enfeites, acessórios e materiais que os fãs da saga podem adquirir. Além disso, a criação da <i>Capitol Couture</i> faz com que o princípio da extração seja um grande marco na franquia, uma vez que os fãs têm a possibilidade de obterem roupas feitas exclusivamente pela figurinista oficial dos filmes.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na construção de mundos é necessário que haja novas formas para que os fãs se envolvam com a história. Esse princípio pode ser notado em <i>Jogos Vorazes</i> a partir da criação do aplicativo “<i>O Tordo</i>”. Percebe-se no mesmo a presença de formas mais complexas para a construção da narrativa, utilizando não só elementos já vistos na histórias, mas também a inserção de demais que complementam a narrativa, como <i>graffitis </i>virtuais e plantas subterrâneas em modelo 3D em realidade aumentada.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em relação ao princípio da serialidade, ele pode ser visto em <i>Jogos Vorazes</i> a partir da adaptação dos livros para os filmes. Nota-se na adaptação uma fragmentação do arco narrativo, de modo que parte do conteúdo é desenvolvido em outras plataformas e em cada uma delas há um jeito próprio de entender a história.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O princípio da subjetividade pode ser visto no universo de <i>Jogos Vorazes</i> de diferentes maneiras. No universo da saga podemos ver a história sendo contada em múltiplos planos, nos permitindo ter um maior envolvimento com diferentes personagens da trama. O primeiro exemplo pode ser notado na própria adaptação para o cinema. Nos livros conhecemos a história através de uma narrativa em primeira pessoa, na qual os acontecimentos são narrados por Katniss Everdeen. Já no filme a história é contada em terceira pessoa, mudando o ponto de vista da narrativa e apresentando mais detalhes quanto a história e os personagens. Além disso, o <i>spin-off</i> “<i>A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes</i>” traz um aprofundamento de personagens secundários da história, se aprofundando em personagens e épocas que foram pouco explorados na história original.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A performance, assim como a subjetividade, pode ser percebida de diferentes maneiras na franquia. As criações e conteúdos próprios dos fãs e espectadores podem ser vistas em diferentes blogs, sites e redes sociais. Ao pesquisar a <i>hashtag #thehungergames</i> no Instagram são resultadas mais de 2,5 milhões de publicações e aproximadamente 897.000 resultados para vídeos no YouTube. Mesmo que as produções dos fãs não sejam oficiais, eles possuem um grande espaço para contribuírem para a narrativa. Através de <i>fanarts</i>, <i>edits</i>, paródias, memes, músicas e <i>fanfictions </i>dos fãs vêm ganhando cada vez mais reconhecimento em relação à suas contribuições para as produções.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A narrativa transmídia se demonstra uma grande aliada das produções, portanto, percebe-se que há um grande investimento nesse modo de contar histórias. Vale ressaltar que os fãs e a audiência são um dos principais responsáveis para que uma história transmídia seja bem sucedida, afinal a mesma surge em meio a cultura participativa e com o intuito de renovar o interesse dos fãs pela história e conseguir públicos que interagem e transitem entre as múltiplas mídias.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;"><b>Referências</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">JENKINS, H. <b>A Cultura da Convergência</b>. São Paulo: Aleph, 2003.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">NAVARRO, V. Os Sentidos da Convergência: Entrevista com Henry Jenkins. <b>Contracampo</b>, n. 21, p. 1-25, 2010. Disponível em: <<a href="https://periodicos.uff.br/contracampo/article/view/17190">https://periodicos.uff.br/contracampo/article/view/17190</a>>. Acesso em: 14 set. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">GRUSZYNSK, A,C; SANSEVERINO, G, Dos livros às telas: Harry Potter como uma história transmídia. <b>Lumina</b>, v. 10, n. 02, p. 1-17, 2016. Disponível em: <a href="https://periodicos.ufjf.br/index.php/lumina/article/view/21212/11534">https://periodicos.ufjf.br/index.php/lumina/article/view/21212/11534</a>. Acesso em: 14 set. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JENKINS, H. Transmedia Storytelling 101. <b>Henry Jenkins</b>, Online, 21 mar. 2007. Disponível em:<<a href="http://henryjenkins.org/blog/2007/03/transmedia_storytelling_101.html?rq=transmedia">http://henryjenkins.org/blog/2007/03/transmedia_storytelling_101.html?rq=transmedia</a>>. Acesso em: 14 set. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JENKINS, H. Transmedia 202: Further Reflections. <b>Henry Jenkins</b>, Online, 31 jul. 2011. Disponível em: <<a href="http://henryjenkins.org/blog/2011/08/defining_transmedia_further_re.html?rq=transmedia">http://henryjenkins.org/blog/2011/08/defining_transmedia_further_re.html?rq=transmedia</a>>. Acesso em: 14 set. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;"><b>Distrito 13</b>, Online, 2011. Disponível em: <<a href="https://www.distrito13.com.br/">https://www.distrito13.com.br/</a>>. Acesso em: 14 set. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">GARCIA, T. Você vai querer se voluntariar para esse parque temático de Jogos Vorazes em Dubai. <b>Jovem Nerd</b>, Online, 31 out. 2017. Disponível em: <<a href="https://jovemnerd.com.br/nerdbunker/voce-vai-querer-se-voluntariar-para-esse-parque-tematico-de-jogos-vorazes-em-dubai/">https://jovemnerd.com.br/nerdbunker/voce-vai-querer-se-voluntariar-para-esse-parque-tematico-de-jogos-vorazes-em-dubai/</a>>. Acesso em: 14 set. 2022.</div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-53162444129173499142022-09-09T16:03:00.007-07:002022-09-09T16:05:59.290-07:00A representação de relacionamentos abusivos em Boys Over Flowers e Meteor Garden<div class="separator" style="text-align: right;">Por Mariana Albuquerque</div><div class="separator"><br /></div><div class="separator" style="text-align: center;"><a href="https://c.tenor.com/wvtfGlGXEdUAAAAC/boysoverflowers-f4.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://c.tenor.com/wvtfGlGXEdUAAAAC/boysoverflowers-f4.gif" /></a></div> <br /><div style="text-align: justify;">A partir da influência das produções audiovisuais dos países ocidentais, os países do leste asiático que tinham uma produção mais restrita, começaram a tomar iniciativas de se adaptarem e expandirem seus conteúdos para além das terras asiáticas. O primeiro passo para o desenvolvimento do formato de ficção seriada japonês se deu após a fundação da emissora <i>Nihon Hoso Kyohai</i>, a NHK, que abriu portas para o desenvolvimento da televisão japonesa. Neste contexto, os dramas de TV tinham o objetivo de retratar a realidade sociocultural japonesa, assim como o cotidiano de forma que pudessem mostrar para a população as mudanças que ocorriam na época.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>Com a expansão televisiva e das tecnologias de difusão nas décadas seguintes, abriu-se espaço para o desenvolvimento de diferentes gêneros dentro do formato televisivo, que ajudaram a apurar as produções e suas abordagens sobre questões sociais japonesas. O gênero mais influente para as atuais configurações do formato foi o trendy drama, essencial para atualizar os dramas de TV e transformá-los em um produto atraente para o mercado local e internacional. Essa influência ajudou o formato a conquistar força no circuito televisivo leste-asiático e os dramas de TV se tornaram uma alegoria cultural da vida cotidiana e da multiplicidade em ser asiático na contemporaneidade (DISSANAYAKE, 2012 <i>apud </i>MAZUR, 2021, p. 181).</blockquote></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Com a popularização dos dramas de TV, partindo do Japão para diversas outras regiões da Ásia e para o mundo, é importante contextualizarmos os doramas. Dorama é a palavra japonesa para drama, que significa encenação. Apesar de cada país asiático possuir sua própria forma de dizer a palavra, a pronúncia japonesa foi a que mais se popularizou, graças a sua facilidade de exportação de conteúdos a partir da expansão mercadológica dos animes, mangás e <i>tokusatsus </i>pelo mundo, assim como os dramas de TV, o que fez com que grande parte dos consumidores de dramas utilizem essa palavra para se referir a essas produções ficcionais asiáticas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Apesar de ser uma palavra popular, dorama não é a forma correta para se dirigir a essas produções. Por isso, é importante ressaltar que os dramas asiáticos são nomeados de formas diferentes dependendo do país que foi produzido, ou seja, dramas japoneses são conhecidos como <i>J-dramas</i>, coreanos como <i>K-dramas</i>, chineses como <i>C-dramas</i>, taiwaneses como TW-dramas e tailandeses como <i>lakorns</i>. Dramas asiáticos são narrativas ficcionais que variam para diversos gêneros, desde o romance, a fantasia, a aventura, o terror, entre vários outros, sempre se adequando à cultura local do país produzido.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os <i>j-dramas</i> costumam ter de treze a vinte e quatro episódios, assim como as animações japonesas, os animes. Já <i>k-dramas</i> variam de dezesseis a vinte e cinco episódios de uma hora de duração, enquanto as chinesas são maiores e possuem de vinte quatro, trinta e seis a cinquenta episódios, variando de trinta a cinquenta minutos de duração. De acordo com uma pesquisa realizada pelo jornal <i>O Povo</i>, o Brasil é atualmente o terceiro maior consumidor de dramas asiáticos do mundo, perdendo apenas para Malásia e Tailândia (MARQUES, 2021, on-line). Tal fato teve início nos anos 1990 com a chegada da Hallyu, ou “onda coreana” que passou a expandir as produções culturais coreanas pelo mundo, principalmente o <i>k-pop</i>, grande catalisador para o crescimento da cultura coreana internacionalmente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Graças aos avanços tecnológicos e com a chegada da internet, a transmissão de dramas asiáticos pelo mundo ganhou proporções gigantescas. Parte das produções atualmente ainda são lançadas e legendados em diversas línguas pelo mundo através das <i>fansubs</i>, sites, fóruns e ficheiros feitos de fã para fã para divulgar os dramas com boa qualidade de legenda, de vídeo e rapidez de postagens saindo horas depois das transmissões na Ásia. No entanto, os dramas já possuem <i>streamings </i>próprios para sua transmissão como o <i>Rakuten Viki</i>, <i>Kocowa</i>, o extinto <i>DramaFever</i>, e atualmente a <i>Netflix</i>, que além de legendar vários dramas asiáticos, têm dublado as produções para melhor inclusão do público e facilitar o acesso aos conteúdos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Dessa forma, apesar dos dramas asiáticos estarem se expandindo cada vez mais para o mundo alcançando todas as faixas etárias, grande parte do consumo ainda é por meio da pirataria através das <i>fansubs</i>, que trazem todos os dramas de formas rápidas, instantâneas e gratuitas para o público. Arrecadando dinheiro por meio das plataformas que hospedam seus sites, ou doações dos espectadores. Porém, as TVs por assinatura não saíram atrás. A <i>Loading TV</i>, que além de distribuir diversos animes japoneses e <i>tokusatsus</i>, passaram a transmitir dramas começando pelo <i>k-drama</i> <i>Descendant of The Sun</i>, ou <i>Descendentes do Sol</i>, um dos dramas coreanos mais populares já produzidos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b><i>Hana yori dango</i> e sua expansão na região leste asiática</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://64.media.tumblr.com/285563c5bdc58df7d7e3a34734ec553f/97ec3430d9957ab7-73/s500x750/b8bfe1aa3e1a59779a68a337f87eac3da0d4a653.gifv" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="300" src="https://64.media.tumblr.com/285563c5bdc58df7d7e3a34734ec553f/97ec3430d9957ab7-73/s500x750/b8bfe1aa3e1a59779a68a337f87eac3da0d4a653.gifv" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><i>Hana Yori Dango</i>, traduzida como <i>Melhor Doces do que Flores</i>, é um mangá japonês de gênero <i>Shoujo</i>, criada pela autora Yoko Kamio e lançada de 1992 a 2003. A obra conta a história da adolescente Makino Tsukushi, uma garota de família simples e pobre, que apesar da situação financeira em que vivem, sua família a envia para uma escola de pessoas ricas, para que tenha uma boa educação e arrumar um marido rico que vá tirá-los da miséria.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O que Tsukushi não imaginava é que aquela enorme escola seria dominada por quatro garotos muito ricos, bonitos e populares, conhecidos como F4, ou 4 flores, os meninos de famílias mais rica dentre todos do colégio. O grupo é dominado pelo Tsukasa Doumyouji, e por serem os mais poderosos do lugar, acreditam que têm o direito de dominar todos no colégio, fazendo com que quem vá contra eles seja prejudicado pelos demais alunos da escola a partir do momento em que marcam a vítima com um cartão vermelho no armário, o que acontece com Tsukushi por ser a primeira pessoa a ter coragem de enfrentar Doumyouji e o restante do F4 e tentar acabar com a tirania que o grupo causa no ambiente escolar, mesmo que isso a faça sofrer durante o processo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>Hana Yori Dango</i> apresenta um roteiro clássico que chamou muita atenção dos telespectadores fazendo com que a obra se tornasse popular não apenas em seu país de origem, como também nos demais países asiáticos, possuindo atualmente mais de treze adaptações televisivas, além do anime e remakes realizados ao longo dos anos, tendo como adaptação mais famosa a obra <i>Boys Over Flowers,</i> versão coreana lançada em 2009 pela emissora KBS2 com vinte e cinco episódios de uma hora de duração.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mazur (2021, p. 185) pontua que a obra pode ser considerada uma produção interasiática, ou seja, “[...] uma narrativa de destaque considerada como interasiática porque navega há anos por diferentes culturas e formatos midiáticos na Ásia Oriental, coroada como um clássico da cultura pop leste-asiática”. Para a autora, grande parte do sucesso dessa obra se dá graças ao formato do roteiro capaz de se adaptar a quaisquer culturas além da japonesa, possibilitando a criação de diversas versões utilizando a mesma narrativa, fazendo com que o público se interesse pela história independente no ano ou adaptação feita.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No entanto, apesar da grande popularidade da obra ao longo dos anos, é notável o quão problemática é a narrativa de <i>Hana Yori Dango</i>. A obra traz diversas formas de violência escolar e relacionamento abusivo entre os personagens, desde as ações mais simples como violência verbal até ações físicas que machucam a protagonista. Tais atos também foram representados nas demais adaptações da obra como <i>Boys Overs Flowers</i> e a versão chinesa mais recente <i>Meteor Garden</i>, porém, ao invés de procurarem adaptar, diminuir ou até retirar os atos violentos e abusivos, as diversas versões seguem perpetuando essas ações, fazendo com que a protagonista tenha que enfrentar todos os tipos de humilhações e seja a única capaz de melhorar as atitudes dos meninos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://i.makeagif.com/media/3-14-2017/S0J3ki.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="224" data-original-width="400" height="224" src="https://i.makeagif.com/media/3-14-2017/S0J3ki.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>A representação do relacionamento abusivo em <i>Boys over flowers</i> e <i>Meteor garden</i></b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">A adaptação de 2009, <i>Boys Over Flowers</i>, é atualmente a versão mais famosa e popular da obra, podendo ser considerada um drama clássico, que alcançou audiências altíssimas durante sua exibição e ganhou o <i>Prêmio de Melhor Drama de 2009</i> no <i>Seoul Drama Awards</i> se tornando um marco para a cultura pop coreana. Além de movimentar a moda local fazendo com que muitos homens passassem a adotar a metrossexualidade e a usarem mais cosméticos e maquiagem, coisas que até então eram mais voltadas para a população feminina.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">De acordo com uma pesquisa realizada pelo <i>Jornalismo Eduvale</i>, 50% dos entrevistados tiveram como primeiro contato com o mundo dos dramas asiáticos uma das versões da obra <i>Hana Yori Dango</i>, tendo a maior parte assistido a versão coreana <i>Boys Over Flowers</i> (MARTINS, 2019, on-line). Porém, apesar dos pontos positivos que o drama trouxe desde os coreanos até os brasileiros, temos que levar em consideração a importância dos atos violentos presentes no drama, na qual o protagonista Gu Jun Pyo faz a protagonista Geum Jan Di viver dia após dia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Desde o primeiro episódio, podemos observar por meio da fotografia do drama como os quatro meninos são extremamente estereotipados de uma forma “endeusada”, com roupas caras, entradas com iluminação quase celestial, caminhando em câmera lenta como em um desfile tendo todos os alunos do colégio os assistindo em uma grande plateia e com admiração. Ao contrário da protagonista Geum Jan Di, que se veste com roupas simples e a primeiro momento é praticamente invisível aos olhos dos demais estudantes. No entanto, a situação muda a partir do momento em que ela presencia um ato de <i>bullying </i>contra um garoto que é espancado pelos demais alunos e humilhado por ter recebido o cartão vermelho do F4, o que fez com que o rapaz subisse até o terraço da escola e tentasse cometer suicídio sendo impedido pela protagonista, que acaba se tornando uma heroína por tê-lo salvado.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A partir do momento em que ela começa a estudar no colégio após ganhar uma bolsa de estudos graças ao seu ato de heroísmo, ela presencia outras situações humilhantes que Gu Jun Pyo e os demais meninos do F4 praticam no local, e completamente inconformada com essa situação, ela toma a iniciativa de enfrentar os garotos, se tornando o próximo alvo e recebendo o cartão vermelho. Logo que as humilhações começam, ela sofre <i>bullying</i>, em que os personagens jogam alimentos nela, sujam de lixo a piscina na qual ela treina, espalham boatos ruins sobre ela, além da violência física e verbal que ela vivencia. Apesar do sofrimento constante, ela não deixa de passar por tudo com cabeça erguida e não tem medo de enfrentar Gu Jun Pyo que aos poucos acaba criando um interesse amoroso pela garota que claramente o odeia grande parte do drama até se apaixonar por ele.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizhP0TnfQEH-kfgGYlKqn3_SxxDNDs6WbG0-0VSMIpoyWjUw-Io0Tq8DKTXPFquYSYTSnf6RF0TOixKI9g8SEM9k4kPmdEqBg7itBnsrt47YDkoTMqJb7TRE5KNPny-uIq5DgoWWIkBNpH7bY2DwbgPGZdNvtLeln_Nm8DwCnuZijVNoxvYTqH8axj/s399/Imagem1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="269" data-original-width="399" height="270" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizhP0TnfQEH-kfgGYlKqn3_SxxDNDs6WbG0-0VSMIpoyWjUw-Io0Tq8DKTXPFquYSYTSnf6RF0TOixKI9g8SEM9k4kPmdEqBg7itBnsrt47YDkoTMqJb7TRE5KNPny-uIq5DgoWWIkBNpH7bY2DwbgPGZdNvtLeln_Nm8DwCnuZijVNoxvYTqH8axj/w400-h270/Imagem1.jpg" width="400" /></a></div></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><i>Boys Over Flowers</i>, Gu Jun Pyo salvando Jan Di do <i>bullying</i></span></div> <div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Assim como qualquer clássico clichê, <i>Boys Over Flowers</i> possui um triângulo amoroso que envolve Geum Jan Di, Gu Jun Pyo e outro membro do F4, Yoon Ji Hoo, o único garoto que se importa com Jan Di, mas que em momento algum tenta livrá-la dos abusos que ela passa. O drama faz o público acreditar que Jan Di e Ji Hoo são um casal perfeito, por ele ser gentil e tratá-la bem, fazendo com que Jan Di fique encantada por ele, enquanto Jun Pyo, acredita que Jan Di gosta dele e faz de tudo para que eles dois possam ficar juntos, forçando a garota a situações abusivas. De acordo com Praxedes e Gomes (2019) há uma passagem na qual discorrem alguns tipos de ações abusivas de acordo com a lei Maria da Penha e o autor</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>Dos tipos de violência que se manifestam em uma relação abusiva, de violência conjugal, há a agressão física, a violência psicológica, violência sexual e a violência patrimonial. De acordo com as definições da Lei Maria da Penha nº 11.340, a agressão física consiste em ferir e causar danos ao corpo, é caracterizada por tapas, empurrões, chutes, murros, queimaduras, tiros, e outros; A violência psicológica, são “ações ou omissões que visam degradar, dominar, humilhar outra pessoa, controlando seus comportamentos, crenças e decisões através de intimidações e ameaças que impedem ou prejudicam o exercício da autodeterminação e desenvolvimento pessoal (SOARES <i>apud </i>MARQUES, 2013, p. 6).</blockquote></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Tais atos citados são situações nas quais podemos observar não apenas em <i>Boys Overs Flowers</i>, mas também em todas as outras versões da obra. Dentre elas, algumas situações que Gu Jun Pyo faz com Jan Di se resumem a beijos forçados, jogar a menina contra a parede, puxá-la pelo pulso, xingá-la, anunciar a relação sem consentimento, quebra de objetos, sequestro, entre vários outros atos também comuns em outras versões. Mas como identificar relacionamentos abusivos dentro desses dramas? Quais as atitudes dos personagens que os levam a se tornar alguém abusivo? Existem vários motivos. Podemos citar o ciúme excessivo, ameaças, chantagem emocional, destruição da autoestima, controle da vida, invasão de privacidade entre outros.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esses exemplos citados acima são bastante presentes nas outras adaptações de <i>Hana Yori Dango</i>, mas não se resume a apenas essa obra, também podemos ver em dramas como <i>The Heirs</i>, <i>Playfull Kiss</i> e <i>Full House</i>, em que temos personagens masculinos machistas que constantemente diminuem a protagonista, e grande parte da justificativa para esses atos são o passado triste e sofrido que o personagem teve, ou simplesmente por serem inteligentes e superiores, o que não justifica de forma alguma replicar violência e abusar de outra pessoa, seja física ou mentalmente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjH6_0_xEStDE7OGDIj93u8LNXlS5f-ch_4FQa8L-Nz6ldklDWRsIPsFWSh78YZL4tq7jEOxEveOFAjsoeNo-lWEroVBF_aphNYBjVe69Z9C0VoH29JNntZ8IorIdB6p2ucrax_aMKExy8/s400/z6ZAJre.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="224" data-original-width="400" height="224" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjH6_0_xEStDE7OGDIj93u8LNXlS5f-ch_4FQa8L-Nz6ldklDWRsIPsFWSh78YZL4tq7jEOxEveOFAjsoeNo-lWEroVBF_aphNYBjVe69Z9C0VoH29JNntZ8IorIdB6p2ucrax_aMKExy8/w400-h224/z6ZAJre.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A versão chinesa, <i>Meteor Garden</i> de 2018 possui quarenta e nove episódios de quarenta minutos e não é diferente das demais versões. No entanto, algumas das situações abusivas presentes em <i>Boys Over Flowers</i> foram amenizadas na versão chinesa, dentre elas estão os casos de <i>bullying</i>. Na versão coreana, observamos os atos de <i>bullying </i>de forma constante e que nunca são impunes. Os alunos fazem o que querem, e os superiores não agem contra isso por terem medo das famílias dos meninos do F4 que são extremamente poderosas. No entanto, <i>Meteor Garden</i> mudou essa situação. Ao contrário da coreana, em que os personagens são adolescentes e estão na escola, na versão chinesa eles são universitários e apesar de serem ricos, não possuem muita diferença financeira, inclusive entre a protagonista Shang Cai que é de classe média, por isso não há a necessidade do protagonista tentar “comprar” a personagem, ou a dignidade dela por ser pobre como nas outras versões.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nessa adaptação, eles retiraram o <i>bullying </i>e colocaram desafios, ou seja, ao invés do F4 utilizar seu poder para dominar e abusar o outro, eles convidam pessoas para desafiá-los para jogos de carta, o que no drama, ser convidado para um desafio pelo F4 é visto como status e não medo, e além disso ninguém é obrigado a aceitar os desafios, quem quer ser desafiado precisar fazer algo que chame a atenção do F4 para que eles possam reconhecê-lo e desafiá-lo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Outro tópico que diferencia essas duas adaptações está na rivalidade feminina presente das adaptações antigas como <i>Boys Over Flowers</i>. Na versão coreana, Jan Di tem uma amiga, mas que não é amiga de verdade, é alguém se se aproxima da Jan Di por causa dos meninos e por ser apaixonada por Jun Pyo, enquanto na versão chinesa, a amiga da Shang Cai age errado não para usar a amiga para alcançar um objetivo, mas para atingir Shang Cai por ambas terem se desentendido. A narrativa então muda de uma rivalidade para os problemas dentro de uma amizade feminina e como ambas as amigas que se gostam e tiveram um mal entendido vão resolver essa situação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Além disso, também podemos observar em <i>Meteor Garden</i> uma verdadeira representação de relacionamento abusivo, principalmente quanto aos beijos forçados, ou seja, ao contrário das outras versões onde o protagonista forçava o beijo, a protagonista negava, mas logo se deixava levar pela situação criando uma normalização/romantização desse relacionamento. Em <i>Meteor Garden</i> as cenas de beijo forçados são representadas como abusivas, uma personagem que não quer aquilo, e tenta evitar que aconteça, contrariando a romantização desse tipo de atitude, fazendo o Daoming Si, o protagonista, perceber que ele está errado, está sendo abusivo a agredindo e não a amando.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVVLY3QDqvNUBZqAQ4FC9ocw1ae699hVEds00WjsX_oPt9JwxKq3Q-BpKwl4ANOP-96Zyw46CcpkHEN9vq-2-XdQa6Np1p8YTt2kZehL0797aAU8R2w3jcYZZWaHw5NzlWS4w998Hni5nHr7OE0G9YG-2VGKRqIVM_j6OpSCA5Br56kV8NiDEe3t9O/s544/Imagem2-side.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="165" data-original-width="544" height="194" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVVLY3QDqvNUBZqAQ4FC9ocw1ae699hVEds00WjsX_oPt9JwxKq3Q-BpKwl4ANOP-96Zyw46CcpkHEN9vq-2-XdQa6Np1p8YTt2kZehL0797aAU8R2w3jcYZZWaHw5NzlWS4w998Hni5nHr7OE0G9YG-2VGKRqIVM_j6OpSCA5Br56kV8NiDEe3t9O/w640-h194/Imagem2-side.png" width="640" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span>Captura de tela da cena do beijo forçado em </span><i>Meteor Garden</i><span>.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Apesar das diferenças que a nova versão chinesa trouxe, não faz com que a adaptação seja menos problemática. Daoming Si, assim como Gu Jun Pyo segue forçando a protagonista a fazer o que ela não quer, a jogando contra a parede, brigando, xingando, a diminuindo, forçando beijos e puxando a garota pelo pulso, mas Shang Cai também é problemática, ela briga com ele, o agride, o que não faz com que ela seja melhor do que outro personagem abusivo. Dessa forma, é importante termos em mente uma visão crítica quando vamos assistir qualquer produto audiovisual, para que se possa diferenciar o certo do errado e identificar o que é tóxico e o que não é, afim de tentar evitar romantizar/normalizar relações abusivas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Dessa forma, é importante entendermos que a obra <i>Hana Yori Dango</i>, apesar de possuir um enredo bastante problemático, foi escrita e lançada em uma época na qual a sociedade era menos crítica e militante contra os problemas representados, e que a influência da internet e da TV era menor comparada com os dias atuais, em que crianças já nascem sabendo utilizar um aparelho eletrônico. No entanto, versões da obra até os primeiros anos do séculos XXI ainda possuem vestígios de uma época que a tecnologia ainda está em ascensão, porém, reproduzir uma mesma história como <i>Meteor Garden</i> em 2018, mantendo as mesmas características abusivas e violentas das versões anteriores, tentando apenas modificar algumas atitudes não é mais aceitável.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Relacionamentos abusivos se representados em uma produção audiovisual, devem ser mostrados como realmente são com objetivo de levar ao espectador a entender e identificar os atos problemáticos de forma que auxilie o público a compreender, criticar e problematizar essas ações para que possam deixar de ser influência para os espectadores, evitando serem reproduzidas na vida real e possam ajudar pessoas identificarem esses problemas dentro de seus próprios relacionamentos e como devem pedir ajuda para sair deles.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por fim, durante a realização dessa pesquisa, foi encontrado uma nova versão de <i>Hana Yori Dango</i> produzida na Tailândia com nome <i>F4: Thailand</i>, que será transmitida pela <i>Line TV</i> e <i>Youtube </i>que fez com que os fãs da obra se animassem com a novidade. No entanto, graças a popularização da obra e a constante movimentação dos fãs pelas redes sociais, é possível notar com mais frequência uma união contra produções que perpetuam relacionamentos abusivos, o que é possível esperar para essa nova versão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://pa1.narvii.com/6635/4e7938ae02d856ac6d84773f39a3d9567a7317ed_00.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="146" data-original-width="320" height="183" src="http://pa1.narvii.com/6635/4e7938ae02d856ac6d84773f39a3d9567a7317ed_00.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Referências</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">MARTINS, A. Relacionamentos abusivos em dramas coreanos. <b>Jornalismo Eduvale</b>, Online, 2019. Disponível em: <<a href="https://jornalismoeduvale.wordpress.com/2019/05/27/relacionamentos-abusivos-em-dramas-coreanos/">https://jornalismoeduvale.wordpress.com/2019/05/27/relacionamentos-abusivos-em-dramas-coreanos/</a>>. Acesso em: 7 set. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">MARQUES, A. F. Brasil é o 3º país do mundo que mais consumiu doramas na pandemia. <b>O Povo</b>, Online, 2021. Disponível em: <<a href="https://www.opovo.com.br/vidaearte/2021/08/10/brasil-e-o-3-pais-do-mundo-que-mais-consumiu-doramas-na-pandemia.html">https://www.opovo.com.br/vidaearte/2021/08/10/brasil-e-o-3-pais-do-mundo-que-mais-consumiu-doramas-na-pandemia.html</a>>. Acesso em: 7 set. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">MAZUR, D. <a href="https://www.researchgate.net/publication/349757208_Hana_Yori_Dango_e_o_Mercado_Televisivo_Transnacional_do_Leste_da_Asia?fbclid=IwAR3SHi-WYihy9irhdJgjQEurMSUiKXyFkqnXFGdZm1Fc7CwLyqxiNBAOh4g">Hana Yori Dango e o Mercado Televisivo Transnacional do Leste da Ásia</a>. Narrativas Seriadas: Ficções televisivas, Games e Transmídia. <b>Anais…</b> Narrativas Seriadas: Ficções televisivas, Games e Transmídia. Salvador: UFBA, 2021, p. 173-194. Disponível em: <<a href="https://bit.ly/3ATOU70">https://bit.ly/3ATOU70</a>>. Acesso em: 7 set. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">PRAXEDES, L.F; GOMES, V. Relacionamentos Abusivos entre Jovens: O Impacto Subjetivo da Violência da Indústria Cultural. XI EPCC - Encontro Internacional de Produção Científica. <b>Anais…</b>Encontro Internacional de Produção Científica, 2019. Disponível em: <a href="http://rdu.unicesumar.edu.br/handle/123456789/3458"><http://rdu.unicesumar.edu.br/handle/123456789/3458>.</a> Acesso em: 7 set. 2022.</div><br />Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-70394539711086709722022-09-01T15:39:00.004-07:002022-09-01T15:39:35.020-07:00O pai dos reality shows: Survivor e o seu legado na cultura participativa e de fãs<div style="text-align: right;">Ricardo Souza</div><div class="separator" style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="text-align: center;"><img border="0" src="https://media.giphy.com/media/xULW8kcxgrOjHa990A/giphy.gif" /></div><br /><div style="text-align: justify;">A televisão sempre se mostrou capaz de unificar tribos e proporcionar para o telespectador experiências únicas, que mesclam ficção e realidade. Assim descreve-se a <i>reality TV</i>, uma janela para trazer histórias que transitam pelo real e o roteirizado. Um olhar super poderoso que vasculha o que se passa no espaço da vida privada e transporta o que encontra para o espaço da mídia (ROCHA, 2010).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Há um fascínio em observar outras histórias, principalmente se em seu cerne elas são reais, o que torna a <i>reality TV</i> tão popular. O “voyeurismo midiático” é uma prática na qual o indivíduo sente prazer em observar a vida alheia (ROCHA, 2010). A televisão usa desse artifício para criar uma identificação maior com o público, afinal, ver “gente como a gente” torna esse processo de identificação mais fácil.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em parte, os fãs nascem desse artifício, visto que a percepção do que é fã mudou, principalmente para a mídia, que os considera como o centro das atenções através da construção de uma cultura e identidade própria (MONTEIRO, 2010).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Assim, os grandes conglomerados de mídia observam que o seu público, antes passivo e imerso nas narrativas apresentadas, passam a se comportar diferente e a interagir com o produto através da identificação com o que é exibido.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Parte disso só foi possível graças às novas tecnologias, como a internet, possibilitando a atividade e interação com o que é exibido com a criação de fóruns e, consequentemente, com a formação dos <i>fandoms </i>mais ativos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>Embora a nova cultura participativa tenha raízes em práticas que, no século 20, ocorriam logo abaixo do radar da indústria das mídias, a web empurrou essa camada oculta de atividade cultural para o primeiro plano, obrigando as indústrias a enfrentar as implicações em seus interesses comerciais. Permitir aos consumidores interagir com as mídias sob circunstâncias controladas é uma coisa; permitir que participem na produção e distribuição de bens culturais – seguindo as próprias regras – é totalmente outra. (JENKINS, 2006, p 190)</blockquote></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">O termo <i>Cultura Participativa</i>, proposto por Jenkins (2006), surge então com o avanço da tecnologia e com a expansão dos meios de comunicação, que entram em convergência à medida que a informação e os diversos tipos de conteúdo começam a se mesclar. Jenkins (2006) pontua que essa participação, fomentada pelo avanço tecnológico, promove uma circulação de conteúdos em diferentes plataformas, como no caso dos <i>spoilers</i>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em síntese, a cultura de fãs e a sua participação é vista como um avanço. E como um dos grandes exemplos desse avanço, <i>Survivor </i>(2000) surge como uma proposta única, que chama atenção pelo sucesso entre os telespectadores, dos mais casuais até os mais ativos, que tiveram tanto reconhecimento a ponto de fazer história dentro da própria franquia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>A força dos fãs em <i>Survivor</i></b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;"><i>Survivor </i>(2000) é um reality show de grande sucesso, criado por Charlie Parsons em 1992 no Reino Unido. Entretanto, foi a versão estadunidense, de 2000, dirigida por Glenn Weiss e produzida por Mark Burnett que colocou o programa no radar do público.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">A premissa do programa é a de colocar um grupo de participantes, divididos em duas tribos, em um local remoto, sem comida, água, fogo e acampamento. Os participantes são então obrigados a sobreviver nessas condições, participando ao longo do episódio de provas de recompensa e a prova da imunidade, concedida a toda tribo ganhadora, sendo um membro da tribo perdedora eliminado por seus próprios companheiros.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Após um certo número de episódios, as tribos se fundem e, então, o jogo torna-se individual, havendo apenas um imune por episódio, sendo o restante passível de ser eliminado pelos membros remanescentes.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>Survivor </i>é um <i>reality </i>que promove o entretenimento em detrimento das dificuldades de relacionamento entre os participantes (ROCHA, 2010). Apesar do nome sugestivo, o programa tornou-se muito mais do que um <i>reality </i>de “sobrevivência”, considerado por fãs e pelo próprio apresentador e produtor executivo, Jeff Probst, um experimento social, que avalia a estratégia e a sociabilidade dos jogadores, com o físico em segundo plano.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Com essa premissa, <i>Survivor </i>se destacou na grade da televisão estadunidense, e ao longo dos seus primeiros anos foram conquistando um grande público, que vinha se tornando cada vez mais ativo com a expansão da internet.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Em sua primeira temporada, o público, que desconhecia o formato, foi pego de surpresa ao ver tantos participantes “comuns” compartilhando histórias e fortalecendo narrativas pela relação que os participantes tinham, como a do vencedor da primeira temporada, Richard Hatch, um homem gay e o ex-fuzileiro naval Rudy Boesch.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O público passa a se tornar ativo em <i>Survivor </i>com o crescimento do <i>fandom </i>pelos fóruns de debate sobre o programa. Por lá circulavam especulações sobre localidades, participantes e seus desempenhos, teorias acerca de detalhes deixados pela produção em temporadas anteriores.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Assim, a cultura dos <i>spoilers </i>começa a ganhar força, em que Jenkins (2006) conta com o caso de um nome que ficou popular entre os fãs do programa, o “ChillOne”. Essa persona surge no final de 2002, durante sua passagem de ano novo no Brasil, coincidentemente, mesma época em que filmavam a sexta temporada do programa, <i>Survivor: Amazon</i>. O usuário acabou sabendo de informações sobre eliminações do programa, e postou-as em fóruns do show, chamando a atenção de muitos fãs, que se interessavam em ter <i>spoilers</i>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicKgUpkNAx9T-j2b5YUH4QTgHqsu_S39VDVr5S8vX7QCWGkiZkjCX0fPLenpLEAujnb5xrJckM2ADWPjzJCCHVC7e9-88mqCSZoKmTbh6mtWyexLvxaqWjzdkC-p57ZQRroMh2HiqwGM-EyqNoGw3M9GqApPChdHYR08TuEn8RxHXA9pFOUwCCeJj4/s602/Imagem1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="451" data-original-width="602" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicKgUpkNAx9T-j2b5YUH4QTgHqsu_S39VDVr5S8vX7QCWGkiZkjCX0fPLenpLEAujnb5xrJckM2ADWPjzJCCHVC7e9-88mqCSZoKmTbh6mtWyexLvxaqWjzdkC-p57ZQRroMh2HiqwGM-EyqNoGw3M9GqApPChdHYR08TuEn8RxHXA9pFOUwCCeJj4/w400-h300/Imagem1.jpg" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">A comoção foi grande e Jenkins (2006) analisa esse aspecto com base no conceito de Pierre Lévy (1998) sobre a <i>Inteligência Coletiva</i> e, como o <i>spoiler</i>, nesse contexto, parte de um conhecimento compartilhado entre fãs sobre uma informação individual que pertence ao programa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">O próprio show reforça esse tipo de especulação em seu formato, deixando o público ávido a saber e teorizar sobre quem será eliminado, visto que a imprevisibilidade é inerente ao <i>reality</i>. Tal especulação é vista até hoje, em grupos do programa ou na remixagem de conteúdos, como faz o canal do YouTube Once Upon An Island.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="314" src="https://www.youtube.com/embed/E7k-rc2g5Zc" width="480" youtube-src-id="E7k-rc2g5Zc"></iframe></div><br /><div style="text-align: justify;"><blockquote>E isso é parte do que torna o spoiling de Survivor uma atividade tão atrativa. A capacidade de expandir seu anseio individual, associando conhecimento com outros, intensifica os prazeres de qualquer espectador ao tentar “esperar o inesperado”, como insta a campanha publicitária do programa. Assim, os spoilers de Survivor reúnem-se e processam informações. Ao fazê-lo, formam uma comunidade de conhecimento. Estamos realizando experiências com os novos tipos de conhecimento que surgem no ciberespaço”. (JENKINS, 2006, p. 58, 60)</blockquote></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Avançando na força que os fãs ganham com relação ao programa, <i>Survivor</i>, que desde cedo começou a experimentar formatos diferentes, como na oitava temporada sendo feito a primeira versão <i>All-Stars</i> somente com retornantes (e vencedores inclusos), apresentou na sua décima segunda temporada - <i>Survivor: Panama</i>, a participante Cirie Fields, uma dona de casa que era uma fã casual do programa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgucUnJcFu-_td2NeWowD-3PgUaGGyR9MpPzxO6HckwUiQjFuXmYhhNQs7g85_x0yFpXnEpE3FCOyhNzeFlAjGLvpoZpZL7J3W9ou9oZ1lTj7ngOMcBWAaZvQ3R_1y0W0tx_2qY89SLnU5MViHNnjgYP2Wi2S68ZW65MLYSkC4ppw8DWkZ7jrxGnyHl/s403/Imagem3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="269" data-original-width="403" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgucUnJcFu-_td2NeWowD-3PgUaGGyR9MpPzxO6HckwUiQjFuXmYhhNQs7g85_x0yFpXnEpE3FCOyhNzeFlAjGLvpoZpZL7J3W9ou9oZ1lTj7ngOMcBWAaZvQ3R_1y0W0tx_2qY89SLnU5MViHNnjgYP2Wi2S68ZW65MLYSkC4ppw8DWkZ7jrxGnyHl/w400-h268/Imagem3.jpg" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Cirie terminou em quarto lugar em sua temporada original, e conquistou uma grande base de fãs por seu carisma e, acima de tudo, seu jogo social e estratégico, sendo hoje considerada uma das grandes jogadoras que já passou pelo programa. Sua trajetória revela como ela, uma fã casual do programa, que diferente do exemplo citado anteriormente, não participava de fóruns e muito provavelmente compartilhava suas impressões do programa com amigos e família, se tornou um grande nome no jogo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Sua participação, portanto, não parou por aqui, e ela retorna mais uma vez em uma temporada que eleva o conceito de <i>fandoms</i>, vistos como peças fundamentais para a mídia. A temporada 16 - <i>Survivor: Micronesia - Fans vs. Favorites</i>, foi a primeira temporada do show a colocar fãs declarados para concorrer com ex-participantes, entre eles, Cirie Fields. A temporada é considerada por muitos como uma das melhores do programa, e apresentou uma dinâmica muito interessante em ver fãs competindo contra os seus próprios ídolos. Não à toa a apresentação dos participantes retornantes, ou seja, os favoritos, foi um momento quase que a parte na edição, já que os fãs recebiam alegremente eles na localidade, até o momento em que a competição verdadeiramente começa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Por fim, outro exemplo de personagem a participar do programa e que demonstrou a força do fã na condução da narrativa foi John Cochran, participante da temporada 23 - <i>Survivor: South Pacific</i>. Cochran era um grande fã do programa, se considerando um fã ativo, daqueles que sabem todos os detalhes do show. Essa narrativa foi bastante explorada na temporada, o que levou a algumas reviravoltas e a sua eliminação precoce em oitavo lugar. Entretanto, a história de John teve uma virada imprevisível, quando na temporada 26, o show realizou a segunda versão de <i>Survivor - Fans vs Favorites</i>, contando com Cochran no elenco, mas dessa vez, ao lado dos retornantes do programa, ou seja, dos favoritos. John passou de fã para o estágio de ex-participante (amado pelo público) e seu jogo social e estratégico acabou lhe rendendo o prêmio da temporada, consagrando Cochran como o vencedor de <i>Fans vs Favorites</i>. Entretanto, o rapaz não deixou de ser fã na sua segunda participação, e ele elevou o conceito ao realizar o que é visto como um sonho para muitos fãs: participar ativamente do produto admirado.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://u.cubeupload.com/caramoangifs/8uIkkx.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="242" data-original-width="432" height="224" src="https://u.cubeupload.com/caramoangifs/8uIkkx.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A cultura participativa e de fãs é um fenômeno grandioso, e teve incontáveis desdobramentos e feitos ao longo de vários anos. <i>Survivor </i>com certeza teve um papel preponderante no crescimento dessa cultura, por isso, mesmo depois de 20 anos e mais de 40 temporadas, continua no ar com um grande número de fãs espalhados pelo mundo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">O mais interessante nisso é ver que, algo que começou lá em 2002, com o surgimento de um membro em um fórum, continua sendo levado adiante ainda hoje, e representa uma nova forma de produzir e consumir conteúdos ativamente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Referências</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JENKINS, H. <b>Cultura da Convergência</b>. São Paulo: Aleph, 2006.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">MONTEIRO, C. Fandom: cultura participativa em busca de um ídolo. <b>Anagrama</b>, v. 4, n.1, p.1-13, 2010. DOI: <a href="https://doi.org/10.11606/issn.1982-1689.anagrama.2010.35481">https://doi.org/10.11606/issn.1982-1689.anagrama.2010.35481</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">LÉVY, P. <b>A inteligência coletiva</b>. São Paulo: Loyola, 1998.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">ROCHA, D. C. (2010). Reality TV e reality show: ficção e realidade na televisão. <b>E-Compós</b>, v.12, n. 3, 2010.DOI: <a href="https://doi.org/10.30962/ec.387">https://doi.org/10.30962/ec.387</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-17793420830845666782022-08-26T07:33:00.005-07:002022-08-26T07:40:25.509-07:00E se Better Call Saul fosse no Brasil? <p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/xUA7b12v8mfc37Ekus/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="240" data-original-width="480" height="240" src="https://media.giphy.com/media/xUA7b12v8mfc37Ekus/giphy.gif" width="480" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><br /><div style="text-align: right;">Por Helom Paulino Ferreira</div><br /><br /><div style="text-align: justify;">Como não amar Saul Goodman? O advogado que saiu de uma das mais famosas séries da TV, e, com seu jeito particular de resolver os problemas jurídicos que o cercam, acabou conquistando o público e ganhando o <i>spin off Better Call Saul</i> (Netflix, 2015 - atual). Na trama, que se passa seis anos antes de Saul Goodman (Bob Odenkirk) começar suas aventuras em Breaking Bad, Saul ainda é Jimmy McGill, um advogado que não se encontrou no mercado e busca o sucesso financeiro. Já seu irmão, Chuck (Michael McKean), é um advogado bem-sucedido, mas que está passando por um grave problema de saúde mental, o que faz com que Saul tenha que cuidar dele. Na série acompanhamos a transformação de Jimmy, um simples advogado do subúrbio, em Saul Goodman, o grande defensor de criminosos perigosos e de causas impossíveis. Bob Odenkirk que interpreta Saul Goodman recebeu cinco indicações ao Emmy, sendo a última delas em 2022, ano que consagra a série como recordista de audiência. A estreia da sexta temporada foi assistida por 1,4 milhões de espectadores.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Porém, e se a trama se passasse no Brasil? Como os principais arcos narrativos iriam se desdobrar no contexto brasileiro? A maioria das séries que retratam - seja a vida de um profissional do direito ou o dia a dia de atividades policiais - estão inseridas na realidade dos EUA ou da Inglaterra. Por exemplo, <i>Law & Order</i> (NBC, 1990 - 2010), <i>CSI</i> (CBS, 2000 - 2015), <i>Chicago P.D</i> (NBC, 2014 - atual), <i>Hawai Five-0</i> (CBS, 2010 - 2020), <i>The Fall</i> (BBC two, 2013 - 2016), entre outras.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Entretanto, os sistemas jurídicos estadunidense e brasileiro guardam distinções que nos impedem de compará-los em certas situações. É importante ressaltar que não se trata aqui de uma análise puramente jurídica, nem tão pouco será utilizado aquele bendito juridiquês que muitos dos profissionais do direito adoram e ninguém entende (nem mesmo pessoas do meio jurídico!). Nosso objetivo é analisar algumas situações que vemos normalmente em séries que retratam a realidade forense e nos deixam em dúvida de como as mesmas se desenrolariam em um contexto nacional. Afinal, é normal na ficção seriada brasileira assistirmos situações jurídicas serem tratadas como se estivéssemos inseridos no direito estadunidense.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A série escolhida para esse passeio pelo universo da ficção seriada jurídica/policial é <i>Better Call Saul.</i> Primeiramente porque a trama não é horizontal, haja vista os altos e baixos do personagem principal. O mesmo está inserido em um número indeterminado de situações jurídicas que vão desde a participação de julgamentos em tribunais, perpassando por uma atuação junto às instâncias policiais e até mesmo trabalhando como uma espécie de detetive buscando provas para conseguir ganhar suas causas. Neste sentido, podemos observar também que Jimmy McGill - até se tornar Saul Goodman – passa, em pouco tempo, de um advogado ético e honesto para um advogado picareta, que vive caminhando à sombra da lei. Também é importante lembrar que a primeira temporada de <i>Better Call Saul</i> se passa somente 6 anos antes da história de <i>Breaking Bad </i>(AMC, 2008 – 2013), o que vejo como um grande motivo de sucesso, afinal, quem assistiu ao primeiro episódio dificilmente não ficou roendo as unhas de curiosidade de como Jimmy se tornaria o Saul de<i> Breaking Bad.</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Antes de adentrarmos na análise em si, me vejo na responsabilidade de lhes assegurar que não haverão spoilers, toda a análise feita aqui será sobre as atitudes do advogado e situações genéricas que acontecem no decorrer da série, sem que sejam dadas informações cruciais do desenrolar da história. Logo, se você viu somente a primeira temporada ou já terminou a segunda parte da sexta temporada que estreou em julho de 2022, sinta-se à vontade para ler sem preocupações. Para os fãs mais ferrenhos da série é importante observar que aqui chamaremos o personagem principal de Saul Goodman, independente da época, apesar dos três nomes atribuídos ao personagem. É importante avisar, afinal, todo cuidado é pouco com fãs de <i>Better Call Saul</i>, que reza a lenda, após a 6ª temporada se tornam aptos a processar qualquer um!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b>Dois países, dois direitos </b><br /><br /><div style="text-align: justify;">Para que toda essa discussão faça sentido devo explicar brevemente a principal diferença entre o direito brasileiro e o direito estadunidense, o primeiro vem do sistema jurídico chamado de <i>Civil Law</i>, utilizado em países como Brasil, Argentina, Chile, França, Portugal, Alemanha, etc. O segundo vem do sistema jurídico chamado de <i>Common Law</i> utilizado em países como EUA, Inglaterra, Austrália, Canadá, entre outros. Em síntese, como pontua Carvalho (2013) a diferença dos dois sistemas jurídicos é que no Civil Law (sistema adotado no Brasil) o direito é baseado em uma lei escrita, ou seja, nesse padrão as normas estão escritas em um código (Código Civil, Penal, Tributário, Previdenciário e etc.). Já no <i>Common Law </i>o direito decorre de decisões judiciais, é um direito chamado de consuetudinário, baseado em costumes, em decisões proferidas por tribunais, essas decisões antigas têm valor de lei para eles.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para melhor entender podemos exemplificar da seguinte forma: É normal que em séries que mostram tribunais estadunidenses os advogados sempre digam “Segundo Gideon contra Wainwright o réu deve ser inocentado”. “Gideon contra Wainwright” nesse sentido, é o sobrenome de duas pessoas que entraram em um confronto na justiça em um caso que já foi julgado no passado (1966), no sistema estadunidense existe uma valoração grande de decisões proferidas por tribunais. Logo, todos os casos já julgados fazem lei e podem ser utilizados para basear decisões dos juízes, alguns casos inclusive ficaram muito famosos. Os fãs de séries jurídicas já devem conhecer certos nomes tais como Marbury contra Madison (1803), Gibbons contra Ogden (1824), Dred Scott contra Sandford (1857) e Miranda contra Arizona (1966, sendo que Arizona não era uma pessoa mas sim o estado americano de Arizona). No Brasil o normal é escutar o advogado dizer por exemplo, “segundo o artigo 25 do código penal o réu não cometeu crime”, porque no Civil Law a principal fonte de direito é a lei, no caso exemplificado acima, o advogado está dizendo que o réu agiu em legítima defesa (resumidamente quando alguém utilizando dos meios necessários se defende de uma agressão injusta). É importante dizer também que o direito não é um sistema exato e o assunto aqui abordado comporta exceções, nas quais não vamos mergulhar aqui.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não podemos deixar de observar que os sistemas guardam suas similaridades também, por exemplo, no Brasil temos a chamada jurisprudência que são as decisões reiteradas de tribunais que podem ser utilizadas por outros juízes. As decisões proferidas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e transformadas em súmulas, devem ser respeitadas por todos os juízes e tribunais, mas nosso direito não é baseado nelas como o estadunidense, mas sim na lei. Não adentraremos aqui em exceções, similaridades ou discussões meramente jurídicas por questões de espaço e foco.</div><b><br />Melhor ligar para o Saul?</b><p></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/Bs0GXj3ew6xxK/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="170" data-original-width="320" height="170" src="https://media.giphy.com/media/Bs0GXj3ew6xxK/giphy.gif" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><div style="text-align: justify;">Fazem algumas semanas eu estava em uma roda de conversa em uma sexta-feira dessas em que qualquer assunto rende, desde “quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha?” até “quais seriam os limites do universo?”, quando um amigo levantou a bola de que “os advogados brasileiros deveriam estudar mais marketing”! Segundo o mesmo, se os advogados fizessem como Saul Goodman, colocando um anúncio na TV, teriam um retorno fabuloso. Para o meu espanto muitas das pessoas que ali estavam viram a ideia como genial. Mas será que dos nossos mais de 600 mil advogados e advogadas brasileiros(as) ninguém pensou nisso?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O próprio slogan da série diz respeito ao anúncio vinculado pelo advogado para captar seus clientes, devemos observar que Saul Goodman é um marqueteiro de primeira, ele faz anúncios na TV, espalha outdoors pela cidade, organiza até bingos para seu público alvo inicial que são os idosos e sempre está fazendo as mais diversas táticas para conseguir angariar novos clientes. Entretanto o carro chefe é o anúncio na TV, “É melhor ligar para o Saul!”. Mas, por que no Brasil não vemos advogados no intervalo da novela anunciando seus serviços?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Algumas pessoas erroneamente divulgam que advogados não podem fazer nenhum tipo de publicidade, o que não é bem verdade, é permitido que o advogado faça publicidades, inclusive em 2021 a OAB aprovou um provimento que regulamenta o tipo de publicidade¹ que o advogado pode fazer. Importante se faz observar que no Brasil o advogado encontra limitações para fazer seu marketing, só podendo gerar conteúdo na mídia que digam respeito à conhecimento e nunca tendo por objetivo a captação de clientela, ou seja, o advogado só pode publicar conteúdos informativos, o que é bem diferente de comprar um horário na TV e oferecer uma promoção para colocar quem está preso em liberdade. Aqueles que desrespeitarem podem ser censurados, suspensos, multados ou até excluídos dos quadros da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Nos EUA é bem normal vermos advogados fazendo anúncios na Televisão, existindo inclusive a <i>Court TV</i>, que é uma importante rede estadunidense dedicada a transmitir os principais julgamentos do país e conteúdos jurídicos variados. Jovens advogados saem do curso de direito sonhando um dia participar de um julgamento como o de Johnny Depp e Amber Heard que foi transmitido na íntegra pela mencionada rede de televisão e bateu recorde de audiência.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b>O tribunal e suas diferenças</b><br /><div><b><br /></b></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicG5ZsII3kR4cZqyvnyofDVLdPNwRG75RyezqkPjdNve_hBV0LCBtaa9E9r9_f0TOLgzlCTm1GdpTbQZQ7o95sWtEbHFyD7uJkmtD8VuWUDY9De8YsPs8HBqF6FbmEX00wh4c2boBOc5EUZ27ncGptHKRNP50gymjXy8Uvc74FNlo5Q9A33HH4ZOwe/s1918/image1.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="963" data-original-width="1918" height="161" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicG5ZsII3kR4cZqyvnyofDVLdPNwRG75RyezqkPjdNve_hBV0LCBtaa9E9r9_f0TOLgzlCTm1GdpTbQZQ7o95sWtEbHFyD7uJkmtD8VuWUDY9De8YsPs8HBqF6FbmEX00wh4c2boBOc5EUZ27ncGptHKRNP50gymjXy8Uvc74FNlo5Q9A33HH4ZOwe/s320/image1.png" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><div style="text-align: justify;">Na imagem acima podemos observar uma icônica cena da série, trata-se do quarto episódio da quinta temporada, intitulado “Namastê”, a cena acontece no minuto 21, em que Saul Goodman consegue a anulação de um julgamento utilizando uma tática nada convencional e bem duvidosa até para os padrões estadunidenses. Contudo nossa promessa de não dar spoilers continua de pé, não iremos analisar a tática de Saul, mas sim uma questão que sempre vem à tona quando falamos em séries estadunidenses enquanto representam tribunais. Podemos observar à direita o Júri (composto por 12 pessoas), a juíza está ao centro entre as bandeiras e ao seu lado temos uma testemunha de camisa azul, ao centro Saul Goodman (advogado de defesa) e mais próximo da câmera de um lado de terno preto o promotor e do outro lado o “réu”. Em português chamado de tribunal do Júri, tal instituto consiste no julgamento onde o Juiz(a) preside o tribunal, mas são os jurados que dão o veredicto, dizendo se acham que o réu é inocente ou culpado, após isso o Juiz(a) fica responsável por caso condenado seja o réu, quantificar a pena em anos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O júri, em breve síntese, se trata de pessoas do povo que são sorteadas para decidir se o réu é inocente ou culpado. É composto como bem explica o ilustre professor Guilherme de Souza Nucci por um Juiz presidente, vinte e um jurados dos quais sete se tornarão o conselho de sentença e vão decidir a sorte do réu. Nucci (2015, p.61) afirma que</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><blockquote>Enfim, trata-se de um órgão especial do Poder Judiciário, que assegura a participação popular direta nas suas decisões de caráter jurisdicional. Cuida-se de uma instituição de apelo cívico, demonstrativa da importância da cidadania e da democracia na vida em sociedade.</blockquote><br /><div style="text-align: justify;">A primeira diferença que podemos extrair é que no Brasil o conselho de sentença (pessoas do povo que decidem, chamadas também de juízes leigos) são 7 e nos EUA, como mostrado no fotograma, são 12, podemos também destacar que no Brasil o número é ímpar porque funciona como uma votação e a maioria ganha, ou seja, não temos empate. Nos EUA os 12 (doze) jurados devem entrar em consenso.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No caso em que analisamos o júri não aconteceria no Brasil, haja vista que, o direito brasileiro tem um número de situações bem particulares, as quais, vão para o Júri, tais situações estão disciplinadas na Constituição Federal de 1988, art. 5º, inciso XXXVIII:</div><br /><blockquote>[...] Artigo 5º. XXXVIII – É reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; [...] (grifo nosso)</blockquote><br /><div style="text-align: justify;">Conforme pontua Nucci (2015), temos como crimes dolosos contra a vida aqueles que estão disciplinados no Código Penal do artigo 121 ao artigo 127, sendo eles, Homicídio em todas suas formas (art. 121), Induzimento Instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação (art. 122), Infanticídio (art. 123), as três formas de aborto: (art’s. 124 ao 127). Sendo que no direito brasileiro tão somente esses crimes podem ser tratados pelo tribunal do júri.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No episódio mencionado, Saul Goodman faz a defesa perante o júri de um réu que teria roubado o dinheiro de uma caixa registradora em uma loja (crime de roubo, artigo 157 do Código Penal). Tal fato não iria para o júri no Brasil, pois, como mencionado acima, só os crimes dolosos contra a vida (art. 121 ao 127) têm essa possibilidade.</div><br /><div style="text-align: justify;">Na imagem abaixo vemos uma cena do premiado documentário de Maria Augusta Ramos, chamado Justiça (2004), que retrata o dia a dia da atividade forense. No caso de um roubo, por exemplo, o julgamento seria como abaixo, tão somente Juiz(a), promotor(a) e advogado(a), sendo que o(a) juiz(a), chamado nesse caso de Juiz(a) togado(a) é responsável por dar a sentença sem participação popular. Lembrando que o Juiz como abaixo é alguém formado em direito e concursado “Juiz togado” e o júri são os chamados “juízes leigos”, pessoas do povo que são sorteadas para compor o conselho de sentença e que não possuem qualquer formação jurídica específica.</div></div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBe61uGvuzMKj6LsiJGSGnavXa5rCaBvm0ySVc3BTqzlsVJQkZasadr97Wio0yFyd53l4xd5rVGfmau87wUgMq4gETvmBRzY9XEG9y0BHBREpL1BAyyvvbzjgGNMpfBIgcxnl-XGAzzHzzSNiuBM5Mbs3F_JeREhKGYKw9lRu8qgkhCqMYNkb59tTO/s1912/image2.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="910" data-original-width="1912" height="152" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBe61uGvuzMKj6LsiJGSGnavXa5rCaBvm0ySVc3BTqzlsVJQkZasadr97Wio0yFyd53l4xd5rVGfmau87wUgMq4gETvmBRzY9XEG9y0BHBREpL1BAyyvvbzjgGNMpfBIgcxnl-XGAzzHzzSNiuBM5Mbs3F_JeREhKGYKw9lRu8qgkhCqMYNkb59tTO/s320/image2.png" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><div style="text-align: justify;">Nesse momento, aqueles espectadores de tramas que retratam os tribunais estadunidenses devem estar pensando: “Mas nos Estados Unidos tudo vai para o Júri?”. E a resposta é que quase tudo vai para o Júri. Lembremos do famoso caso já mencionado envolvendo Johnny Depp e Amber Heard, que era uma causa cível envolvendo indenização e foi para um Júri, não se trata aqui de nenhum juízo de valor, observem que no último julgamento somente fora discutida a indenização e não supostos crimes cometidos pelos atores, mesmo assim o julgamento foi para um júri. Quando falamos em direito penal (que envolve crimes) essencialmente temos uma participação quase que total do Júri. Como ressalta Nucci (2015, p.73),</div><br /><blockquote>[...] Inicialmente merece ser mencionado o art. 3.º, Seção II, item 3, da Constituição americana: “O julgamento de todos os crimes, exceto em caso de crimes de responsabilidade, será feito por júri e esse julgamento realizar-se-á no Estado em que os crimes tiverem sido cometidos [...] A 6.ª Emenda da Constituição prevê que “em todos os processos criminais, o acusado tem direito a ser julgado por um júri imparcial do local onde o crime foi cometido” (grifo nosso)</blockquote><br /><div style="text-align: justify;">É importante situarmos que em tramas como <i><a href="http://mediabox.observatoriodoaudiovisual.com.br/2021/06/law-order-svu-e-representacao-de.html.">Law&Order: SVU</a> </i>(NBC, 1999 - Atual) que trata essencialmente de crimes sexuais, quase nenhum dos casos se ocorrido no Brasil iria para júri popular, pois os crimes sexuais são todos julgados por juiz(a) togado(a), como demonstrado no fotograma acima, salvo em raras exceções.</div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><br /><b>Atuação do advogado real x atuação do advogado ficcional</b><br /><br /><br /><div style="text-align: justify;">Que Saul Goodman passa dos limites isso não é novidade, o medo de ser preso deu uma marca registrada ao advogado, ele sempre fala e quebra seu celular pelo medo de estar sendo investigado, uma vez que, não é somente um defensor, ele acaba participando dos crimes. A ficção busca por vezes representar a realidade e a realidade acaba por ser uma representação ou cópia da ficção. Como ressalta Rondelli (1997, p.152)</div><br /><blockquote>Os diversos gêneros dos discursos televisivos, ao se construírem, tomam o real como referência para, sobre ele, produzirem aproximações ficcionais ou jornalísticas. No caso da televisão, os telejornais e documentários deveriam ser o reino dos discursos sobre o real, enquanto as telenovelas e seriados, o lugar da ficção [...] Sem pretender traçar uma complexa tipologia dos gêneros televisivos, cabe ressaltar aqui este trânsito, que talvez só à televisão seja permitido, de tratar temas a partir de programas inspirados em vários gêneros de linguagem ou de construção narrativa, de modo que nela muitas das fronteiras entre o real e o ficcional se dissipem.”</blockquote><br /><div style="text-align: justify;">Não se trata aqui de dizer que existe um grande número de advogados criminalistas envolvidos em atividades criminosas, afinal, a advocacia criminal é uma atividade necessária para a sociedade, contudo, se abrirmos qualquer página de notícias policiais vamos ver advogados que acabaram por ter uma atuação “Goodmaniana” e foram penalizados. A dúvida que fica é: será que alguns deles tomaram certas atitudes baseados em Saul?</div><br /><br /><div style="text-align: justify;">É importante que todos, independente da profissão, saibam os limites de sua atuação para que ajam com ética e não extrapolem os limites legais/sociais. Como ressalta Pasa (2013, p. 67) “[...] estudar as imagens e as visões de mundo difundidas pelo gênero televisivo da ficção seriada é um caminho para tentar entender a origem das políticas e das ideias que governam o mundo na contemporaneidade”. Nesse sentido, quando discutimos as peripécias de Saul Goodman refletimos criticamente sobre o universo que a trama representa, suas nuances, contradições e ressignificações.</div><br /><br /><b>Referências</b><br /><br /><br />ALMEIDA, C.; CARVALHO, J. <b>Introdução ao Direito Comparado</b>. Coimbra: Almedina, 2013. <br /><br />BONOMOLO, C. Better Call Saul Season 6 Premiere Sets Records for AMC and AMC+. <b>Comicbook</b>, 2022. Disponível em: <<a href="https://comicbook.com/tv-shows/news/better-call-saul-season-6-premiere-breaks-records-amc-plus-subscribers-social/">https://comicbook.com/tv-shows/news/better-call-saul-season-6-premiere-breaks-records-amc-plus-subscribers-social/</a>>. Acesso em: 25, Jul. 2022. <br /><br />BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. <b>Diário Oficial da União</b>, Rio de Janeiro, 31 dez.<br /><br />BRASIL, Código de Ética e Disciplina da OAB, Lei 8.906/94 – <b>Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil. </b>Disponível em <<a href="http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8906.htm">http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8906.htm</a>> Acesso em 25 jul. 2022. <br /><br />BRASIL. Constituição (1988). <b>Constituição da República Federativa do Brasil</b>. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988<br /><br />NUCCI, G. <b>Tribunal do Júri</b>. 6.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.<br /><br />PASA, P. Televisão e imaginário: entre os limites da ficção e da realidade. <b>Sessões do Imaginári</b>o, v.18. n.29, p. 63-67, 2013. Disponível em: <<a href="https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/famecos/article/view/10103">https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/famecos/article/view/10103</a>>. Acesso em: 31 jul. 2022. <br /><br />RONDELLI, E. Realidade e ficção no discurso televisivo. <b>Revista Letras</b>, v.1, n.48, p. 149-162, 1997. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/19016>. Acesso em: 31 jul. 2022. <div> <br /> <br /></div><br />Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-63034279861296147392022-08-18T15:48:00.003-07:002022-08-26T07:34:05.807-07:00Entre fãs e haters: a reação do público brasileiro ao sucesso internacional da cantora Anitta<div style="text-align: right;">Andreza Felix, Daniela Amorim, Letícia Livramento, Silvani Maciel e Vivian Oliveira</div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://gifs.eco.br/wp-content/uploads/2022/06/gifs-da-cantora-anitta-0.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="259" data-original-width="460" height="259" src="https://gifs.eco.br/wp-content/uploads/2022/06/gifs-da-cantora-anitta-0.gif" width="460" /></a></div><div style="text-align: center;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Com um extenso engajamento nas redes sociais e um marketing pessoal que envolve desde finanças até áreas sociais, a cantora Anitta alcançou um grande público dentro do Brasil. Após a consolidação de sua carreira no país, a artista decidiu se aventurar para além da fronteira, com a ajuda dos fãs. Desde então, seus seguidores têm se dividido entre apoiar e criticar a novidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Defensores da cantora afirmam que a carreira internacional de Anitta pode levar um pouco da cultura brasileira para o restante do mundo. Aqueles que a acusam consideram que, quando o objetivo dela era o Brasil, ela sempre foi criticada pela sexualização de suas letras e clipes que podem servir de "validação" para o estereótipo da brasileira: carnaval, futebol, favela e bunda. E como diferentes versões de uma mesma história, podemos observar como os fãs e <i>haters </i>constróem seus argumentos de apoio e/ou críticas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;"><b>A interação digital entre Anitta e seus fãs</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">A carreira de Anitta vem sendo desenhada e desenvolvendo-se a cada trabalho minuciosamente pensado. É notório que o mesmo acontece em sua relação com os fãs. O papel deles na caminhada artística dela é de extrema importância, principalmente ao falarmos de engajamento, divulgação etc. A aproximação que ela mantém com seu público no Twitter, por exemplo, é de chamar atenção.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com o lançamento da faixa “Envolver”, em novembro de 2021, Anitta conseguiu alcançar altos números de visualizações. Quando a música chegou ao segundo lugar no Top Global no Spotify, seus fãs brasileiros viram a chance de levar a música ao topo do mundo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um grupo de fãs propôs uma série de desafios, que passaram por oito cidades do país. O “Envolver Challenge” tornou-se viral principalmente no TikTok, e mobilizou até celebridades. Neymar, por exemplo, foi um dos vários famosos que entraram na onda. Os vídeos mostram pessoas fazendo a coreografia da música em vários lugares, como ruas, metrô e praias. O desafio foi compartilhado no perfil oficial da Central de Fãs da cantora e chegou a mais de 1 bilhão de visualizações.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Além dessa ação, os internautas usaram o Twitter para elevar o nome de Anitta e da canção, comemorando cada avanço com memes e publicações, ampliando sua visibilidade cada vez mais. Também se organizaram para ouvir a música no YouTube e no Spotify a maior quantidade de vezes possível. Finalmente, em 25 de março de 2022, <i>Envolver </i>foi a música mais ouvida no mundo nas últimas 24 horas no Spotify, com 6,39 milhões de reproduções. Na mesma data, o clipe alcançou 73 milhões de visualizações e ficou em 8º lugar entre os vídeos <i>Em Alta</i> do YouTube.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com isso, ficou nítido que Anitta tem um verdadeiro exército de fãs que se comprometem com ela. Ela pode contar com eles não só apenas em relação à sua carreira artística musical, mas também em relação a causas que a cantora defende, tornando-a uma personalidade muito influente no meio artístico. Um exemplo dessa força de interação da cantora com o público foi a campanha organizada por alguns artistas nas redes sociais para que jovens de até 17 anos tirassem o título de eleitor, em março de 2022. Anitta foi uma das principais protagonistas da campanha, articulando-se até com estrelas internacionais para oferecerem seu apoio. Surtiu efeito: segundo o TSE, 2 milhões de jovens tiraram o título de eleitor, um crescimento de 47,2% em relação ao mesmo período de 2018.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMbA73k01T6FLBUrRKcR5WksqIhp0B-tNeCEle5XqX_x6bxXzkfGtlHB9fMy6XDUg4HEnoV2jrnLljfaBMCf0UKAW4dSClGOJDrZHw4Lc0ZNrPKaoeTeb49o8TDj9H1bICLKxCOc8rP9hsMsR7GMJmV41IwZNrZ2_dbU8zIBmoZzK9aLEwc5BkKK8f/s1215/1-2.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="570" data-original-width="1215" height="301" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMbA73k01T6FLBUrRKcR5WksqIhp0B-tNeCEle5XqX_x6bxXzkfGtlHB9fMy6XDUg4HEnoV2jrnLljfaBMCf0UKAW4dSClGOJDrZHw4Lc0ZNrPKaoeTeb49o8TDj9H1bICLKxCOc8rP9hsMsR7GMJmV41IwZNrZ2_dbU8zIBmoZzK9aLEwc5BkKK8f/w640-h301/1-2.png" width="640" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Segundo Bennet (2012), o ativismo de fãs tem relação com a sensação de proximidade mantida entre o fã e a celebridade, o que se intensifica mais ainda nas mídias sociais. Esses ambientes favorecem um sentimento de intimidade, pelo qual os fãs sentem que têm acesso ao “eu” autêntico da estrela. Também é por meio das plataformas da mídia social que uma cultura de fãs, em todas as suas redes e comunidades interconectadas, pode ser rapidamente reunida, trabalhando de modo coordenada para atingir um objetivo comum. O bom uso dessas ferramentas por parte de Anitta tem sido fundamental para a consolidação dessa base fiel de fãs.</div> <div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Como a carreira internacional de Anitta mexeu com o <i>fandom</i></b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Lançado em 2017, o EP "Checkmate" prometeu inovar e conseguiu trazer algo nunca antes visto em estratégias musicais brasileiras. Anitta realizou ações em pontos de grandes cidades por todo Brasil com o objetivo de impulsionar o lançamento de quatro singles. O que muitos não esperavam é que esse seria o primeiro grande passo de Anitta a caminho de sua carreira internacional. O EP contou com duas músicas em língua inglesa, uma em espanhol e apenas uma em português, o que surpreendeu o seu público.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">A primeira incursão da cantora em idioma estrangeiro havia sido o <i>hit </i>“Paradinha”, cujo videoclipe foi visualizado 6,4 milhões de vezes nas primeiras 24 horas, quebrando o recorde brasileiro. Apesar do grande sucesso da música, este também foi o primeiro momento em que a artista foi acusada de ter se rendido à cultura “gringa”. Com o lançamento de “Checkmate”, essa reação veio em dobro. Ao lado de muito sucesso e grande aclamação de um novo grande público para Anitta, vieram também muitas críticas em relação à responsabilidade da cantora como uma artista brasileira. Deveria Anitta fazer sua carreira internacional apenas cantando músicas no idioma dos outros países?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Sobre os riscos de sua investida no mercado internacional, o jornalista Reinaldo Glioche, por exemplo, diz: “É natural um artista abraçar beats mais comerciais quando decide avançar sobre o desconhecido e Anitta sempre mostrou ter uma boa engenharia de carreira, mas vive um momento de definição. Fracassar em seu projeto de virar uma estrela internacional seria trazer esse fracasso de volta para seu dia a dia como popstar brasileira. Pode ser um revés tão irreversível quanto o status que ela goza agora e almeja mudar drasticamente.”</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Apesar de todo contraste nos comentários e reação do público, “Checkmate” revolucionou a maneira com que a promoção da cantora era vista.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Em 2022, a expectativa para o primeiro álbum internacional da cantora, em parceria com a Warner Records, era grande. Num primeiro momento, Anitta divulgou que o projeto seria intitulado <i>Girl From Rio</i>, mas em março, menos de duas semanas antes do lançamento, anunciou a mudança do nome do álbum para <i>Versions of Me</i>. A troca de nome e a divulgação da arte de capa dividiu opiniões. Nas redes sociais, foram inúmeros memes (tanto de apoio como de crítica) à decisão da artista, que se perguntavam sobre os rumos da sua carreira internacional.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiLeZUhV390Z8CXnVUjIb7mMq9wm9k3N9KpiQFMMxDi3MQq5BUm8HlztVnXgRcLY1aW4ShQgKgEkZY1WSM7I4t6CHj-XR3oQh8EAPol29Ba4RiG-vEeck2yq4bKctJYzh3pjNrLTGLKtbFz1rp7-9-bwcs8q0g1nlDyRrEeDa7xth-cxKG50WJhev0/s391/3.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="314" data-original-width="391" height="257" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiLeZUhV390Z8CXnVUjIb7mMq9wm9k3N9KpiQFMMxDi3MQq5BUm8HlztVnXgRcLY1aW4ShQgKgEkZY1WSM7I4t6CHj-XR3oQh8EAPol29Ba4RiG-vEeck2yq4bKctJYzh3pjNrLTGLKtbFz1rp7-9-bwcs8q0g1nlDyRrEeDa7xth-cxKG50WJhev0/s320/3.png" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVQ2EqDexyjNUJmyx1Yz_fvcuByiQoBJqv29ER7mQF9xvZu3rZd2T3XInTjdoDh_3KhI3kl67g2yG3Rcopj3CEXN3s_LnEDaQEcjE0CQuCy54G2Io7XKxYRDbyBY0Fu3uMGV3e9QRRookSeyVq0H8AAZRAKVsnF3MI9TQE6fxXa5dfimRb_wvIJk7K/s517/4.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="517" data-original-width="404" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVQ2EqDexyjNUJmyx1Yz_fvcuByiQoBJqv29ER7mQF9xvZu3rZd2T3XInTjdoDh_3KhI3kl67g2yG3Rcopj3CEXN3s_LnEDaQEcjE0CQuCy54G2Io7XKxYRDbyBY0Fu3uMGV3e9QRRookSeyVq0H8AAZRAKVsnF3MI9TQE6fxXa5dfimRb_wvIJk7K/w313-h400/4.png" width="313" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quando <i>Versions of me</i> saiu, com 15 faixas em inglês em espanhol, e apenas uma em português (“Que Rabão!”), uma parte dos seus fãs afastou-se. A sensação de que a artista estava abandonando seu público nativo, deixando de lado suas raízes brasileiras, além de questionamentos sobre que tipo de imagem do Brasil estava sendo projetada para o resto do mundo, rendeu críticas e discussões vistas até hoje nas redes sociais digitais. Dessa forma, é perceptível que o investimento de Anitta em chegar a outros mercados dividiu seu próprio <i>fandom</i>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;"><b>O lado positivo: a aceitação da internacionalização da imagem de Anitta</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Após a movimentação do público brasileiro para dar <i>play </i>em <i>Envolver</i>, música que levaria a artista para o topo do Spotify global, Anitta declarou “nunca ter visto o Brasil tão unido”. O sucesso da cantora e o seu reconhecimento no cenário mundial também reflete-se no sentimento dos seus fãs. O Brasil ainda não havia exportado uma cantora pop - menos ainda uma que explorasse ritmos tipicamente brasileiros, como o funk. Para muitos, como o jornalista Chico Barney, o sucesso de Anitta, portanto, trouxe motivo para ter “orgulho de ser brasileiro” (UOL, 2017).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Em sua aparição no festival de música Coachella, um dos mais relevantes do mundo, Anitta chamou atenção do público e da imprensa internacional. Com uma performance repleta de verde, amarelo e azul, ela levou o cenário das favelas do Rio de Janeiro e a essência do baile funk para onde os holofotes mundiais estavam apontados. Foi assim que ela conseguiu se tornar um dos assuntos mais comentados do evento que, mesmo tendo sido nos Estados Unidos, conseguiu captar a atenção dos brasileiros (GZH música, 2022).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">O show contou com <i>hits </i>de todas as épocas da cantora, e inclusive com um cover de Garota de Ipanema. No Twitter, sua apresentação foi comparada à de Beyoncé, em 2018, e não só por fãs brasileiros. A <i>hashtag #Anichella</i> (Anitta + Coachella) entrou para os Trending Topics do Twitter, com alguns fãs comparando ao termo “Beychella”, quando Beyoncé se apresentou como a primeira mulher negra <i>headliner </i>do festival.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaRt7DV57ickVkmj7sDSorTxAHjVN95GObPZW3YObmQFdRqiuuyRdtpG-uXeIjWAg-K72nyrxiHJdvSRWB1PxEZ10V2aYJpZy8FEVY2aXzz8YsMcks_lP-MCDV-GAd8tnezZkB6sLE1Q6G8V6I1DO985LvZLTul8oFHx8UUSk5it0jFqVdk9Ld98PY/s445/5.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="445" data-original-width="427" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaRt7DV57ickVkmj7sDSorTxAHjVN95GObPZW3YObmQFdRqiuuyRdtpG-uXeIjWAg-K72nyrxiHJdvSRWB1PxEZ10V2aYJpZy8FEVY2aXzz8YsMcks_lP-MCDV-GAd8tnezZkB6sLE1Q6G8V6I1DO985LvZLTul8oFHx8UUSk5it0jFqVdk9Ld98PY/w384-h400/5.png" width="384" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Assim, não restam dúvidas que ela vem abrindo portas para o funk mundo afora. Em uma apresentação no Lollapalooza Brasil, ao lado de Jack Harlow, o rapper brasileiro L7nnon não poupou elogios e agradecimentos à artista pelos últimos acontecimentos, que acabam dando visibilidade e abrindo oportunidades para outros artistas nacionais trilharem pelo mesmo caminho. Apesar dos <i>haters</i>, a nova fase de Anitta trouxe para seus fãs o orgulho de ter sua cultura reconhecida e uma parte dela alcançando lugares jamais acessados anteriormente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;"><b>Referências</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">ALMEIDA, C.; CAVALCANTI, G. Fãs, representação e ativismo: shipping de casais homoafetivos na teledramaturgia da Rede Globo. <b>Revista Ícone</b>, v. 16, n. 1, p. 100–119, 2018. Disponível em: <https://bit.ly/3dE3pnv>. Acesso em: 17 ago. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">ANITTA anuncia mudança de nome do novo álbum e imagem da capa divide os fãs nas redes. <b>GZH música</b>, Online, 2022. Disponível em: <<a href="https://bit.ly/3R9aFGP">https://bit.ly/3R9aFGP</a>>. Acesso em: 17 ago. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">ANITTA relembra medo de falhar no início da carreira internacional: 'Não queria me tornar uma piada' <b>GSHOW</b>, Online, 2022. Disponível em: <<a href="https://gshow.globo.com/tudo-mais/tv-e-famosos/noticia/anitta-estampa-a-capa-da-revista-billboard.ghtml">https://gshow.globo.com/tudo-mais/tv-e-famosos/noticia/anitta-estampa-a-capa-da-revista-billboard.ghtml</a>>. Acesso em: 17 ago. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">BARNEY, C Anitta é motivo para ter orgulho de ser brasileiro. <b>UOL</b>, Online, 2017. Disponível em: <<a href="https://entretenimento.uol.com.br/colunas/chico-barney/2017/05/02/anitta-e-motivo-para-ter-orgulho-de-ser-brasileiro.htm">https://entretenimento.uol.com.br/colunas/chico-barney/2017/05/02/anitta-e-motivo-para-ter-orgulho-de-ser-brasileiro.htm</a>>. Acesso em: 17 ago. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">BENNETT, L. Tracing Textual Poachers: reflections on the development of fan studies and digital fandom. <b>Journal of Fandom Studies</b>, v. 2, n. 1, p. 5-20, 2014. Disponível em: <<a href="http://williamwolff.org/wp-content/uploads/2015/01/lbennett_1-libre.pdf">http://williamwolff.org/wp-content/uploads/2015/01/lbennett_1-libre.pdf</a>>. Acesso em: 26 mai. 2021.</div><div style="mso-element: comment-list;"><div style="mso-element: comment;"><div class="msocomtxt" id="_com_2" language="JavaScript">
<!--[if !supportAnnotations]--></div>
<!--[endif]--></div>
</div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-53499324184026671022022-08-12T11:05:00.006-07:002022-08-26T07:35:31.832-07:00TaeKook vs JiKook: conflitos por shipping no fandom de K-pop ARMY<div style="text-align: right;">Gabriela Maranhão Cavalcanti Sobral</div><div style="text-align: right;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://c.tenor.com/mQP7CZvErKMAAAAC/jimin-jungkook.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="382" data-original-width="498" src="https://c.tenor.com/mQP7CZvErKMAAAAC/jimin-jungkook.gif" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O K-pop é um fenômeno cultural que vem ganhando o mundo e conquistando fãs de diversas origens socioculturais. Como o próprio nome já evidencia, o “K” vem de Korea (Coreia, na língua inglesa), e o “pop” se refere ao gênero musical que se popularizou no ocidente. O surgimento do pop coreano é datado dos anos 1990, quando o grupo Seo Taiji and Boys chocou a Coreia do Sul ao lançar a música “Nan Arayo (I Know)”, em um programa de talentos no país em 1992. O grupo apresentava um estilo de música e dança nunca antes visto no país: fortemente influenciados pela cultura ocidental. Eles traziam o hip hop e danças urbanas como diferenciais e tocavam em temas relevantes para a juventude do país, como o conflito entre gerações e os valores conservadores da sociedade sul-coreana. O grupo atingiu grande sucesso comercial, levando as empresas perceberam uma oportunidade de criar uma cena cultural que pudesse ser facilmente produzida e exportada para os países asiáticos – e posteriormente para o resto do mundo. Dessa forma, começou a surgir o K-pop que nós conhecemos hoje, e os desdobramentos a partir do grupo que aqui será analisada, o BTS.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O <i>fandom </i>é um conceito que é fortemente presente no mundo do K-pop. Diminutivo da expressão em inglês <i>fan kingdom</i>, que significa “reino dos fãs”, um <i>fandom </i>é um grupo de pessoas que gostam muito de uma mesma coisa, como um seriado de televisão, um música, artista, filme, livro, etc. Nas redes sociais digitais, essas comunidades se formam e se retroalimentam em tempo quase real, construindo uma memória em comum para além dos limites físicos do espaço geográfico (LÉVY, 1999, p. 49). Ainda sobre essas comunidades, o famoso pesquisador de meios de comunicação Henry Jenkins, enfatizou que</div><div style="text-align: justify;"><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 113.35pt;"><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Comunidades online de fãs podem ser
uma das melhor-realizadas versões da cosmopédia de Levy, grupos expansíveis e
auto-organizados focados na produção, debate e circulação coletiva de
significados, interpretações, e fantasias em resposta a vários artefatos da
cultura popular contemporânea. (JENKINS, 2006, [s.p])</span><span style="font-family: Times New Roman, serif; font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></span></p></div> <div style="text-align: justify;">Essa constatação de Jenkins (2006) sobre o debate e circulação coletiva de interpretações e fantasias é facilmente perceptível nos <i>shipps</i>, que são, na sua maioria, torcidas por casais românticos que podem ou não estar juntos. No caso de <i>shipps </i>de celebridades e pessoas reais, o <i>fandom </i>busca evidências em seus comportamentos para argumentar a teoria de que o casal existe ou que, pelo menos, eles combinam muito.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O <i>boygroup </i>de K-pop BTS, que surgiu em 2013, tem sete membros: Kim Namjoon (RM), Kim Seokjin (Jin), Min Yoongi (Suga), Jung Hoseok (J-hope), Park Jimin (Jimin), Kim Taehyung (V) e Jeon Jungkook (Jungkook). Todos eles aparentam ser muitos próximos e o contato físico é algo muito frequente, principalmente entre os membros mais novos, Jimin, Taehyung e Jungkook. Diante disso, uma boa parte dos Armys, o nome do <i>fandom </i>de BTS, está dividida entre dois <i>shipps </i>antagônicos: TaeKook (Taehyung + Jungkook) e JiKook (Jimin + Jungkook). As rivalidades entre os dois <i>shipps </i>são facilmente observadas em diversas redes sociais. Porém, diante da produção massiva de vídeos que compilam momentos dos integrantes dos <i>shipps </i>diante das câmeras, consideramos pertinente avaliar as discussões em comentários de vídeos do YouTube.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em um vídeo intitulado “TaeKook VS JiKook, Which Ship Is Real?” do canal <a href="https://www.youtube.com/c/NajilaBorahaeist">Najila Borahaeist</a>, dedicado exclusivamente a vídeos do primeiro <i>shipp</i>, é possível observar que a maioria dos comentários são amigáveis. Entretanto, um diálogo específico exemplifica bem um tipo de discussão que vemos com frequência.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjj2N-kCvrOx0IieynwAOae2RkQumVI4mD-BUR6b3vfTMAemtUGdp3A2Kvt3PxK123nWKd32frrnZNw5KnJT8OZRihLYdgTMOUy-ojfG06SSQlSIlTIEQuzfFIm5sKUtU0F3gerVwf9BIlnikO47IGhxvwMspNLJQXEMu2zART_ebmjKXobTWHRUztu/s841/1.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="283" data-original-width="841" height="135" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjj2N-kCvrOx0IieynwAOae2RkQumVI4mD-BUR6b3vfTMAemtUGdp3A2Kvt3PxK123nWKd32frrnZNw5KnJT8OZRihLYdgTMOUy-ojfG06SSQlSIlTIEQuzfFIm5sKUtU0F3gerVwf9BIlnikO47IGhxvwMspNLJQXEMu2zART_ebmjKXobTWHRUztu/w400-h135/1.png" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCZCkfHeaQgGgV_bXp4T1sa9KK3myXGaj2BMDnyY_K2b1b2RKotOZWy4hLyscaWaZmbz3yGbIF4XfTwQmZSg6y4ke62vmccd_7qusMPgas1TMJwhmBpmXZaRckUrhNf3XzPTTv_yh0SzDgjdAnB6jalQzeHIPp8cMT5HPRiFvJFhjD9-m_shoxF9sx/s829/2.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="259" data-original-width="829" height="125" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCZCkfHeaQgGgV_bXp4T1sa9KK3myXGaj2BMDnyY_K2b1b2RKotOZWy4hLyscaWaZmbz3yGbIF4XfTwQmZSg6y4ke62vmccd_7qusMPgas1TMJwhmBpmXZaRckUrhNf3XzPTTv_yh0SzDgjdAnB6jalQzeHIPp8cMT5HPRiFvJFhjD9-m_shoxF9sx/w400-h125/2.png" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Nessa discussão, é possível observar um clássico conflito iniciado por um fã que afirma que Taekook transmite verdade, enquanto que Jikook é <i>fan service</i> - algo feito pelos artistas para chamar atenção ou agradar os fãs. Tal constatação não agrada outro fã, e um diálogo passivo-agressivo é liderado pelo primeiro usuário. Esse comportamento é mencionado por Borges e Viana (2020), em sua análise sobre práticas tóxicas praticadas pelos fãs. Citando Gray (2019), Borges e Viana (2020, [s.p]) afirmam que, "embora a produtividade dos fãs esteja, com maior frequência, associada a prazeres como a admiração, gozo ou conexão com um objeto midiático, pode também ser oriunda da frustração e do antagonismo incitados por esses objetos". Resumindo: da mesma forma que o fã que gosta do objeto midiático e encontra prazer em exaltar esse produto, ele também pode encontrar entusiasmo em discordar de fãs, artistas, produtores e/ou outros objetos midiáticos sob a justificativa de ”admiração” por um objeto em específico.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ainda sobre o ódio entre fãs, Borges e Viana afirmam que:</div><div style="text-align: justify;"><p class="MsoNormal" style="line-height: 24px; margin-left: 113.35pt;"><span style="font-family: inherit;">A incapacidade de alguns fãs em lidar com opiniões divergentes, notadamente, aqueles com discursos antagonistas ao filme (“haters e extremistas”), é apontada como o principal motivo do bate-boca agressivo e ofensivo entre facções de fãs, radicalizando a polarização do fandom, e é considerada comportamento antiético uma vez que iria de encontro aos princípios do “debate justo” e pacífico que caracterizaria, para muitos, a comunidade de fãs da saga (BORGES; VIANA; 2020, [s.p]).</span></p></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">A segunda análise foi a partir da caixa de comentários do vídeo “Qual o namorado do Jungkook? Jikook vs Vkook + sorteio BTS”, do canal brasileiro “Pedrugo”. Dessa vez, a proporção das brigas foi maior e mais longa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXXrH_OA0TSxW77YQawtbd0J4KGwRso4TIQrP2aEBTK5wL1r7bSijDeldFy8CGfmJgWZhRH5MXFKYcdOo6ydcc3nlOdSruTl6-hnFhVDeDXL_bMzXqZh1CfLFkKflf0HhWHF4424JTmO7OPfJf88vRPB-X-kPzoc-TBYPQGOp-_UoW0JkcizvRLxJk/s911/3.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="399" data-original-width="911" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXXrH_OA0TSxW77YQawtbd0J4KGwRso4TIQrP2aEBTK5wL1r7bSijDeldFy8CGfmJgWZhRH5MXFKYcdOo6ydcc3nlOdSruTl6-hnFhVDeDXL_bMzXqZh1CfLFkKflf0HhWHF4424JTmO7OPfJf88vRPB-X-kPzoc-TBYPQGOp-_UoW0JkcizvRLxJk/w400-h175/3.png" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggyRH57vF_mDsE6GgCwcz1m8Ej4h2kz0iOFt-y9QIFUc5vHZJ-QHtlwq4zFVqACtQEdG_iqxjPA8yPP5F7BICfvtXzWpOBgGsPkfzo_7p1CkXsdyoI0YQZDC57osMEsQdtmwFJjmAo_d1knw89pdlwROOo5S1QbVxJQfCneKw3LPMkVKwhIDZHlNAz/s908/4.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="524" data-original-width="908" height="231" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggyRH57vF_mDsE6GgCwcz1m8Ej4h2kz0iOFt-y9QIFUc5vHZJ-QHtlwq4zFVqACtQEdG_iqxjPA8yPP5F7BICfvtXzWpOBgGsPkfzo_7p1CkXsdyoI0YQZDC57osMEsQdtmwFJjmAo_d1knw89pdlwROOo5S1QbVxJQfCneKw3LPMkVKwhIDZHlNAz/w400-h231/4.png" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com 283 respostas ao comentário original, a briga entre vários personagens envolvidos conteve diversos argumentos com momentos publicados entre os participantes dos <i>shipps</i>, a partir de evidências materiais já publicados pelos membros da banda.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Já “Jikook é real? análise não verbal do BTS | não minta pra mim”, do youtuber e especialista em linguagem corporal Ricardo Ventura, que analisa o <i>shipp </i>“JiKook”, foi o último vídeo analisado. Desta vez, é possível observar que além da disputa inevitável entre fãs, a maioria dos comentários se referem especificamente a necessidade de respeito entre todos os <i>shipps</i>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6yybZWjIVA3M89UKBOcbSvx7KFnEAzCMBmdGykkaJBvb9f37ROCC4OoPFgpi6j2ceLAWObNNo61OSwefTIlZq29dHYexQUsU97SssQApt9Qy9gvf0fsmVj-cblaKPivOMNSbPW7m0WFTiCuBSn672z9_HxRqoEbwYimD1C5fPCKyThLgGlNa-w-rt/s855/5.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="855" height="261" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6yybZWjIVA3M89UKBOcbSvx7KFnEAzCMBmdGykkaJBvb9f37ROCC4OoPFgpi6j2ceLAWObNNo61OSwefTIlZq29dHYexQUsU97SssQApt9Qy9gvf0fsmVj-cblaKPivOMNSbPW7m0WFTiCuBSn672z9_HxRqoEbwYimD1C5fPCKyThLgGlNa-w-rt/w400-h261/5.png" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Por fim, levando em conta toda a bibliografia apresentada neste ensaio sobre o estudo de fãs, em conjunto com os materiais analisados através do YouTube, é possível concluir que as comunidades de fãs são uma via de mão dupla: eles possuem a capacidade de se organizar positivamente em prol de um objetivo geral, mas também conseguem protagonizar conflitos e interações antagônicas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;"><b>Referências</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">BORGES, M; VIANA, P. Toxicidade nas Práticas de Fãs na Repercussão do filme Star Wars: Os Últimos Jedi. <b>Geminis</b>, v. 11, n. 3, p. 127-145, 2020. Disponível em: <a href="https://bit.ly/3pbEEBO">https://bit.ly/3pbEEBO</a>. Acesso em: 11 ago. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">LÉVY, P. <b>Cibercultura</b>. São Paulo: editora 34, 1999.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JENKINS, H. <b>Fans, Bloggers, and Gamers:</b> Exploring Participatory Culture. Nova York: New York University Press, 2006.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">REZENDE, N. NICOLAU, M. Fã e Fandom: estudo de caso sobre as estratégias mercadológicas da série Game of Thrones. <i>In:</i> 8º Simpósio Nacional da ABCiber, 8., 2014, São Paulo. <b>Anais...</b> São Paulo: ESPM-SP, 2014, p. 1 –14. Disponível em: <<a href="https://bit.ly/3pbmErc">https://bit.ly/3pbmErc</a>>. Acesso em: 11 ago. 2022.</div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-49906848150757457182022-08-05T14:16:00.003-07:002022-08-26T07:35:22.311-07:00Conflitos e hierarquias por shipping dentro do fandom do anime Naruto<div style="text-align: right;"><span style="font-family: inherit;">Allex Demourier, Amanda Raquel, Pedro Paiva</span></div><span style="font-family: inherit;"><br /></span><div style="text-align: center;"><a href="https://thumbs.gfycat.com/PlainFriendlyFowl-size_restricted.gif"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" src="https://thumbs.gfycat.com/PlainFriendlyFowl-size_restricted.gif" /></span></a></div><div style="text-align: right;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Os ambientes digitais da atualidade, pelo menos aqueles que são diretamente voltados para socialização dos usuários, contam com as mais diversas categorias e gêneros de assuntos para dinâmicas sociais. Entre os coletivos de usuários cibernéticos que mais cresceram e expandiram suas interações estão as comunidades de fãs, ambientes formados por usuários, consumidores de determinado objeto midiático, que performam interações de gosto entre si. Principalmente nas três últimas décadas, o estudo de culturas midiáticas passou a se debruçar sobre essas comunidades e sobre a maneira como elas se relacionam, se organizam e compartilham conhecimentos e afetos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Segundo Lévy (1999, p. 49) a construção dessas comunidades é facilitada pelo ciberespaço e somente por ele podem se organizar de tal forma que cooperem, alimentem e consultem uma memória comum em tempo real mesmo com uma distribuição geográfica diferente. O estudioso dos meios de comunicação Henry Jenkins continuou a falar sobre comunidades de fãs baseando se no trabalho sobre as relações sociais no ciberespaço de Pierre Lévy. Segundo ele:</span></div><span id="docs-internal-guid-63925c1e-7fff-6136-1041-de440d780d37"><span style="font-family: inherit;"><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 12pt; margin-left: 113pt; margin-top: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Comunidades online de fãs podem ser uma das melhor-realizadas versões da cosmopédia de Levy, grupos expansíveis e auto-organizados focados na produção, debate e circulação coletiva de significados, interpretações, e fantasias em resposta a vários artefatos da cultura popular contemporânea. (JENKINS, 2006, [s.p]) (tradução nossa).</span></p></span></span><div style="text-align: justify;">É através dessa popularização do espaço virtual que os fandoms podem potencializar suas formas de se conectar e se fortalecer. Fãs então deixam de ser apenas espectadores e se tornam produsers, (produtores + usuários, em português), nos termos de Axel Bruns [1] . A internet amplificou o alcance dos fãs de diversos segmentos. Sobre a popularização dos meios digitais e como isso trouxe impacto na produção midiática, Bruno Campanella (2012) afirma que</div><span><span style="font-family: inherit;"><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 12pt; margin-left: 113pt; margin-top: 12pt; text-align: justify;">A popularização das tecnologias digitais trouxe mudanças significativas na produção cultural. Fundamentalmente, ela representou uma maior democratização do acesso às etapas de criação e circulação de conteúdos midiáticos, esmaecendo, assim, tradicionais distinções entre produtor e consumidor (CAMPANELLA, 2012, p. 475).</p></span></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Os fandoms direcionados para os produtos animados japoneses, denominados “animes”, são uma ramificação dessas comunidades que exemplifica muito bem essas narrativas sociais. Além de contar um fandom no qual se inserem indivíduos que gostam e acompanham a cultura de animes em geral, essa comunidade também comporta o que poderíamos chamar de <i>sub-fandoms</i>, organizações direcionadas apenas para uma animação específica, ou seja, cada série animada conta com um fandom individual. Para Urbano (2013, p. 13), “a demonstração do capital subcultural articulado no fandom on-line de animês se expressa, fundamentalmente, em conversas sobre variados títulos, e, principalmente, sobre produtos culturais raros e não convencionais”.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Esses <i>sub-fandoms</i> podem ser caracterizados de diversas maneiras - existem fandoms que englobam gêneros específicos de animes, fandoms de animes específicos, fandoms de personagens, <i>shipps </i>(torcida por um casal romântico) e de dinâmicas específicas. Por exemplo, Naruto é um anime com vários personagens e que pertence ao gênero de aventura (ou <i>shounen</i>, animação que tem como público-alvo meninos jovens e que tem tramas de aventura e ação). Assim, um indivíduo que é fã da personagem Sakura estaria inserido no <i>fandom </i>“geral” (fã de anime) e em diversos outros <i>sub-fandoms</i> (gênero, anime específico e personagem).</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Os <i>sub-fandoms</i> possuem características e culturas próprias, diferenciando-se dos outros com suas específicas dinâmicas e relações. Explicando: fãs do anime Naruto têm costumes que diferem daqueles que são fãs do anime Boku no Hero, mesmo sendo dois produtos do mesmo gênero (<i>shonen</i>). Do mesmo modo, no interior da subcultura de fãs de Naruto, os fãs da personagem Sakura têm costumes diferentes dos fãs da personagem Hinata, mesmo sendo derivados do mesmo produto.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Com todas essas sub-culturas interligadas sob o guarda-chuva de uma grande cultura geral, os conflitos que já são intrínsecos ao fandom acabam se tornando ainda mais complexos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: inherit;">Conflitos e hierarquias dentro das comunidades de fãs</span></b></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Os estudos de fãs são bastante amplos, diversos e podem ser encarados a partir de várias nuances e pontos de vista. Apesar da presente investigação observar o fenômeno das comunidades de fãs a partir da perspectiva dos conflitos (ou seja, as “tretas”), cabe salientar que esses grupos de indivíduos também são repletos de senso de comunhão, ativismo, socialização positiva e compartilhamento de conhecimento. Para Jenkins (2009, p. 57) essas comunidades “são definidas por afiliações voluntárias, temporárias e táticas, e reafirmadas através de investimentos emocionais e empreendimentos intelectuais comuns”. Ainda que as comunidades de fãs tenham em suas manifestações grandes afinidades e objetivos comuns, estamos falando de grupos de pessoas com personalidades, características e opiniões distintas. Sendo assim:</span></div><span id="docs-internal-guid-1cb8b687-7fff-60f6-d94e-7aaa39c33a83"><span style="font-family: inherit;"><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 12pt; margin-left: 113pt; margin-top: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os fandoms são formados por afiliações voluntárias e temporárias, através de investimento emocional e esforço intelectual. Porém existem várias características que diferenciam cada fã, como por exemplo, níveis de participação, graus de influência, preferências e objetivos. Cada um com suas próprias motivações e peculiaridades. Não se pode pensar neste público como um bloco homogêneo de interesses e comportamento (REZENDE; NICOLAU, 2014, p. 5).</span></p><div style="text-align: justify;">Borges e Viana (2020), ao analisarem os comportamentos dos fãs da franquia Star Wars no lançamento do filme The Last Jedi, de 2017, trazem definições do que podem ser consideradas “práticas tóxicas” dentro da comunidade de fãs. Citando Gray (2019, p. 130), os autores afirmam que "embora a produtividade dos fãs esteja, com maior frequência, associada a prazeres como a admiração, gozo ou conexão com um objeto midiático, pode também ser oriunda da frustração e do antagonismo incitados por esses objetos". Ou seja, da mesma maneira que o fã que gosta do objeto midiático encontra prazer em exaltar esse produto, também pode encontrar prazer em rivalizar com fãs, artistas, produtores daquele ou de outros objetos midiáticos, tudo isso sob a justificativa de afeto.</div></span></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">O que auxilia e dá combustível para esses antagonismos e disputas é principalmente a divergência de opiniões entre diferentes fãs, mesmo que o seu objeto de admiração seja o mesmo. Ainda mantendo o exemplo de Naruto, fãs de Sakura podem discordar do destino da personagem no anime, ou do melhor “<i>shipp</i>” para a personagem, o que abre precedentes para conflitos, discussões e categorização por parte de outros fãs. Algo como: "Se você <i>realmente </i>gosta da personagem, deveria querer que ela ficasse com o personagem X em vez de Y".</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Explicando com mais profundidade este combustível, Borges e Viana acrescentam, a partir de <i>Star Wars</i>:</span></div><div><span id="docs-internal-guid-2e911498-7fff-e1a5-8978-7258c6f60e9a"><span style="font-family: inherit;"><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 12pt; margin-left: 113pt; margin-top: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A incapacidade de alguns fãs em lidar com opiniões divergentes, notadamente, aqueles com discursos antagonistas ao filme (“haters e extremistas”), é apontada como o principal motivo do bate-boca agressivo e ofensivo entre facções de fãs, radicalizando a polarização do fandom, e é considerada comportamento antiético uma vez que iria de encontro aos princípios do “debate justo” e pacífico que caracterizaria, para muitos, a comunidade de fãs da saga" (BORGES; VIANA, 2020, p. 140).</span></p><div style="text-align: justify;">Ou seja, quem está do meu lado é um bom fã; quem está contra mim obrigatoriamente é um <i>hater</i>, que tem a opinião errada e enganosa.</div></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: inherit;">Fandom de Naruto: conflitos por <i>shipping</i></span></b></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Naruto / <i>Naruto Shippuden</i> (TV Tokyo Corporation, 2002-2017) foi uma animação japonesa (Anime) baseada numa série de mangás escrita e ilustrada por Masashi Kishimoto. O enredo do anime é centralizado na vida do personagem "Naruto", que ao nascer é amaldiçoado com o destino de carregar um demônio dentro de si mesmo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Como afirma Urbano (2020, p. 5):</span></div><div><span id="docs-internal-guid-8a31de3e-7fff-738f-0e67-31ff13d3ce2e"><span style="font-family: inherit;"><p dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 12pt; margin-left: 113pt; margin-top: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Longe de se configurar em um circuito caracterizado pelo consenso entre seus membros, a cultura promovida pelos fãs de animês em suas comunidades on-line envolve fortes contradições e dissensões. Fundamentalmente, pontuamos a forte existência de hierarquias, alianças e rivalidades constituindo a organização de algumas dessas comunidades (URBANI, 2020, p. 5).</span></p><div style="text-align: justify;">Como veremos, as disputas entre os fãs desse anime são, majoritariamente, causadas por um "embate de favoritismo". Facções específicas brigam para defender um determinado personagem, determinado <i>shipp </i>ou determinado acontecimento da história. É importante ter em mente, ao se estudar uma rede social específica, as distinções entre as diversas plataformas e suas múltiplas operacionalidades, já que cada uma delas fornece ferramentas específicas, possuindo materialidades diversas, o que pode trazer diferentes resultados (DOURISH; MAZMANIAN, 2012; LEMOS, 2019). Para esta análise, optamos por investigar o comportamento desse fandom no Twitter. Observamos os confrontos provocados pelos distintos favoritismos dos usuários, mais especificamente o favoritismo voltado para os casais canônicos da animação. Analisamos esses embates entre perfis da rede durante os meses de abril e maio de 2022, a fim de entender e expor quais as principais motivações das discussões e os gatilhos que, geralmente, provocam inimizades entre os usuários. Os tópicos analisados foram o do casal SasuSaku (Sasuke e Sakura, casal canônico do anime) e, por consequência, a personagem Sakura, que por muitas vezes era o foco das brigas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Naruto foi concluído em 2017, tendo agora um <i>spin-off</i> chamado Boruto, que acompanha a vida do filho do personagem principal, mas que é pouco popular entre os fãs do anime original. Portanto, conseguimos perceber que, como Naruto acabou cinco anos atrás, os tópicos de discussão são "reciclados" - assuntos já saturados entre os fãs. Isso acabou contribuindo para que os fãs se fechassem em bolhas específicas, cercando-se daqueles que partilham de suas opiniões e ignorando ou até mesmo bloqueando qualquer um que discordem delas. Por exemplo, encontramos fãs de SasuNaru (<i>shipp </i>dos personagens Sasuke e Naruto) falando mal de <i>shipps</i> como SasuSaku ou NaruHina (Naruto e Hinata, também canônico no anime), mas a repercussão era apenas entre aqueles que concordavam com as opiniões ali expostas, sem contato com fãs dos <i>shipps</i> atacados.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Notamos também que quando há um evento grande dentro do fandom - por exemplo, no dia 28 de março houve mobilização entre os fãs de Sakura no Twitter por ser aniversário da personagem - crescem os números de "indiretas" trocadas pelos fãs, mas sem conflito direto. Fãs de Sakura enviam indiretas para fãs de Hinata por não terem a "força" que o fandom de Sakura tem, enquanto fãs de Hinata debochavam entre si do fato de que os fãs de Sakura se achavam muito importantes por algo tão "pequeno" quanto uma <i>tag </i>nos assuntos mais comentados do Twitter.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Como o conteúdo em português mais parecia uma “guerra fria”, expandimos nossa busca para brigas além do Brasil. Aí encontramos conflitos diretos entre fãs e antifãs do <i>shipp </i>SasuSaku. Conseguimos notar a diversidade de motivos para se opor a um determinado <i>shipp</i>. Muitos fãs desgostam dos <i>shipps </i>por motivos usuais - fãs de Sakura que não acham Sasuke um bom par para ela, ou fãs de <i>shipps </i>diretamente concorrentes como SasuNaru, NaruSaku (Naruto e Sakura) ou SakuIno (Sakura e Ino). Porém, chega a ser ainda maior o número de antifãs de SasuSaku que são fãs de um casal que em nada antagoniza o <i>shipp</i>: NaruHina. Os dois pares podem coexistir sem que um inviabilize o outro.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Rivalidades entre SasuSaku x NaruHina e fãs de Sakura x Hinata são as mais expressivas que encontramos em nossa análise. Os dois <i>shipps </i>não são auto excludentes, pelo contrário - os dois são canônicos e nenhum impede a existência do outro. Ainda assim, essa rivalidade se expressa em maior intensidade do que outros <i>shipps </i>- como NaruSaku (Naruto e Sasuke), SakuHina (Sakura e Hinata) e SasuHina (Sasuke e Hinata).</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Os dois fandoms discutem entre si para provar qual casal é melhor e mais bem desenvolvido. Por terem as <i>fanbases </i>mais extensas do anime - principalmente SasuSaku - as constantes defesas e justificativas para a grandiosidade dos casais são constantes, mesmo que nenhum dos dois tenha de fato um bom desenvolvimento (em nossa humilde opinião). Por essa razão, explicações, referências e debates sobre o significado de cada ação de um personagem para com o outro são comuns. Os <i>sub-fandoms</i> querem encontrar constantes validações do porquê seu <i>shipp </i>ser melhor ou mais “saudável” e de qualidade. Às vezes, a maneira de encontrar essa validação é mostrando como o outro <i>shipp </i>é mal escrito, menos desenvolvido e/ou não saudável.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Enquanto fãs de NaruHina acusam SasuSaku de ser “abusivo” ou “tóxico” e usam isso para afirmar que seu <i>shipp </i>sempre foi puro e saudável, fãs de SasuSaku acusam NaruHina de pouco desenvolvimento, má escrita e pouca química. Essa rivalidade se dá na tentativa de provar a qualidade superior de seu <i>shipp</i>, mesmo que os dois possam coexistir pacificamente (o que de fato acontece no cânone do anime, com os quatro personagens sendo extremamente próximos e com uma amizade forte entre si). A seguir alguns exemplos desses conflitos (coletados do Twitter):</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: inherit;"><img height="158" src="https://lh5.googleusercontent.com/HlspaC13oj7gS3V850LuxjqMSA4I-LzFzwx-5T3LNVH1u3yZSrXlnOdCvLoeDrf_SIFyiOF2p5_K8IzCb7gKLpLeoF472hLr5iCwh_hTkmleZldj0yppWxKmZfR5HClHIbBk7X3Mmkg4U4dkgfIpbpM=w400-h158" width="400" /></span></div><div style="text-align: center;"><i><span style="font-family: inherit;">"Fãs de Narushina estão sempre se metendo nos assuntos do fandom Sasusaku. Por que incomoda vocês se os fãs da família Uchiha querer ter outro filho? Isso assusta vocês? Preocupem-se com Naruto mandando clones sombrios para as festas de aniversário de hinata" (tradução nossa).</span></i></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: inherit;"><img height="93" src="https://lh5.googleusercontent.com/JB7xSom3JmXxb_vVY5MmHtfXGmHY17mrz2nvljm_cbropthlEEwmZd-D9A8xPkUt1Rup-7FXIYl4IWlM2ATkKbPu1obaaLro30jSRuoxltRPuii3WSWVneO-idropN_WhVPBY1x47nj-AhYs8jSMKds=w400-h93" width="400" /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: center;"><i><span style="font-family: inherit;">“Naruto negligenciou a própria família em nome das atividades como hokage, mas eles [fandom rival] nunca querem falar sobre isso. Naruhina stans são uma piada" (Tradução nossa).</span></i></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Outra coisa interessante que notamos foi a rivalidade entre fãs de Sakura e Hinata. No caso das personagens femininas, o cenário mais comum é o de fãs de Sakura gostarem da personagem de Hinata e vice-versa, mas fazem postagens maldosas sobre a outra apenas para irritar os fãs da rival - o que Borges e Viana (2020, p. 136) caracterizam como <i>trolagem</i>, "isto é, ações desagradáveis e provocativas de usuários online cujo intuito exclusivo é causar divergência e controvérsia pública no fandom sem alguma reivindicação de ativismo de fãs".</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">A briga entre fandoms das personagens se dá por um motivo semelhante aos dos <i>shipps</i>, mas se apresenta de maneira diferente: enquanto o objeto de discussão ainda é "minha personagem favorita é superior a sua", o discurso é muito mais voltado para o fandom rival do que, de fato, à personagem; fãs de Hinata podem gostar de Sakura, mas detestam os fãs dela por acharem que ela é a melhor personagem do anime, o que de certa forma "diminui" o papel de Hinata.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">As acusações acabam sendo sempre as mesmas. No <i>spin-off</i> atual, as duas personagens se tornaram donas de casa que cuidam dos filhos, em vez de personagens ativas na história. Uma <i>fanbase </i>utiliza esse mesmo fato contra a outra <i>fanbase </i>mutuamente. As defesas que ambas levantam para proteger sua personagem favorita também são igualmente aplicáveis ao outro lado (por exemplo, listar todas as conquistas e realizações desta ou daquela personagem).</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div> <div style="text-align: center;"><span style="font-family: inherit;"><img height="400" src="https://lh6.googleusercontent.com/0JyEEf_7YinfgXKBE-Y6slHDD8x3wYE00qz756BLmCIO_De9Q_Z_Lipv77RwEInOH6audNw3M7vyjNL83DtxvR1bL_blTYzEJAyvYartUMK5i4L0FZ5uNjsKLyGfczuf8bDdQPvLcqJExesYvDV7h_A=w331-h400" width="331" /></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-family: inherit;"><img height="400" src="https://lh6.googleusercontent.com/CQkZBzo4zZAP-N8qnOxvYPYs61_c27hqW2DDLsmf1FO1oYapfzfGxOPKw_v_UFbWfx8xelAekXoAKsIICtg82GtLM9ImTPksLybqkPql0Eelwv-W6Gs6FDH9S0evISxQzPb9GDwZNVTXxqNdcOfA62Q=w359-h400" width="359" /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Diante de um fandom tão extenso e tão antigo (que se encontra em um período defasado e retraído de sua trajetória) como o grupo de fãs do anime Naruto, as organizações se tornam cada vez mais complexas e diversas, a ponto de parte do protagonismo desempenhado por esses fãs ser guiado por interações hierárquicas e conflituosas.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: inherit;">Referências</span></b></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">BORGES, M.; VIANA, P.. Toxicidade nas Práticas de Fãs na Repercussão do filme Star Wars: Os Últimos Jedi. <b>Geminis</b>, v. 11, n. 3, p. 127-145, 2020. Disponível em: <<a href="https://bit.ly/3d3oR5b">https://bit.ly/3d3oR5b</a>>. Acesso em: 5 ago. 2022.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">CAMPANELLA, B, O fã na cultura da divergência: Hierarquia e disputa em uma comunidade on-line. <b>Contemporanea</b>, v. 10, n. 3,p. 474-489, 2012. Disponível em: <<a href="https://bit.ly/3dc2QkU">https://bit.ly/3dc2QkU</a>>. Acesso em: 5 ago. 2022.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">DOURISH, P., MAZMANIAN, M. Media as material: Information, Representations as Material Foundations for Organizational Practice. <i>In:</i> CARLILE, P. R.; <i>et al.</i> (eds.) <b>How Matter Matters</b>. 3. ed. Oxford: Oxford University Press, 2012.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">JENKINS, H. <b>Fans, Bloggers, and Gamers:</b> Exploring Participatory Culture. Nova York: New York University Press, 2006.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">JENKINS, A. H. <b>Cultura da convergência.</b> São Paulo: Aleph, 2009.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">LEMOS, A. Comunicação e Mediação. <i>In:</i> ALZAMORA, G; COUTINHO, F.; ZILLER, J. (orgs.). <b>Dossiê Bruno Latour</b>. Belo Horizonte: Editora UFMG. 2019.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">LÉVY, P. <b>Cibercultura</b>. São Paulo: Editora 34, 1999.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">REZENDE, N. NICOLAU, M. Fã e Fandom: estudo de caso sobre as estratégias mercadológicas da série Game of Thrones. <i>In:</i> 8º Simpósio Nacional da ABCiber, 2014, São Paulo. <b>Anais eletrônicos... </b>São Paulo: ESPM-SP, 2014, p. 1 –14. Disponível em: <https://bit.ly/3QloVeR>. Acesso em: 5 ago. 2022.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">URBANO, K. <b>Legendar e distribuir:</b> o fandom de animês e as políticas de mediação fansubber nas redes digitais. Dissertação (Mestrado em Comunicação) - Instituto de Arte e Comunicação Social, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2013. Disponível em: <<a href="https://app.uff.br/riuff/handle/1/13951">https://app.uff.br/riuff/handle/1/13951</a>>. Acesso em: 5 ago. 2022.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">URBANO, K. Fansubbers brasileiros e suas políticas de mediação nas redes digitais. <b>Famecos</b>, v. 27, p. 1-13, 2020. Disponível em: <https://bit.ly/3oXd9Md>. Acesso em: 5 ago. 2022.</span></div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-23956858462712029932022-07-29T10:33:00.009-07:002022-08-26T07:35:08.554-07:00“You need to calm down” e o súbito ativismo Swiftie<div style="text-align: right;">Caroline de Melo, Emanuel da Silva e Giovanna da Silva</div><div class="separator"><br /></div><div class="separator" style="text-align: center;"><img border="0" src="https://img.wattpad.com/6e33c0282c304aeb9b677690f9836396903bb6c7/68747470733a2f2f73332e616d617a6f6e6177732e636f6d2f776174747061642d6d656469612d736572766963652f53746f7279496d6167652f3047464a752d4b523232714751673d3d2d39382e313634346530633237363161393539393238353232343535373832362e676966" /></div><div style="text-align: right;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com músicas joviais que tocam em temas como amor e amizade, Taylor Swift se alçou rapidamente ao nível de uma das maiores cantoras de pop country dos Estados Unidos. Uma carreira que começou quando ela tinha 14 anos e cresceu, passou por mudanças de gênero musical e, ainda assim, manteve uma base de fãs mundial gigantesca. Taylor parecia conquistar o mundo. Mas a maior parte dessa trajetória foi completamente apolítica. Isso porque, até 2019, com aproximadamente 15 anos de carreira, Swift jamais havia expressado quaisquer opiniões políticas publicamente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div>O primeiro lampejo de um posicionamento político surgiu no fim de 2018, quando ela endossou a candidatura do democrata Phil Bredesen ao Senado no seu estado natal, o Tennessee. A artista levou ao registro de 240 mil eleitores nos Estados Unidos. Após isso, a cantora publicou, em 1 de junho de 2019, uma carta escrita e marcada com a <i>hashtag</i> <a href="https://twitter.com/taylorswift13/status/1134673128301453312" target="">#lettertomysenator</a>. Nela, pedia que o senador de seu estado, Lamar Alexander, apoiasse sua petição de apoio ao “Equality Act”, um projeto de lei que visava proibir discriminação com base em identidade de gênero ou orientação sexual. Esse movimento de Swift aconteceu no início do Mês do Orgulho (Pride Month) e instigou seus seguidores nas redes sociais a pedir o mesmo usando a tag.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Todas essas primeiras declarações foram recebidas com surpresa. Afinal, somente aos 29 anos, a cantora expôs para o grande público o que pensava. Mas a manifestação mais explícita de uma bandeira política por parte da cantora veio alguns dias depois quando, em 14 de junho, lançou o segundo single do seu sétimo álbum, <i>Lover</i>, “You Need To Calm Down”. A música chamou atenção imediata por ter sido lançada coincidentemente no mesmo dia do aniversário do então presidente estadunidense Donald Trump. Dirigido por Drew Kirsch e pela própria Swift, que também assinou como produtora executiva ao lado de Todrick Hall, o single alcançou o número dois na Billboard Hot 100, abaixo somente do fenômeno <i>Old Town Road</i>, de Lil Nas X.</div><div style="text-align: justify;"><span style="color: #999999; font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 23pt 113.35pt;"><span style="color: #999999; font-family: inherit;"><span lang="EN-US" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-size: 10pt;">Why
are you mad When you could be GLAAD? (You could be GLAAD). Sunshine on the
street at the parade, but you would rather be in the dark ages. Makin' that
sign must've taken all night. You just need to take several seats and then try
to restore the peace. And control your urges to scream about all the people you
hate. </span><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-size: 10pt;">'Cause shade never made
anybody less gay… <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 23pt 113.35pt;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-size: 10pt;"><span style="color: #999999; font-family: inherit;">[Por que você está bravo
quando você poderia estar contente? (Você poderia estar contente). Sol na rua
no desfile. Mas você preferiria estar na idade das trevas. Fazendo aquele
cartaz que deve ter levado a noite toda. Você só precisa se sentar e tentar
recuperar a paz. E controle seus impulsos de gritar sobre as pessoas que você
odeia. Porque indiretas nunca fizeram ninguém ser menos gay] <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 23pt 113.35pt;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-size: 10pt;"><span style="color: #999999; font-family: inherit;">[A cantora faz um
trocadilho de GLAAD, organização não-governamental estadunidense que trabalha
em como a mídia retrata pessoas LGBT+, com a palavra glad que significa
“contente”.]</span><span style="color: #202122; font-family: Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></span></p></div><div style="text-align: justify;">Com sua batida grudenta, o sucesso do single não foi uma surpresa - mas sua temática, sim. YNTCD foi lançada junto a um videoclipe com todos os tipos de (inesperadas) manifestações. Repleto de participações de artistas LGBTQIA+, cheio de cores e uma letra que fala sobre amor próprio, ódio nas redes sociais, machismo, preconceito, o tratamento das mulheres pela mídia e homofobia, a canção levantou a bandeira de proteção aos direitos da comunidade LGBTQIA+ e reforçou o pedido de apoio ao Equality Act com uma mensagem ao final do clipe.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Dessa forma, a cantora reafirmou e se declarou explicitamente uma aliada, fortalecendo sua ligação com a comunidade e com o ativismo <i>queer</i>. Foi nesse momento que Taylor passou a ser uma das vozes simbólicas dentro do grupo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=Dkk9gvTmCXY"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/Dkk9gvTmCXY" width="320" youtube-src-id="Dkk9gvTmCXY"></iframe></div><br /></a></div><div style="text-align: justify;">A recepção da crítica foi mista: para muitos, não havia nada de inesperado. Para outros, uma tentativa fracassada de encontrar mais suporte na comunidade <i>queer</i>. Swift também foi acusada de <i>queerbaiting</i>, expressão que significa uma tentativa de atrair a comunidade LGBTQIA+ com uma proposta de representatividade falsa, e de <i>pinkwashing </i>– outra maneira de dizer que desconfiavam que o único motivo para usar a causa LGBT é financeiro.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O que realmente marcou essa fase da carreira de Taylor foi o fato de que seu <i>fandom</i>, os Swifties, historicamente formado por pessoas brancas e com muitos integrantes direita, sofreu uma forte mudança. A empresa estadunidense <a href="https://www.tickpick.com/tuning-in-to-politics" target="">Tick Pick</a>, especializada em ingressos para shows, realizou uma pesquisa com os fãs de vários artistas, incluindo Taylor Swift. Ao final do estudo, que ouviu cerca de mil pessoas, um total de 19,7% dos fãs de Taylor haviam se posicionado contra a união de pessoas do mesmo gênero. A análise também aponta que um dos motivos para tal resultado, mesmo em um público jovem (até cerca de 30 anos) pode estar no country, um gênero que é considerado mais tradicional e o preferido dos eleitores republicanos. Além disso, é também mais popular em partes dos Estados Unidos em que prevalecem as ideologias conservadoras de direita. Dessa forma, o lançamento de YNTCD foi a primeira vez que o <i>fandom </i>defendeu uma causa progressista como essa em nome da cantora.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Segundo Bennet (2012), esses grupos utilizam o alcance instantâneo e potencialmente mundial das redes sociais digitais para fomentar seu engajamento cívico organizado em torno de assuntos relevantes. Van Zoonen (2004) argumenta que o ativismo funciona tão bem no contexto dos fandoms porque fãs têm investimento individual intenso, e costumam participar de discussões e debates em comunidade, propõem e discutem alternativas que poderiam ser implementadas caso eles tivessem o poder. Esses hábitos são essenciais para a democracia política - informação, discussão e ativismo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na mesma direção, Almeida (2022, Online) explica que essa forma de ativismo de fãs provém de uma comunidade que possui “grande capacidade de coordenação e organização coletiva, e, quanto mais numerosas, mais visíveis as suas demonstrações de força”. A autora prossegue:</div><div style="text-align: justify;"><span style="color: #999999; font-family: inherit;"><br /></span></div><div><div style="text-align: justify;"><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 23pt 113.35pt;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-size: 10pt;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 115%;"><span style="color: #999999; font-family: inherit;">Motivados pelas suas
paixões, <i>fandoms</i> conquistam muitas
coisas juntas – fazem <i>hashtags</i> chegar
aos assuntos mais comentados do Twitter, ajudam seus ídolos a quebrar recordes
e também apoiam causas que, a princípio, não teriam relação direta com o objeto
midiático adorado. Muitas dessas práticas cotidianas de subculturas de fãs
assemelham-se ao exercício da cidadania e da política e, em alguns casos, essa
relação torna-se ainda mais explícita (ALMEIDA, 2022, Online).</span></span></span></p></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Segundo uma matéria do site TMZ, o single fez com que as doações à GLAAD (Gay</span> & Lesbian Alliance Against Defamation) aumentassem bastante logo na madrugada em que a música foi lançada. O apoio à aliança, que defende e monitora a representação LGBTQIA+ na mídia foi manifestado quando a compositora faz um trocadilho onde “glad” (ou contente, em português) vira “GLAAD”. O próprio perfil da organização participou da brincadeira:</div></div><div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifjlUtsuK-bODLD_91d3aFmFH-VfHczDXYV0LE1Nnq1K5pYwwqu3lhLue2ImapStkGg-WENiYajMQePhiC7OC5Psu_lANMlrg4MvvpyUO2U5wqT5ZjVWpgPkNvGtIMmZt_KlxgVVSz2MJdQo-wx5Mp3krspImpsYslcnuv6dyk5mAblHNtDANNmrVi/s754/11.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="670" data-original-width="754" height="355" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifjlUtsuK-bODLD_91d3aFmFH-VfHczDXYV0LE1Nnq1K5pYwwqu3lhLue2ImapStkGg-WENiYajMQePhiC7OC5Psu_lANMlrg4MvvpyUO2U5wqT5ZjVWpgPkNvGtIMmZt_KlxgVVSz2MJdQo-wx5Mp3krspImpsYslcnuv6dyk5mAblHNtDANNmrVi/w400-h355/11.png" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Ainda de acordo com o TMZ, à época, GLAAD iniciou uma campanha de arrecadação com o objetivo de arrecadar USD$1.300, em homenagem à cantora – que tem o 13 como número da sorte. Em 2020, a artista foi homenageada pela organização com o Vanguard Award, pelo seu apoio à causa LGBTQIA+.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPpQTvfEv01NMB9DZDmIFlpUHpMMrEyeVRtg-tjb1X4Xnz-C-XhchWz4Q_8MsTls7ykTOc0dVyIb2xLuSOHEXvIVs2AY6_8s-fWqWE6PyP3zzFfKHD_Vym4KY6Fw3qhldMCabc7drLqZpuWiTSB42ZEN98ENEpKrEUT0IsYgQHrjrwjHyAoYsgP3KM/s686/22.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="314" data-original-width="686" height="183" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPpQTvfEv01NMB9DZDmIFlpUHpMMrEyeVRtg-tjb1X4Xnz-C-XhchWz4Q_8MsTls7ykTOc0dVyIb2xLuSOHEXvIVs2AY6_8s-fWqWE6PyP3zzFfKHD_Vym4KY6Fw3qhldMCabc7drLqZpuWiTSB42ZEN98ENEpKrEUT0IsYgQHrjrwjHyAoYsgP3KM/w400-h183/22.png" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Em um artigo que explorou a resposta da audiência nas redes sociais, Avdeef (2019) apontou que a resposta dos fãs ao clipe no Twitter utilizando a hashtag #YouNeedToCalmDown foi principalmente de experiências positivas (48%) ou neutras (46%) e apenas 6,4% negativas. Enquanto isso, a <a href="https://www.change.org/p/support-the-equality-act?signed=true" target="">petição a respeito do Equality Act </a>conseguiu reunir mais de 800 mil assinaturas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPMfyt8UcSA4mMIxQa2697gmwD-QcKdT60cttdesbefc-Dge35AKYLF8NDzxEHn0bIvwZ3QM9ZZUxgpanj6Q90QgQhykwlVwFDqBxaB5XHRCdWPB2fGONNY1ysxSDpq3ic9voeeEKToLTjLYKypmtWwfzZPo9R84i0XtCFfgFTEgX4fpCxBCkGScpw/s895/33.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="895" data-original-width="695" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPMfyt8UcSA4mMIxQa2697gmwD-QcKdT60cttdesbefc-Dge35AKYLF8NDzxEHn0bIvwZ3QM9ZZUxgpanj6Q90QgQhykwlVwFDqBxaB5XHRCdWPB2fGONNY1ysxSDpq3ic9voeeEKToLTjLYKypmtWwfzZPo9R84i0XtCFfgFTEgX4fpCxBCkGScpw/w310-h400/33.png" width="310" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Em uma entrevista à Revista Vogue (AGUIRRE, 2019), Taylor contou que a origem dessa vontade de se manifestar de forma politizada veio de uma conversa com um amigo, reproduzindo palavras que já corriam pelo <i>fandom</i>. O rapper, ator e coreógrafo Todrick Hall estava com ela num carro quando a questionou sobre o que faria se seu filho fosse gay. Segundo Swift, a pergunta a chocou: “Se ele estava pensando isso, não posso imaginar o que meus fãs na comunidade LGBTQ podem estar pensando. (...) Foi meio devastador perceber que eu não estava sendo clara publicamente sobre isso” (AGUIRRE, 2019).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A disseminação de opiniões ocorre fortemente pelas redes sociais. Nesse caso, começou pelo lançamento no YouTube e se espalhou pelo Twitter e Instagram. Bennet (2012), citando Crawford, explica que a mídia social e móvel instiga a criação de uma conexão íntima. Ela descreve, ainda, como o compartilhamento de ações, hábitos e experiências cotidianas - “'trivialidades' cotidianas" por meio dessas plataformas "forja conexões entre indivíduos fisicamente distantes uns dos outros". (CRAWFORD, 2009, <i>apud </i>BENNET, 2012). Assim, essas redes constroem camaradagem à distância através da prática dinâmica e contínua de divulgar o cotidiano.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A natureza dialógica da comunicação pode criar uma situação em que fãs se sentem tocados pessoalmente, instigando uma resposta poderosa quando chamados para a ação. Dessa forma, Taylor Swift por meio de suas redes e suas produções, quando cita algo, faz com que os fãs, principalmente a sua base, se movam através dos laços de afeto e aproximação para alcançar resultados surpreendentes.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <b>Referências </b><br /><br /><div style="text-align: justify;">AGUIRRE, A. Taylor Swift on Sexism, Scrutiny, and Standing Up for Herself. <b>Vogue</b>, Online, 2019. Disponível em: <a href="https://www.vogue.com/article/taylor-swift-cover-september-2019">https://www.vogue.com/article/taylor-swift-cover-september-2019</a>. Acesso em: 28 jul. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">ALMEIDA, C. Qual a régua para medir os afetos dos fãs?. <b>Revista Continente</b>, Online, 2022. Disponível em: <a href="https://revistacontinente.com.br/edicoes/256/qual-a-regua-para-medir-os-afetos-dos-fasr">https://revistacontinente.com.br/edicoes/256/qual-a-regua-para-medir-os-afetos-dos-fasr</a>. Acesso em: 28 jul. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">AVDEEF, M. K. TikTok, Twitter, and Platform-Specific Technocultural Discourse in Response to Taylor Swift’s LGBTQ+ Allyship in ‘You Need to Calm Down’. <b>Contemporary Music Review</b>, v. 40, n.1, p. 78-98, 2021. DOI <a href="https://doi.org/10.1080/07494467.2021.1945225">https://doi.org/10.1080/07494467.2021.1945225</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">BENNETT, L. Fan Activism for Social Mobilization: A Critical Review of the Literature. <b>Transformative Works and Cultures</b> (TWC) ,v.10, [s.p], 2021. Disponível em: <a href="https://journal.transformativeworks.org/index.php/twc/article/view/346/277">https://journal.transformativeworks.org/index.php/twc/article/view/346/277</a>. Acesso em: 28 jul. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">QUERINO, R. 19% dos fãs da Taylor Swift são contra o casamento homoafetivo, revela pesquisa. <b>Observatório G</b>, Online, 2019. Disponível em: <a href="https://observatoriog.bol.uol.com.br/noticias/19-dos-fas-da-taylor-swift-sao-contra-o-casamento-homoafetivo-revela-pesquisa">https://observatoriog.bol.uol.com.br/noticias/19-dos-fas-da-taylor-swift-sao-contra-o-casamento-homoafetivo-revela-pesquisa</a>. Acesso em: 28 jul. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">VAN ZOONEN, L. Imagining the Fan Democracy. <b>European Journal of Communication</b>, n 19, p. 39–52. 2004. DOI <a href="https://doi.org/10.1177/0267323104040693">https://doi.org/10.1177/0267323104040693</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">YOU Need To Calm Down. <b>Letras</b>, Online, 2019. Disponível em: <a href="https://www.letras.mus.br/taylor-swift/you-need-to-calm-down/traducao.html">https://www.letras.mus.br/taylor-swift/you-need-to-calm-down/traducao.html</a>. Acesso em: 28 jul. 2022.</div><br /></div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-35295225598338658892022-07-20T11:16:00.003-07:002022-08-26T07:34:54.751-07:00O poder do Tiktok: como o aplicativo influenciou o interesse e a compra de livros<div style="text-align: right;">Carolyna Santiago e Bruna Chagas</div><div style="text-align: right;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://c.tenor.com/xrD52JbIydoAAAAC/matilda-love.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="207" data-original-width="498" height="166" src="https://c.tenor.com/xrD52JbIydoAAAAC/matilda-love.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: right;"></div> <br /><div style="text-align: justify;">Existe um multiverso nos <i>fandoms</i>. Para a autora Anne Jamison (2013), em 1966, alguns fatores mudaram a perspectiva de como a sociedade encarava a ficção. Um desses fatores foi o lançamento da série de televisão Jornada nas Estrelas e, com isso, popularizou-se um fenômeno: grupos de fãs começaram a surgir para compartilhar seus gostos e amores pela série, produzindo e compartilhando conteúdo midiático uns com os outros.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O fenômeno dos <i>fandoms </i>se transformou durante os anos, e a tecnologia favoreceu essa transformação. Com a chegada da internet, grupos de fãs encontraram uma forma de se espalharem e crescerem ainda mais, compartilhando interesses e criando uma comunidade afetiva. Não seria diferente com os jovens fãs de livros.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A história do universo dos fãs de livros e séries literárias infanto-juvenis, chamados de <i>bookstans</i>, possui uma linha de altos e baixos. Seu primeiro grande “estouro” se deu nos anos 2000, com o sucesso de Harry Potter e os seus respectivos fãs, os <i>potterheads</i>, e 2009 com os <i>twilighters </i>e a trilogia de Crepúsculo. Foi principalmente a partir desses títulos que muitos grupos de admiradores se formaram para acompanhar as estreias das adaptações cinematográficas originadas dos livros. Em meados de 2012, houve outro aumento de grupos de fãs com o lançamento de séries como Jogos Vorazes, Divergente e Percy Jackson.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Depois de alguns anos, outro “estouro” desses fandoms literários ocorreu durante a pandemia da Covid-19, em que houve o crescimento de contas literárias em redes como Instagram, Twitter, YouTube e TikTok. Entre 2020 e 2022, livros do gênero infanto-juvenil, ficção e romances passaram a ser produzidos e ocupar as listas de mais vendidos em todo o mundo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ao perceber o consumo de livros nos anos mais atuais, os títulos mais populares estão constantemente associados à cultura do TikTok, que durante os anos 2020-2021 se consolidou como uma das principais fontes de influência e a segunda maior rede social para marketing de <i>influencers</i>, segundo <a href="https://www.linqia.com/insights/the-state-of-influencer-marketing-2021/">uma pesquisa da agência digital Linqia</a> (2021). Ou seja, no campo literário essa rede social se mostra influenciadora e massificadora de tendências, popularizando títulos literários que, a partir dali, são comprados em peso.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Afinal, como funciona o booktok?</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPQhSUmmPkyQ2fwwaJVUHCyOFWgMyaSG6RTJ13QFAm4WJACI_lxaJiLAPBw52eny8ryJsv3O-Ty9RNMEOe-uYTGimcKPSgEeIIyYkvKlZ9VO0j_esNW4n25yoKxkeLFFMJmIXMbbKqtDsQ_6F3vyEileRs0_rYQzxZegOjvoODxRX5BfNnFvM6UVcq/s983/Book%20Took.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="547" data-original-width="983" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPQhSUmmPkyQ2fwwaJVUHCyOFWgMyaSG6RTJ13QFAm4WJACI_lxaJiLAPBw52eny8ryJsv3O-Ty9RNMEOe-uYTGimcKPSgEeIIyYkvKlZ9VO0j_esNW4n25yoKxkeLFFMJmIXMbbKqtDsQ_6F3vyEileRs0_rYQzxZegOjvoODxRX5BfNnFvM6UVcq/w400-h223/Book%20Took.png" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O <i>booktok </i>surgiu como uma rede social que favorece não somente o debate sobre obras, como também a divulgação de muitos títulos e autores. Isso acontece porque a plataforma torna fácil a viralização de muitos conteúdos, e isso ajuda a livros que ainda não têm tantos leitores conquistarem repercussão. Além de divulgarem livros, os fãs fazem <a href="https://www.tiktok.com/@daracrocha/video/7054386702760152325?_t=8T8bFxzHh0n&_r=1">“</a><a href="https://www.tiktok.com/@daracrocha/video/7054386702760152325?_t=8T8bFxzHh0n&_r=1">vlogs</a><a href="https://www.tiktok.com/@daracrocha/video/7054386702760152325?_t=8T8bFxzHh0n&_r=1">” de leitura</a>, o que chama a atenção, pois o aplicativo possui a característica de vídeos muito curtos, de três minutos em média, e muitos fãs utilizam a área dos comentários para tecer um grande debate acerca daquele livro (WIEDERHOLD, 2022).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Segundo Charlie Duffield (2021), a seção do <i>booktok </i>cresceu de mais de 3 bilhões de visualizações em fevereiro de 2021 para mais de 10 bilhões em junho do mesmo ano. Também é curioso observar a diferença dos fãs leitores do <i>TikTok </i>para outras plataformas: apesar do <i>booktube</i>, <i>booktwitter </i>e <i>bookstagram </i> também existirem, nenhum deles tem a mesma interação que o <i>booktok</i>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os <i>bookstans </i>ativos no <i>TikTok </i>se dividem em várias atividades, assim como na maioria dos grupos de fãs. Essas funções vão desde comentários nos vídeos, curtidas, favoritos e, além disso, existe a opção de responder aos comentários em vídeo, criando uma rede de <i>links </i>em que as interações se cruzam.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por tudo isso, o <i>booktok </i>é responsável pelo impulsionamento de muitos títulos que já haviam sido lançados, mas que só no ano de 2021 chegaram a listas de mais vendidos no Brasil e no mundo, devido às indicações feitas por usuários da plataforma. Segundo matéria no G1, no Brasil a lista dos livros mais vendidos de 2021 contou com vários livros indicados pelo <i>booktok</i>, sendo eles: “Mentirosos” (2014) de E. Lockhart; “Um de nós está mentindo” (2017) de Karen McManus; “Corte de espinhos e rosas” (2018) de Sarah J. Maas; “Vermelho, branco e sangue azul” (2019) de Casey McQuiston. Essas obras foram responsáveis por uma alta de 42% nas vendas de livros infanto-juvenis no país em 2021.</div> <div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Livros indicados pelo <i>TikTok </i>geralmente são obras de fantasia, <i>young adult</i> ou suspense; narrativas que possuem personagens LGBTQIA+ ou pertencentes a minorias sociais; histórias com <i>plot twists</i> chocantes; obras visualmente atrativas, com capas e lombadas coloridas. Nesse sentido, o <i>booktok </i>tem uma especial demanda por diversidade e representatividade. Produtores de conteúdo e usuários buscam autores independentes, o que abre margem para a popularização de autores nacionais. “Os <i>booktokers </i>estão bem empenhados em indicar nacionais e livros com diversidade. Muitos autores estão no <i>TikTok</i> e acaba que criamos um carinho por eles. Também queremos elevar a literatura jovem nacional que não é muito valorizada. E sobre representatividade, [faz sucesso] porque as pessoas querem se enxergar naquilo que estão lendo,” explicou explica Myreia Liduario, que tem 22 mil seguidores e um perfil dedicado à literatura de fantasia, em <a href="https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2021/07/26/booktok-onda-de-videos-sobre-livros-no-tiktok-impulsionam-obras-de-suspense-e-fantasia.ghtml">entrevista ao G1</a>. Esse fenômeno tem feito crescer a esperança de editoras e livrarias espalhadas pelo Brasil.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">De acordo com dados levantados pela Nielsen <i>BookScan </i>e divulgados pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), <a href="https://www.publishnews.com.br/materias/2022/04/26/nielsen-painel-do-varejo-de-livros-aponta-primeiro-trimestre-com-desempenho-positivo#:~:text=Em%202021%2C%20os%2012%2C59,em%202022%2C%20h%C3%A1%20uma%20desacelera%C3%A7%C3%A3o.">o mercado literário está em bom momento e fechou 2021</a> com saldos positivos, tanto no faturamento quanto no volume de vendas em relação ao ano anterior. Ao longo do ano, foram vendidos 55 milhões de livros, o que movimentou 2,28 bilhões. Isso representa um aumento de quase 30% em relação a 2020. Este é um cenário animador, mas ao mesmo tempo preocupante para os editores, pois o cenário econômico e a inflação elevada trazem um desafio para que as vendas sigam o mesmo ritmo nos próximos anos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b><i>Bookstan </i>por amor: a mão de obra dos fãs</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO5MEkywnXIX0Pue-4IiRPo8oTxurdG-eX6FxmrXSZF1H7puv-_aBlurDEyHRLORTVQBfHu77UQDFllH56z6zOcJn5cVSQzp_b85APsu5T-ne8QVr--7c4Vcji5d7BuGOSvSmLajDPco_BnaAq5jhTWUmUlhYjJ4GheCsPLck7HL9jN3AQFnwiCKAT/s785/Meme.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="442" data-original-width="785" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO5MEkywnXIX0Pue-4IiRPo8oTxurdG-eX6FxmrXSZF1H7puv-_aBlurDEyHRLORTVQBfHu77UQDFllH56z6zOcJn5cVSQzp_b85APsu5T-ne8QVr--7c4Vcji5d7BuGOSvSmLajDPco_BnaAq5jhTWUmUlhYjJ4GheCsPLck7HL9jN3AQFnwiCKAT/w400-h225/Meme.png" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Alguns <i>Tiktokers </i>possuem parcerias fixas com editoras de livros, recebendo livros todo mês em troca da divulgação nas suas redes sociais. São feitas coberturas de lançamentos e os influencers da plataforma divulgam suas opiniões sobre os livros.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://vm.tiktok.com/ZMNNFMAS8/">Maju Alves</a>, uma produtora de conteúdo e pesquisadora do universo <i>bookstan </i>com mais de 25 mil seguidores no <i>TikTok</i>, revelou para o G1 (2021) que recebe cerca de R$150 por vídeo dependendo do alcance e do tamanho da ação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No Brasil, as ações de marketing para esse nicho ainda não são valorizadas, mesmo com a viralização e o grande aumento de vendas que a rede social proporciona ao universo literário. Uma possível razão pode ser a faixa etária do público que protagoniza esse nicho na plataforma, jovens e menores de idade, o que diminui o valor agregado da ação. Ao mesmo tempo, esse é o público que mais demanda mercado e conteúdo nas mídias, pois de acordo com <a href="https://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2019/09/jovens-leem-mais-no-brasil-mas-habito-de-leitura-diminui-com-a-idade.shtml">pesquisa divulgada na Folha de São Paulo</a>, jovens entre 11 e 13 anos são o público que mais lê no Brasil, totalizando 84%.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A participação e produção de conteúdo de fãs que muitas vezes não são remunerados nem chegam a receber “permuta” de editoras, se caracterizando como trabalho gratuito, algo muito comum na internet e na cultura de fãs. Trabalho este precarizado e disfarçado de entretenimento, cuja justificativa encontra apoio na dimensão afetiva do fã com um produto midiático (SANDVOSS, 2013). Muitas editoras incentivam esse trabalho ao curtir, comentar e até repostar esse tipo de conteúdo, alegando garantir mais visibilidade para os fãs.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Então, vamos para os números!</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgB4PoZ7jVK3HKVnCEF9-50Z9gYHkc1vtYjPbx34LWK8zULtAr3v1pYgLL498MBp4hcfCOxjcsO1gmk37hg2b2MHaDwASH7gk_34biYx-y1kzbf3V0910kFth3n4pbDMygprZiynozVLSKuSlD5dF5MZHWrD4pak1fxLxf03xYGgzgFBRjk9TbPSvWr/s887/1.1.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="531" data-original-width="887" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgB4PoZ7jVK3HKVnCEF9-50Z9gYHkc1vtYjPbx34LWK8zULtAr3v1pYgLL498MBp4hcfCOxjcsO1gmk37hg2b2MHaDwASH7gk_34biYx-y1kzbf3V0910kFth3n4pbDMygprZiynozVLSKuSlD5dF5MZHWrD4pak1fxLxf03xYGgzgFBRjk9TbPSvWr/w400-h240/1.1.png" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um ponto principal que cresceu com o <i>booktok </i>foi o retorno de vendas de muitos livros que foram lançados há anos, como foram os casos de “A canção de Aquiles” (2011, que vendeu mais de 600 mil cópias em 2021), “Os sete maridos de Evelyn Hugo” (2018), Mentirosos (2014), “Os dois morrem no final” (2017, vendendo quase 700 mil cópias no ano passado), “É assim que acaba” (2016), entre outros. Segundo uma pesquisa da Forbes, “É Assim que Acaba”, de Colleen Hoover, foi o sexto livro mais vendido de 2021 só nos Estados Unidos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Além disso, calhou dessa procura pelos livros crescer durante a pandemia pelo COVID-19, sendo fácil entender esse aumento principalmente através dos jovens que usam a plataforma do <i>TikTok</i>: com o <i>lockdown </i>quase absoluto, muitas pessoas recorreram à compra de livros e ao gênero de fantasia como forma de escapar de um período atípico em que vivíamos. Ou seja, a venda dos livros aumentou nesse período, visto que a oferta e demanda cresceram concomitantemente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 4cm;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><span style="font-family: inherit;">Há muitas coisas que contribuíram
para o sucesso do <i>BookTok</i>,
principalmente o momento da pandemia do COVID. De acordo com o <i>National Literacy Trust</i> do Reino Unido,
quando os <i>lockdowns</i> começaram em
março de 2020, os indicadores de leitura por prazer em jovens estavam em baixa
em 15 anos. No entanto, quando se realizou outra pesquisa no final de 2020, o
prazer por ler das crianças aumentou de 47,8% antes do <i>lockdown</i> para 55,9% após o <i>lockdown</i>,
com um terço dos jovens dizendo que estávamos lendo mais durante o <i>lockdown</i>. Em outra pesquisa, um aumento
notável na leitura foi encontrado entre 18 e 24 anos, sobrepondo-se
significativamente às faixas etárias que mais usam o<i> TikTok</i>. (WIEDERHOLD, 2022)</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></span></p></div><div style="text-align: justify;">Hoje, o <i>TikTok</i> consegue influenciar diretamente o modo de ler e os interesses dos leitores, gerando um engajamento também em outras redes sociais. O fenômeno “o <i>TikTok </i>me fez comprar isso” (tradução livre) é frequentemente utilizado em sites de compras de livros para chamar atenção dos leitores, bem como detalhes estampados nas capas dos exemplares.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVcQwY_YW4A1wb8zSZX2msUs0xSXd6DGY_FPcABdQIl_0qVPPOyp5oGDNw2DVsqIGHKivPwGF5VQLIgnoblfOQXHApY1s1-YKGEH3lCUWwfZl63RmV-o4ziv3G3PDYnOPj_QIXR7JZUoodm-vCbwj87vf2-pZvSynokszAzHu8Y-GV1eH1kQ8fqT47/s1477/2.2.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="678" data-original-width="1477" height="184" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVcQwY_YW4A1wb8zSZX2msUs0xSXd6DGY_FPcABdQIl_0qVPPOyp5oGDNw2DVsqIGHKivPwGF5VQLIgnoblfOQXHApY1s1-YKGEH3lCUWwfZl63RmV-o4ziv3G3PDYnOPj_QIXR7JZUoodm-vCbwj87vf2-pZvSynokszAzHu8Y-GV1eH1kQ8fqT47/w400-h184/2.2.png" width="400" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJuaIDM33z0XmaewXmmcII5sYIhRtp7RTgnt0xa9HofonXLLCmuiRBYDiEH5dwAKmUgBeKka3OkV0zqPb2AlZHj0Ds1LO9kLybLs8pNIs_WOnsHdDcC1pQWtfff8f8y0gC2fFXFazstuoxFXNUzIlnEU0i47tf_Ty3RJKuLBrLeum3NO5Q6Adj42SD/s835/3.3.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="835" data-original-width="529" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJuaIDM33z0XmaewXmmcII5sYIhRtp7RTgnt0xa9HofonXLLCmuiRBYDiEH5dwAKmUgBeKka3OkV0zqPb2AlZHj0Ds1LO9kLybLs8pNIs_WOnsHdDcC1pQWtfff8f8y0gC2fFXFazstuoxFXNUzIlnEU0i47tf_Ty3RJKuLBrLeum3NO5Q6Adj42SD/w254-h400/3.3.jpg" width="254" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Livro “The Love Hypothesis” de Ali Hazelwood</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Além disso, é interessante perceber como os livros que ficaram famosos pelo <i>TikTok </i>são levados em conta como determinação de qualidade de literatura. Isso porque existe um motivo desses exemplares serem tão queridos e procurados pelos leitores e as editoras reconhecem a influência que essa rede e os criadores de conteúdo têm para as vendas e divulgação dos produtos. Em reportagem ao <i>The Guardian</i>, alguns jovens influenciadores da plataforma contam como foi a recepção da publicação de conteúdo sobre livros e como a interação dos fãs é essencial para continuarem esse “trabalho não remunerado”. O <i>booktoker</i> “<a href="https://www.tiktok.com/@ccolinnnn?lang=en&is_copy_url=1&is_from_webapp=v1"><i>@ccolinnnn</i></a>”, por exemplo, possui mais de 2 milhões de seguidores e seus vídeos têm mais de 20 milhões de likes. O diferencial do seu conteúdo é que os vídeos são em formato de <i>storytelling</i>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQlnuMUipDEhnRJKpAP8x6HF7DZHR3YceJiSnOA6U8NCmw6OeIe27Lx7-atyHrlLEUDDfWue85UGUi_4TIrMFwEn5YzwMguBOo8mOXvI29qau_J2ZXhmlJkIzGtolYj5AGDRugEB4hYTG30Zfd3aiIf91jBK5QpouKn49_fpX3nD2llwKX1ee16v3L/s1280/4.4.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="591" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQlnuMUipDEhnRJKpAP8x6HF7DZHR3YceJiSnOA6U8NCmw6OeIe27Lx7-atyHrlLEUDDfWue85UGUi_4TIrMFwEn5YzwMguBOo8mOXvI29qau_J2ZXhmlJkIzGtolYj5AGDRugEB4hYTG30Zfd3aiIf91jBK5QpouKn49_fpX3nD2llwKX1ee16v3L/w185-h400/4.4.jpg" width="185" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: small;">Perfil de “ccolinnnn” no </span><i style="font-size: small;">TikTok</i></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Outro ponto relevante ao se observar esse fenômeno é a máxima venda de livros no nicho “famosos no <i>TikTok</i>” que muitas livrarias possuem. Esse espaço criativo mostra como essa rede é de total relevância para as práticas de vendas e leituras. Além disso, editoras como a <i>Barnes and Nobles</i>, uma das mais famosas dos Estados Unidos, criou <a href="https://www.barnesandnoble.com/b/booktok/_/N-2vdn">uma seção de livros famosos no </a><a href="https://www.barnesandnoble.com/b/booktok/_/N-2vdn"><i>TikTok</i></a> em seu site e o mais atrativo é que a venda dessa seção de livros ainda é dividida em subseções para cada gênero encontrado nos livros.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-5Fvm-zGV64tugwDsVByNjd24XXklY4rjX3aR5atC9xmbDjOgxQp1DU1t2U5d5jDNJrVHiSGjlom60mOHC_Ph51ggYRcdC7eDSqBQ9g989jXvveGz7T6Xrt57cTAhl4CGNpR3Xq43HXc7mIrGslTPyP5ZJsNU8iT91wip836klAWmsmFX6xLXUXFN/s480/5.5.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-5Fvm-zGV64tugwDsVByNjd24XXklY4rjX3aR5atC9xmbDjOgxQp1DU1t2U5d5jDNJrVHiSGjlom60mOHC_Ph51ggYRcdC7eDSqBQ9g989jXvveGz7T6Xrt57cTAhl4CGNpR3Xq43HXc7mIrGslTPyP5ZJsNU8iT91wip836klAWmsmFX6xLXUXFN/w400-h300/5.5.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Canal de Lucas Barros</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Outro fenômeno do <i>booktok </i>é sua repercussão em outras redes sociais. No <i>Youtube</i>, por exemplo, é comum ver muitos vídeos relacionados ao <i>TikTok</i>, principalmente no que se concerne a livros famosos na plataforma. Como exemplo, o vídeo do <i>booktok </i>e <i>booktuber </i>Lucas Barros, intitulado <a href="https://www.youtube.com/watch?v=TRbAu5t0u8s">“eu li os livros mais famosos do </a><a href="https://www.youtube.com/watch?v=TRbAu5t0u8s"><i>TikTok</i></a><a href="https://www.youtube.com/watch?v=TRbAu5t0u8s"> (testando o </a><a href="https://www.youtube.com/watch?v=TRbAu5t0u8s"><i>hype</i></a><a href="https://www.youtube.com/watch?v=TRbAu5t0u8s">)”</a> cujo objetivo é tentar entender o porquê dessa lista de livros ser tão famosa na rede social.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhD9_eUrRsGuPtUf3_PAqWpbjA2gwYBqnC03lEeTgeOI2sTBib3qxOIRRRfRhTX8hRZu8bOAapAnl509th8JCD7HnGO82nlHiJxJCIcCl2LpGl5Fb3oqgZowr37rWBv7sgS5MmjuhzguHgLotViy_NGU6PXP-ceNMT43_g_rdRJgjpWh0f4FRBE03MZ/s480/6.6.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhD9_eUrRsGuPtUf3_PAqWpbjA2gwYBqnC03lEeTgeOI2sTBib3qxOIRRRfRhTX8hRZu8bOAapAnl509th8JCD7HnGO82nlHiJxJCIcCl2LpGl5Fb3oqgZowr37rWBv7sgS5MmjuhzguHgLotViy_NGU6PXP-ceNMT43_g_rdRJgjpWh0f4FRBE03MZ/w400-h300/6.6.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: small;">Canal de Sunny Kim</span></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Outro tipo conteúdo frequente é o “<i>ranking</i>” de livros famosos no <i>TikTok</i>. A <i>booktuber </i>Sunny Kim produziu um vídeo em que <a href="https://www.youtube.com/watch?v=bjd3V6cDUnU">separou todos os livros que leu e ficaram famosos no </a><a href="https://www.youtube.com/watch?v=bjd3V6cDUnU">TikTok</a>, desde os que ela mais gostou até os que ela não aproveitou a leitura. O interessante desse vídeo é que Kim leu mais de 30 livros e fala da sua experiência com cada uma das leituras.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5JHJXnvGeIqqMOQJ3XtEw87jgas4kK9BfTrgQkwL28v6_2e9Q5P2FMRkeasEETvXTttVT8CqOEpI7gZG8uzpeA47V-V1t_julQkrkjwFAqKIo82I4GrMSp5DtdPuDUciK-wMUd6Hulz4UM_wo8xJ8vji3hjVOrFYCFwX42iaQmoHoIIS5GD1IuX6C/s1312/7.7.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1312" data-original-width="984" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5JHJXnvGeIqqMOQJ3XtEw87jgas4kK9BfTrgQkwL28v6_2e9Q5P2FMRkeasEETvXTttVT8CqOEpI7gZG8uzpeA47V-V1t_julQkrkjwFAqKIo82I4GrMSp5DtdPuDUciK-wMUd6Hulz4UM_wo8xJ8vji3hjVOrFYCFwX42iaQmoHoIIS5GD1IuX6C/w300-h400/7.7.png" width="300" /></a></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Loja da livraria Barnes & Noble, na Flórida</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">Não faltam resultados para mostrar o quão grande o <i>TikTok </i>se tornou nos últimos tempos. A rede social que mais cresceu na pandemia se mostra uma forte ferramenta de estratégia de vendas para o meio literário, sendo uma plataforma que promete bons frutos para o mercado editorial no Brasil. O sucesso do <i>booktok </i>está mais maduro no exterior e cada vez mais as influências e referências chegam mais rápido para os brasileiros, construindo um cenário animador no que diz respeito ao mercado.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Dessa forma, o <i>booktok </i>se configura como um nicho dentro do <i>TikTok </i>que é capaz de criar e influenciar gostos, através da estética, bom humor e produção de conteúdo que envolvem e ao mesmo tempo criam necessidades de compra, elevando um mercado antes deixado de lado pelo grande público. A comunidade do <i>booktok</i>, além de estar inserida num trabalho que por vezes não é remunerado, ao mesmo tempo é responsável por contribuir para o aumento e incentivo da leitura, levando esse hábito extraordinário para jovens e construindo uma comunidade com mais possibilidades de pensar criticamente.</div><br /><b>Referências </b><br /><br /><div style="text-align: justify;">ABBY on TikTok. <b>TikTok</b>. Disponível em: <https://vm.tiktok.com/ZMLvQAUy5/?k=1>. Acesso em: 11 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">AYMAN on TikTok. <b>TikTok</b>. Disponível em: <https://vm.tiktok.com/ZMLvQ6raE/?k=1>. Acesso em: 11 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">BARROS, L. Eu li os livros mais famosos do TikTok (testando o hype). <b>YouTube</b>. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=TRbAu5t0u8s>. Acesso em: 13 jun. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">BEDTIME stories. <b>TikTok</b>. Disponível em: <https://www.TikTok.com/@ccolinnnn?lang=en&is_copy_url=1&is_from_webapp=v1>. Acesso em: 11 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">BOOKTOK is our way to escape reality: the TikTok trend helping Gen Z share a love, <b>Inews</b>, Online, 2021. 8 jun. 2021. Disponível em: <https://inews.co.uk/culture/booktok-is-our-way-to-escape-reality-the-tiktok-trend-thats-helping-gen-z-share-their-love-of-reading-1038560>. Acesso em: 12 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">BOOKTOK: onda de vídeos sobre livros no TikTok impulsionam obras de suspense e fantasia. <b>G1</b>, Online, 2021. Disponível em: <https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2021/07/26/booktok-onda-de-videos-sobre-livros-no-TikTok-impulsionam-obras-de-suspense-e-fantasia.ghtml>. Acesso em: 11 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">BRASIL perde 4,6 milhões de leitores em quatro anos, com queda puxada por mais ricos. <b>G1</b>, Online, 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2020/09/11/brasil-perde-46-milhoes-de-leitores-em-quatro-anos-com-queda-puxada-por-mais-ricos.ghtml>. Acesso em: 12 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">BRITTO, L. P. L. Leitura e política. <i>In:</i> EVANGELISTA, A. A. M. <i>et al.</i> (org.). <b>A Escolarização da leitura literária:</b> o jogo do livro infantil e juvenil. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">DARA Rocha no TikTok. <b>Tiktok</b>, 2022. Disponível em: <https://www.tiktok.com/@daracrocha/video/7054386702760152325?_t=8T8bFxzHh0n&_r=1>. Acesso em: 13 jun. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">FLOOD, Alison. The rise of BookTok: meet the teen influencers pushing books up the charts. <b>The Guardian</b>, Online 2021. Disponível em: <https://www.theguardian.com/books/2021/jun/25/the-rise-of-booktok-meet-the-teen-influencers-pushing-books-up-the-charts>. Acesso em: 11 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">HAZELWOOD, Ali. The Love Hypothesis: TikTok made me buy it! The romcom of the year! (English Edition). <b>Sphere</b>, Online 2021. <https://www.amazon.com.br/dp/B09GJTLKXK/ref=cm_sw_r_apan_AGJ2Y5ZCS44GB6D47JZD>. Acesso em: 11 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JOVENS leem mais no Brasil, mas hábito de leitura diminui com a idade. <b>Folha</b>, Online, 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2019/09/jovens-leem-mais-no-brasil-mas-habito-de-leitura-diminui-com-a-idade.shtml Acesso em: 10 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">KAPLAN, Anna. BookTok: como o TikTok ajudou venda de livros a bater recorde nos EUA. <b>Forbes Brasil</b>, Online, 2022. Disponível em: <https://forbes.com.br/forbeslife/2022/02/booktok-como-o-TikTok-ajudou-venda-de-livros-a-bater-recorde-nos-eua/#:~:text=Outros%20livros%20que%20surgiram%20como,como%20o%20quarto%20livro%20de>. Acesso em: 11 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">KIM, S. Tier ranking tik tok books (hi book tok ). <b>YouTube</b>. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=bjd3V6cDUnU>. Acesso em: 13 jun. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">MAJU A. <b>Tiktok</b>, 2022. Disponível em: <https://bit.ly/3yVbE5E >. Acesso em: 13 jun. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">MARX, K. <b>Para a Crítica da Economia Política</b>. São Paulo: Expressão Popular, 2008.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">MERCADO de livros faturou mais em 2021 que antes da pandemia. <b>G1</b>, Online, 2022. Disponível em: <https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2022/01/21/mercado-de-livros-faturamento.ghtml>. Acesso em: 12 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">NOBLE, B. <b>The Most Popular TikTok Books #BookTok</b>. Barnes & Noble. Disponível em: <https://www.barnesandnoble.com/b/booktok/_/N-2vdn>. Acesso em: 11 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">PUBLISHNEWS. Nielsen: Painel do Varejo de Livros aponta primeiro trimestre com desempenho positivo | PublishNews. <b>PublishNews</b>, 2021. Disponível em: <https://bit.ly/3aRx23T.>. Acesso em: 13 jun. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">REAL, N. Harry Potter formou leitores e caracteres, contam fãs. <b>Folha de S. Paulo</b>, Online. 2022. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/2022/04/harry-potter-formou-leitores-e-caracteres-contam-fas.shtml>. Acesso em: 12 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">SANDVOSS, C. Quando a estrutura e a agência se encontram: os fãs e o poder. <b>Ciberlegenda</b>. n. 28. p. 8-14. 2013. Disponível em: < https://bit.ly/3cs1thj >. Acesso em: 10 mai. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">TIKTOK é a segunda plataforma mais importante para marketing de influenciadores. <b>Canaltech</b>. 2021. Disponível em: https://canaltech.com.br/redes-sociais/tiktok-e-a-segunda-plataforma-mais-importante-para-marketing-de-influenciadores-184030/ Acesso em: 10 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">The BookTok Reader Starter Pack. <b>Bookstr</b>, 4 ago. 2021. Disponível em: <https://bookstr.com/article/the-booktok-reader-starter-pack/>. Acesso em: 20 jun. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">VENTURA, Ivan. A ascensão do book tok: o influenciador de livros no Tik Tok. <b>Consumidor Moderno</b>, Online, 2021. Disponível em: <https://www.consumidormoderno.com.br/2021/06/25/ascensao-book-tok-influenciador-livros/>. Acesso em: 11 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">VIEIRA, A. <b>O Prazer do texto: </b>perspectivas para o ensino de literatura. São Paulo: EPU, 1989.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">WIEDERHOLD, Brenda K. BookTok Made Me Do It: The Evolution of Reading. <b>Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking</b>, v. 25, n. 3, p. 157-158, 2022.</div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-27542728735122527702022-07-13T11:01:00.001-07:002022-07-13T11:06:44.519-07:00A fanfic no universo dos Twilighters<div style="text-align: right;">Anderson dos Anjos, Julie Lima e Silva, Maria Letícia de Freitas e Pedro de Aquino</div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://data.whicdn.com/images/95087772/original.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="281" data-original-width="500" src="https://data.whicdn.com/images/95087772/original.gif" /></a></div><div style="text-align: right;"></div> <br /><div style="text-align: justify;">Fã, esse conceito tem sido há cada dia ressignificado com o advento de mídias digitais, que reformularam como essa comunidade passou a consumir os conteúdos sobre seu produto favorito. Essa nova construção social pode ser percebida a partir do fenômeno da cibercultura, conceituado por Primo (2007) como um ambiente social onde surgem novas formas de comunicação a partir do trabalho de produção e circulação de conteúdo entre as comunidades de fãs, o que os conecta mais ainda no universo do seu fandom.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A partir disso, Jenkins (2009) pontua que é possível notar diversas novas formas de consumo no mundo digital, pois os fãs passam a interagir ainda mais e participar ativamente do universo do produto midiático de sua preferência. Isso possibilita o aumento de produções autorais a partir do próprio fandom: “esses conteúdos que se proliferam na internet têm como objetivo prolongar essa prática de consumo” (MARTINS; DAMACENO, p.108, 2020).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É nesse contexto que se popularizam as <i>fanfics</i>, criações textuais amadoras de fãs a partir de algum produto da indústria cultural que eles admiram. Essas produções muitas vezes partem da narrativa original para realizar modificações ou recriam as histórias para publicá-las nas comunidades do seu fandom.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No universo digital, existem plataformas específicas para hospedagem dessas produções. Para Martins e Damaceno (2020) esses espaços favorecem novos processos de interação e novas formas de comunicação entre os autores das fan fics e os seus leitores, cujos papéis podem se alternar. Dentro do mesmo estudo, os autores falam sobre dois dos sites mais famosos no Brasil - o Wattpad e o Spirit Fanfics - e identificou neles diversas ferramentas que facilitam a produção de conteúdo e interação dos usuários com as fanfics como modos de compartilhamento, comentários, avaliações e outras ferramentas que permitem a interação digital entre os fandoms.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-left: 113.35pt;"><span style="font-size: 10pt;">As plataformas de fanfic funcionam como
um meio de socialização e materialização da imaginação dos fãs, que estão cada
vez mais procurando uma forma de participar dos produtos que consomem (MARTINS;
DAMACENO, 2020, p.110).<o:p></o:p></span></p></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O fandom de Crepúsculo, saga que aborda o romance entre o vampiro Edward Cullen e a humana Bella Swan, surgiu em um período no qual a comunidade de fãs já havia estabelecido caminhos e padrões que viriam a fornecer modelos básicos para a tradição de <i>fanwriting </i>- como a realização de prêmios, leitores beta (usuários que lêem e revisam os capítulos das fics antes de eles serem publicados), <i>feedback</i>, notas de esclarecimento etc. Acontece que o fandom de Crepúsculo potencializou esse universo para muito além do público jovem e geek, que em princípio seria o consumidor primário deste tipo de conteúdo. Era muito comum que o público consumidor das fanfics de Crepúsculo, assim como os consumidores da própria saga, fossem mulheres mais velhas, com formação e recursos profissionais (JAMISON, 2017).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Era comum ver críticos e jornais reproduzindo machismo contra os fãs de Crepúsculo e suas fanfics. O preconceito contra a obra vinha, em sua maioria, do gênero masculino, que tendem a diminuir e ridicularizar tudo que agrada o público feminino (GARRUTH, 2019). Não obstante, o próprio fandom de Crepúsculo também é um dos maiores críticos da obra - muitos não acreditam que as adaptações cinematográficas são bem feitas ou mesmo que os livros sejam bem escritos. Acontece que, para eles, é possível apreciar o que havia de bom na história, e imaginar novas possibilidades a partir delas. Isso se estendeu para as fanfics.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como ocorre em outros fandoms, as fanfics de Crepúsculo se baseiam na obra de ficção, mas, muitas vezes, não se torna possível relacioná-las exatamente com a história original. Isso ocorre porque é comum que os autores de fanfic utilizem apenas as conexões estruturais da história (nomes dos personagens e suas personalidades) e usem sua imaginação para depositar na escrita projeções pessoais, desejos e expectativas. Isso permite que autores encontrem um caminho para a produção de suas próprias obras originais. Masters of the universe”, por exemplo, era uma fanfic de Crepúsculo de conteúdo sexual explícito, passada num universo alternativo, que que posteriormente veio a se tornar o <i>bestseller </i>“Cinquenta Tons de Cinza”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para Jamison (2017), a escrita informal, amadora e iniciante das autoras de fanfics foi suficiente para montar uma grande audiência cujos laços se fortaleceram ano após ano nas décadas posteriores aos lançamentos de Crepúsculo. Se existia uma hierarquia dentro da comunidade de fãs na internet, havia outra hierarquia dentro da comunidade de fãs de Crepúsculo, e as autoras das fanfics mais conhecidas certamente estavam no topo desta hierarquia, tendo muitas vezes leitores assíduos de suas produções. É sobre a construção destas relações com base nas fanfics que foram publicadas nos sites Wattpad, Spirit Fanfics e Histórias que vamos estudar a seguir.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://data.whicdn.com/images/344340262/original.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="350" data-original-width="540" height="350" src="https://data.whicdn.com/images/344340262/original.gif" width="540" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Ao analisar a fanfic “História de Jacob e Renesmee - Sunshine”, observamos diversos aspectos, como 1) a arquitetura da plataforma em que a história se encontra; 2) as conexões entre a fanfic e as diversas teorias, assim como 3) as interações de leitores e fãs da Saga Crepúsculo para a fanfic que, narra sequências de fatos após a finalização dos livros e filmes.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;"><b>Spirit Fanfiction e sua legião de histórias</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">A plataforma escolhida para publicar a fanfic foi a Spirit Fanfiction, criada em 2001, quando se chamava Amnsp e era um espaço realizado para a discussão de animes e produções semelhantes. Porém, com o passar do tempo, a plataforma passou a liberar opções para a publicação de fanfics e histórias originais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com diversas abas, a plataforma é bastante intuitiva, pois há divisões entre histórias recentes, as mais destacadas, os gêneros, categorias e tags utilizadas. Além disso, há uma seção chamada “Minhas Histórias”, que convida o usuário a escrever e produzir seu próprio conteúdo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYp4g7M8G2eCRpx0R-7Jbir7Xw1Kb8MnwSpmOyJUUhqnS7GpsX0izYk-1-87P5h2wxk1hCpUIWHK5U7_OX53SntqKC4zA4EmWzc2_muFmLDYRaEYx5-Zcrj50r_B1NaLzCDaNeA0F6l9_6isHFJR025on8eflX9VpAfB3aBGxr7PUWeLKK6RPBp10d/s1351/1.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="618" data-original-width="1351" height="183" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYp4g7M8G2eCRpx0R-7Jbir7Xw1Kb8MnwSpmOyJUUhqnS7GpsX0izYk-1-87P5h2wxk1hCpUIWHK5U7_OX53SntqKC4zA4EmWzc2_muFmLDYRaEYx5-Zcrj50r_B1NaLzCDaNeA0F6l9_6isHFJR025on8eflX9VpAfB3aBGxr7PUWeLKK6RPBp10d/w400-h183/1.png" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>“História de Jacob e Renesmee - Sunshine”</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;">A fanfic “História de Jacob e Renesmee: Sunshine” conta a história da relação de Jacob com a filha dos Cullen, já adolescente. A história foi criada e finalizada em 2014, pela autora Gabipadawan02. Estruturalmente, a fanfic contém 49 capítulos, possui faixa etária a partir de 16 anos, por conter insinuações de sexo, linguagem imprópria e violência; seu gênero se divide em aventura e ficção. Neste universo, que ultrapassa os limites de criação da Stephenie Meyer, Renesmee se muda com os pais para a Califórnia, lugar onde descobre novas amizades e a paixão que Jacob sempre sentiu por ela. De início, a personagem apresenta choque ao saber que o seu melhor amigo, na verdade, é apaixonado por ela e que eles sempre estiveram ligados por um <i>imprinting </i><span style="font-size: x-small;">[1]</span>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A fanfic, além de propor uma continuação de uma parte da história não mostrada nos livros e filmes da saga Crepúsculo, nos apresenta também novos personagens, como, por exemplo, amigos que Renesmee conhece na escola e o filho que ela tem com Jacob no decorrer da história. Isso comprova que a cultura da de fãs possibilita criar um futuro para uma história já “acabada”, mas que deixou em aberto algumas questões, como: “Qual o futuro esperado para Jacob e Renesmee?” “O imprinting que eles possuem irá se transformar em uma relação amorosa?” Para respondê-las, existem diversas fanfics, na qual a escolhida para análise foi publicada no Spirit. Essa obra foi escolhida pois ela possui diversas características que são próprias do gênero fanfic, além de possuir uma narrativa levemente diferenciada da maioria das histórias. Não obstante os clichês característicos do gênero, essa história ainda consegue inovar em alguns pontos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Antes de partir para a visualização de interações dos usuários com a fanfic, é importante ressaltar a problematização em torno da relação de Jacob e Renesmee, que foi aceita por alguns fãs e rejeitada por outros. O próprio Taylor Lautner <span style="font-size: x-small;">[2]</span>, por exemplo, abominou a ideia de <i>imprinting </i>com Renesmee, de acordo com a Rolling Stone (2020), por esse fenômeno ocorrer na saga com a personagem ainda bebê enquanto o seu personagem era adulto, o que acabou gerando muitas controvérsias no público consumidor. A criadora da saga ressaltou que esse fenômeno não se relaciona apenas com um romance, mas também com uma relação de amigos ou irmãos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No entanto, alguns fãs abraçaram a possibilidade de romance e, a partir disso, surgiram as fanfics que propõem histórias diferentes para o futuro de Jacob e Renesmee, como o caso da fanfic analisada nesta pesquisa, que mostra a personagem aprendendo a enxergar Jacob não somente como um amigo, mas como o homem de sua vida.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mesmo que considerem inadequado retratar um homem adulto tendo um relacionamento amoroso com uma adolescente, os fãs da Saga que <i>shippam </i>o casal possuem, através da fanfic, uma certa liberdade para criar seus próprios desdobramentos, conforme o que eles gostariam que acontecesse na história.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Outro ponto interessante são ações realizadas entre a fanfic e seus leitores. Até o momento em que este texto foi escrito, a história publicada no Spirit continha 324.599 visualizações, 1.820 marcações de “favorito” e 436 comentários. Pelos comentários podemos observar uma legião de fãs que têm opinião crítica, são apoiadores do casal Renacob e, principalmente, demonstram empolgação com os capítulos e anseiam por sua continuação. O interessante é perceber que fanfics também podem ser consideradas obras atemporais, visto que existem interações tanto de 2014, como de 2021, por exemplo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Abaixo podemos ver comentários a respeito do primeiro capítulo da história e pode-se inferir, a partir disso, o desejo de acompanhar os próximos capítulos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOHgV07HsZ448dTQV4taCNaVTRgsQY2fUmhelNLr_MA-c6paEeW3u2-tHouOmzKJy5xISDz1ehl99SWwk8GzGFCuf8hnQi6W29y21ur5IfInbS1fdB0j50ALVdDPpArMclvx5kmaj5G1BCoX-KPNRXNzxuA-d0U4UevBgikOZHpxihHOu_2WDVgZl8/s1080/2.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOHgV07HsZ448dTQV4taCNaVTRgsQY2fUmhelNLr_MA-c6paEeW3u2-tHouOmzKJy5xISDz1ehl99SWwk8GzGFCuf8hnQi6W29y21ur5IfInbS1fdB0j50ALVdDPpArMclvx5kmaj5G1BCoX-KPNRXNzxuA-d0U4UevBgikOZHpxihHOu_2WDVgZl8/w400-h400/2.png" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Já na próxima imagem, vemos comentários do capítulo 49, último da história e o mais comentado de todos - 63 comentários. Intitulado “Para Sempre”, a história se encerra com Jacob e Renesmee após tentarem derrotar um novo inimigo. O final do capítulo mostra eles felizes, casados e com um filho chamado Dan, que também é um lobo. Esse final obteve uma repercussão muito grande pelos leitores, como é possível observar abaixo:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYn1ydNz0D3Lgdwvt1FUrKp0exoOvWRFyFHEJyEf5xsn3Vb1SIqh7J5zYxOgnvhvEdk19NEl1b6HVVcdvemQPFw8SWGYfrNUfN-YbQdhjDVHUyfTV1JVgmv5x09i9bx1eLs7ji9d-qCZy8LRfZsskqObcQ46YOnACwR9B1BbLZm0TXpEeW7HkfJhYw/s1080/3.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYn1ydNz0D3Lgdwvt1FUrKp0exoOvWRFyFHEJyEf5xsn3Vb1SIqh7J5zYxOgnvhvEdk19NEl1b6HVVcdvemQPFw8SWGYfrNUfN-YbQdhjDVHUyfTV1JVgmv5x09i9bx1eLs7ji9d-qCZy8LRfZsskqObcQ46YOnACwR9B1BbLZm0TXpEeW7HkfJhYw/w400-h400/3.png" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Fãs e fanfics: uma relação mútua</b></div> <div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Diante dos conceitos discutidos e da análise da história escolhida, fica claro que a cultura das fanfics no ambiente digital possui uma relação intrínseca com a cultura da convergência, pois tem como uma das suas principais estruturas a relação que os leitores têm entre si e com os autores das narrativas. O fato dos leitores algumas vezes poderem participar ativamente das histórias publicadas, sugerindo tramas ou desfechos, aumenta a quantidade e o significado dessas interações, criando um vínculo entre esses indivíduos através da criação artística.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Além disso, em relação ao conteúdo, nota-se que as fanfics podem conter temas adultos, até mesmo fetichizados em alguns casos, mesmo quando baseadas em obras que não discutam esses temas. Certos limites morais parecem ser contestados dentro desse universo, como pode ser observado na história em que analisamos, que apresenta uma relação entre um homem adulto e uma adolescente. Essa tendência acontece, também, pelo fato das fanfics fazerem parte de uma cibercultura que possui como regra principal a liberdade criativa, característica exclusiva da Internet, que geralmente não está sujeita a regras comerciais e editoriais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sendo assim, os estudos que abordam o universo da fanfics possuem uma grande quantidade de material de análise e, mais importante, com uma complexidade de relações que têm relevância antropológica, sociológica e psicológica.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Notas</b></div><div style="text-align: justify;"><span><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span>[1] Fenômeno que ocorre com os lobos da Saga Crepúsculo. O lobo, a partir do momento que tem um impriting com outra pessoa sente a pura necessidade de protegê-la, amá-la e cuidar dela até o fim de sua vida.</span></div><div style="text-align: justify;"><span><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span>[2] Ator que interpreta Jacob na Saga Crepúsculo.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>REFERÊNCIAS</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Devote ‘Twihards’ get their fix online. <b>Today</b>, 2008. Disponível em: <https://www.today.com/today/amp/wbna33921402>. Acesso em: 12 jul. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JENKINS, H. <b>Cultura da convergência</b>. 2ed. São Paulo: Aleph, 2009.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JAMISON, A. <b>Fic</b>: Por que a fanfiction está dominando o mundo. Editora Rocco. 2017.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">GARRUTH, P. Homens não gostam de mulheres. <b>Jornal Fato</b>, Online, 2019. Disponível em: <https://jornalfato.com.br/artigos/homens-nao-gostam-de-mulheres,299463.jhtml>. Acesso em: 12 jul. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">MARTINS, A.; DAMACENO, J. Cultura participativa de fã na internet: canais para interação e produção de fandoms. <b>Aturá Revista Pan-Amazônica de Comunicação</b>, Palmas, v. 4, n. 2, p. 102-120, 2020. Disponível em: <https://bit.ly/3P5CnDs>.Acesso em: 12 jul. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">PRIMO, A. <b>Interação Mediada pelo computador</b>: comunicação, cibercultura e cognição. Porto Alegre: Sulina, 2007.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Taylor Lautner também detestava trama de Jacob se apaixonando por Renesmee em Crepúsculo, <b>Rooling Stone</b>, Online, 2020. Disponível em <<a href="https://rollingstone.uol.com.br/noticia/taylor-lautner-tambem-detestava-trama-de-jacob-se-apaixonando-por-renesmee-em-crepusculo/">https://rollingstone.uol.com.br/noticia/taylor-lautner-tambem-detestava-trama-de-jacob-se-apaixonando-por-renesmee-em-crepusculo/</a>>. Acesso em: 12 jul. 2022.</div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-73100423786420497832022-07-08T07:19:00.003-07:002022-07-08T07:19:15.212-07:00O trabalho do fã como modelo de negócio em Valorant<div style="text-align: right;">Victor Motta Aragão Cortez</div><div style="text-align: right;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMj6zHRoW5n_BMZOkRTgfy9e5cYJoWsLdVYQ0kE7zXB4TfPde4dwtE6DVIIV4K2wokk0TCZo6RY9BUFJnHRLL1iitgbHM7NLkhXzLb5wQMiFZf3xnptXcqqxSTR2f2Ubw_V7UIFLblLi52FdqUOBMyyePUe-dh7pottmRe6fidci0YL7Pt5dZVDtIh/s498/giff.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="280" data-original-width="498" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMj6zHRoW5n_BMZOkRTgfy9e5cYJoWsLdVYQ0kE7zXB4TfPde4dwtE6DVIIV4K2wokk0TCZo6RY9BUFJnHRLL1iitgbHM7NLkhXzLb5wQMiFZf3xnptXcqqxSTR2f2Ubw_V7UIFLblLi52FdqUOBMyyePUe-dh7pottmRe6fidci0YL7Pt5dZVDtIh/w400-h225/giff.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A “primeira onda” de estudos das práticas da cultura de fãs abordava o <i>fandom</i> como protagonista, indo de encontro as críticas da época. Não eram alienados ou delusionais, são pessoas que respondem, retrucam, caçam. Comunidades de fãs são um ato de subversão contra os blocos de poder das mídias que produziam conteúdos culturais. É notável perceber que, culturas de fãs mais comumente sujeitadas ao ridículo, são aquelas associadas à: jovens, mulheres, LBTQ+, etc. Nesta primeira onda de estudos, já foi notada a relação de poder social imprimida nos gostos das partes menosprezadas da sociedade (SANDVOSS; GRAY; HARRINGTON, 2017)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Importante contextualizar, os principais estudos dessa primeira onda foram publicados durante todos os anos 90, até o início dos anos 2000. As práticas de fãs giravam muito em torno de escrita de cartas, fanfics, participação em convenções. Acompanhando a ascenção da Web 2.0, aparecimento e estabelecimento das Redes Sociais e novas relações de trabalho do Século XXI, os fãs se modificaram, e os detentores do poder (que sempre o tiveram, não se engane) produtores do conteúdo, donos das propriedades intelectuais, começaram a se adaptar à essa nova realidade (SANDVOSS; GRAY; HARRINGTON, 2017).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">De acordo com Jenkins (2015) e Duffett (2013) a “segunda onda” de estudos das comunidades passa também pelos anos 90 mas se extende aos anos 2000, escancarando a manutenção e reforço de estruturas socioeconômicas de poder dentro das comunidades de fãs, continuando amplas desigualdades dentro dos grupos formados, não somente entre os fãs participantes das comunidades, mas também uma nova participação ativa dos produtores do conteúdo para com os grupos. A “terceira onda”, mais contemporânea, é onde a maior parte do argumento deste ensaio se apoia; os estudos de fãs vão além do objeto de estudo em si, relacionando a cultura de fãs a outros temas da sociologia, filosofia, rotina e cultura modernas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O mundo e a internet evoluíram bastante, e com eles, mudaram nossas relações de trabalho e nossa relação com o lazer. Com cada vez mais horas trabalhadas, a hiper-conectividade do nosso dia-a-dia fez com que trabalho e lazer se misturassem durante todo o nosso dia ativo, consumindo conteúdos, memes, trocando mensagens e participando durante nosso “horário de trabalho”, e, pasme, “trabalhando” durante nosso horário de lazer. Mesmo que não percebamos isso enquanto o fazemos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O conceito de “Cultura Participativa” introduzido por Jenkins (2008) no início dos anos 2000 é emergente dos impactos da Web 2.0 na Economia Cultural. A Web 2.0 tem como um dos pilares uma falsa premissa de democracia e globalidade, imprimida pela comunicação bidirecional das plataformas sociais; estamos cada vez mais perto de nossos ídolos, dos criadores do que somos fãs; ao mesmo tempo, nunca estivemos mais longe e mais atados à estruturas invisíveis. Os detentores da Propriedade Intelectual e Direitos Autorais ainda são os mesmos; a disparidade de poder entre os produtores de cultura só aumenta (massa x agentes capitalistas).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">De acordo com Macedo (2021), a ilusão de horizontalidade e participação do futuro de algo que é querido faz com que o tempo de qualidade e lazer, atividades on-line divertidas, se tornem trabalho não remunerado. Apropriam-se do que é interessante e causa lucro, ainda detendo tanto os lucros, quando o direito à propriedade intelectual (MACEDO, 2021). Essa mistura do tempo de lazer com o tempo de trabalho é uma característica do capitalismo tardio, que se incorpora através de mecanismos próprios de afeto e identificação dos fãs, quase como uma dependência. Gatilhos sentimentais fazem com que aquela produção de valor se torne trabalho não-pago, mal remunerado ou não-remunerado, produzido socialmente e de maneira e origem coletivas. “Todos os dias alguém conectado à uma rede está realizando microtrabalhos não-remunerados por horas à fio” (GALLOWAY, 2012, p. 45).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Somado a esse invisível desnível estrutural de poder, uma outra característica do capitalismo tardio é a glorificação da produtividade e a necessidade de trabalho (MACEDO, 2021) Inerente a nós, como uma força coercitiva, essa característica contribui para que não percebamos esses mecanismos, maquiados e escondidos atrás de sentimentos mais profundos de identificação e pertencimento. Numa visão orientada pela ordem neoliberal e centrada na visão de mundo norte-americana, o fã deixa de ser um Trabalhador, e se torna um Consumidor Engajado de Mercadoria Significativa (MACEDO, 2021). O fã “produz por que quer”, por ter significado na vida dele; mas ignora-se que esse significado é construído propositalmente, e o sentimento, manipulado. Pressupõe-se que o fã tem ciência de que seu trabalho é usado para lucratividade, e continua o fazendo por motivações maiores (manutenção e expansão de laços sociais). Mas quando isso é planejado para que aconteça, talvez não seja tão espontâneo assim.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Se desenvolve então o conceito da “Cultura da Convergência”; esse processo de transformação no comportamento e pensamento dos consumidores e suas relações sociais com outros consumidores (JENKINS, 2008). Existe uma promessa retórica de “participação”, iniciativa, criatividade. Relações informais e afetivas com outros grupos de fãs, individualiza-se a responsabilidade do desenvolvimento afetivo do fã para com seu conteúdo, escondendo o fato de que planejadamente, “a sustentabilidade da Internet como meio é diretamente dependente de quantias enormes de trabalho, que não são equivalentes ao emprego” (TERRANOVA, 2000, p. 32).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Isso nos traz para o ponto onde “modelos de negócio” são desenvolvidos em cima da recorrente percepção e necessidade deste trabalho invisível dos fãs. O modelo de exemplo que analisado é o jogo “Valorant”, lançado em junho de 2020 pela famosa produtora de videojogos “Riot Games”, notoriamente conhecida por um exímio trabalho de gestão de Comunidades, envolvendo seus fãs em diversos conteúdos de um múltiplo universo de games que se conversam, prendem e conquistam.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O jogo “Valorant” foi o <i>debut</i> da empresa no gênero de FPS (<i>First-person shooters</i>) com um jogo de “guerra” tático onde equipes se enfrentam; essencialmente, é um jogo social, onde você precisa cooperar com seu time para vencer. Para além disso, o jogo possui uma ambientação rica em história e conteúdo; cada mapa diferente onde o jogo ocorre é parte de um universo maior, que se conectam entre si. Os personagens assumidos pelo jogador também têm toda sua história, seu passado, seus mistérios e peculiaridades, construindo um cenário onde o jogador que se vê envolvido pelo universo do jogo, tem milhares de opções, seja no universo do jogo ou no particular de personagens favoritos, para se aprofundar e imaginar, com diversos propositais “ganchos” de pontas soltas, deixando a história com um mistério, uma dica, ou uma curiosidade para o futuro. O jogo é construído para que se envolva emocionalmente, seja pela identificação, pela competitividade, ou pela sociabilidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um exemplo de gancho é percebido nas falas de dois personagens, registrados pelos nomes de <i>Omen</i> e <i>Viper</i>. Os personagens, dentro de jogo, interagem entre si em determinadas situações, com falas diversificadas. Em uma dessas falas, <i>Omen</i> refere-se à <i>Viper</i> por outro nome: Sabine. E <i>Viper</i> responde indignada, “Não me chame desse nome novamente!”. Constrói-se um cenário de curiosidade: por quê Sabine? De onde esse nome vem? Por quê agora é Viper? Por quê a indignação? O que ocorreu entre eles dois? Todos esses são ganchos percebidos e postados por fãs em diversas redes sociais e fóruns. O jogo é repleto destes pequenos ganchos que, somados, tornam tudo muito interessante (e perigoso).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Voltando para o “modelo de negócio”, Valorant é um jogo <i>free-to-play</i> (gratuito). Sua renda provém da venda de uma moeda virtual dentro do jogo, utilizada para consumo de itens exclusivos <i>in-game</i> que modificam alguns aspectos do jogo visualmente ou sonoramente. Cosméticos para as armas do jogo que as tornam coloridas ou sinistras, “Cards” e “Sprays” que possibilitam o jogador expressar individualidade e identificação. Alguns exemplos são os Cards de identificação do mês do Orgulho LGBT, lançados gratuitamente para serem resgatados pelos fãs e se tornando sua “capa” ou “identificação” dentro do jogo, se tornando possível demonstrar apoio ou identificação com diversas bandeiras.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><img height="400" src="https://lh3.googleusercontent.com/YNJZd6WruNzcOxJt7IoOh02KlDlq0_fBmXPR45j7dgMnu5w4wmUq9ZLp6KR8Pf7ZxQ0SYLC6FoZRz78RcUl4bq4AAwTjPLTxoZCM5-0Hz-nvtZadSQAjFcvcQsB_aJB5MRnkxL2S69JFNGdBfQ=w312-h400" width="312" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;">Cards de identificação coloridos com as cores de diversas bandeiras LGBTQIA+</div><div style="text-align: center;">possibilitaram aos jogadores expressão de individualidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esses cards e sprays não se limitam apenas à expressões individuais do jogador como pessoa, mas também se conectam aos ganchos do universo e dos personagens citados anteriormente. Cenas exclusivas dos personagens em outros contextos ou ambientes, que revelam parte de seus passados misteriosos, fazem partes de cards, como a coleção “Volta ao Lar”, que mostra os personagens do jogo “de férias”, fazendo atividades corriqueiras no mundo de Valorant. Não mais são super-heróis em guerra. A palavra-chave aqui é <i>identificação</i>; o fã se vê nos personagens (que já se via por características de personalidade e preferências), agora em outros contextos. O apelo desse gancho é enorme e poderoso.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><img height="320" src="https://lh5.googleusercontent.com/UgRoKTHdJ9dgpWrgAdKDy7YMPQiPrksKljWEc0KTc-wsq_7IGc10qUFL09i0Pt8KOXppWH7Q1kR-Go8V9ukdw2s69s3sgkWRP3ES95AOx8D4DDzB5-L_pBairkCAc-LuyOQLNz2bAt1BRNrtTQ=w244-h320" width="244" /><img height="320" src="https://lh6.googleusercontent.com/n1FoJr5Mo-fTvHx_JWIXdI5riWz_ZZRxjryzpQA65bjagorGrkvy7dDjdrefK86D_Yxe99FybNVj2eox5mp8aoUpquKOAsIVn2auPehWYwxURYbdVQqZ8bI6HN4Gvp5i5q81vozRgixq9hwCPw=w181-h320" width="181" /><img height="320" src="https://lh6.googleusercontent.com/3JV1v3OjvT6Ifi8e3GpsUfsNqpRNPxnXGapm4AIiW-SxcnR3-pxfn9i9T_7pofk1D2A8E-GB6Pr0EozOHQ3k0MY-KRhaaUAxeNEHE1K_iCeN7HlZbP71zsN9ZhT8a2clyRa9D8ihh2aCrh9N0g=w272-h320" width="272" /><img height="320" src="https://lh6.googleusercontent.com/67c3uzUVDN4rV24UFDMa24JnpntcgMMt2LHeqLf2KGFrfeWH08musFv41xNasJc_5KrbaNomNenElUignemgnrmrxsIJFOXOTDolTxJprZsSPgY061w1C02X-ezbdwPhqrEd010AGa6CMLOaFg=w226-h320" width="226" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;">Respectivamente, personagens: Jett, Skye, Yoru e Brimstone, na série “Volta ao lar”</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com tamanho apelo, a monetização desse conteúdo se torna muito poderosa. A estratégia de monetização de Valorant vem do modelo “Passe de batalha” introduzido por alguns jogos precursores e hoje em dia sendo regra para jogos <i>free-to-play</i>. Você pode jogar de graça, mas para expressar individualidade, você deve pagar por acesso à um “Passe VIP”, onde também deve jogar partidas e completar desafios para “progredir” no Passe; quanto mais joga, mais recompensas vai desbloqueando. Ou seja, não só pagar pelo conteúdo, mas “conquista-lo” também. E os ganchos são fortes; quanto mais progressão no Passe sazonal (que se renova à cada três meses), mais raros são os itens que se obtém; inclusive, ao concluir o passe sazonal, existe um item de identificação Dourado, que separa jogadores casuais dos mais “Hardcore”, que completaram todos os desafios dessa temporada.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><img height="320" src="https://lh4.googleusercontent.com/SOKv_Q0q6n3x3dbH-7JzJ-lVXLGfOkNpnBKDekGI42sJJco0cEECL7aGWcOHAO4P1zyPLUXLM9SoaC5RbfLmtWHfizaIokuB9PaPwE55HBt8eKo7DlnQI0Cr-QtGqQuuHspIEASiQy1NcHSTFg=w217-h320" width="217" /><img height="320" src="https://lh6.googleusercontent.com/HjovD8AyUdpf3_zum46fHpzD3XWvyKxJTYwyxjHmrDcGPUfoWgcbOA5t0MMhwa7WNxsCqG--Xwy-EPnuby0ICW7qW6kFmVONWojM3-ILeahvDjeetl4b7amLTV0Ad-Xlz5zKdXQznMZnMaIPvg=w249-h320" width="249" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;">Card “Ducky” normal e Card “Ducky” Dourado, para quem completou o passe sazonal.</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E como o trabalho do fã se conecta com esse modelo de negócio baseado em ganchos emocionais (característicos do capitalismo tardio exemplificados anteriormente)? Até agora, foi mostrado conteúdo produzido pela empresa, e consumido pelo fã. Bem, o “Passe de Batalha” possui 55 itens renovados à cada 3 meses; uma quantidade bem grande de conteúdo criativo novo, fora todo o conteúdo gratuito que completa e preenche os ganchos (vídeos cinemáticos, <i>sneak peeks</i>, eventos recorrentes temáticos, etc). Por ser uma quantidade grande de conteúdo, a empresa se apoia no trabalho do fã para construir esse Passe Sazonal, sendo praticamente metade dos 55 itens produto do trabalho de fãs e da cultura de memes.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sintetizando, memes são identificação: com uma personalidade, com uma situação, são a relação de universos em um expoente comum. Os memes produzidos pelos fãs em fóruns ou plataformas como TikTok e Twitter, são utilizados pela empresa, transformados em produtos dentro do jogo, pelos quais os jogadores pagam e expressam individualidade, mantendo relações de poder socioeconômico e trabalhando - pagando para trabalhar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><img height="273" src="https://lh5.googleusercontent.com/ibmW_oI1Up7TmZxqY8d-fZY7dtgcRnoYx6T5p3flhJvvj2NMGUeWt02Az0AD3gihVHVH0S_u-l2AKPUTgC94ko0HyBiT0-eVTnGLgd5-asNzfeQAb8q45fuKIp-jG06vXPypYADlHn35bQCLAg=w320-h273" width="320" /><img height="300" src="https://lh5.googleusercontent.com/1mNo93grU3ZZHJ1Dy9Ji5KNywAB4yFqOHzpcfBuwqsvKetUxQx7XgXa8KZ-wUYbDi7sZxxg5PgZGRyC_VnDRqAX3KnVv8wPpb7fJGaxfAcPIQJ70Q_zCSXU_5VnMNzoLknloJkxE9xTdHS3MFQ=w320-h300" width="320" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;">Meme “Everything is Fine”</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><img height="305" src="https://lh3.googleusercontent.com/_ShdVhCs3eyGUAvTXtSRjftEbh1g437aScilnd_FeF6jOybNZxFQ3jSxxlvWRPTKfsxCdlVSoQS4vl4M0NM6LI5X4760J4-hFSL_I2EwgEx293x4yitlL6NQl_lzG9zxTthzokFo610xZ0X2Ng=w320-h305" width="320" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O meme “Everything is Fine” foi relacionado ao personagem Phoenix, capaz de controlar o fogo, por fãs na plataforma Twitter, e posteriormente desenhado e postado em fóruns. Virou um ítem consumível dentro do game, obtido através da compra do Passe de Batalha e algumas horas de jogo para progressão dentro do passe. Já o spray “Me Revive Jett” vem de um meme espontâneo da comunidade, onde em um vídeo de <i>gameplay</i>, um jogador inexperiente repetidamente pedia à personagem Jett para que o revivesse; porém esse poder pertence à outra personagem, Sage, causando confusão e humor nos jogadores e posteriormente virando um produto consumível dentro do jogo também.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O exemplo mais extravagante dessa relação fã-produto que quero trazer é a ascenção do movimento “Wide Joy” dentro do game, que mostra como todo movimento, mesmo não-calculado, é estudado, percebido e utilizado pelos detentores do conteúdo. “Wide Joy” foi um <i>bug</i> (erro do jogo) onde a personagem Killjoy aparecia esticada. Se tornando um meme da comunidade em fóruns e no <i>Reddit</i> simplesmente pela aparência engraçada que ela aparecia no jogo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><img height="121" src="https://lh6.googleusercontent.com/ESkh0xM-Q8nTKSn7M1rvGHSskXeuY54g_G4vyyyl9jc8NeR23pPvN29uYYHx7yJYeSiujb19QamTM173qEyuNkoRkVKHqH-ObsWLnx8XhHg3FH9IrJAf8dSeCq9VrejGQE_CSKQbWa1KOny_Zw=w400-h121" width="400" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Posteriormente, o bug foi corrigido, porém houve um evento de 1º de abril, onde foi criado um modo de jogo em que todos os jogadores eram, exclusivamente, Killjoy Esticada. O vídeo de lançamento fez um enorme sucesso e, posteriormente, foi lançado um card de identificação onde a personagem Killjoy lê em seu tablet notícias sobre a “Killjoy Esticada”, obtido através do Passe Sazonal, e sua versão mais rara Dourada - metalinguagem e identificação sendo palavras chave para construir um universo palpável e envolvente. O trabalho do fã e o surgimento espontâneo de conteúdo mercantilizado e transformado em produto - e o fã adorando tudo isso.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><img height="282" src="https://lh3.googleusercontent.com/d9ucQTRXyQ4HbCx9Umi41Y6kNt7UJDIJ3YXn_3Do9wGQFkCC5SlT3RXvYsCb1D4CfhqWSfqdfdl98VYIOx6xpVoBHC8VsmOHo58_YNJMMJT-Z1k3AzlxJtbTlXHASuYidzyU8OiAErBQ2YHWvw=w320-h282" width="320" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Fica claro que o envolvimento do fã com o conteúdo produzido é muito bem estudado e explorado, em diversos âmbitos, no capitalismo tardio e na Cultura da Convergência. Interligados, forma-se uma teia de ganchos pautados em identificação e apelo emocional. Cabe a nós perceber, entender, e aceitar ou não essa influência constante que o que gostamos tem no nosso bolso e no nosso tempo - não ser cegamente induzido já é um primeiro passo para a futura captura dos Memes (Meios) de Produção.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Referências:</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>DATTEBAYO! A Cultura de Fãs de Naruto.</b> [S. l.], 13 jun. 2021. Disponível em: http://mediabox.observatoriodoaudiovisual.com.br/2021/06/dattebayo-cultura-de-fas-de-naruto.html. Acesso em: 14 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">DUFFETT, M. <b>Understanding Fandom </b>- An introduction to the study of media fan culture. Londres: Bloomsbury, 2013.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">GALLOWAY, A. The interface effect. Cambridge: Polity, 2012.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>GAME of Thrones: os limites (invisíveis) entre fãs e produtores.</b> [S. l.], 6 ago. 2021. Disponível em: http://mediabox.observatoriodoaudiovisual.com.br/2017/08/game-of-thrones-os-limites-invisiveis.html. Acesso em: 14 maio 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JENKINS, H. <b>Cultura da convergência.</b> 2. ed. São Paulo: Aleph, 2008.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JENKINS, H. <b>Invasores do Texto </b>- Fãs e cultura participativa. Rio de Janeiro: Marsupial Editora, 2015.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">MACEDO, T. O custo da participação: lazer e trabalho gratuito (de fãs) na cultura da conectividade. <b>Lumina</b>, [S. l.], v. 15, n. 2, p. 191–211, 2021. DOI: 10.34019/1981-4070.2021.v15.27569</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">SANDVOSS, C; GRAY, J; HARRINGTON, L. Introduction: Why Still Study Fans?. In: GRAY,J.; SANDVOSS, C.; HARRINGTON, C.L. (eds.). <b>Fandom</b>: Identities and Communities in a Mediated World. 2. ed. Nova York: New York University Press, 2017.p. 8-32.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">TERRANOVA, T. <b>Free Labor</b>: Producing Culture for the Digital Economy. Social Text, Durham, v. 18, n. 2, p. 33-58, 2000. DOI: <<a href="https://doi.org/10.1215/01642472-18-2_63-33">https://doi.org/10.1215/01642472-18-2_63-33</a>>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-6159232842459477902022-07-02T08:48:00.002-07:002022-07-02T08:48:38.782-07:00Aranha-fãs: as disputas entre os fãs de Homem Aranha <div style="text-align: right;">Gabrielle Neves, João Lucas Dantas, Juliana Amorim e Victor Silva</div><div style="text-align: right;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaU5WkUmJaOVApsEzu4RC3dGpQoEb4He20O_w4ARe1-1vBDg_ZfGfjh6RkOKWH5rBKrB5FMe0S1tA0j2DuPZTBEAFmjZ_4LSHRJsiykgdMWd1Sm7Q7zJ6uuXSy00n-dvWe13dgvRVGo_BLAsXI6cSYcho1L5L2CBzE0H_XjfZfYJL35E4vinoaPMp3/s320/gif.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="140" data-original-width="320" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaU5WkUmJaOVApsEzu4RC3dGpQoEb4He20O_w4ARe1-1vBDg_ZfGfjh6RkOKWH5rBKrB5FMe0S1tA0j2DuPZTBEAFmjZ_4LSHRJsiykgdMWd1Sm7Q7zJ6uuXSy00n-dvWe13dgvRVGo_BLAsXI6cSYcho1L5L2CBzE0H_XjfZfYJL35E4vinoaPMp3/w400-h175/gif.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As velhas e sempre emocionantes relações/conflitos humanos pautam-se a partir de uma necessidade. Necessidade essa que pode ser estimulada por um pensamento que faz parte de uma coletividade comum, seja por uma aproximação que irá levar a um encontro convergente de comportamentos, seja por um distanciamento desses comportamentos em busca de criar, pertencer ou defender uma própria opinião, fundamentalmente compartilhadas por outros. Com a ascensão do novo milênio, a revolução da informática levou um tempo consideravelmente curto para fazer parte de nossas vidas - e há necessidade de apontar que, caso não acompanhá-la, ficaremos anacrônicos frente às transformações e velocidades que constantemente fazem questão de lembrarmos que estamos vivenciando uma experiência nunca antes sentida pelas gerações anteriores.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um outro ponto interessante a ser citado é que a internet (e suas inúmeras ramificações) não foi formada apenas para atender uma necessidade global. Ela também continua, talvez em outro ponto de vista, a elevar este “status” dos conflitos humanos a níveis cibernéticos. Dramas são criados graças a esta rede e seus recursos conquistam um papel decisivo na criação, no desenvolvimento e, principalmente, no desfecho de tramas, potencializadas, sobretudo, por uma base fomentada por seguidores fiéis e inseridos dentro dessas redes Jenkins (2006) cita que são através dessas ferramentas que vão fornecer “os meios necessários para o cidadão comum se expressar e disponibilizar seus trabalhos e ideias livremente, sem a intermediação das antigas mídias de massa.” (JENKINS, <i>apud</i> CAMPANELLA, 2012, p. 475). Portanto, com o acesso às novas mídias digitais, a comunicação não ficou reprimida ou limitada, mas expandida a ponto de unir novas impressões acerca de um assunto pelas redes sociais. Campanella (2012, p. 475) ainda completa o pensamento ao dizer que isso iria implicar “em um potencial intrínseco de transformação sociopolítica da sociedade” graças a tais discussões em fóruns e outras ferramentas que, de certa maneira, apropriam-se da imagem ou de um assunto que geralmente reúne diversas pessoas em prol de algo comum, como os <i>fandoms</i>, tão relevantes - e importantes - nas discussões atuais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os <i>fandoms</i> existem a partir de uma correlação com um objeto escolhido para criarem e manterem uma perspectiva afetiva que um dia foi levantada por outras pessoas. Indo de conteúdos televisivos, artistas ou cinema estão sempre expostas para as mais diversas análises ou apropriações. Todavia, essas mesmas relações de “veneração” mútuas podem não seguir uma ambientação livre, haja vista que existem diversas comunidades de fãs que organizam uma verdadeira sociedade dentro da sociedade para proteger um ideal cultural. Uma vez iniciado, a escolha de participação de outros fãs leva muita consideração de quais posições hierárquicas se podem alcançar ou um papel a desempenhar dentro dessa bolha. Sendo assim, existe, dentro deste sistema, a utilização do termo cunhado por Sarah Thornton “capital subcultural” inserido em um fluxo de conhecimentos precedidos através de contatos sociais e que podem ser manifestados através de vestimentas ditas “da moda”, livros best-sellers, filmes de sucesso de bilheteria ou até mesmo estilos de danças adotados e consumidos em determinado período e por determinado público. Os praticantes do “capital subcultural” possuem um perfil semelhante: são jovens com marcas de rebeldia e que buscam sua independência.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com isso, chegamos no Homem-Aranha, um super-herói que aparece nas revistas em quadrinhos publicadas pela Marvel Comics. Esse personagem foi criado por Stan Lee e pelo Steve Ditko, Lee trabalhou como roteirista e escritor dos quadrinhos do aranha, enquanto Ditko trabalhou em dupla com Stan Lee como escritor e também como o artista das revistas. O Homem-Aranha apareceu pela primeira vez na <i>Amazing Fantasy</i> #15, em 01 de agosto de 1962, durante a Era de Prata dos Quadrinhos, uma fase de várias revoluções artísticas no meio.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><img src="https://lh5.googleusercontent.com/PrYaM3MANyiKXde1B7Ke_U3QsyotkE_cVZQCJSEx9FbiWgsf55QbbP6yh_I9qW7iepeCZ4iCMJNe6Rk5_zbUsNp-Wlm6shPIOLJsz32KcMf6TGiWqSrJaveOw5svpxVLjXX_E4ye6011F20p8n0" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O personagem contou com diversas encarnações nos cinemas e na TV além de sua origem nas histórias em quadrinhos. Em 2002, muitos fãs foram agraciados com a primeira encarnação <i>live-action</i> do teioso nos cinemas. O filme, dirigido por Sam Raimi e estrelado por Tobey Maguire, foi seguido por duas outras sequências que solidificaram uma trilogia que os fãs adoram e veneram. Logo após o fim da trilogia, outro filme do aranha surge em 2011, dessa vez com uma equipe completamente diferente, recontando a história do personagem com uma abordagem nova, sendo estrelada por Andrew Garfield e dirigida por Marc Webb.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com o lançamento de uma nova encarnação do Homem-Aranha, fãs da encarnação de Maguire se manifestam contra a versão de Andrew, com alegações hierárquicas de que os verdadeiros fãs do herói devem gostar da primeira trilogia iniciada em 2002. Os filmes estrelados por Garfield foram dois: <i>O Espetacular Homem Aranha</i> e o <i>O Espetacular Homem Aranha: A Ameaça de Electro</i>. Tais filmes se tornaram divisores de águas para o fandom do super-herói, desde diversos debates até apontamentos sobre o fracasso dos longas em crítica e bilheteria. Após a polarização dos fãs com a existência de duas encarnações do teioso em menos de duas décadas, surge uma terceira. Uma nova trilogia de filmes é anunciada após o cancelamento de futuros filmes com Andrew Garfield se aposentando do papel, dando espaço para o novo ator a encarnar o escalador de paredes, Tom Holland. Nessa nova versão, os filmes contam com a benção da Marvel Studios, que ganhou legitimidade entre fãs de adaptações de quadrinhos por um padrão de qualidade em seus filmes.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><img height="251" src="https://lh5.googleusercontent.com/X0PXDjxsNA-e8rHO2Fzq0l3notHZE8K4wCufYMt9kLBbeTrK_BJRQ3u4RT_0P2Am4IuKEi0_xciXMjHJEPAOiIdGZa7jryeNhGHrCdq9pnmJ3fsIGSbeXiVXMQv74Cs1lFGtvbeVV78rCZ0UKpyaLaBuz_Ai=w400-h251" width="400" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As comparações entre as três versões cinematográficas do Homem-Aranha são quase inevitáveis. Neste ponto, as preferências dos fãs entram em jogo e tornam-se a razão pelo qual existem “sub-fandoms” derivados do primeiro, onde fãs se reúnem para defender sua versão favorita. A disputa para eleger o melhor Aranha é ainda mais acirrada entre a parte do <i>fandom</i> que apoia o ator Tom Holland e aquela que apoia o ator Andrew Garfield. Ambos se mostraram muito carismáticos ao representar o herói no cinema, porém de formas distintas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><img height="291" src="https://lh6.googleusercontent.com/tvMn34-BCdJwKOSNqI-oLTn_3oVmiP5We9jFms9UQy0oIRXGFRox77ZFb-f8WbmBsnnohb22OasualojV6xvPl9DB32BHpvNmTQOSq6pQxiZlUqAHh5pLBjqEIwk3X8dWae3pzd5xgcEZpALBljhdCzrV9Ze=w400-h291" width="400" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Há quem diga que a versão interpretada por Andrew Garfield é a mais próxima da personalidade original do personagem Peter Parker, sendo ele um jovem mais “bobão” e piadista. Para outros, Tom Holland é o ator que entrega as melhores cenas de ação, uma vez que o ator sequer precisa de dublê em algumas cenas que envolvem manobras e saltos elaborados. Essas pequenas diferenças são capazes de levar os fãs à fortes embates em prol do ator que acreditam ser o “Spider definitivo”, mesmo que não haja uma competição aparente entre os artistas. Porém, para uma outra parte do fandom, essas disputas só criam problemas desnecessários. Alguns fãs defendem a ideia de que cada versão do Aranha é única e deve ser apreciada como tal, para que as críticas dos fãs não sirvam de munição para sites que desejam realizar duras críticas aos atores envolvidos em tais produções.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><img height="244" src="https://lh4.googleusercontent.com/caT7Zlooy_ewrzveBilblia3Pctk_vN2N3cshZJn28MS1z6MT3ZIENJY5_MaBrICfYXyfYFHuZdSusowYX-P9xxAFAOuUqet9SLVmZorXewUA4b5XeVaCzjo9-vomyfiNCjUFHhI1T_azVCZTwxdSdDemReH=w400-h244" width="400" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Além das disputas referentes ao fandom de cada ator, os fãs do Homem-Aranha também costumam entrar em conflito quando, de um lado, há alguém que consome as HQs do herói, e do outro, há um fã que gosta “apenas” de assistir aos filmes. Assim como fãs que estão há mais tempo em um fandom podem sentir-se superiores aos fãs “recém-chegados”. Também há algo parecido no que diz respeito ao consumo das HQs do Homem-Aranha.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Assim como nos cinemas, o Homem-Aranha apresenta diversas encarnações nos quadrinhos. É intrínseco ao meio de super-heróis conter várias interpretações do mesmo personagem, isso acontece por consequência de que tais quadrinhos são histórias sobre o mesmo núcleo de personagens que são escritas e lançadas de maneira periódica ao longo de mais de 50 anos. Esses personagens têm histórias contadas sob os olhos de diversos autores que contém visões artísticas diferentes. Com o Aranha não é diferente, existem diversas fases icônicas ao longo da cronologia canon e não-cânon do herói.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nos anos 2000, a Marvel Comics lança uma série de revistas de diversos heróis sob o selo Ultimate. As HQs Ultimate foram fonte de uma gama de incontáveis histórias nas duas primeiras décadas do século XXI e se passavam em uma cronologia diferente da cronologia dos quadrinhos principais do Homem-Aranha.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E assim surge o Homem-Aranha Ultimate, com uma própria mitologia e fantasia que é observada com um certo caráter duvidoso, dando mais apreço à ficção científica, que de certa forma, segue um viés mais explicativo. Essas histórias surgiram como uma maneira de revitalizar os contos já estabelecidos dos heróis, com uma abordagem mais moderna para suas origens. Tendo o lançamento simultâneo de duas abordagens do Homem-Aranha diferentes, sendo as duas contendo dois autores e artistas diferentes, as comparações no Fandom começam a surgir, fãs mais saudosistas do Aranha tradicional tratam o Ultimate Homem-Aranha como uma história inválida do herói, apontando que apenas a cronologia sob o selo clássico da Marvel Comic é genuinamente legítimo. Fiske (1989) pontua que essas múltiplas interpretações de uma mesma obra a partir da definição do conceito de cultura popular e a da analogia ao uso do jeans. Segundo o autor, assim como o jeans, produto de consumo em massa, permite uma ampla variedade de usos pelos mais diferentes grupos sociais, assim também é a flexibilidade dos chamados “textos populares” de se construírem a partir das leituras e interpretações alternativas dos fãs que, então, podem se distinguir do público “normal”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiFaE2s5niE6XVulAVJ6UxX5qvppXO09y76cxHVbhw7JYbIvZRmVPGo0B2y6-Cc2MfgoZhfulQQ3ONLIsfpInvkQoDe2fUCz7Bj0lVyX2nkRPbGntkMMvqXuvrRhEjLRyU0MlioMBBLR_213OfZ23GSJfXasFJ0x-_TuBmHC90yKIg_MimEkEgwHuv/s478/GIF-3.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="275" data-original-width="478" height="230" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiFaE2s5niE6XVulAVJ6UxX5qvppXO09y76cxHVbhw7JYbIvZRmVPGo0B2y6-Cc2MfgoZhfulQQ3ONLIsfpInvkQoDe2fUCz7Bj0lVyX2nkRPbGntkMMvqXuvrRhEjLRyU0MlioMBBLR_213OfZ23GSJfXasFJ0x-_TuBmHC90yKIg_MimEkEgwHuv/w400-h230/GIF-3.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Assim, conclui-se que o complexo universo criado em torno do Homem-Aranha resulta numa grande variedade de conteúdos a serem consumidos pelos fãs, que também podem criar suas próprias histórias a partir daquelas apresentadas nos quadrinhos ou nos filmes do herói. Não são poucas as fanfics produzidas por fãs do Aranha, que muitas vezes criam histórias alternativas do herói junto a outros Vingadores. Essas versões, contudo, também são fontes de disputas e conflitos internos no fandom, fazendo fãs voltarem-se uns contra os outros apenas para defender seus gostos pessoais, mesmo que estejam tratando do mesmo personagem fictício. Entre os “tapas e beijos” do fandom, a Marvel só tem a lucrar com todo esse engajamento dos fãs nas redes e plataformas digitais. Por causa deles, um dos personagens mais icônicos criados por Stan Lee consegue ter sua imagem renovada e ser apresentado às novas gerações.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Referências</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">CAMPANELLA, B. O fã na cultura da divergência: hierarquia e disputa em uma comunidade on-line. <b>Contemporanea : Revista de Comunicação e Cultura</b>, v. 10, n. 3, p. 474-489, 2012. Disponível em: <<a href="https://periodicos.ufba.br/index.php/contemporaneaposcom/article/view/6435">https://periodicos.ufba.br/index.php/contemporaneaposcom/article/view/6435</a>>. Acesso em: 29 jun. 2022.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">FISKE, J. The Cultural Economy of Fandom. In LEWIS, L.A (ed.) <b>The Adoring Audience</b>, Londres: Routledge, 1992, p. 30-49.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">THORNTON, S. <b>Club cultures</b>: Music, media, and subcultural capital. Wesleyan: Wesleyan University Press, 1996.</div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-84716494274077711962022-04-07T10:50:00.007-07:002022-04-13T09:56:51.489-07:00Entrevista com o jornalista de e-sports Bruno Povoleri<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQJRW-7E4_yM6XlmNVcuhXomSGtVVIyO-tzZ3eAnwzgEb7Hc9clXn7lGlYKDgfNrlFyKEWvD6o4u3tIwBF8A_G3So8NnGv2tDJmDHT3LnXkvbl6uVY9NllKjv7a_tPaKDxfdXrMLDOwkVE_Av_f1P9tPwdYprpx8XYl1OsfkJ5R9jaZimUwOFJWWqA/s600/fortnite-gif.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="303" data-original-width="600" height="217" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQJRW-7E4_yM6XlmNVcuhXomSGtVVIyO-tzZ3eAnwzgEb7Hc9clXn7lGlYKDgfNrlFyKEWvD6o4u3tIwBF8A_G3So8NnGv2tDJmDHT3LnXkvbl6uVY9NllKjv7a_tPaKDxfdXrMLDOwkVE_Av_f1P9tPwdYprpx8XYl1OsfkJ5R9jaZimUwOFJWWqA/w429-h217/fortnite-gif.gif" width="429" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span id="docs-internal-guid-7f9b869a-7fff-e848-39ff-1a14498fbc89" style="font-family: helvetica;"><div style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Buscando entender o cenário do jornalismo de videogames no Brasil e o perfil profissional do campo, convidamos o jornalista de e-sports <a href="https://www.linkedin.com/in/brunopovoleri">Bruno Povoleri </a>para uma entrevista. Ele foi colaborador do site GE (antigo Globo Esporte), que reúne as publicações sobre videogames e e-sports do grupo Globo. A conversa se deu a partir da cobertura de reportagens sobre Fortnite, Battle Royale da Epic Games que se posiciona como um dos maiores jogos do mundo na atualidade.<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> <br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Bruno Povoleri é graduado em Publicidade e Administração e cursa Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Atualmente é repórter, redator e jornalista de e-sports do site The Enemy.<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> <br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Gustavo Furtuoso: </b>Em seu perfil do Linkedin, consta que você atuava no Globo Esporte como freelancer. Nesse sentido gostaria de saber como era sua rotina de trabalho no GE. Eles te indicam as pautas? Você sugeria os assuntos? O trabalho era remoto?<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Bruno Povoleri:</b> Comecei de freelancer no Grupo Globo na editoria de e-sports quando ainda era e-SporTV, filiado ao canal SporTV, em maio de 2019. Depois, o site virou Globo Esporte e posteriormente GE. Meu papel lá dentro era produzir matérias que auxiliassem a cobertura já realizada pela redação do próprio GE. Isso envolvia pautas em que os editores me sugeriam e vice-versa, tudo de forma remota e por meio de uma plataforma terceirizada. Minha rotina era praticamente de um repórter contratado da empresa, já que eu produzia mais de 40 matérias por mês e, em algumas muitas ocasiões, chegava a publicar mais de cinco textos por dia.<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> <br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Gustavo Furtuoso: </b>Havia alguma setorização entre os jornalistas que cobriam videogames? Há separação por títulos ou tipos de jogos?<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Bruno Povoleri:</b> Não havia setorização dentro dos freelancers, embora a triagem para entrar no GE fosse feita a partir da segmentação de assuntos em que o colaborador tivesse mais afinidade para escrever sobre. Eu, por exemplo, entrei como freelancer específico de League of Legends (LoL) e Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO), mas passei a produzir conteúdo em relação a praticamente todos os jogos depois de um certo tempo. Não havia delimitação dentro da rotina de trabalho, enquanto na redação interna do GE há separação entre jogos. Tem quem cubra Free Fire, LoL, CS:GO, etc. Mas nada impede que esse jornalista também cubra outra modalidade em uma situação adversa.<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> <br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Gustavo Furtuoso: </b>Entre os jornalistas de videogames, todos eram freelancers?<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Bruno Povoleri: </b>Não, havia a redação interna do GE como informei anteriormente.<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> <br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Gustavo Furtuoso:</b> Como era feita a escolha de fontes usadas nas matérias? Leakers são vistos como fontes confiáveis por parte dos editores?<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Bruno Povoleri:</b> A fonte basicamente tem diversas variáveis, podendo ser os próprios jogos, as desenvolvedoras dos games (comunicados oficiais), releases divulgados para a imprensa, redes sociais, outros veículos de imprensa e até mesmo leakers que, por sua vez, são um caso extremamente específico. Não são todos os leakers que dispõem de alto grau de noticiabilidade, sendo apenas aqueles que já tem fama ou um currículo que comprove uma boa taxa de acertos nas informações divulgadas antecipadamente.<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> <br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Gustavo Furtuoso: </b>Se os leakers eram usados recorrentemente como fontes, por que não havia um movimento de se acessar diretamente os arquivos do jogo? Isso era algo não encorajado pela empresa? Ou exige técnicas e conhecimentos que são complexos de serem usados neste contexto?<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Bruno Povoleri:</b> Acessar diretamente os arquivos do jogo nunca foi uma opção cogitada ou debatida dentro da empresa. Acredito que muito por conta de exigir técnicas e conhecimentos complexos que, na minha opinião, fogem da função do jornalista. Nós, jornalistas, estamos ali apenas para noticiar um determinado fato. Nada além disso.<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> <br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Gustavo Furtuoso: </b>Como eram pensados os recursos visuais usados nas matérias? Porque não é tão comum o uso de vídeos quanto é o de imagens?<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Bruno Povoleri:</b> Os recursos visuais das matérias do GE eram pensados da seguinte maneira: uma imagem depois do primeiro parágrafo que, na maioria dos casos, seria a imagem da capa da matéria; ou um embed de uma publicação no Twitter, Instagram, Facebook ou YouTube que tinha relação com a matéria. Nesse último caso, a imagem seguinte ao embed seria a capa da matéria. Depois, o ideal era o uso de uma imagem ou um embed a cada três parágrafos. A respeito dos vídeos, falando especificamente do que eu tinha contato, os colaboradores freelancers do GE não tinham acesso aos vídeos e não conseguiam upar ou colocá-los nas matérias. É uma política da empresa em que apenas o editor podia fazer isso e, portanto, limitava o uso desse recurso.<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> <br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Gustavo Furtuoso: </b>Havia algum critério estabelecido sobre quais informações seriam relevantes para a comunidade de Fortnite? Ou você, a partir de seu conhecimento e experiência, avaliava quais aspectos seriam mais relevantes de serem abordados nas matérias (lançamento de skins, colaborações, mudanças no mapa, etc).<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Bruno Povoleri: </b>O grau de noticiabilidade do Fortnite no GE sempre foi muito flexível e mudava conforme as demandas da empresa. No entanto, o critério nunca fugiu de uma cobertura superficial sobre o competitivo do jogo e uma cobertura mais a fundo em relação a atualizações, anúncios de parcerias e chegada de novas skins em colaboração com outras empresas. Os editores do GE que avaliavam isso e davam o veredito final sobre publicar ou não, mas em 80% dos casos as matérias em que eu publicava sobre Fortnite eram sugestões minhas.<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> <br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Gustavo Furtuoso:</b> Há alguma discussão sobre literacia midiática ou literacia transmídia quando tratamos da prática jornalística no GESports?<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Bruno Povoleri: </b>Acho que do ponto de vista da literacia midiática e transmídia não havia, mas no manual de redação do GE tinham algumas considerações e sugestões que sugeriam a realização de ligações com outros produtos da empresa. O principal exemplo que eu realizei na prática era quando produzia matérias sobre FIFA e fazia uma ligação com o mundo real, linkando com outras matérias da editoria de futebol do GE. Mas de outros produtos do Grupo Globo dificilmente acontecia.<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> <br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Gustavo Furtuoso: </b>Havia alguma estratégia para tornar as matérias mais chamativas com divulgação nas redes sociais ou com publicações secundárias formadas a partir das notícias (tweets, stories, posts no Instagram)?<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Bruno Povoleri: </b>Eu não tinha acesso a divulgação das matérias nas redes sociais e, portanto, não sei como funcionava a estratégia do GE. Isso ficava a cargo de outro departamento dentro da empresa.<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> <br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Gustavo Furtuoso: </b>Qual era o público alvo das matérias elaboradas? Era um público mais geral ou havia uma faixa etária delimitada?<br /></span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Bruno Povoleri: </b>Os colaboradores do GE também não tinham acesso ao público alvo das matérias. O sistema envolvia apenas a produção das matérias a partir do sinal verde dos editores. Eram eles que avaliavam se uma pauta se enquadra ou não nos propósitos da empresa. Mas a maioria dos materiais produzidos no portal são voltados para um público que não tem tanta afinidade com e-sports, com o uso de uma linguagem mais simples e explicativa.</span></div></span></div></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjr9lhHQEvY6gH0xPlnDLulmDDKhEj_erRVzqK5ePm4ZMevJPfFQLuLvLwe-ukLP0XbnE_2H2x2kDdtM9Rn5fqLDcJFSoC-h-4jrvP1i37dSwMdG7M6NVyzqXNZQEnoC-mIp9U1a1yoVVvMVabI7lxQMSiZsCMrUkY5SAR4q9hkcKWESiHsYihXK8Xb/s400/perfil_mediabox.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="160" data-original-width="400" height="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjr9lhHQEvY6gH0xPlnDLulmDDKhEj_erRVzqK5ePm4ZMevJPfFQLuLvLwe-ukLP0XbnE_2H2x2kDdtM9Rn5fqLDcJFSoC-h-4jrvP1i37dSwMdG7M6NVyzqXNZQEnoC-mIp9U1a1yoVVvMVabI7lxQMSiZsCMrUkY5SAR4q9hkcKWESiHsYihXK8Xb/s320/perfil_mediabox.png" width="320" /></a></div><br /> <p></p>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-15079438302022260032021-08-22T06:41:00.005-07:002021-08-23T06:14:53.186-07:00Reflexos de uma nova era: a GloboNews inserida na cultura participativa<div style="text-align: justify;">Inserido nos dias de hoje, em meio a uma <b>cultura participativa</b>, o maior canal de <b>telejornalismo brasileiro</b>, GloboNews, sofre influências, consequências e procura se adaptar em meio às mudanças de perfil de seus assinantes. Por causa da internet e das novidades na comunicação, agora há um forte poder de influência do telespectador sobre algumas decisões da emissora, além de incorporações de memes e webcelebridades em seus jornais para maior propagação na internet. Quer entender mais? Taí, então entra que já vai começar.</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://c.tenor.com/vR0KKADb2gsAAAAC/maria-beltr%C3%A3o-natuza-nery.gif"><img border="0" data-original-height="434" data-original-width="498" height="349" src="https://c.tenor.com/vR0KKADb2gsAAAAC/maria-beltr%C3%A3o-natuza-nery.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b> A Cultura Participativa na Televisão e a GloboNews</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É 2021 e a televisão brasileira não é mais a mesma. De 1950 até hoje, muitas estruturas e meios de comunicação evoluíram, certas linguagens e formas de abordagem mudaram e, consequentemente, o modo de consumo dos telespectadores também. Este último, principalmente, graças ao surgimento das novas redes sociais e da difusão da internet e dos aparelhos eletrônicos. Como esperado, essas novas configurações também recaíram sobre o telejornalismo brasileiro.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O termo “cultura participativa”, cunhado por Henry Jenkins (2008), teve seu início em um estudo sobre a produção cultural e as interações sociais de comunidades de fãs, no entanto esse conceito evoluiu e em Cultura da Conexão (2014), os autores repensam esse termo, que agora se refere a uma forma ainda mais ampla de como toda a audiência recebe, assimila e produz conteúdos. Outrora, os telespectadores eram vistos como seres passivos que somente assistiam a mídia televisiva e absorviam seus conteúdos, já nessa nova configuração os espectadores buscam fazer as suas próprias produções culturais e demandam, cada vez mais, participação e interatividade sobre o que consomem.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Conforme o conceito foi evoluindo, acabou se referindo, atualmente, a uma variedade de grupos que funcionam na produção e na distribuição de mídia para atender a seus interesses coletivos, de modo que diversos especialistas interligaram suas análises do fandom num discurso mais abrangente sobre a participação na mídia e por meio dela. (JENKINS et al, 2014, p.20)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por muitas vezes, mesmo com grandes resultados comprovados de audiência e investimentos massivos em ambientes participativos [1] acontecendo no entorno, muitos shows televisivos e muitas emissoras continuam ignorando esse potencial. No jornalismo, isso é ainda mais comum e a inovação ocorre mais lentamente do que em outros setores, seja por princípios éticos da profissão, conceitos atrasados de seriedade ou preocupações com uma “linguagem neutra”. Talvez esse não seja o caso da GloboNews.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">GloboNews é um canal de televisão por assinatura que transmite uma programação jornalística 24 horas por dia. Desde sua estreia, em 1996, eles nunca desligaram e apostam em um jornalismo diferenciado, dinâmico e prático - chamado de padrão CNN [2], por Maria Beltrão. Ao longo de sua programação sempre existiram jornais “mais sérios”, como é o caso do Jornal das 22h e da Edição das 0H, quanto jornais “mais leves”, como é a Edição das 10h, e outros ainda mais fora do formato tradicional como é o caso do “Estúdio I” e do “Em Pauta”. A grade de programação, apesar de focar no noticiário, também possui - ou pelo menos possuia até antes da pandemia do covid-19 - shows, entrevistas com artistas e participações especiais. Na contramão de um jornalismo muito engessado, os âncoras e repórteres da GloboNews sempre puderam explorar uma proximidade maior com o seu público. Não é atoa que a constante busca por mudanças e renovações colaboram para que o canal seja o líder de audiência em seu segmento, chegando a ter até três vezes mais audiência do que seu principal concorrente, a recém fundada CNN Brasil.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Maria Beltrão, Marcelo Cosme, Aline Midlej são alguns dos grandes nomes de âncoras da emissora. Eles comandam, respectivamente, os programas de sucesso Estúdio I, Em Pauta e J10, e já participaram de alguns episódios que podem exemplificar a cultura participativa causando na GloboNews.</div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b>Estúdio I: a incorporação de memes e webcelebridades no jornal</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“O programa jornalístico de entrevistas, debates e comentários procura mesclar informalidade e informação [...] Cantores e bandas também marcam presença, divulgando sua música e novos trabalhos.”, é assim que o Estúdio I (GloboNews, 2008-presente) é definido em sua página do Wikipedia. Nele, um fenômeno recorrente acontece; celebridades da internet e memes virais estão se tornando frequentes no programa e podemos enxergar isso claramente com as participações recentes de Esse Menino, autor do vídeo viral conhecido como “vídeo da pê-fáizer”, e de Alice, um bebê que viralizou no TikTok e no Twitter por conseguir falar palavras difíceis.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><img height="195" src="https://lh4.googleusercontent.com/3JwbZGlzOFr_gSZg627lmZI0rLF_EyF1Yxwi1DaUBtDun3AroaAq3IQm0ayWG5BVayp7TFq_DybLpcHyNzxaUlE89a09JISxgx3a6_dPOWKeGvSxi2Esdmjhdpy1sgXyosf75n4=w400-h195" style="margin-left: auto; margin-right: auto;" width="400" /></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"></td></tr></tbody></table><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A incorporação de sucessos da web é natural, dado o mundo em que vivemos, mas o Estúdio I faz isso com excelência. Atrair o público da internet, instigar a produção de memes e a propagação de conteúdos nas redes sociais são ótimas formas de se divulgar um programa de TV hoje em dia. Aproveitar o<i> timing </i>certo de quando algo está em alta, <i>trending</i>, é essencial para que o<i> buzz</i> seja aproveitado por ambos - tanto para TV quanto para a personalidade da internet.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um dia após a viralização (quase) instantânea e natural do “vídeo da pê-fáizer”, os jornalistas da GloboNews não hesitaram em comentar sobre o mesmo na Edição das 10h, no Estúdio I e, também, no Em Pauta. No programa de Maria Beltrão, além de citar e comentar o vídeo que viralizou na web, eles ainda <a href="https://g1.globo.com/globonews/estudio-i/video/pe-fizer-humorista-esse-menino-grava-video-especial-para-o-estudio-i-9602722.ghtml">exibiram um vídeo exclusivo feito pelo Esse Menino</a>, que brincava com os comentaristas e fazia graças a cada um. Isso sim é uma incorporação de sucesso.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Outro episódio recente foi a entrevista de Alice. O bebê viralizou nas redes e na mesma semana lá estava no Estúdio I, juntamente de seus pais, dando uma entrevista fofa para Maria Beltrão. Diversos trechos se tornaram memes, o que gerou várias pílulas para serem compartilhadas nas redes sociais. No blog de Hugo Gloss é possível ver alguns vídeos e comentários dos telespectadores: <a href="https://hugogloss.uol.com.br/tv/fofura-maria-beltrao-fica-no-vacuo-ao-tentar-conversar-com-alice-a-bebe-que-repete-palavras-dificeis-presta-atencao-na-tia-assista/">“Fofura! Maria Beltrão fica no "vácuo" ao tentar conversar com Alice, a bebê que repete palavras difíceis.”</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Em Pauta: o poder de influência do público e a reversão do cancelamento</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em 2 de junho de 2020, uma quinta-feira, o programa Em Pauta foi ao ar e discutiu o tema racismo no Brasil. O problema? Não havia nenhum jornalista negro integrando a equipe para falar de um problema que afeta justamente a população negra. Como esperado, o acontecimento repercutiu nas redes e algumas pessoas negativaram a atitude do canal. Um único tuíte ironizando o programa chegou a alcançar 21,7 mil curtidas e mais de 3.000 compartilhamentos no<i> twitter.</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWes7oBh5JoPbMRuF4QCfGP42HnSaE3l17br4kt7QSAV7uhPIcoII26dfeXwqofoC1QilXyPaKzOt5kXmLRo5zgPfKnplc-zsmFQqVQj2FvhJ7hoaEqQefZGPOY00QUlQ738Y4AoupjLs/s574/print+do+chato.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="574" data-original-width="531" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWes7oBh5JoPbMRuF4QCfGP42HnSaE3l17br4kt7QSAV7uhPIcoII26dfeXwqofoC1QilXyPaKzOt5kXmLRo5zgPfKnplc-zsmFQqVQj2FvhJ7hoaEqQefZGPOY00QUlQ738Y4AoupjLs/w370-h400/print+do+chato.jpeg" width="370" /></a></div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">Em meio à repercussão e à possibilidade de cancelamento, o canal respondeu rapidamente e realizou um programa inédito no dia seguinte; um Em Pauta inteiramente composto por apresentadores, jornalistas e comentaristas negros - discutindo o tema racismo e compartilhando relatos. Um sucesso para a crítica. “Emocionante”, <a href="https://www.otempo.com.br/brasil/globo-news-em-pauta-tem-edicao-historica-e-emocionante-so-com-jornalistas-negros-1.2345574">diz matéria sobre o episódio no jornal O Tempo.</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não entraremos na discussão ética ou moral do acontecido, portanto ao se analisar o fenômeno comunicacional é possível perceber como a internet e as novas configurações viabilizaram esse ocorrido. As redes sociais e os internautas não teriam esse poder sozinhos se não fosse uma cultura inteira sendo construída em torno da participação da audiência nos conteúdos consumidos. O público anseia por ser ouvido cada vez mais. E nesse caso, também vemos a importância da troca de informação e das reflexões que os novos fluxos comunicacionais trazem à sociedade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Ficamos por aqui.</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Além de programas de entretenimento e seriados ficcionais, a cultura participativa se faz presente em diversos outros tipos de mídia e, agora, também se faz no jornalismo. É curioso vermos a participação do público como estratégias de marketing em telejornais brasileiros, mas a tendência é isso se tornar cada vez mais comum - principalmente no estilo GloboNews de jornalismo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://c.tenor.com/c37fFJKzsz8AAAAS/christiane-pelajo-globonews.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="90" data-original-width="90" height="400" src="https://c.tenor.com/c37fFJKzsz8AAAAS/christiane-pelajo-globonews.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Notas</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">[1] Existem cases de sucesso que instigam a participação do público e fazem com que um programa de televisão se propague mais rápido. Exemplos: The Masked Singer, Big Brother Brasil e a própria emissora GloboNews.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">[2] CNN é um canal estadunidense de jornalismo, o primeiro de cobertura jornalística 24 horas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Referências</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Após polêmica, GloboNews escala profissionais negros para debater racismo no Em Pauta. F5, Online, 2020. Disponível em: <https://f5.folha.uol.com.br/televisao/2020/06/apos-polemica-globonews-escala-profissionais-negros-para-debater-racismo-no-em-pauta.shtml>. Acesso em: 21 ago. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">DOS SANTOS, M C. Existe jornalismo transmídia? Considerações sobre o reúso de conceitos. Revista GEMInIS, v. 8, n. 3, p.136-149, 2017. Disponível em: <https://www.revistageminis.ufscar.br/index.php/geminis/article/view/308>. Acesso em: 21 ago. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Globo News Em Pauta tem edição histórica e emocionante só com jornalistas negros. <b>O Tempo</b>, Online, 20200. Disponível em: <https://www.otempo.com.br/brasil/globo-news-em-pauta-tem-edicao-historica-e-emocionante-so-com-jornalistas-negros-1.2345574>. Acesso em: 21 ago. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JENKINS, H. <b>Cultura da convergência</b>. São Paulo: Aleph, 2008.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JENKINS, H. et al. <b>Cultura da Conexão</b> - Criando Valor e Significado por Meio da Mídia Propagável. São Paulo: Aleph, 2014.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">MORGADO, F. Brasil: 70 anos de TV, 70 anos de telejornalismo. <b>Comuniqui-se</b>, Online, 2020. Disponível em: <https://portal.comunique-se.com.br/brasil-70-anos-de-tv-e-telejornalismo/>. Acesso em: 21 ago. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBQkBN11lu_ISi7318vk7E-57bMAxGwjyQXsLl4soezqgRqxURUyPApfi72SV2N19S8HNjfAi3qjAPMR-gkYDKhIyllOtNQNNWDj-23gqkpC4Gb9XdowH7SwE3pYnGHrVXy5bCvkjigs8/s400/Card+william.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="160" data-original-width="400" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBQkBN11lu_ISi7318vk7E-57bMAxGwjyQXsLl4soezqgRqxURUyPApfi72SV2N19S8HNjfAi3qjAPMR-gkYDKhIyllOtNQNNWDj-23gqkpC4Gb9XdowH7SwE3pYnGHrVXy5bCvkjigs8/w400-h160/Card+william.jpeg" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><br /></div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-67500521016385411242021-08-13T13:20:00.001-07:002021-08-13T13:34:01.911-07:00Já notou que os videoclipes estão cada vez mais cinematográficos?<div style="text-align: justify;"><a href="https://media.giphy.com/media/j3neYNZzCEQCkFNSsN/giphy.gif"></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/j3neYNZzCEQCkFNSsN/giphy.gif"></a><a href="https://media.giphy.com/media/j3neYNZzCEQCkFNSsN/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="339" data-original-width="480" height="283" src="https://media.giphy.com/media/j3neYNZzCEQCkFNSsN/giphy.gif" width="400" /></a></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Atualmente, podemos notar que diversos artistas têm investido cada vez mais em produtos audiovisuais. Seja em videoclipes extremamente bem produzidos, ou em álbuns visuais, como bem fez Beyoncé em <i>Lemonade</i>. É notável que esta iniciativa parte também da gravadora destes artistas, visto que, seguindo uma lógica mercadológica, quanto melhor o produto (mais comercial também) e mais trabalhado ele é, maior será a sua veiculação nos pequenos e grandes veículos de comunicação. É interessante ressaltar que estes pontos não são exclusividade dos americanos, é possível ver cada vez mais brasileiros realizando obras incríveis, mesmo com todas as limitações que um artista tem no país.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A pandemia tem um peso que deve ser considerado nesta situação, pois diversos profissionais do cinema precisaram migrar para outras áreas de trabalho por conta de tudo que veio acontecendo em decorrência do vírus. Roteiristas, produtores, maquiadores, diretores criativos, bem como diversos profissionais, se viram de mãos atadas quando o isolamento social foi instituído ao redor do mundo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Mas, será que o videoclipe sempre teve um viés cinematográfico ou somos nós que só estamos percebendo isso agora?</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É inegável que o <i>featuring</i> entre diretores de cinema e cantores sempre existiu. Muitos buscaram romper determinadas barreiras ao convidarem famosos diretores de cinema para a direção de seu videoclipe. Em 1990, Madonna, por exemplo, convidou ninguém mais, ninguém menos, que David Fincher para dirigir um de seus clipes mais emblemáticos, “Vogue”. Nele, Fincher e Madonna contribuíram para que o vogue (tipo de dança) saísse dos subúrbios nova-iorquinos e atingisse o <i>mainstream</i>. Este foi um passo importantíssimo para toda a comunidade LGBTQIA+ que, na época, se encontrava marginalizada e com dificuldades de estourar a bolha para adentrar a grande massa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Além de “Vogue”, Fincher dirigiu "Oh Father", "Bad Girl" e "Express Yourself", este último inspirado em um filme clássico do expressionismo alemão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/GuJQSAiODqI" width="436" youtube-src-id="GuJQSAiODqI"></iframe></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Além da rainha do pop, o rei do pop, Michael Jackson, também teve alguns trabalhos com cineastas. Em 1987, Michael lança seu primeiro curta-metragem pelas mãos de Martin Scorsese. Com aproximadamente 18 minutos de duração, o curta custou cerca de 2 milhões de dólares e foi um projeto pensado para iniciar a divulgação do disco “Bad” do cantor.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na época, Scorsese já era renomado no cinema, pois já havia sido indicado ao Oscar e Globo de Ouro. E, além disso, o trabalho realizado em “Bad” foi inspirado em “Amor, Sublime Amor”, musical vencedor de diversos prêmios Oscar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><img height="230" src="https://lh5.googleusercontent.com/N6W6eAeB3F5PeYUNAX1euqYGsx8GDNOEz2ebtBNbn5SuQrSjJNBXUCGhrOJG134xoIIEm-uSzY570z9XdiGhEEyBeDgzhfuUHg7rhgXmoyT617iS6C9DL65iCCvv0Ss_2dCsEcoXVXVcuOK8cA=w400-h230" style="margin-left: auto; margin-right: auto;" width="400" /></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="text-align: justify;">Scorsese e Michael durante as gravações de “Bad”.</span></td></tr></tbody></table><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://youtu.be/Sd4SJVsTulc"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/Sd4SJVsTulc" width="461" youtube-src-id="Sd4SJVsTulc"></iframe></a></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na década de 80, com o surgimento da MTV, é fato que muitos artistas acabaram precisando elevar alguns níveis em seu trabalho. Pois, ela foi um dos principais veículos de divulgação de novos artistas e novos videoclipes, principalmente. Portanto, a lógica é um pouco clara, se o seu videoclipe não possuísse uma música e imagens interessantes e coesas, o seu projeto não será bem recebido pelo público, que, na época, estava sedento por novidades do mundo pop.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>O canal da MTV é o primeiro a apostar, em 1981, no clipe contínuo, 24 horas por dia. Em 1983, Thriller de Michael Jackson dirigido pelo cineasta John Landis, traz ao gênero uma causa artística e cinéfila, ao se inspirar ostensivamente em A noite dos vivos mortos (1968) e outros filmes de terror de George Romero. A seguir, Beat it, outro clipe de Michael Jackson, se inspira diretamente em West Side Story – Amor sublime amor (Robert Wise, 1961) (LIPOVETSKY, 2009, p. 276)</blockquote></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Qual o papel dos serviços de streaming nessa discussão?</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com toda a evolução tecnológica nos últimos anos, o <i>streaming</i> se tornou um grande aliado de diversos artistas. Spotify, Deezer, Apple Music, entre diversos outros, são alguns exemplos de serviços de streaming de música que servem para ouvir determinado conteúdo. Hoje em dia, alguns artistas possuem bilhões de reproduções em apenas um único trabalho, como é o caso de <a href="https://observatoriodemusica.uol.com.br/noticia/olivia-rodrigo-com-3-bilhoes-de-plays-no-spotify-sour-bate-novo-recorde">Olivia Rodrigo recentemente com seu álbum de estreia “Sour”</a>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/ZmDBbnmKpqQ" width="454" youtube-src-id="ZmDBbnmKpqQ"></iframe></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com o Tik Tok, a tendência é que estes números aumentem cada vez mais, pois a plataforma preza por conteúdos rápidos e dinâmicos. Isto vem fazendo com que diversos artistas repensem a forma de divulgação de seu trabalho, como foi o caso de Luísa Sonza recentemente. A cantora lançou o seu último trabalho intitulado “Doce 22”, porém, algumas faixas estão bloqueadas nos streamings: Café da Manhã, Anaconda e Fugitivos. Segundo Luísa e sua equipe, as faixas serão lançadas em breve e este posicionamento se deu devido ao fato das músicas estarem mais descartáveis atualmente. Isto acontece por conta de aplicativos como o próprio Tik Tok, já que o fluxo de informação é tão grande e recorrente, que faz com que as músicas acabem se tornando menos consumidas de fato, pois são apenas “ouvidas”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Outro ponto a ser levado em consideração, é que diversos diretores possuem a possibilidade de experimentar com artistas distintos. Como foi o caso do brasileiro <a href="http://mediabox.observatoriodoaudiovisual.com.br/2019/10/a-narrativa-intertextual-nos.html">Felipe Sassi ao criar uma narrativa intertextual entre videoclipes de Glória Groove, Lia Clark, Iza e Wanessa</a>. A teia narrativa de todos os trabalhos se conectam e o diretor soube criar cenas dignas de filmes.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/j3neYNZzCEQCkFNSsN/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="339" data-original-width="480" height="283" src="https://media.giphy.com/media/j3neYNZzCEQCkFNSsN/giphy.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Todos estes fatores somados, geram videoclipes com produções cinematográficas e alto custo para sua realização. Pois, se os streamings estão contribuindo para o crescimento de diversos artistas e, consequentemente, movimentando dinheiro, fica o questionamento: Por que não investir mais nestes produtos e torná-los cada vez “dignos de um Oscar”?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Quais artistas estão surfando nesta nova onda e produzindo clipes impecáveis?</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O cantor Lil Nas X, que ficou mundialmente conhecido por seu hit “Old Town Road”, retornou recentemente com seu novo trabalho intitulado “MONTERO (Call Me By Your Name)” e trouxe uma série de efeitos visuais em seu videoclipe. Abertamente homossexual, X decidiu romper todas as amarras (se é que elas existiam) e mostrar para o mundo para que veio. Atingindo o primeiro lugar em diversas paradas, incluindo a americana, <i>Billboard Hot 100</i>, o cantor iniciou sua nova era com o pé direito e pronto para se estabelecer como um grande nome na música.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/6swmTBVI83k" width="470" youtube-src-id="6swmTBVI83k"></iframe></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Além dele, a cantora Doja Cat veio se tornando uma das queridinhas do momento. Com seu novo álbum “Planet Her”, ela trouxe uma história amarrada do início ao fim e isso fez com que ela continuasse se firmando na indústria como uma artista para manter os olhos. Com seus números crescendo cada vez mais nos streamings e, consequentemente, suas músicas se tornando mais populares, Doja já foi reconhecida por diversos outros artistas e é definitivamente uma das artistas que ainda ouviremos muito falar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/dI3xkL7qUAc" width="501" youtube-src-id="dI3xkL7qUAc"></iframe></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com estes pontos levantados, fica mais fácil compreender o teor hollywoodiano nas produções de videoclipes atualmente. Seja para surpreender ou para vender, está funcionando e a tendência é que estes produtos se tornem cada vez mais elaborados e disruptivos. Portanto, se você se interessa por música, é melhor ficar antenado nas referências de seu artista preferido e começar a pesquisar para não perder nenhuma informação daquele produto. Assim, o videoclipe será interpretado como uma obra audiovisual de fato e, com as demais músicas com clipe do disco, você vai compreender toda a história e mensagem que o artista quis transmitir com esse trabalho.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Referências</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">HOLZBACH, Ariane. <b>A invenção do videoclipe: a história por trás da consolidação de um gênero audiovisual</b>. APPRIS, 2016.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">METROPOLES. S<b>aiba por que Doce 22, disco de Luísa Sonza, veio com faixas faltando.</b> METROPOLES, 2021, Online. Disponível em: <a href="https://www.metropoles.com/entretenimento/musica/saiba-por-que-doce-22-disco-de-luisa-sonza-veio-com-faixas-faltando">https://www.metropoles.com/entretenimento/musica/saiba-por-que-doce-22-disco-de-luisa-sonza-veio-com-faixas-faltando</a> . Acesso em 10 ago. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">OLIVA, Rodrigo. <b>Onde o Videoclipe Encontra o Cinematográfico: Um Olhar Pelo Viés da História</b>. INTERCOM, 2013. Disponível em: <a href="https://portalintercom.org.br/anais/sudeste2013/resumos/R38-0169-1.pdf">https://portalintercom.org.br/anais/sudeste2013/resumos/R38-0169-1.pdf</a> . Acesso em: 07 ago. 2021.POPLINE. Por que os clipes americanos estão cada vez mais cinematográficos?. POPLINE, 2021, Online. Disponível em: <a href="https://portalpopline.com.br/por-que-os-clipes-americanos-estao-cada-vez-mais-cinematograficos/">https://portalpopline.com.br/por-que-os-clipes-americanos-estao-cada-vez-mais-cinematograficos/</a> . Acesso em: 08 ago. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAbJYSCcvOG3VeAI-KQliCu5yPTPB4RfN59wJzhZLy0rVcapkdfEY1aS5GFeCbwiRS85QTIc0MLSeFRpVAusMrNLUzNuyjgllAAyh9giOtPb86Aj5AJjBpG71MAOlED1C_erwYVyWRokg/s500/paulo.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="500" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAbJYSCcvOG3VeAI-KQliCu5yPTPB4RfN59wJzhZLy0rVcapkdfEY1aS5GFeCbwiRS85QTIc0MLSeFRpVAusMrNLUzNuyjgllAAyh9giOtPb86Aj5AJjBpG71MAOlED1C_erwYVyWRokg/w400-h160/paulo.png" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><br /></div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-52612693506285509082021-08-08T06:58:00.001-07:002021-08-08T06:59:58.954-07:00O sucesso da transmídia no BBB<div style="text-align: center;"><a href="https://c.tenor.com/j2pvgG8e8UUAAAAM/gil-gil-do-vigor.gif" imageanchor="1"><img border="0" data-original-height="220" data-original-width="220" height="400" src="https://c.tenor.com/j2pvgG8e8UUAAAAM/gil-gil-do-vigor.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Desde a sua primeira edição o Big Brother Brasil é um reality transmídia. As alterações no modo das votações - que já foram por telefone, SMS e agora unicamente pela internet - é uma das principais características dessa estratégia presente no reality, no entanto, está longe de ser a única. A cada edição a presença do BBB em diferentes plataformas foi aumentando, ampliando os canais de comunicação e transmissão do programa, se adaptando a diferentes formatos e abrangendo novas temáticas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Jenkins (2020) em uma entrevista para a Casa Firjan, definiu transmídia como “[...] um conjunto de práticas que distribui os elementos-chave de uma narrativa em vários sistemas ou plataformas para criar uma experiência de mídia mais rica e intensificar a experiência do público”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Essa é uma prática que tem se tornado cada vez mais necessária, já que o público consome novas mídias e busca por conteúdos complexos e imersivos . Além disso, a estratégia multiplataforma (em que um mesmo conteúdo é replicado em diferentes mídias) não tem mais uma grande eficiência, sendo necessário que esse conteúdo adapte sua linguagem e formato. Na prática, isso quer dizer que estratégias como postar um mesmo vídeo no Youtube, no Instagram e no Twitter não possui o mesmo impacto do que se esse vídeo postado no Youtube tivesse um <i>tweet</i> sobre o assunto com tom cômico acompanhado de um gif no Twitter e uma postagem em carrossel no Instagram com os bastidores do mesmo. Nessa segunda situação, além de aumentar a experiência do público que terá acesso a uma maior variedade de conteúdo, ele também se adapta à rede, já que muitas vezes o interagente do Twitter não quer (ou não pode) assistir um vídeo naquele momento, mas o gif e o<i> tweet </i>despertam sua curiosidade para que possa consumir mais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>A transmídia no BBB</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Além da exibição diária do programa na Globo, o Big Brother está em várias outras mídias. Estão presentes nas redes sociais, no streaming Globoplay, no site GShow, no canal fechado Multishow e no podcast “BBB Tá On” disponível no Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts, Castbox e Amazon Music.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">São conteúdos variados e diversificados que complementam a “narrativa” do programa. No site do <a href="https://www.blogger.com/u/1/#">GShow</a> reúne as notícias, matérias, votações, informações, quizzes e enquetes do programa. E lá o conteúdo continua mesmo após o fim da edição, com notícias sobre a vida dos <i>brothers</i> após a participação no programa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Já no Globoplay, além do pay-per-view em que o público pode acompanhar por 24 horas as câmeras do confinamento, é lá também que programas como o “Bate-Papo com Eliminado” (entrevistas transmitidas ao vivo com o participante logo após sua eliminação) e “Big Data - Retrospectiva BBB” (spin-off com os melhores momentos das edições) são transmitidos. O Multishow transmite o “Flash BBB” com transmissões ao vivo do confinamento e programas como “A Eliminação” que, assim como o “Bate-Papo com Eliminado” tem o objetivo de proporcionar ao público o acompanhamento da reinserção dos participantes na “vida real”.Nas redes sociais o Big Brother também dá um show de transmídia. Os conteúdos são feitos de forma adequada para cada rede, adaptando sempre a linguagem para uma melhor comunicação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O perfil do programa no Twitter do programa é cheio de memes, gifs e emojis, com uma linguagem informal e jovem. Um dos exemplos dessa adaptação é a <a href="https://www.blogger.com/u/1/#">fancam</a>, conteúdo muito comum nessa rede, a equipe do BBB criou uma para cada finalista e publicou. Na página do Facebook as postagens possuem legendas e vídeos maiores, geralmente essas legendas possuem perguntas sobre o assunto, para abrir uma conversa com o público e estimular que comentem. Já no Instagram o conteúdo é mais informativo, além das divulgações das fotos e vídeos produzidas pelos brothers no confinamento, chamado #FeedBBB, a página também tem a função de divulgar momentos importantes: ganhadores de provas, eliminados, emparedados, etc. Os vídeos são de memes e trechos de programas. A linguagem também é informal e curta, gerando uma aproximação com o seguidor.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E esses são apenas alguns exemplos da participação do BBB nas diferentes mídias, o conteúdo possui uma expansão imensa que está sempre completando e se adaptando. Com um público enorme e diversificado, a transmissão também precisa ser grande e diversa, para que consiga se comunicar com todos e de forma adequada.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Publicidade</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os patrocinadores do programa também investiram em estratégias transmídias. O maior destaque foi o uso de QR Codes, muitas vezes durante ou após a realização de uma prova, festa ou dinâmica, Tiago Leifert anuciava que seria disponibilizado um QR Code na tela com promoções ou descontos da marca que estava patrocinando aquele momento. Dessa forma, o espectador podia apontar o celular para tela e ser redirecionado para o site da loja.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em uma das festas do BBB 21, patrocinada pelo MC Donalds com a temática festa do pijama, combos temáticos e as roupas que estavam sendo usadas pelos <i>brothers</i> foram disponibilizadas para compra nos aplicativos de delivery. Além disso, tivemos uma grande interação das marcas pelas redes sociais, principalmente no Twitter e no Instagram, inclusive algumas que não estavam patrocinando o programa. O Burger King, concorrente direto do MC Donalds (marca parceira do BBB), aproveitou o descontentamento do público com a prova da Coca-Cola que coroou Karol Conká - a participante menos querida pela audiência - como líder para se autopromover com um <a href="https://www.blogger.com/u/1/#">tweet</a>, dando destaque ao Guaraná e a Pepsi, concorrentes da Coca-Cola. A Avon também se aproveitou das redes sociais para expandir a publicidade, se aproximando do público que se interessava pelos produtos utilizados pelos participantes e divulgando trechos do programa que demonstravam os diferenciais dos produtos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><img height="344" src="https://lh5.googleusercontent.com/919RvrYzVmOTBimpPHpBzav5sSCTv44DMfjiqf0fx5aIQ0_7jSiMpJvXeN-hpS5E36azsIZPlOry2uR5VtNcDQYEHd1ad1RWE3ncLzPes2T8lEW7PaQejZmucA4DyNieHofeP0Av=w400-h344" width="400" /></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><img height="290" src="https://lh4.googleusercontent.com/QnBFmdLskB8BV968DgA-V947cdbB3JoYPaLzLz2tQHlTO9gRXduuwiXs8F8Rua62hixd4i5eSHrBefD9pTym_fL4vocZgX3QvcTD0p_RD-CKK3DSQvY8upgvUifZ3C-vh8PU1F3H=w400-h290" width="400" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Participantes</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Desde 2020 estamos vendo que os participantes também estão investindo em estratégias transmídias para se promoverem. No BBB20 as participantes Bianca Andrade (Boca Rosa) e Manu Gavassi foram grandes exemplos. A Boca Rosa é uma empresária e influenciadora digital, já conhecida pela sua performance de sucesso no marketing. No programa, Bianca aproveitou para divulgar os produtos da sua linha de maquiagem e exibir o lado “humano” da empreendedora, mostrando quem está por trás da marca. Dentre as estratégias, uma de maior destaque foi a de utilização de<i> looks</i> “sincronizados”: a influencer realizou um ensaio fotográfico antes do confinamento com as roupas que usaria no programa e gravou diversos tutoriais de maquiagem, e quando usava esses <i>looks </i>e <i>makes</i> durante o programa (especificamente nos dias de ao vivo que obtinham maior audiência), a equipe que estava gerindo suas redes sociais publicava a foto marcando as grifes e durante a semana disponibilizam o tutorial para os seguidores poderem replicar a maquiagem usada por ela.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Além disso, a empresária estava sempre usando os produtos da sua marca no programa e maquiando as outras <i>sisters</i>, destacando os pontos positivos. Já na primeira semana a resistência da maquiagem chamou a atenção do público, que notou que mesmo chorando após a briga com a outra influencer Rafa Kalimann, a maquiagem de Bianca continuava intacta. Apesar da estratégia pessoal não ter sido de sucesso - Boca Rosa foi a 5ª eliminada do programa - nas vendas o resultado foi positivo: as vendas foram 3 vezes maiores após a entrada da influencer no reality.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://www.blogger.com/u/1/#"></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.blogger.com/u/1/#"></a><a href="https://catracalivre.com.br/wp-content/uploads/2020/07/boca-rosa.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="415" data-original-width="800" height="208" src="https://catracalivre.com.br/wp-content/uploads/2020/07/boca-rosa.jpg" width="400" /></a></div></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://www.blogger.com/u/1/#"><br /></a></div><div style="text-align: justify;">Já no caso de Manu Gavassi, a cantora e atriz investiu no storytelling e gravou uma série de vídeos antes do confinamento que seriam postados de acordo com os acontecimentos do reality. Em 2018, Manu havia lançado a série “<a href="https://www.blogger.com/u/1/#">Garota Errada</a>” no Youtube, cheia de referências, humor e temáticas voltadas para sua vida e personalidade, o objetivo era fazer um <i>rebranding</i> pessoal e apresentar uma “nova” Manu Gavassi. Em 2020 a web série retorna com o vídeo “<a href="https://www.blogger.com/u/1/#">WHO THE FUCK IS MANU GAVASSI?</a>” lançado logo após a chamada que anuncia a participação da cantora no BBB. A série continuou com o mesmo formato, no entanto, agora ela dialogava diretamente com a presença de Manu no reality. Além dos vídeos que eram multiplataformas (postados no Youtube e no IGTV), o Instagram da artista era alimentado de acordo com a sua trajetória no Big Brother: postagens temáticas para quando vencesse uma prova do anjo, estivesse no paredão, entre outras. O conteúdo teve tanta repercussão que na reta final do programa, em que Manu não havia ganhado nenhuma prova do líder (o que também foi previsto por ela, que gravou diversos vídeos lamentando a derrota), o público se preocupou em não ver o vídeo preparado por ela. Porém, a atriz e cantora ganhou a última prova e teve o <a href="https://www.blogger.com/u/1/#">conteúdo</a> publicado.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para Manu, o marketing funcionou tanto para sua trajetória no programa - ganhando o 3º lugar da competição - quanto para sua carreira, já que provou seu poder de influência e criatividade, conquistando novos fãs e parceiros. Trouxe também uma audiência para a música “áudio de desculpas” que foi lançada durante o programa, assim como o <a href="https://www.blogger.com/u/1/#">clipe</a>, e atingiu mais de 1 milhão de visualizações em 24 horas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://www.blogger.com/u/1/#"><img border="0" height="384" src="https://c.tenor.com/aW5gvBcjvuQAAAAd/manu-gavassi-gavassi.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No BBB21, os participantes (principalmente do camarote) já sabiam que precisavam investir nas suas redes sociais e alguns até deixaram conteúdos gravados, seguindo o exemplo de Manu, porém, o destaque da utilização das redes sociais veio de uma pipoca: Juliette. Apesar do pouco preparo (a advogada havia feito apenas um ensaio de fotos e deixado a senha de suas redes sociais com a amiga) foram conquistados mais de 20 milhões de seguidores e uma taxa de engajamento superior a de artistas como Beyonce. Sem saber, Juliette se tornou o centro das atenções para as marcas que patrocinaram o BBB, produtos usados por ela no programa batiam recorde de vendas momentos após a utilização. O favoritismo da nordestina permaneceu constante durante a maior parte da sua jornada no programa, apesar de ser uma das participantes menos queridas na casa, e ela conquistou a torcida de celebridades e até mesmo marcas, que não escondiam a torcida pela maquiadora.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://www.blogger.com/u/1/#"></a><div style="text-align: center;"><a href="https://www.blogger.com/u/1/#"></a><a href="https://i1.wp.com/gkpb.com.br/wp-content/uploads/2021/04/gkpb-avon-apaga-post.png?resize=557%2C549&ssl=1"><img border="0" data-original-height="549" data-original-width="557" height="394" src="https://i1.wp.com/gkpb.com.br/wp-content/uploads/2021/04/gkpb-avon-apaga-post.png?resize=557%2C549&ssl=1" width="400" /></a></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O mais impressionante é que Juliette não planejou e nem tinha noção do sucesso que estava fazendo nas redes sociais, ele foi conquistado através de sua equipe, contratada pela amiga Deborah Vidjinsky para cuidar das suas redes sociais. Além de uma identidade visual fortíssima e cheia de personalidade que se tornou uma ótima ferramenta para o branding pessoal de Juliette, a equipe conseguiu relacionar os conteúdos do reality com os do “mundo real” e criar um discurso informal que se relacionava com a carisma e o jeito da maquiadora e gerava uma aproximação do público.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/UdyJH7Z9KsYzDntPyK/giphy.gif"><img border="0" data-original-height="270" data-original-width="480" height="225" src="https://media.giphy.com/media/UdyJH7Z9KsYzDntPyK/giphy.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Assim como a Globo e a produção do BBB, os participantes e os patrocinadores também perceberam a importância da transmídia. Em 2021, com a literacia mediática, o público está cada vez mais exigente com os conteúdos que consome, além disso, a praticidade e adaptabilidade dos diferentes meios gera mais oportunidades e espaço de escolha, além de conquistar diferentes públicos e gerar maior engajamento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Referências</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A BOCA BOCA. <b>Estratégias de marketing no #BBB20: O planejamento de Manu Gavassi e Bianca Andrade (Boca Rosa) em suas mídias sociais</b>. A Boca Boca, 2020, Online. Disponível em: <a href="https://www.blogger.com/u/1/#">https://abocaboca.com/estrategias-de-marketing-no-bbb20-o-planejamento-de-manu-gavassi-e-bianca-andrade-boca-rosa-em-suas-midias-sociais/</a>. Acesso em: 26 jul. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">ANTONIO, Vinícius Guida. <b>Big Brother Brasil 20: interrelações entre reality show, Twitter e jornalismo de cultura pop</b>. Monografia de Conclusão de Curso, Faculdade de Comunicação, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2021</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">CANNITO, N. <b>A televisão na era digital. Interatividade, convergência e novos modelos de negócio</b>. São Paulo: Summus Editorial, 2010.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">CASA FIRJAN. <b>Especialista em narrativa transmídia, Henry Jenkins fala sobre o futuro de Hollywood.</b> Casa Firjan, 2020, Online. Disponível em: <a href="https://www.blogger.com/u/1/#">https://casafirjan.com.br/noticias/especialista-em-narrativa-transmidia-henry-jenkins-fala-sobre-o-futuro-de-hollywood</a>. Acesso em: 26 jul. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">FASHIONISTANDO. <b>BBB20: Estratégias de marketing de Bianca Andrade.</b> Fashionistando, 2020, Online. Disponível em: <a href="https://www.blogger.com/u/1/#">https://fashionistando.uai.com.br/bbb20-estrategias-de-marketing-de-bianca-andrade/</a>. Acesso em: 26 jul. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">USE MOBILE. <b>BBB, marketing e aplicativos: o que têm a ver?.</b> Use Mobile, 2021, Online. Disponível em: <a href="https://www.blogger.com/u/1/#">https://usemobile.com.br/marketing-no-bbb/</a>. Acesso em: 26 jul. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">ROCHA, Débora Cristine.<b> Reality TV e Reality Show: ficção e realidade na televisão.</b> E- Compós, Brasília, v. 12, n. 3, p. 6-10, 2009. Disponível em: <<a href="https://www.blogger.com/u/1/#">https://www.e-compos.org.br/e-compos/article/view/387</a>>. Acesso em: 6 ago. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">SCOLARI, Carlos Alberto. <b>Narrativas Transmídias: Consumidores implícitos, mundos narrativos e branding na produção da mídia contemporânea.</b> Dossiê Comunicação, Tecnologia e Sociedade. v. 1, n. 3, p. 5-19, 2015. Disponível em: <<a href="https://www.blogger.com/u/1/#">http://revistaseletronicas.fiamfaam.br/index.php/recicofi/article/view/291</a>>. Acesso em: 6 ago. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6KI6WXC6hbQoIM5fA81Fxadrx6W70xfhdctt07vbEyfvLozrxG2BdpU9iRdtmCnaUH2URSd0nzg9l3wtW8hwy48bZw47Qb6O0-c7NbO0chF65CKNYgTHGs8NsVYeS9yvlsUGaTB_EIjI/s500/perfil_mediabox.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="500" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6KI6WXC6hbQoIM5fA81Fxadrx6W70xfhdctt07vbEyfvLozrxG2BdpU9iRdtmCnaUH2URSd0nzg9l3wtW8hwy48bZw47Qb6O0-c7NbO0chF65CKNYgTHGs8NsVYeS9yvlsUGaTB_EIjI/w400-h160/perfil_mediabox.png" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-86974987202728740962021-08-01T05:04:00.005-07:002021-08-06T12:27:50.068-07:00 Novos formatos e linguagens na ampliação do universo de Good Omens<p><span face="Calibri, sans-serif" style="font-size: 11pt; text-align: justify; white-space: pre-wrap;"></span></p><div style="text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/5QVUij8xjA7KYzXZ1e/giphy.gif"><img border="0" data-original-height="270" data-original-width="480" height="225" src="https://media.giphy.com/media/5QVUij8xjA7KYzXZ1e/giphy.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O ambiente da convergência alterou os modos de produção e distribuição das práticas da cultura de fãs. Como afirmam Jamison (2017) e Jenkins (2012), os fãs sempre estiveram na vanguarda na utilização das redes sociais e desenvolvimento de novos formatos midiáticos. Desta forma, o que observamos, é que fenômenos que antes circulavam apenas em nichos hoje são propagados em diferentes para públicos e em plataformas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O perfil<i> <a href="https://archiveofourown.org/users/Literarion/profile">Literarion</a></i> é responsável por mais de 113 trabalhos de <i>podfics</i>, na qual 13 são estruturados em oneshot . Os conteúdos são disponibilizados no site AO3 e também podem ser acessados pela página do <i>Literarion</i> no <i>Twitter</i> e no <i>Tumblr</i>. A partir da adoção do <a href="https://anchor.fm/literarion">Anchor</a> os episódios são distribuídos para outras plataformas como, por exemplo, <a href="https://open.spotify.com/show/2Mlx5QifPHYkkaWgoUMucj">Spotify</a>, <a href="https://podcasts.apple.com/gb/podcast/podfic/id1510717981">Apple Podcasts</a>, <a href="https://overcast.fm/itunes1510717981/podfic">Overcast</a> e <a href="https://podcasts.google.com/feed/aHR0cHM6Ly9hbmNob3IuZm0vcy9jY2ZhNjNjL3BvZGNhc3QvcnNz">Google Podcasts</a>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As <i>podfics</i> se concentram, de modo geral, em gravações de fanfics do livro de Neil Gailman e Terry Pratchett e da série original homônima da Amazon Prime, Good Omens (2019). A trama é protagonizada pelo anjo Aziraphale (Sheen) e pelo demônio Crowley (Tennant), que acostumados com a vida na Terra procuram impedir a vinda do anticristo e com ele a batalha final entre o Céu e o Inferno.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://gph.is/g/aX85pRa"></a><div style="text-align: center;"><a href="https://gph.is/g/aX85pRa"></a><a href="https://media.giphy.com/media/oOeev3e0g0x617VJDk/giphy.gif"><img border="0" data-original-height="270" data-original-width="480" height="225" src="https://media.giphy.com/media/oOeev3e0g0x617VJDk/giphy.gif" width="400" /></a></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na entrevista abaixo, procuramos refletir sobre os processos críticos e criativos que envolvem o<i> <a href="https://archiveofourown.org/users/Literarion/profile">Literarion</a>.</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Quando uma história é adaptada é áudio, quais são as principais preocupações nas estruturas narrativas?</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não tenho certeza no que você quer dizer com “recursos narrativos”. Não há necessariamente muitas “adaptações” por si. Muitos <i>podfic’ers</i> vão apenas pegar uma história como é e simplesmente lê-la em voz alta. Existem produções mais elaboradas, com vozes diferentes para cada personagem ou até mesmo interpretados por pessoas diferentes, adições de efeitos sonoros e/ou músicas – mas basicamente, se trata apenas da leitura de uma história.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>No processo de gravação, existe uma elaboração e adaptação da estrutura do texto, com scripts e indicações de sons, ou fazem seus trabalhos no material bruto através da leitura interpretativa?</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como afirmei acima, algumas pessoas fazem [elaborações e adaptações no texto], outras, não. E tendo a criar scripts codificados (em cores ou formatação) quando trabalho em histórias longas, na qual personagens entram e saem a todo momento na história. Isso torna mais fácil para mim lê-los com a mesma voz. Scripts codificados são necessários quando se grava histórias com outras pessoas, então todo mundo saberá o que precisam ler. Alguns <i>podfic’ers</i> farão algumas adaptações dos trabalhos, especialmente quando a história inclui troca de mensagens ou cartas entre personagens, para tornar mais fácil de entender no formato de áudio. Efeitos sonoros são usados ocasionalmente, mas não como uma regra geral, enquanto músicas de introdução ou encerramento</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/9PrED3M2W5QKF13Zia/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="270" data-original-width="480" height="225" src="https://media.giphy.com/media/9PrED3M2W5QKF13Zia/giphy.gif" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><b>Apesar do nome, que se aproxima do <i>podcast,</i> como você percebe a diferença entre os formatos? E em relação ao <i>audiobook</i>?</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um <i>podcast</i> é muito mais informativo, acontecem em episódios que, de alguma forma, aborda uma mesma temática. Já uma <i>podfic</i> é uma produção fechada: começa com o início de uma história (ou série de histórias) e termina com o final dela. Nesse sentido, as<i> podfics</i> são muito mais próximas de um <i>audiobook</i> do que de um <i>podcast</i>; embora provavelmente com uma qualidade menos profissional.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A grande diferença para um audiobook é a distribuição e monetização. Podfics estão em uma zona legal ainda mais “cinza” [em questão de direitos autorais e de produção] do que a própria fanfic: como um trabalho que se deriva de um outro trabalho de fã, a monetização de um podfic deveria lidar tanto com os direitos do autor da fanfic quanto com do autor ou produtor do material original do qual a fanfic se derivou. Mesmo fanfics mal podem ser monetizadas, as podfics podem ainda menos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">De fato, muitas fanfics são distribuídas como podcasts e nas mesmas plataformas (como Anchor, Google/Apple Podcasts, etc.) e também compartilham plataformas de serviço de distribuição de músicas como Spotify, SoundClound e outros do tipo. No entanto, muitos <i>podfic’ers</i> simplesmente fazem <i>upload</i> de seus trabalhos no Google Drive ou outras plataformas similares e permite que o público o acesse ou faça download dos arquivos.</div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b>Existe uma preocupação na escolha do formato em áudio visando a acessibilidade?</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Podfic como um formato certamente é feita com a acessibilidade em mente. Conheço vários autores que gravam suas próprias histórias com a finalidade de torna-la acessíveis para um público maior. Seja atendendo às pessoas com deficiências ou pessoas que não podem ler em determinados momentos e a podfic surge como uma opção viável (enquanto dirigem ou trabalham, por exemplo).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Existe algum tipo de curadoria? O que você considera ao gravar uma fanfic? Por exemplo, se é baseado em um gosto pessoal ou pela demanda dos fãs; se é relacionado no que você acha pertinente de ressignificar dentro do entendimento do cânone; se há uma perspectiva de qual fanfic funcionaria no formato, etc.</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na verdade, não. Eu gravo o que <i>eu</i> gosto e meu público é meu público porque compartilhamos o mesmo gosto.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Eu seleciono histórias baseadas em duas qualidades: se funcionam bem no formato de áudio e se são capazes de emocionar o público. Histórias que funcionam bem em áudio são aquelas que possuem diálogo como base (ou até mesmo monólogos) ou que são particularmente relevantes de ouvir. Por exemplo, eu gravei uma série na qual os próprios personagens gravavam <i>audiobooks</i>. Já histórias que despertam emoções são, no meu caso, aquelas que me fazem rir, ou chorar, ou simplesmente ficam em minha cabeça – histórias que eu não consigo superar ou esquecer. Se não for concedida em geral, sempre pedirei a permissão ao autor [para gravar suas histórias em podfics].</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Referências</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JAMISON, A. <b>Fic</b> – Por que a fanfiction está dominando o mundo. São Paulo: Rocco, 2017.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JENKINS, H. Lendo criticamente e lendo criativamente. <b>Matrizes</b>, v.9, n.1, p. 11-24, 2012. Disponível em: < https://bit.ly/2I9TWnn>. Acesso em: 16 jul. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYVCdBNIbhyxmVp_1h_23hdLlsG9gv1z2eKtNUaGWAdjg66TJmJBF-GdAIKp3gSuQXHDP8SIvN1YEvPlhR3_oIDejfbzLqAUpuHZuORka_9s9hETWph06JSjk0MOhiiZXiIf6CrOh68cc/s500/Card+Lucas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="500" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYVCdBNIbhyxmVp_1h_23hdLlsG9gv1z2eKtNUaGWAdjg66TJmJBF-GdAIKp3gSuQXHDP8SIvN1YEvPlhR3_oIDejfbzLqAUpuHZuORka_9s9hETWph06JSjk0MOhiiZXiIf6CrOh68cc/w400-h160/Card+Lucas.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-5833813406408425652021-07-24T10:30:00.001-07:002022-04-08T10:54:07.831-07:00Vida Ainda Mais Moderna de Rocko<div style="text-align: justify;">Os anos 90 voltaram com tudo nos últimos anos. Moda, música, fotografia, e claro, audiovisual. Além das constantes fases de nostalgia por parte de crianças que cresceram na última década do século passado, a tendência noventista conquistou, também, a nova geração. Os reboots e revivals de programas televisivos se tornaram tão populares que pessoas de todas as idades se encantam — e reencantam — com produções que já acabaram há muito tempo. <a href="http://mediabox.observatoriodoaudiovisual.com.br/2020/08/revivals-reboots-e-reunions-o-resgate.html">Aqui</a> é explicado mais detalhadamente o que são essas retomadas audiovisuais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Há uma lista extensa de séries que voltaram ao topo depois de quase 20 anos de suas primeiras exibições. E isso inclui os desenhos animados.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Responsável por marcar toda uma geração com animações icônicas, a Nickelodeon se aproveitou da onda nostálgica para trazer de volta alguns de seus maiores shows: Rugrats: Os Anjinhos, Ei, Arnold!, Invasor Zim e A Vida Moderna de Rocko.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://64.media.tumblr.com/1b7efc2864b4d2ee7d85ec7a74bfbcc8/tumblr_otetg0i7881tglg2co1_640.gifv"></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://64.media.tumblr.com/1b7efc2864b4d2ee7d85ec7a74bfbcc8/tumblr_otetg0i7881tglg2co1_640.gifv"></a><a href="https://64.media.tumblr.com/1b7efc2864b4d2ee7d85ec7a74bfbcc8/tumblr_otetg0i7881tglg2co1_640.gifv" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="640" height="225" src="https://64.media.tumblr.com/1b7efc2864b4d2ee7d85ec7a74bfbcc8/tumblr_otetg0i7881tglg2co1_640.gifv" width="400" /></a></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">É muito fácil distinguir uma série live action de seus reboots. Humanos envelhecem. Então… O que faz a volta dos desenhos animados ser tão popular? E o que podemos aprender com elas?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Criada por Joe Murray, A Vida Moderna de Rocko foi uma das séries de mais sucesso entre crianças e adolescentes no início da década de 1990. Junto com Rugrats, Doug e Ren e Stimpy, o desenho foi responsável por emplacar a Era dos Nicktoons na emissora infantil mais assistida da época. Como já diz o nome, a história gira em torno de Rocko e seus amigos em situações que, para os anos de exibição, eram tão próximas da realidade quanto as sitcoms populares. Apesar de representar animais como personagens, Rocko faz uma sátira de como era a vida estadunidense para a classe média, com piadas e easter eggs mais maduros que o próprio público do desenho.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://ontheaside.com/wp-content/uploads/2017/07/Rocko-Stoked.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="270" data-original-width="480" height="225" src="https://ontheaside.com/wp-content/uploads/2017/07/Rocko-Stoked.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>O reboot</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em 2016 foi anunciado que a Netflix, em parceria com a Nickelodeon, faria um filme de A Vida Moderna de Rocko, retomando o último episódio da série. É importante mencionar que, naquela época, a Nickelodeon proibia seus desenhos de terem um final explícito. Então, quando no último episódio, Rocko, seu cachorro Spunky, Vacão e Felisberto acidentalmente são levados para o espaço sideral, antes que pudéssemos entender o que aconteceria com eles, o desenho acaba.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A notícia do novo filme preocupou alguns fãs. Afinal, a ideia era trazer o grupo de amigos de volta à Terra em tempo real, ou seja, 20 anos após terem deixado o planeta, e assim, deixando de lado uma de suas maiores características: a ambientação dos anos 90. Pode-se dizer que, para a maioria dos antigos e novos fãs do pequeno canguru, a produção foi uma boa surpresa. Murray e a Netflix conseguiram não só homenagear as quatro temporadas do desenho, mas, também, apresentar Rocko a uma nova realidade — com o humor ácido e crítico de sempre.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://64.media.tumblr.com/772492ae395d2d33944d2d10f33cc3e9/tumblr_pwbw2iK5P91x0bvwko3_500.gifv"></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://64.media.tumblr.com/772492ae395d2d33944d2d10f33cc3e9/tumblr_pwbw2iK5P91x0bvwko3_500.gifv"></a><a href="https://64.media.tumblr.com/772492ae395d2d33944d2d10f33cc3e9/tumblr_pwbw2iK5P91x0bvwko3_500.gifv" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="281" data-original-width="500" height="225" src="https://64.media.tumblr.com/772492ae395d2d33944d2d10f33cc3e9/tumblr_pwbw2iK5P91x0bvwko3_500.gifv" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></div><div style="text-align: justify;"><b>A crítica ao capitalismo</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como a maioria dos desenhos animados, grande parte do humor vem de situações inesperadas e até surrealistas. No caso de A Vida Moderna de Rocko, essas situações acontecem enquanto os personagens tentam se encaixar na vida em sociedade, seja através de novos grupos de pessoas, formas comuns de lazer ou, mais frequentemente, o trabalho. A crítica ao capitalismo é tão palpável que se tornou um dos maiores aspectos positivos do desenho.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Golding (2019), em sua tese de PhD, relaciona o fetichismo de mercadoria, no conceito de Marx, com a vida dos personagens de Rocko. Para o autor, a série dos anos 90 é um exemplo da supervalorização do trabalho e da alienação causada por ele.</div><div style="text-align: justify;"><p> </p><blockquote>A Vida Moderna de Rocko era, talvez, ainda mais presciente dos altos e baixos do capitalismo, pois desde o início, em 1993, [o desenho] evitava a normalização das tendências do realismo social em favor do realismo mágico, no qual a alienação do trabalho e a fetichização da mercadoria operam através dos espíritos que povoam o cotidiano. Ao retratar bens de consumo como atores sociopolíticos, A Vida Moderna de Rocko explora a noção da "cidadania do consumidor" que a Nickelodeon havia adotado, no qual o público participa da cultura política através dos consumos diários. (GOLDING, 2019, p. 53)</blockquote></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ainda de acordo com Golding, o realismo mágico retratado no desenho é responsável por estabelecer uma relação entre o capitalismo e o animismo que resulta em uma alienação causada pelo fetichismo de mercadoria. Isso se dá pelo fato de vários episódios acontecerem com foco no espaço de trabalho, no cansaço causado pelo trabalho e, mais evidentemente, pela dependência dos personagens no ciclo de trabalho e consumo. Embora não seja o ponto principal da nossa atual comparação, é interessante mostrar como os conceitos estudados por Golding nos episódios da série reaparecem mesmo tantos anos depois.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A Vida Moderna de Rocko: Volta Ao Lar resgata a essência da animação original sem se perder no tempo, fazendo jus à modernidade que propõe. Ao voltar para casa, Rocko se mostra um personagem que não gosta de mudanças. Mesmo após experimentar as novas tecnologias, Rocko, ao contrário de seus amigos, não está nada satisfeito com o constante lançamento de novos aparelhos celulares, com a quantidade de<i> fast-foods</i> e com a rápida movimentação da cidade de O-Town. Sua antiga função no emprego, em uma loja de HQ's, foi substituída por máquinas. E, para piorar, seu desenho preferido já não está no ar há tempos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">À primeira vista, a crítica ao novo modo de vida — e consequentemente aos avanços do capitalismo — parece ser o ponto principal do reboot. Com o personagem principal cansado de tantas novidades, a impressão de metalinguagem é inevitável. A empresa Conglomerado, responsável pela economia da cidade fictícia, agora está à beira de um colapso com o regresso de Rocko, Vacão e Felisberto. Mas vamos recapitular…</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://64.media.tumblr.com/ff8d709b2fd6ea76c9213930a9ac4c86/tumblr_nvu3msB5eQ1tglg2co1_500.gifv"></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://64.media.tumblr.com/ff8d709b2fd6ea76c9213930a9ac4c86/tumblr_nvu3msB5eQ1tglg2co1_500.gifv"></a><a href="https://64.media.tumblr.com/ff8d709b2fd6ea76c9213930a9ac4c86/tumblr_nvu3msB5eQ1tglg2co1_500.gifv" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="280" data-original-width="500" height="224" src="https://64.media.tumblr.com/ff8d709b2fd6ea76c9213930a9ac4c86/tumblr_nvu3msB5eQ1tglg2co1_500.gifv" width="400" /></a></div></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b>EU NÃO TENHO FILHO!</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ed e Bev Cabeção são os vizinhos de Rocko, protagonistas de vários dos melhores episódios do desenho. Sr. Cabeção não gosta do vizinho canguru e suas implicâncias sempre resultam em situações cômicas e imprevisíveis. Um dos episódios mais famosos é o primeiro da segunda temporada, "Eu Não Tenho Filho". O episódio duplo apresenta Os Cabeçudos, desenho preferido de Rocko que possui muitas similaridades com os Cabeções. Rocko, então, descobre que a série foi criada por Ralph Cabeção, filho de Ed e Bev, de quem sequer sabia da existência. Ralph não tinha uma boa relação com o pai por ter trocado trabalhar na empresa Conglomerado, junto a ele, por virar um animador em Holl-O-Wood. Rocko tenta trazer Ralph para casa a pedido de Sra. Cabeção, que sonha em ver a família reunida. Mesmo mostrando um lado negativo dos pais em sua animação, Ralph é perdoado e consegue perdoar Sr. Cabeção pela falta de compreensão com seu sonho.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em Volta Ao Lar, a empresa Conglomerado, da qual grande parte da cidade depende financeiramente, começa a falir por conta de um erro de Ed Cabeção. Rocko, ainda sem aceitar o fim de seu desenho preferido, busca uma maneira de salvar a cidade e ter de volta a única coisa que o fazia se sentir em casa em meio a tantas mudanças: uma animação dos Cabeçudos feita por Ralph para salvar a empresa. Porém, ele é notificado de que Ralph está viajando o mundo em busca de si mesmo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://64.media.tumblr.com/f352955d2fb1263e0b9f74e85d3e9eb0/tumblr_npg63u6eN61tglg2co2_500.gifv"></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://64.media.tumblr.com/f352955d2fb1263e0b9f74e85d3e9eb0/tumblr_npg63u6eN61tglg2co2_500.gifv"></a><a href="https://64.media.tumblr.com/f352955d2fb1263e0b9f74e85d3e9eb0/tumblr_npg63u6eN61tglg2co2_500.gifv" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="282" data-original-width="500" height="226" src="https://64.media.tumblr.com/f352955d2fb1263e0b9f74e85d3e9eb0/tumblr_npg63u6eN61tglg2co2_500.gifv" width="400" /></a></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>A representatividade</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Voltando à metalinguagem, sua ocorrência, agora, é inegável. O filme constantemente brinca com a ideia de trazer de volta uma década que não existe mais e somos lembrados o tempo todo o quanto as mudanças são necessárias para o crescimento dos personagens. Além disso, Rocko é o único que não consegue se readaptar ao que chamava de lar e, relutante à ideia do fim, encara o desafio de ir atrás de Ralph.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O que havíamos estabelecido do filme, até então, é contestado pela própria trama, mostrando que, além das críticas ao mundo real, A Vida Moderna de Rocko consegue quebrar uma barreira que transpassa a questão de tempo. Enquanto o telespectador acompanha uma história cujo desfecho aparenta ser sobre busca de um tempo perdido, o filme introduz uma personagem trans de forma inédita em um desenho animado ainda considerado infantil.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Embora a representatividade LGBT esteja aumentando gradualmente em programas infantis — Steven Universe, Hora de Aventura, The Loud House, etc —, a representação da letra T é, ainda, praticamente nula. Lopes e John (2016) discorrem sobre a falta de representatividade dos corpos trans no audiovisual.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>Os conteúdos midiáticos, especialmente os audiovisuais, são espaços privilegiados de circulação de identidades, de construção, reforço e/ou problematização de representações ligadas aos corpos. No que se refere aos corpos trans, essas representações são ainda escassas e, muitas vezes, reforçadoras dos padrões binários e de estereótipos.A invisibilidade também é uma forma de representação e no caso das identidades trans, sua presença nos conteúdos audiovisuais é ainda bastante escassa. (LOPES; JOHN, 2016. p. 5)</blockquote></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os autores complementam que o processo da naturalização ocorre por meio da família, da escola, da religião e, sobretudo, da mídia, que constitui "uma importante mediação na construção dos papéis e representações das identidades de gênero'' (SILVA e JOHN, 2016. p. 15).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com isso, entendemos a responsabilidade do audiovisual em retratar todas as formas, gêneros e identidades, principalmente quando é direcionado ao público infantil.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">De volta à vida moderna de Rocko, em 1996, Joe Murray produz o episódio "Closet Clown", que é uma analogia a "sair do armário". Murray explicita, posteriormente, sua vontade de fazer um episódio sobre homossexualidade de forma direta, mas sabemos como eram os anos 90 em emissoras infantis. Quando dada a oportunidade de mostrar a evolução social e midiática, já em 2019, o criador do desenho não hesita em representar um dos grupos mais ignorados pela mídia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Rocko nunca encontra Ralph, e sim, Rachel. E sua reação natural de aceitação para um personagem que descobrimos odiar mudanças é a prova de que o filme usa suas próprias incoerências para mostrar ao público que a mudança não é somente inerente à vida, e sim a única resposta para a evolução. A inserção da personagem trans é o momento alto do filme e o motivo de ter sido um dos reboots com melhor aceitação do público antigo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://64.media.tumblr.com/801199816aee6ef6583e2bf5e78b8432/tumblr_pwi5q6jHyz1tglg2co3_540.gifv"></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://64.media.tumblr.com/801199816aee6ef6583e2bf5e78b8432/tumblr_pwi5q6jHyz1tglg2co3_540.gifv"></a><a href="https://64.media.tumblr.com/801199816aee6ef6583e2bf5e78b8432/tumblr_pwi5q6jHyz1tglg2co3_540.gifv" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="304" data-original-width="540" height="225" src="https://64.media.tumblr.com/801199816aee6ef6583e2bf5e78b8432/tumblr_pwi5q6jHyz1tglg2co3_540.gifv" width="400" /></a></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Então…</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A Vida Moderna de Rocko: Volta Ao Lar, a princípio, parece mais uma forma de criticar o capitalismo e o vício de trabalho da "cultura" estadunidense. O fato do personagem principal ter tanta dificuldade em aceitar o fim dos anos 90 nos faz acreditar que o filme é uma sátira aos diversos resgates à década que, por pouco, não acabou. Em vez disso, somos surpreendidos pela forma que o desenho supera uma época em que a televisão infantil era tão censurada.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com referências aos episódios da série durante todo o filme, A Vida Moderna de Rocko se mantém fiel aos fãs. A forma como a essência do desenho é mantida e, ao mesmo tempo, tão imersa em questões sociais atuais responde às perguntas iniciais. A popularidade dos reboots de desenhos animados continua crescendo, pois o público também envelhece. E é sempre interessante ver suas referências crescerem junto.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Referências</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">GOLDING, D. <b>“Rocko’s Magic Capitalism: Commodity Fetishism in the Magical Realism of Rocko’s Modern Life”</b>. Animation, v. 14, n. 1, p. 52–67, 2019. <a href="https://doi.org/10.1177/1746847719831365">https://doi.org/10.1177/1746847719831365</a>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">LOPES, A; JOHN, V. <b>“Visibilidade e Representação De Corpos Abjetos No Audiovisual: as Mulheres Trans Na Ficção Seriada via Streaming”</b>. Londrina, Syntagma Editores. 2016.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJ44I6LsYF_Prb_n3AcuFP5CAexQV8JkSrdHIeKEY586V4WW12T2OIWOwLDkME3MazHuLrnYL_twT7-N16zz0OhAM0lAWkr5dYt-elvTgUskUVeOEImtcf9z7ELiNAZPJeygmC44sfUjc/s500/Card+Clara+Carvalho.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="500" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJ44I6LsYF_Prb_n3AcuFP5CAexQV8JkSrdHIeKEY586V4WW12T2OIWOwLDkME3MazHuLrnYL_twT7-N16zz0OhAM0lAWkr5dYt-elvTgUskUVeOEImtcf9z7ELiNAZPJeygmC44sfUjc/w400-h160/Card+Clara+Carvalho.png" width="400" /></a></div><br /><p></p>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-39147183310859329542021-07-17T11:03:00.005-07:002021-07-23T12:52:31.088-07:00O Vale das Bonecas e a sistematização de arquétipos femininos no Cinema Hollywoodiano <div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://i.imgur.com/ykcjjVZ.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="156" data-original-width="356" height="175" src="https://i.imgur.com/ykcjjVZ.gif" width="400" /></a></div><br />Pessoas e comunidades de todo o mundo e todas as eras mantêm vivos os seus valores culturais, morais, ensinamentos e outras questões através de histórias. Com a mídia contemporânea, os aspectos sensoriais e mentais desses contos tomaram outras proporções, além de histórias antigas, temos filmes, séries, reality shows, artes visuais, tecnologias e etc que fazem uma manutenção das narrativas e valores que preenchem nosso registro cultural e histórico. Até mesmo nossas “estrelas” contam histórias, principalmente aquelas que se encaixam na Narrativa Clássica, onde alguns estereótipos que circundam insistentemente as personalidades femininas são facilmente perceptíveis.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um dos grandes exemplos dessa contínua logística na perpetuação desses estereótipos (que a muito tempo já existiam na sociedade ocidental) e seus mitos é a indústria do cinema, que durante seu início ajudou a disseminar e firmar no imagético popular os ícones que até hoje são amplamente conhecidos e cuja a influência na indústria cinematográfica e cultura pop é inegável. As produções cinematográficas da década de 1910, quando o cinema começou a se tornar mais acessível, principalmente os filmes hollywoodianos, foram marcadas pela euforia e exploração do recém descoberto controle imagético e do movimento das películas. As narrativas exploravam um universo lúdico e fantasioso, envolviam a imaginação dos homens, que traziam suas histórias mágicas para a "realidade" das telas, isto é, uma <u>representação da realidade</u>, ideal à imaginação do homem e também reveladora do seu inconsciente.</div><div style="text-align: justify;"><a href="https://i.gifer.com/GY1.gif"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://i.gifer.com/GY1.gif"></a><a href="https://i.gifer.com/GY1.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="480" height="167" src="https://i.gifer.com/GY1.gif" width="400" /></a></div><br /></div><div style="text-align: justify;">Nesse sentido, conseguimos encontrar no cinema, um reflexo daquilo que era desejado, querido ou preterido, o status quo da sociedade e outros indicativos de seu determinado período cultural. É nesse âmbito que podemos traçar uma relação mais profunda entre o cinema, seus processos de produção e o inconsciente do espectador, que faz com que ele crie junto com esse fascínio pelas histórias, diversos significados formados pelo olhar, perpetuando assim as normas morais de uma sociedade ( LAZZARI, 2019).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No documentário E a Mulher Criou Hollywood, as diretoras trazem à tona uma informação pouco disseminada na nossa sociedade tão acostumada a ver mulheres com desigualdade profissional em relação a homens, nele são relembrados nomes esquecidos da história de Hollywood, nomes de diretoras e produtoras <u>mulheres que detinham poder naquela indústria</u>. Como Mary Pickford, que em 1919 chegou a fundar um próprio estúdio de cinema ao lado de Charles Chaplin e outros sócios.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/26xBSICfqLqxA8Gis/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="364" data-original-width="480" height="303" src="https://media.giphy.com/media/26xBSICfqLqxA8Gis/giphy.gif" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Na obra também acompanhamos a perda de poder dessas mulheres na indústria, que até 1925, eram diretoras de metade dos filmes produzidos em Hollywood. Um dos motivos para essa queda foi a crise de 1929, que causou maior disputa por espaço na promissora indústria de cinema entre diversos desempregados durante A Grande Depressão americana, “Eles entraram na disputa e elas foram aos poucos perdendo espaço por conta da dupla jornada de trabalho. O cinema, que antes era um trabalho para complementar renda, tornou-se atividade profissional full time num negócio cada vez mais ambicioso “(<a href="http://www.festivaldorio.com.br/br/noticias/no-comeco-do-cinema-metade-dos-filmes-era-dirigido-por-mulheres">Festival do Rio</a>). Dessa maneira, Hollywood era cada vez mais comandada por homens.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nesse ambiente e em um tempo onde mulheres apenas recentemente haviam ganhado o direito ao voto, formou-se um uma máquina de narrativas, que serviam também para a manutenção do patriarcado, os valores morais da sociedade norte americana hegemônica daquela época e também a já institucionalizada objetificação feminina - que estava sendo reforçada através do controle sobre a representação de sua imagem (além de outros papéis sociais subjugados ao masculino e branco).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Kaplan relaciona a relação de projeção que o cinema proporciona com dois conceitos da psicanálise: o voyeurismo e o fetichismo. “ O voyeurismo é o ato de olhar alguém sem ser visto, gerando satisfação sexual, e o fetichismo é a busca do homem em encontrar o pênis na mulher, gerando pulsão sexual e amenizando o medo da castração e da diferença sexual. O cinema, dessa forma, se torna um meio perfeito para propagar essas visões e desejos masculinos. (LAZZARI, 2019)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/lh7TYCDgrsDII/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="367" data-original-width="500" height="294" src="https://media.giphy.com/media/lh7TYCDgrsDII/giphy.gif" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Com esses mecanismos e tendências culturais narrativas e atreladas aos mitos das diferenças sexuais demarcadas, chamadas de “masculino” e “feminino”, os posicionamentos na representação pelos dois gêneros de domínio-submissão, privilegiam o “macho” (através de mecanismos de voyeurismo e fetichismo, que são operações masculinas e porque o seu desejo detém o poder/ação enquanto, nesse papel, a mulher não. “ Kaplan' ( 1995, p. 52). Assim foi-se criando personagens cativantes e fascinantes para o público e que capturavam justamente essa forte mitologia que influenciava a forma como nossa sociedade enxergava o corpo feminino, era explorado nessas representações o mistério, medo, desejo e o controle sobre elas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como principal exemplo prático dessa forma de produção, o star system é o que dá início a espetacularização da imagem feminina, gerando um fascínio nos espectadores. As estrelas surgem como reflexo da sociedade capitalista que industrializa os mitos e fabrica as deusas conforme os arquétipos do imaginário (LAZZARI,2019). Com o sucesso publicitário que as estrelas se tornaram, foi-se criando um molde no qual as atrizes marcavam o público com sua personalidade, que seguia os mitos de mulher ingênua ou perversa. Essas características influenciam o cinema como um todo e são criadas a partir de seu contexto cultural e mercadológico, representando diferentes “formatos” desse arquétipos já conhecidos pelo público.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/11cJpcapJVlMMo/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="383" data-original-width="495" height="309" src="https://media.giphy.com/media/11cJpcapJVlMMo/giphy.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com o contexto da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) a indústria cinematográfica dos Estados Unidos se tornou um dos maiores fornecedores de filmes do mundo, fortalecendo o star system. A primeira estrela das projeções cinematográficas, segundo Morin (1989, p. 7), foi a atriz canadense Mary Pickford, conhecida como a “queridinha da América”. Com seus cachos loiros, a atriz incorporou o lado angelical e romântico nas telas dos Estados Unidos. No mesmo período e com características opostas, o autor ainda cita a atriz italiana Francesca Bertini, que surge como uma diva dramática, obscura e possessa de amor no cinema da Itália. É válido relacionar essas duas atrizes com a situação das sociedades no período: enquanto a Europa sofria com a Guerra e enaltece a diva sombria, a ascensão dos Estados Unidos vendiam a estrela angelical para o mundo. (LAZZARI, 2019)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Dentro desses arquétipos podemos citar seus desdobramentos, que adaptam-se ao seu contexto cultural e como se encontram as representações sociais baseadas na diferença sexual. Por exemplo a “vamp”, que ficou famosa através da atuação de Theda Bara. Esse arquétipo tinha traços de frieza, imoralidade e erotismo e justamente devido a sua imoralidade ela logo foi apagada do star system, pois uma estrela não poderia ser contra os valores morais americanos. Apesar disso, a Vamp foi quem estreou o primeiro beijo na boca diferente do beijo teatral no cinema! Onde no mesmo ato ela suga a alma de seu amante... Mas Morin afirma que a vamp liberou uma energia erótica que se espalhou por todas as estrelas do cinema. Como a Femme Fatale, que se trata de uma mistura entre as características bem definidas das personalidade polarizadas entre a mulher pura e a vamp. A mulher fatal possui a bondade da virgem e ao mesmo tempo a malvadeza da vamp e irresistivelmente bela, complexificando um pouco mais esses arquétipos simplórios.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/DU08aVAtidg4M/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="334" data-original-width="450" height="297" src="https://media.giphy.com/media/DU08aVAtidg4M/giphy.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os Novos mitos:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Durante os anos 60, principalmente na França, um movimento de produção de obras cinematográficas chamado Nouvelle Vague passou a explorar temas no cinema que antes eram deixados de lado, como a perspectiva feminina centralizada em um universo fílmico (<a href="https://www.hypeness.com.br/2021/04/nouvelle-vague-revolucao-no-cinema-frances-dos-anos-60-e-um-dos-mais-importantes-capitulos-da-historia-do-cinema/">Hypeness</a>). Justamente nessa época um filme infamo surge: “O vale das Bonecas” de 1967, essa película é uma adaptação do best seller de mesmo nome, cuja autora se chama Jacqueline Susan, esse livro foi o mais vendido de 1966 e o primeiro livro escrito pela autora. Até hoje já foram vendidas mais de 31 milhões de cópias, tornando-o um dos mais vendidos da história. Porém esse sucesso estrondoso não foi o mesmo que aconteceu com o filme.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/yuMcna0ixxPqw/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="220" data-original-width="400" height="220" src="https://media.giphy.com/media/yuMcna0ixxPqw/giphy.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O livro de Jaqueline explora um tema que ainda era polêmico para a época: O lado obscuro de Hollywood, da fama e das celebridades. A trama conta a história de três mulheres que tentam ganhar a vida em Nova York e Hollywood dos anos 60, mas que ao mesmo tempo que vivem em um ambiente que socialmente é visto de maneira idealizada e cheio de projeções de uma vida capitalista bem sucedida (fama, dinheiro beleza, etc), elas lidam com o lado negativo desse mundo, como a pressão que o reconhecimento artístico traz, relacionamentos, vício em drogas, sexo, machismo, solidão, dinheiro demais ou a falta dele e outros temas.</div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://i.imgur.com/ykcjjVZ.gif"><br /></a></div></div><div style="text-align: justify;">Esse mundo hollywoodiano é chamado metaforicamente de Vale das Bonecas, e no início do filme temos a seguinte fala que resume muito bem a mensagem do filme:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"></div><blockquote><div style="text-align: center;">“Escale o Everest e chegará ao Vale das Bonecas.</div><div style="text-align: center;">É uma ascensão brutal e penosa.</div><div style="text-align: center;">Ao chegar ao alto, espere que a euforia lhe invada, mas não é assim.</div><div style="text-align: center;">Você está só.</div><div style="text-align: center;">E o sentimento de solidão é assombroso.”</div></blockquote><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nessa cena vemos três representações de pessoas em um vale, fazendo alusão às três personagens principais do filme: Neely O'Hara - uma estrela em ascenção que quando atinge grande sucesso e fama mundial, está viciada em drogas, se desfez do marido que realmente se importava com ela e tem sua carreira totalmente fora de controle, sempre brigando com outros artistas e pessoas desse meio e por fim se vê frustrada e sem aquilo que a fez ficar famosa - sua essência pura e talentosa; Jennifer North - Interpretada por Sharon Tate, uma jovem atriz que limita sua capacidade e talento aos seus atributos físicos e sensualidade, ela acaba se apaixonando por um cantor que sucumbe a uma doença que o torna senil, assim Jennifer fica sem recursos e precisa atuar em filmes experiementais e eróticos, o que causa forte julgamento e marginalização na sua carreira; Anne Welles - uma jovem garota que deseja viver uma vida mais agitada e sai do interior para ter uma chance na cidade grande, sem muitas expectativas acaba se tornando uma estrela, mas que ao final do filme deseja apenas voltar para sua cidade natal e deixar a fama de lado.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“Bonecas” é uma referência a uma gíria que era usada no show business da época, ela significa remédios prescritos que muitas pessoas usavam naquela época e se viciaram, talvez como uma maneira de cooperar com o ambiente exaustivo e muitas vezes tóxico.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="https://www.primogif.com/p/pBUPj1oJb9EcM"></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.primogif.com/p/pBUPj1oJb9EcM"></a><a href="https://media1.giphy.com/media/pBUPj1oJb9EcM/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="190" data-original-width="500" height="152" src="https://media1.giphy.com/media/pBUPj1oJb9EcM/giphy.gif" width="400" /></a></div><br /></div><div style="text-align: justify;">Essas personagens incorporam os arquétipos antigos do cinema, mas repaginados de uma maneira contemporânea. A autora nunca admitiu isso, mas as pessoas por trás do filme afirmam que a história foi fortemente influenciada por estrelas reais antigas, os mecanismos da indústria e o que ela faz com seus artistas. Um fato simbólico sobre esse filme é que foi o último papel que a lendária Judy Garland foi contratada, porém nessa época ela estava extremamente frágil, se encontrava viciada em pílulas e era "impossível" de trabalhar e depois de alguns prejuízos ela foi demitida. Muito similar àquilo que o filme propõe a criticar não é mesmo?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://media1.tenor.com/images/ea4908682cefb8f2321a6b5a9e7b34fb/tenor.gif?itemid=15915728" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="640" height="300" src="https://media1.tenor.com/images/ea4908682cefb8f2321a6b5a9e7b34fb/tenor.gif?itemid=15915728" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Embora a película tenha gerado muita expectativa no público, se parecia um filme clássico hollywoodiano e muito promissor, não foi como a crítica o recebeu. Tanto o filme quanto o livro foram criticados por seu conteúdo “sujo”, glamouroso demais, diálogos clichês, erros de continuidade e aparente superficialidade nas personagens. Ele se propunha a mostrar a “realidade” das estrelas de Hollywood, mas seus momentos demasiado dramáticos o tiram de sua potência reveladora. Porém o filme foi um sucesso de bilheteria, afinal de contas, esses críticos são em sua maioria homens e talvez isso tenha de certa maneira influenciado como eles absorvem e enxergam uma narrativa escrita por e para mulheres.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sobre a crítica do filme e do livro Susan afirmou “Existem homens demais escrevendo para a crítica e eu não escrevo para a crítica, eu escrevo para público”. Um desse críticos chamado Gore disse no Tonight Show: “ Ela (Susan) parece um motorista de caminhão em drag”. (<a href="https://www.vice.com/en/article/ypayqk/how-valley-of-the-dolls-turned-taking-drugs-into-a-feminist-act">VICE</a>)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://i.gifer.com/7ESg.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="173" data-original-width="400" src="https://i.gifer.com/7ESg.gif" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Talvez a "superficialidade", glamour, feminilidade e os desfechos que o filme traz é a resposta de sua popularidade. Ele é camp sem prometer, o que o torna um filme inesperado e engraçado, além de sua estética querida. Hoje em dia, o filme continua sendo famoso, considerado um Cult Classic e me arrisco a dizer um filme a frente do seu tempo, que de sua maneira aponta as consequências do mundo glamuroso e de ilusões que a fábrica de mitos nos empurra. Porém, como já é de se esperar, as três mulheres independentes e modernas tem destinos clichês. Elas desafiam o patriarcado, fazem o que desejam, são donas de seu corpo e mais bem sucedidas que muitos homens! Mas mesmo assim, ao final do filme todas são obrigadas a abrir mão de seu poder: Jennifer fez filmes com cenas de sexo e nudez e por isso não pode ter uma carreira respeitosa, Neely apesar de seu talento e fama, não conseguiu sobreviver ao ambiente do show business e a sua cobrança sobre o papel feminino. Anne percebe que aquele não é o seu verdadeiro sonho e com isso volta para pequena cidade onde nasceu.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><b>Referências</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">LAZZARI, Alice. <b>O mito da mulher no cinema: Análise da representação feminina no filme: ‘Tudo Sobre Minha Mãe”</b>. Caxias do Sul, 2019.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">GUBERNIKOFF, Giselle. A imagem: representação da mulher no cinema. <b>Conexão - Comunicação e Cultura</b>, v.8, n.15, p. 65-77, 2009. Disponível <<a href="http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conexao/article/view/113/104">http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conexao/article/view/113/104</a>>. Acesso em: 16 jul. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvBTZWepKWddBChn63oWy80icHo-pXtT2V0HdErr3doUyVxThFLIv4xgnyiuEeNLIuywyT-ZV96XAMmcasYtgFu2Br5MMHCqarZYw3yVCO8rIVSDU05ZD5acERsuULmETxrmDxgQxpAlk/s500/Card+Davi+Barroso.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="500" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvBTZWepKWddBChn63oWy80icHo-pXtT2V0HdErr3doUyVxThFLIv4xgnyiuEeNLIuywyT-ZV96XAMmcasYtgFu2Br5MMHCqarZYw3yVCO8rIVSDU05ZD5acERsuULmETxrmDxgQxpAlk/w400-h160/Card+Davi+Barroso.png" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><br /></div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-59072625798050714562021-07-11T07:12:00.002-07:002021-07-17T14:42:41.027-07:00Os primeiros anos da MTV: As garotas querem só diversão<div style="text-align: justify;">Lançado em 1983, o videoclipe da canção <i>Girls Just Wanna Have Fun</i> (EPIC, 1983) interpretada pela cantora e compositora norte-americana Cyndi Lauper está próximo de alcançar a marca de 1 bilhão de visualizações no Youtube. Tendo como temas principais a liberdade e o empoderamento feminino, a gravação foi responsável por lançar Lauper ao estrelato junto a outras cantoras que buscavam espaço na indústria da música. Dona de comportamentos e estilos que marcaram toda uma geração junto a ícones da música pop como Madonna e Janet Jackson, Lauper foi uma responsável por despertar discussões sobre papel da mulher em um formato audiovisual que ganhava ascensão e se consolidava naquela década, o videoclipe.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPUxn78KI2eKftGu3hEr7Nv0omf2-Gt_-2FJERVt0sCPQyQ9e_zeuHIPZBcZAmawWSG9dzSswYNdOTxa2j1T26M_EhhipLSWsZI3G6xbk5rONpfocT4pDBOhLuwfaIukN4W6J8xDYZwCM/s400/01.+CD.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span></span><span style="color: white;"> </span><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="400" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPUxn78KI2eKftGu3hEr7Nv0omf2-Gt_-2FJERVt0sCPQyQ9e_zeuHIPZBcZAmawWSG9dzSswYNdOTxa2j1T26M_EhhipLSWsZI3G6xbk5rONpfocT4pDBOhLuwfaIukN4W6J8xDYZwCM/w400-h300/01.+CD.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Esse novo formato surge através de vários processos de desenvolvimento tecnológico, sendo o primeiro deles o rádio, principal plataforma de distribuição musical, e, também, influenciado pelo cinema e posteriormente da televisão, que possibilitaram a gravação de sequências sincronizadas entre música e imagem. A partir do surgimento desse novo formato, surgem novas formas de se comunicar com o público, aliado a estratégias de marketing que tinha como principal público alvo os jovens.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Artistas populares como as bandas britânicas Beatles e Queen posteriormente já tivessem trabalhado com o formato, o início das operações da MTV como um canal no ano de 1981 serviu como grande impacto para popularização do formato videoclipe, se consolidando de vez como obra audiovisual, em que artistas que já gozavam da popularidade nas rádios agora eram introduzidos a um público ainda maior através da televisão. A MTV foi responsável expandir de maneira significativa o conteúdo visual atrelado à música, que antes era composto por além do rádio, de performances ao vivo em programas de televisão. Além disso, as estratégias de marketing do canal caíram nas graças do público jovem, sendo o canal a principal fonte de lançamento de tendências adotadas entre o público jovem.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Conforme aponta Hall (1992), a identidade do indivíduo após o iluminismo sofre transformações. A transferência dos valores que antigamente eram impostos e projetados através do limite do núcleo familiar, aos poucos foram substituídos pelas competências da demanda da sociedade de consumo, conforme aponta o autor:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>As transformações associadas à modernidade libertaram o indivíduo de seus apoios estáveis nas tradições e nas estruturas. Antes se acreditava que essas eram divinamente estabelecidas; não estavam sujeitas, portanto, a mudanças fundamentais (HALL, 1992 p. 25).</blockquote></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Segundo o autor (1992), podemos refletir sobre o comportamento do público jovem ao longo dos anos, que busca cada vez mais espaço para libertação de padrões familiares previamente estabelecidos. O movimento de Contracultura, unido ao êxito de artistas imortalizados como Elvis Presley, o impacto social da Beatlemania e o festival de Woodstock mostravam a decadência de antigas formas de construção do caráter do jovem a partir da década de 1960. Esses movimentos culturais contribuíram para que muitos dos temas que eram considerados tabus pela sociedade ganhassem maior espaço para discussões, novas ideias em consideração a liberdade de expressão, a liberdade sexual e o papel da mulher na sociedade eram difundidos pela juventude que ansiava por uma realidade de vida que sanasse os problemas em relação ao machismo e ao patriarcado.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A consolidação do público a partir da criação de uma emissora de nicho, destinada a um publico jovem que ansiava por novidades, contribuiu para a ampliação do universo da cultura pop, sendo que a MTV perdura até hoje como um dos principais símbolos na história da produção de videoclipes. O legado do canal foi responsável por conquistar várias gerações em seus mais de 40 anos de existência, já que muitos dos vídeos lançados com exclusividade pelo canal desfrutam do sucesso graças à hospedagem na maior plataforma de vídeos da atualidade, o Youtube.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Recordista de visualizações nessa plataforma, o vídeo de <i>Girls Just Wanna Have Fun</i> (EPIC, 1983), interpretado pela cantora e compositora Cyndi Lauper nos leva a acompanhar uma narrativa em que assistimos a cantora a perambular pelas ruas do subúrbio de Nova York na década de 1980 com seu jeito despojado e alto astral. No vídeo, após questionar seus pais que criticam as atitudes rebeldes de Lauper, ela sai de sua casa e parte em encontro de suas amigas, que são representadas por garotas de variadas etnias e abordam diversas pessoas na rua e as levam de volta para sua casa, enquanto cantam em coro o refrão que diz “Que as garotas só querem se divertir” sendo essa situação um grito a valorização da liberdade feminina.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKW4s4amhUi-BX90cx9JQ5jDl7el1aFvF-GGbLBi6gILhhenTDW0b5c1AJZ2Ii8sLzhh4T0VkADUXM4Sp9ve-GvnuPL-RMH3_OK5z3vItZ29nIJuB1Neg92XR4QLAxVuv8DqkYFHeJmPM/s400/02.+GJWHF.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="400" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKW4s4amhUi-BX90cx9JQ5jDl7el1aFvF-GGbLBi6gILhhenTDW0b5c1AJZ2Ii8sLzhh4T0VkADUXM4Sp9ve-GvnuPL-RMH3_OK5z3vItZ29nIJuB1Neg92XR4QLAxVuv8DqkYFHeJmPM/w400-h300/02.+GJWHF.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O vídeo de Lauper trouxe uma nova perspectiva da narrativa que gerou identificação em um público marginalizado. Podemos observar sobre a análise no trabalho de Paula Rodrigues Marino sobre a obra de Kaplan sobre o papel feminino vinculado a MTV:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><blockquote>Kaplan, por momentos, confunde a construção textual dos gêneros sexuais (heterossexual, homossexual, transexual, etc.) com as práticas femininas concretas - como se não existisse uma distinção entre o "modelo de leitor construído pelo texto" e as audiências "reais" - como quando afirma que ‘<i>MTV addresses the desires, fantasies, and anxieties of young people growing up iii a world in which all traditional categories and institutions are being questioned’</i> (ibid.: 270). Nem todas as instituições e categorias tradicionais são ou estão sendo questionadas na MTV - como, por exemplo, o sistema capitalista de consumo, o neoliberalismo ou as imagens das cantoras de pop, segundo uma representação tradicional da mulher (assinalada pela beleza física, a "suavidade" e o "romantismo") (MARINO 2001 p.109).</blockquote><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Abordando também o empoderamento feminino, o videoclipe de <i>Love Is A Battlefield</i> (CHRYSALIS, 1983), interpretado pro Pat Benatar tem uma abordagem distinta de Lauper sobre as situações enfrentadas pelas mulheres de seu tempo. Na narrativa, Benatar interpreta uma adolescente suburbana que ao ser expulsa de casa pelo pai, busca por uma nova vida em uma metrópole. A partir de uma sequencia de cenas em uma boate com baixa luz, detalhes do vídeo nos revela que a cantora tem o intuito de despertar empoderamento feminino em garotas que trabalham em uma boate noturna.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8Fid7oMSQjmbvlMesN6qh6Bgl54CKukrxZP-1WU_ynbQX7kYjLYixusDfIoEcvZQgbTxtVSyyl_RskapdQdEvjGSZ7T6gBMykVOtYtL6EX3kojsjYhkS9ILg5lwVEfwOnONoA_3B_3fE/s400/03.+LIAB+1.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="400" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8Fid7oMSQjmbvlMesN6qh6Bgl54CKukrxZP-1WU_ynbQX7kYjLYixusDfIoEcvZQgbTxtVSyyl_RskapdQdEvjGSZ7T6gBMykVOtYtL6EX3kojsjYhkS9ILg5lwVEfwOnONoA_3B_3fE/w400-h300/03.+LIAB+1.gif" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Em conjunto a narrativa, as roupas rasgadas usadas pela cantora representa a rebeldia, assim como Lauper o faz ao utilizar-se de roupas extravagantes. A partir dessa estratégia enunciativa, indicada por Marino, o figurino da cantora também se torna um adereço a ser replicado com facilidade pelos espectadores, já que o próprio se configura principalmente pela colagem de variados retalhos, esse fenômeno é retratado por Godwin:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>[.] que associa a juventude à oposição ao status quo, à rebeldia e à contracultura - que é mencionada por Goodwin (1992). Esta construção da juventude corresponde a visões tradicionais, e até conservadoras, que vinculam as possibilidades de transformação a um período da vida, adolescência, destinado a ser superado. Seria interessante perguntar se isto não implica em retomo a uma concepção passiva das audiências. (MARINO, 2001, p. 109)</blockquote></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os elementos reprodutíveis no videoclipe de Benatar são responsáveis por despertar novos comportamentos entre os jovens, sendo a mídia responsável por alimentar a ansiedade das gerações por novos ideais, tendo as narrativas da MTV como referência. Posteriormente, a canção fez parte da trilha sonora do filme <i>De Repente 30 </i>(2004, Columbia Pictures), em que a protagonista Jenna Rink, interpretada pela atriz Jennifer Garner, que é de fato uma garota de 13 anos dentro de um corpo de uma mulher de 30, apresenta a canção para outras meninas do prédio onde vive, provocando nelas o empoderamento feminino, em uma sequência que evidência a temporalidade da canção anos após o seu lançamento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVS6WI7nqjRumo3aWoBwcqxZQf9su2Pi-6IbfgTKoEq-EGd1wv_asYUI7zq9CeD9upOvPgz2TaO5izS1DtEMPenhaY9BdIcKHPfJnmqOQ6VFC5T5MrXtuoGSX1tmT36ksvuEAfg94Lm_g/s464/04.+LIAB+2.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="261" data-original-width="464" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVS6WI7nqjRumo3aWoBwcqxZQf9su2Pi-6IbfgTKoEq-EGd1wv_asYUI7zq9CeD9upOvPgz2TaO5izS1DtEMPenhaY9BdIcKHPfJnmqOQ6VFC5T5MrXtuoGSX1tmT36ksvuEAfg94Lm_g/w400-h225/04.+LIAB+2.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Personagem recorrente na programação da MTV, Madonna se tornou alvo constantes dos conservadores, mas, por outro lado, conquistou a crítica especializada e o público a sua constante habilidade de se reinventar e abordar temas de polêmicos que sempre engajaram um grande público. Através de seus videoclipes, a cantora realizou inúmeras provocações políticas, sociais e religiosas, inclusive em seu primeiro êxito internacional, a canção <i>Like A Virgin</i> (1984, Sire/Warner, 1984)) que causou grande comoção de grupos religiosos por fazer uma alusão ao sexo causal antes do casamento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Gravado em Veneza, na Itália, a narrativa do videoclipe se baseia em Madonna passeando por Veneza na Itália. Mesclando cenas em que ela dança sensualmente em uma gondola em um passeio pela cidade, sequências em vemos um leão de verdade enquanto a cantora apaixona por um homem com uma mascara de leão que a seduz. Cenas com a cantora com um vestido de noiva, adereço essencial para a promoção da música, e um dos principais motivos de seu primeiro conflito com a Igreja Católica. Com <i>Like A Virgin</i>, Madonna dava os primeiros passos em rumo a uma carreira promissora, sendo frequentemente chamada por vários veículos da mídia como Rainha do Pop, onde damos destaque a sua apresentação no primeiro MTV Music Awards no ano de 1984, em que a cantora rola pelo palco com o icônico vestido de noiva Boy Toy.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjExmcwUKw_K01VeRG3S5zehef96Oa6Q9gD2Cm7jW_NkO7wncRy98FMwHYD6m0-WTfRN9BtTEulNnYWL4kS0l7ysQjhkaSV_B_Y3m-dHwlJulS9Z5c_k2mNDjg3bNEeZrEX-WtVZUKjYxU/s400/06.+LAVVMA.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="400" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjExmcwUKw_K01VeRG3S5zehef96Oa6Q9gD2Cm7jW_NkO7wncRy98FMwHYD6m0-WTfRN9BtTEulNnYWL4kS0l7ysQjhkaSV_B_Y3m-dHwlJulS9Z5c_k2mNDjg3bNEeZrEX-WtVZUKjYxU/w400-h300/06.+LAVVMA.gif" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></div><div style="text-align: justify;">Dando continuidade à promoção do álbum <i>Like A Virgin</i> (Sire/Warner, 1984), a cantora lança o videoclipe de <i>Material Girl</i> (Sire/Warner, 1984), em que a mesma incorpora a personagem de Marilyn Monroe no filme <i>Os Homens Preferem as Loiras </i>(1953, 20th Century Fox), em uma narrativa em que a cantora resgata o legado de Monroe no cinema hollywoodiano, criando uma metalinguagem entre indústria cinematográfica e a televisão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A narrativa consiste em Madonna se opondo ao papel proposto por Monroe no longa-metragem, a partir de uma releitura da sequência musical de <i>Diamonds Are A Girl’s Best Friend</i> (1953). Ao mesmo tempo em que reencarna Monroe, uma mulher que canta sobre explorar a riqueza dos homens, Madonna interpreta uma mulher que recusa os presentes caros de um admirador que ao final do videoclipe acaba conquistando-a ao fingir ser um homem pobre. Com a proposta de Madonna, observamos os efeitos de influência do cinema sendo convertidos ao universo televisivo, Marino (2001) observa que:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><blockquote>Esta construção da juventude corresponde a visões tradicionais, e até conservadoras, que vinculam as possibilidades de transformação a um período da vida, a adolescência, destinado a ser superado. Seria interessante perguntar se isto não implica em retomo a uma concepção passiva das audiências. (MARINO, 2001, p. 109)</blockquote></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjprWBAKKSYJAViJ7j7nnn4yxm2jfATLa06w8mHSyHqLk1LH9dHK8v-jK2VblQUj7_PP26dDBsOKpOQ-9Fjm_P7t9rjrArYPurnzM_eL5FFXs0dM22_FwxrdmF-KCBxxWk7fi-u8uNHK7A/s400/07.+MG.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="400" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjprWBAKKSYJAViJ7j7nnn4yxm2jfATLa06w8mHSyHqLk1LH9dHK8v-jK2VblQUj7_PP26dDBsOKpOQ-9Fjm_P7t9rjrArYPurnzM_eL5FFXs0dM22_FwxrdmF-KCBxxWk7fi-u8uNHK7A/w400-h300/07.+MG.gif" width="400" /></a></div><br />Ao adequar-se a figura de Marilyn Monroe, Madonna é responsável por uma narrativa que se baseia no anacronismo entre a sequência musical de Monroe e sua “Material Girl”, deixando explicita a critica de reforçar a independência feminina, que pode ser autossuficiente sem a necessidade de ser sustentada por um homem.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No ano de 1986, Madonna volta a se envolver em novas polêmicas, com o lançamento de<i> Papa Don’t Preach</i> (1986, SIRE/WARNER), videoclipe onde a cantora conta a história de uma garota que vive o dilema da gravidez na adolescência, e tem como principal arco, contar a seu pai que ela decidiu que quer ter o bebê. Em entrevista para iHeartRadio em 2019, a cantora comentou sobre as polêmicas que a canção causou entre grupos distintos, de um lado os religiosos que outrora acusaram a cantora de incentivar o sexo antes do casamento, agora a defendiam por ser contra o aborto, de outro lado, grupos que alegavam que a cantora incentivava mais uma vez a gravidez na adolescência criticavam a gravação: “Eu não entendo. Tudo o que eu faço é controverso. Nada mudou. - Continuo me envolvendo em confusões”, o que deixa claro o papel de Madonna como uma colecionadora de discussões polêmicas contraditórias, fato que atraía cada vez mais espectadores para a MTV, Marino também conclui que:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"></div><blockquote><div style="text-align: justify;">O texto televisivo é entendido por Fiske como um conjunto atravessado por múltiplos discursos e construções discursivas, assim como por discursos específicos, midiáticos ou não. Esta opinião distinguiria o texto pela presença de contradições derivadas dos discursos (MARINO 2001 p.111).</div></blockquote><p> </p><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQP0bBHPlnY2nWYDKKmHYvtAq-x2HbrsufAMCiXxt7NIaCB7PwsP8AeHX6NGybMs3fjlDeGqIbORwE2LT-OVmI3CG4ZK3Qvv8AYaCrriO2sgdoWv6T5qNGYNxLe3wtWsWXT7DbgUpoQZw/s400/08.+PDP.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="400" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQP0bBHPlnY2nWYDKKmHYvtAq-x2HbrsufAMCiXxt7NIaCB7PwsP8AeHX6NGybMs3fjlDeGqIbORwE2LT-OVmI3CG4ZK3Qvv8AYaCrriO2sgdoWv6T5qNGYNxLe3wtWsWXT7DbgUpoQZw/w400-h300/08.+PDP.gif" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></div><div style="text-align: justify;">Nesse ano o canal já gozava de grande popularidade entre o público, servindo como uma das principais plataformas da indústria fonográfica, e ao lado do sucesso do canal, as polêmicas alimentavam cada vez mais o sucesso dos artistas e a venda de revistas de fofocas e discos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ao lado de Madonna, Cyndi Lauper também manteve seu legado com o lançamento de <i>True Colors</i> (1986, Epic), primeiro single do álbum homônimo. A canção é marcada como ícone entre a população LGBTQI+, e foi dedica a um amigo de Lauper que faleceu em decorrência do HIV, tema considerado tabu, polêmico e abordado de maneira inadequada pelos principais meios de comunicação, que reforçavam uma série de estereótipos contra a doença. Ainda em homenagem a seu pai, Lauper lançou a canção <i>Boy Blue</i> (Epic, 1986), contida também no álbum <i>True Colors.</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkowzZvdy5w1BoVaFGuJn6fxYQOEMV8ZsIca_bg1w_MaP9GOYcJvPnpaT-GAEucyo3Q-Zde9OKkn0qi1heUmcWRtzyvP5Vw6FR2cWWxF4UkY2bKGuaGAxRMK87tmD5naHkR8p693dmI6c/s400/09.+TC.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="400" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkowzZvdy5w1BoVaFGuJn6fxYQOEMV8ZsIca_bg1w_MaP9GOYcJvPnpaT-GAEucyo3Q-Zde9OKkn0qi1heUmcWRtzyvP5Vw6FR2cWWxF4UkY2bKGuaGAxRMK87tmD5naHkR8p693dmI6c/w400-h300/09.+TC.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com a indústria da música funcionando a todo o vapor, artistas passaram a utilizar estratégias de marketing cada vez mais polêmicas e inovadoras, garantindo sua permanência ao longo das gerações. Com a migração do público da televisão para a internet, surgem ídolos derivados de novas gerações, com outras realidades e novas histórias para contar, tendo como principal referência os ícones que foram sucesso dos anos anteriores. Temas como o sexo, religião e polícia continuaram pertinentes no desenvolvimento das narrativas, mantendo o videoclipe como principal formato para disseminação de ideias.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Embora ainda existam emissoras de TV, inclusive a MTV, que ainda dedicam horários de sua programação dedicada à transmissão de videoclipes, a principal plataforma de consumo desse formato atualmente é o YouTube, sendo uma plataforma gratuita, responsável à democratização do acesso a conteúdos audiovisuais. Segundo dados divulgados pela Google, a plataforma é acessada por mais de dois bilhões de usuários diariamente em escala mundial, e dispondo de um dos maiores acervos audiovisuais da história, o formato se consolida como um dos mais consumidos para os mais diversos públicos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como um formato dedicado a um grande público, grandes nomes da música pop contemporânea norte-americana como Rihanna, Lady Gaga e Beyoncé têm mantido o legado das “divas” pop dos primeiros anos da MTV a partir de narrativas que trazem a tona o papel da inclusão em suas narrativas. No videoclipe de <i>Girls Just Wanna Have Fun</i>, observamos a diversidades papéis femininos interpretando as amigas de Lauper apenas como figurantes, hoje mulheres das mais variadas etnias são protagonistas de suas próprias narrativas, e seguindo as formulas de sucesso construído ao longo dos anos pela MTV, jovens interpretes foram responsáveis pela criação de narrativas cada vez mais plurais com o intuito de dialogar com a juventude de sua época através de videoclipes que alcançam em questão de horas milhões de visualizações.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Assim como a geração de Cyndi Lauper e Madonna, as novas gerações seguiram na luta contra o fim da imposição de padrões pré-estabelecidos pela sociedade através da arte. Desfrutando de meios comunicacionais jamais imaginados pelos espectadores nos primeiros anos da MTV, o jovem da era do <i>Twitter</i> e <i>Instagram</i> participa de maneira de maneira ativa de um legado da produção de videoclipes que mantém seu papel de romper barreiras, gerar discussões, garantir o entretenimento, dar voz as gerações e principalmente garantir lucro a indústria do entretenimento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>REFERÊNCIAS</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">BENJAMIN, Walter. “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” In:<b> Obras Escolhidas</b> (Magia e Técnica, Arte e Política). v.1, São Paulo, Brasiliense, 1985</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">MARINO, Paula Rodrígucz. <b>MTV e as concepções das audiências: as abordagens de Kaplan, Lewis, Fiske e Goodwit</b>, Jornadas 50 años de Ia selevisión argentina, 2001 T: Audiencias y recepción, Facultad de Ciencias Sociales- Universidad de Buenos Aires.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">HALL, Stuart. <b>A identidade cultural na pós-modernidade</b>. São Paulo: DP&A, 2006.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">MACHADO DA SILVA, J. O pensamento contemporâneo francês sobre a comunicação. In: HOHLFELDT, A.; MARTINO, L. C. e FRANÇA, V. V. (Orgs.) <b>Teorias da Comunicação</b>. Petrópolis: Vozes, p. 1171-186.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">MORÍN, EGAR. <b>Cultura de Massas no Século XX</b> – Neurose tradução de Maura Ribeiro Sardinha, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense Universitária.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4MeGQ6H7NbgQdsfJ926EsfLbuqD8WblAwkbEfoQ8ksRBlwfsbWH1s6GcQsfob1nxx-yGJ5yQUfbh_IohIy8Uk6dM8sV9aclfOW4RSXJSmjUr_vMi0F5tbeckaa4stzeOpqzySvJqdkP8/s500/Card+Gabriel+Caldeira.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="500" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4MeGQ6H7NbgQdsfJ926EsfLbuqD8WblAwkbEfoQ8ksRBlwfsbWH1s6GcQsfob1nxx-yGJ5yQUfbh_IohIy8Uk6dM8sV9aclfOW4RSXJSmjUr_vMi0F5tbeckaa4stzeOpqzySvJqdkP8/w400-h160/Card+Gabriel+Caldeira.jpeg" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><br /></div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-82728270150914775422021-07-03T10:48:00.005-07:002021-07-06T09:57:44.671-07:00 Saindo do armário: A importância de Glee na narrativa teen e LGBT<div style="text-align: justify;"> <img height="219" src="https://lh4.googleusercontent.com/e8B-vxDZ8DXQdr9qSlKfLZCjiU884nM7APArLbr6vnVFg3yIwVMJG4bKhzyduLO9MT4_S1kUCArQ1Lo4BslbHc3GTXibYnR6y73SyojZRV45MrsTA5LUW2pdU-83rb39RcYDcnzA=w400-h219" width="400" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Histórias adolescentes sempre fizeram sucesso na televisão, apesar das mesmas serem consideradas produtos da Indústria Cultural, conceito esse que parte dos pesquisadores Theodor Adorno e Max Horkheimer (1947). Segundo os autores, a produção em massa passa a ser adaptada à produção artística, o que leva produtos culturais, como filmes e programas de televisão, a se popularizar entre as massas. Acontece é que, segundo esse conceito, os produtos culturais passam a perder valor artístico e passam a ganhar valor mercadológico. Ao se analisar, no entanto, nos últimos anos, o desenvolvimento das produções seriadas televisivas norte-americanas, capazes, hoje, de despertar, ao mesmo tempo, audiência e interesse teórico, percebemos que estas alcançam um alto padrão de qualidade graças, principalmente, à maleabilidade do formato e ao nível cada vez mais elevado de roteiro (LAHNI, ASSIS e AUAD, 2013, p.3).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Segundo Raffi Sarkissian (2014), a visibilidade LGBT começou a ganhar destaque nos anos 90, com a ascensão de comunidades queer na internet. Isso propiciou um aumento de personagens LGBT’s na televisão, que eram tratados como adultos bem ajustados, colegas de trabalho, dentre outros papéis em uma sociedade heteronormativa. Mas em tramas adolescentes, jovens queer só começaram a surgir numerosamente em meados dos anos 2000, quando as discussões sobre identidades e representações começaram a ganhar espaço na mídia de massas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O ano de 2010 foi importante para a comunidade LGBT na televisão, pois de acordo com Sarkissian (2014) esse foi um ano em que houve o maior número de representações queer adolescentes na TV. Entretanto, algo ainda era pouco comum entre essas produções, a falta de narrativas centrais, e personagens tridimensionais que representassem muito mais que somente o “amigo gay” da protagonista. A representação, como afirma Sarkissian (2014) é importante principalmente para jovens, e a representação queer, que na época era algo relativamente novo e crescente, se faz ainda mais importante. O conteúdo de mídia é um componente ativo no processo cultural da construção de identidades LGBT’s, principalmente e particularmente para jovens queer.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A televisão adolescente é frequentemente citada como uma fonte de informação para adolescentes sobre sexualidade, e a conexão com o desenvolvimento da identidade sexual é de grande interesse para os estudiosos da televisão. (MEYER e WOOD, 2013, p. 436) (tradução nossa)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>A ascensão da representatividade queer adolescente em Glee</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Foi então que em maio de 2009 estreando na Fox, surgiu a série Glee, criada por Ryan Murphy, Brad Falchuk e Ian Brennan. Retratando a vida escolar de adolescentes da escola fictícia William McKinley High School, em Lima, Ohio, a série reúne alguns jovens considerados excluídos em um coral chamado <i>New Directions.</i> Através de lições musicais, lecionadas por Will Schuester (Matthew Morrison), esses jovens lidam com os mais variados problemas da adolescência, entre descobertas e realização de sonhos. Priorizando e incorporando personagens LGBT’s e desenvolvendo suas histórias, Glee construiu um distinto espaço queer, que permitiu mais efetivamente o engajamento entre jovens LGBTQIA+ (SARKISSIAN, 2014).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><img src="https://lh3.googleusercontent.com/P4y7moIPifyLAaDq-7Kyoadp9r4zwD5XSXAKjFSdG3w1MSGUTCMixyByoavko4xTuhlbvzZdoeex2-6_u8mQg5-ksx8_mM29QYmjSJRl2k1gBL_Ep7zHq2k1NvGOu28LtAyYa49n=w400-h192" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com isso, Meyer e Wood (2013) pontuam que Glee desvia das narrativas tradicionais adolescentes, onde identidade queer não é frequentemente considerada um dos “fatos da vida”. Mas como Glee se estabeleceu como uma narrativa adolescente relevante para a representatividade LGBT? O programa contém uma série de personagens queer, desviando-se dos formatos tradicionais de televisão para adolescentes, onde identidades não heterossexuais são tipicamente contidas em um personagem simbólico (MEYER; WOOD, 2013). Entre as histórias temos os personagens gays, Kurt Hummel, Blaine Anderson, Dave Karofsky, Sebastian Smythe, Spencer Porter, a personagem lésbica Santana Lopez, bissexual Brittany Pierce e transgêneros Wade Unique e Sheldon Beiste, sendo todos esses personagens centrais ou recorrentes na narrativa da série.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Quando se trata de adolescentes LGBT na televisão, Glee ocupa uma posição única devido não apenas ao número de personagens queer regulares e recorrentes, que equivalem a sete nas primeiras quatro temporadas, mas também às diversas formas em que o sexo, orientação e função de identidade, em relação à vida dos personagens LGBT e ao impacto que eles têm na narrativa mais ampla da série. Como acontece com a maioria do conteúdo queer mainstream anterior, o conceito de 'armário' (a necessidade de ocultar a identidade queer de alguém) figura de forma proeminente na maioria do desenvolvimento dos personagens. [...] Em Glee, no entanto, eles apresentam um espectro de relações com 'sair do armário', em que nenhuma das quais faz com que seja um problema individual ou apresentado exclusivamente do ponto de vista dos personagens heterossexuais. Em vez disso, eles são apresentados como complexos, intrinsecamente relacionados a enredos mais amplos e alinhados com amplos temas de exploração de identidade que todos os personagens vivenciam. (SARKISSIAN, 2014, p. 147-148) (tradução nossa)<br /><br /><b>Saindo do armário e a importância da narrativa queer em Glee</b><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Como Sarkissian (2014) explica sobre o conceito de “armário” sendo uma forma de ocultar a sexualidade e/ou identidade de alguém, em Glee, temos o desenvolvimento dos personagens LGBT’s que diferem do comumente usado em outras narrativas, onde personagens queer tem como única característica a revelação de sua sexualidade ou o conhecido “sair do armário”. No show, Glee trabalha com o desenvolvimento dessas histórias de maneira a não reduzi-los unicamente à sua sexualidade, tornando o processo de descobrimento e exploração de sua identidade uma passagem muito mais realista e identificável principalmente para com o público jovem. Tomamos como primeiro exemplo o personagem de Kurt Hummel, interpretado por Chris Colfer, que ganhou um arco narrativo ao lado da protagonista da série, Rachel Berry (Lea Michele), e se tornou o grande símbolo LGBT da série. Kurt é um personagem com características subversivas, não sendo o tipo de personagem queer que era comumente representado na televisão, que Sarkissian (2014) divide em duas formas: aqueles que estão passando por uma fase, ou personagens afeminados, mas “enrustidos”. Hummel não é apresentado dentro de um “armário” já que gradualmente sua sexualidade é trazida ao foco, enquanto outras questões percorrem pela vida do adolescente. Além disso, a série não fez um grande mistério em torno da sexualidade de Kurt que poderia ser levada em consideração pela forma exagerada e afeminada como ele é apresentado, já que sua sexualidade é afirmada logo no terceiro episódio da primeira temporada “Acafellas”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Diante disso, poderíamos, com efeito, constatar que, na série, a representação de Kurt acaba tanto por denunciar o caráter construído das noções de feminino e masculino quanto por dissociar a ideia de efeminação da ideia de servilismo. Em termos narrativos, acredita-se que o julgamento acerca da subversão é válido, posto que, ao mesmo tempo em que se põe um olhar irônico sobre ele e a sua teatralidade, não raro mesmo sobre sua aflição, o espectador pode ser levado a, enquanto ri de Kurt, a torcer e se afeiçoar a ele, tanto quanto por todos aqueles que entram no Glee Club. (LAHNI; ASSIS e AUAD, 2013, p.8).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A sexualidade de Kurt é apenas uma peça para que outras narrativas se desdobrem e tornem esse um personagem complexo. Do relacionamento de Kurt com Blaine Anderson (2x06 - “Never Been Kissed”), um jovem gay assumido e muito seguro de sua sexualidade, ao período de assédios e bullying por Dave Karofsky que levaram Kurt a mudar de escola (2x09 - “Special Education”), Hummel foi um personagem que nunca passou pelo marasmo dos poucos caminhos que eram viáveis a personagens queer, mas sim abriu portas criando um personagem com convicções nítidas, dramas adolescentes à flor da pele e escolhas que refletem seus gostos tão estimados, como por roupas e divas da música.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div> <div style="text-align: justify;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><img height="192" src="https://lh3.googleusercontent.com/tWvKqDoNMTqlLrCobGiiuV7EkvoDgY3w9UEiYIIBpl3clRHXFKNQeo6r0vc67vJNZkD6QZQkwGUatHIWhwXAYXRPAwamL9GpOh-23-bOP5db983g8n3S3zgJxYUvqzu6N3vP4dco=w400-h192" width="400" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sarkissian ao citar Blaine Anderson (Darren Criss) diz que, assim como Kurt, o personagem também jamais teve sua história atrelada ao “armário”. Blaine teve sua história desenvolvida passando primeiro por uma desilusão amorosa e depois se envolvendo com Kurt. Mas dentre todas essas fases, ele nunca esteve inseguro sobre sua sexualidade, nem teve sua retratação reforçada com estereótipos que pairam sobre a comunidade LGBT. E sobre o desenvolvimento de personagens com características que vão além da sua sexualidade, Sarkissian também cita Sebastian, que na terceira temporada (3x05 -"The First Time") se torna o líder do coral da qual Blaine fazia parte, os Warblers, e é retratado como vilão na narrativa. Sua orientação sexual não é um problema e não precisa de reconhecimento narrativo formal para sabermos disso. “Em vez disso, é firmemente estabelecido por meio de sua justaposição com personagens e relacionamentos LGBT existentes, sublinhando o contexto inconfundivelmente estranho de Glee que não depende necessariamente da narrativização da orientação sexual para apresentar um novo personagem gay.” (SARKISSIAN, 2014, p. 149)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Entretanto, diferente de Kurt e Blaine, Santana e Karofsky são dois personagens que tiveram arcos “dentro do armário”, mas o desenvolvimento dessa narrativa não foi feita de forma estereotipada, pois como Sarkissian (2014) cita, “esses personagens oferecem os casos mais fortes de resistência a tais estereótipos narrativos familiares precisamente porque eles têm permissão para desenvolver identidades queer ao longo de três anos”. Santana (Naya Rivera) começou de uma personagem coadjuvante, com poucas falas na primeira temporada, para uma personagem de personalidade forte e temperamento explosivo da segunda temporada em diante. Ela era sempre retratada como “a pegadora da escola” e como uma das “alunas mais sexy de McKinley”, até que sutilmente foram levantando o possível relacionamento entre ela e sua melhor amiga Brittany.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O ponto alto da narrativa sobre sua sexualidade se dá quando um boato de que ela seria lésbica se espalha quando um dos candidatos que concorria contra Sue Sylvester (Jane Lynch) nas eleições ameaça expor em seu vídeo de campanha (3x06 - "Mash Off"). Após o ocorrido, ela lida com o conflito de querer “sair do armário”, mas enfrenta o medo da rejeição. É interessante perceber que ela teve esse medo, mas recebeu apoio por parte da comunidade (o clube Glee), bem como de seus pais, mas um momento especial se destaca, que é quando ela se assume para sua avó, que é muito religiosa (3x07 - "I Kissed a Girl"). Essa cena reflete o já conhecido momento do <i>“coming out”</i>, mas a intenção dele foi mostrar a rejeição por parte da avó de Santana e como ela foi afetada por isso, já que ela amava e dependia muito da aprovação e do amor de sua avó. Após todo o momento conturbado com relação a sua revelação, Santana volta a ser a adolescente provocativa, mas sua sexualidade, agora estabelecida, é somente um ponto a mais na construção da personagem, que desenvolve várias outras narrativas centrais, inclusive ao lado da protagonista da série.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><img height="264" src="https://lh3.googleusercontent.com/7R0RG5PHRPmN7Sjdty7bh3BAZvxCIBy3kgoAlz4UI3-t9Cnfr1IU8MLUsC0-aFB2f-SpW372G6ee9DilDj6qEGoLe_aFn3BXYkMk2wwpGKz5upblBL5eaUaPyAO59fZ19WVg1oI2=w400-h264" width="400" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com Karofsky (Max Adler) o “coming out” foi mais drástico, já que vimos uma outra faceta desse momento, que chega a ser sugerido com Santana, mas acabou culminando em Dave. Karofsky sempre perseguiu Kurt por conta de sua sexualidade, e sempre deixou claro que não o aceitava. As provocações e o bullying viraram ameaças reais, até que Kurt resolveu confrontar Dave, mostrando mais uma característica presente em Kurt, que é a sua afirmação enquanto homossexual. Entretanto Kurt foi surpreendido por Karofsky, que acabou o beijando forçadamente, nos revelando assim que Karofsky também era gay, se encaixando no conceito de “armário” apresentado por Sarkissian (2014) e à narrativa normativa ao qual o personagem estava preso. O episódio (2x06 - “Never Been Kissed”) ainda constata o fato de esse ter sido o primeiro beijo de Kurt, bem como o primeiro beijo homossexual a ser exibido na série. As atitudes de Karofsky em rejeitar sua identidade sexual e não se assumir publicamente acabam levando a um triste ocorrido, quando sua sexualidade é exposta em sua nova escola, culminando em uma tentativa de suicídio de Dave (3x14 - "On My Way"). As narrativas de Karofsky e Hummel passam a se cruzar agora de forma diferente, o embate entre os dois, que antes se dava pelo confronto entre ser gay e não se aceitar enquanto homossexual, se transpõe em o apoio que Kurt passa a dar para Dave, mesmo com todo o bullying sofrido.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><img height="400" src="https://lh3.googleusercontent.com/0RyRCITphN-SvsiTBOCZ-eY92tN9BkxGzIcgDNPOC2VuVJ1jcI7OoDI_F0FGYuWmLTahbNF-NMC8clPvABdkCZiCdILF6-FuXy0v9Gue7c7jmDErHl8WupJN-eT9Wsfq3tK9MaAd=w392-h400" width="392" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Na terceira temporada, tivemos a introdução de mais uma personagem importante para o elenco queer da série, que trouxe novas pautas e abriu portas para um desenvolvimento futuro de <i>“coming out”</i>. Wade “Unique” Adams é uma personagem transexual da série, interpretada por Alex Newell, vice-colocado do reality <i>spin-off </i>de Glee - The Glee Project (2011 - 2012).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Unique desenvolve durante a terceira e quarta temporada do show um papel interessante, pois ela, assim como Kurt, não teve a sua sexualidade como questão central da sua narrativa, apesar da mesma lidar com problemas de insegurança para performar como mulher. Mesmo assim, nesse enredo, Unique ainda não havia se apresentado enquanto transexual, mas sim como um jovem que gosta de se vestir de mulher. Somente na quinta temporada (5x05 - “The End of Twerk") que Wade começa a lidar com a sua identidade de forma aprofundada, após passar por um incidente no banheiro da escola, quando alguns rapazes a ameaçaram. A partir disso a narrativa de Wade introduz sua luta para mudar as regras de gênero no banheiro da escola, bem como ela passa a ser tratada como uma personagem feminina. Ela não estava necessariamente no “armário”, pois a narrativa deixava claro que Wade estava conformado com sua identidade de gênero, mas foi necessário um evento ocorrer para assim podermos compreender os conflitos, necessidades e intenções do personagem de Alex Newell.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><img height="400" src="https://lh6.googleusercontent.com/nEQJPdydMrasBffjxzhjUq5qB-vnxvBsr1Yll6vhQoEmTO8IYruPzTBhZ8NZcpq726QXrn29S_QVuhiVyYvyHk4EkqHUzZkAu6SjVR_2l3GU8LyAZiqzj-bm3hSoyICcd7nb-TRT=w337-h400" width="337" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E como dito, Wade foi importante para desencadear um evento na série, que foi a revelação de Shannon Beiste enquanto homem trans, sendo assim, Sheldon Beiste, interpretada por Dot Jones. Shannon surge na segunda temporada da série, e é um personagem que ganha protagonismo passando por diversas narrativas, que dentre elas, abordam sua sexualidade. Shannon era retratada como uma mulher máscula, e muitos achavam que ela era lésbica, entretanto, na terceira temporada sua sexualidade (heterossexual) é revelada (3x05 - "The First Time") já que ela assume gostar do treinador Cooter Menkins. Mas alguns problemas na relação dos dois é desenvolvido, gerando conflitos na narrativa que de alguma forma podem ter levado Beiste a assumir sua identidade de gênero.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mesmo em seu relacionamento com Cooter, os jovens de McKinley ainda à tratavam de forma masculinizada, o que levou ao seu incidente com Cooter (3x18 - "Choke") quando algumas alunas do <i>Glee Club</i> fizeram piada do olho roxo de Beiste. O que foi então revelado, é que ela havia sido agredida por Cooter, recebendo posteriormente apoio das meninas que riram dela, e principalmente de Sue Sylvester e Roz Washington. Passado esse evento que marcou o ápice da narrativa de Shannon sobre sua sexualidade, na sexta temporada (6x07 - "Transitioning") Beiste assume sua identidade de gênero “saindo do armário” enquanto homem trans. A narrativa serial (SARKISSIAN, 2014) construída sobre a personagem é de fato desenvolvida gradualmente por esses eventos que acontecem desde que a personagem surge na segunda temporada do show. Shannon sempre precisou lidar com os questionamentos sobre sua aparência que refletiam como as pessoas a enxergavam sexualmente. “Enquanto episódios individuais em Glee geralmente giram em torno de temas independentes que inspiram as músicas e performances, personagens e desenvolvimentos de enredo, como relacionamentos românticos, rivalidades e preparações para as competições expandem a narrativa ao longo de vários meses ou anos.” (SARKISSIAN, 2014, p. 151). Vale destacar que ao final do sétimo episódio da sexta temporada "Transitioning", Wade Unique retorna para o show e realiza uma performance em apoio a Sheldon Beiste, juntamente com um coral de 200 pessoas trans.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><img height="224" src="https://lh4.googleusercontent.com/DxBNajYecQkxA0TUR8ETIe8bb-mEMAHWXuIlN9UmLc4L_MNZLY88LoqNrGg1SjU0pkwfJJkcGxIRI0AEmQsLywbXNpw1Pdzogwp03PN4Z27zmEwFEyB7uzprBN0ABiffU4_kodtC=w400-h224" width="400" /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Passado por todos os pontos e desdobrando, mesmo que minimamente, algumas narrativas, percebemos que o trabalho feito na série Glee foi um passo dado que abriu caminho para termos conteúdos teen e LGBT’s tão progressistas como os de hoje, como é o caso de <i>Euphoria</i> (2019) e <i>Sex Education</i> (2019). Obviamente Glee não é a única responsável por isso, e a mesma não se isenta de problemas, estereótipos e críticas, entretanto, ela fez parte de um momento onde a ascensão de séries teen que tratavam de temáticas queer desafiava os modelos tradicionais da televisão, bem como subvertia os estereótipos de programas que tentaram dar um primeiro passo, mas acabaram caindo no clichê normativo que fugia da realidade LGBT. Desafiar o <i>status quo</i> da televisão, e transformar modelos narrativos seriados em espaços para o desenvolvimento de histórias queer, fornecendo arcos que não dependem somente da sexualidade dos personagens, é algo a se levar em consideração, e de fato, propiciou para que tenhamos uma variedade de produtos teen que se propõem em oferecer narrativas queer fora do estereótipo. “Sair do armário” e fazer sua narrativa, nunca pareceu tão promissor para jovens LGBT quanto vem sendo nos últimos anos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>REFERÊNCIAS</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">LAHNI, Cláudia Regina; ASSIS, R. B. B. R. ; AUAD, Daniela . <b>Homossexuais em séries de TV: reflexões sobre Glee</b>. In: XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, 2013, Bauru. Anais do XVIII Congresso de Comunicação na Região Sudeste. Disponível em: <a href="https://portalintercom.org.br/anais/sudeste2013/resumos/R38-1061-1.pdf">https://portalintercom.org.br/anais/sudeste2013/resumos/R38-1061-1.pdf</a>. Acesso em: 1 jul. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">MEYER, M.D.E., WOOD, M.M. Sexuality and Teen Television: Emerging Adults Respond to Representations of Queer Identity on Glee . <b>Sexuality & Culture,</b> v. 17, p. 434–448, 2013. DOI: <a href="https://doi.org/10.1007/s12119-013-9185-2">https://doi.org/10.1007/s12119-013-9185-2</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">SARKISSIAN R. Queering TV Conventions: LGBT Teen Narratives on Glee. In: PULLEN C. (eds) <b>Queer Youth and Media Cultures.</b> Londres: Palgrave Macmillan,2014. DOI: <a href="https://doi.org/10.1057/9781137383556_10">https://doi.org/10.1057/9781137383556_10</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGFuJIUwJmgmzGvC5AILTBVQotpey7Bf4XEsPwP3lAYPeupn3ocN8_XF_QJaTOWDk-uq8vwMV-NUnQgyAMyhp7utfDvMeJm3-MCYvK60CpQ-a2OCJsAbvcWOUWUwWTaVkd8hVJdF0_iuk/s500/perfil_mediabox+ricardo.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="500" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGFuJIUwJmgmzGvC5AILTBVQotpey7Bf4XEsPwP3lAYPeupn3ocN8_XF_QJaTOWDk-uq8vwMV-NUnQgyAMyhp7utfDvMeJm3-MCYvK60CpQ-a2OCJsAbvcWOUWUwWTaVkd8hVJdF0_iuk/w400-h160/perfil_mediabox+ricardo.jpg" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-36585984894194598992021-06-26T11:01:00.002-07:002021-06-26T11:01:40.494-07:00Law & Order SVU e a representação de problemas raciais e sociais contemporâneos<div style="text-align: justify;"><a href="https://media.giphy.com/media/1msK2c1s3lfyomkRmL/giphy.gif"><span style="color: white;"> </span><img border="0" height="174" src="https://media.giphy.com/media/1msK2c1s3lfyomkRmL/giphy.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><div style="text-align: justify;">Que os mais diversos produtos audiovisuais são utilizados para retratar problemas sociais, isso não é nenhuma novidade. Do antigo teatro, perpassando pelo rádio, televisão, cinema e serviço de <i>streaming</i>, sempre seremos confrontados por uma história que traz certa similaridade com a realidade e que nos leva a refletir sobre o mundo. As perguntas que ficam são: até onde essa história e a discussão que ela suscita podem trazer mudanças sociais ou de pensamento em seus telespectadores? Será que problemas sociais relevantes sendo abordados por um produto audiovisual despertam o intelecto daqueles que o assistem? Os fazem raciocinar acerca da realidade que estão inseridos? E mais do que isso, fazem o ser humano desejar mudança?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quando falamos em séries policiais, em especial<i> Law & Order: SVU</i>, que aqui será abordada mais pela sua longevidade do que por minha preferência, problemas sociais tais como o racismo, violência policial, imigração, grupos extremistas, preconceito religioso, machismo, homofobia, têm sido exibidos com frequência. Todos esses problemas que, em épocas não muito distantes, eram pouco discutidos nas grandes redes encontraram lugar cativo no <i>mainstream</i> das séries policiais.</div></div><div><div style="text-align: justify;"><br /></div><a href="https://i.gifer.com/69mW.gif"></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://i.gifer.com/69mW.gif"></a><a href="https://i.gifer.com/69mW.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> <span> </span><span> </span><span> <span> </span></span> </span></span><img border="0" data-original-height="185" data-original-width="415" height="178" src="https://i.gifer.com/69mW.gif" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><b>A representação da realidade em Law & Order SVU</b></div></b><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A série <i>Law & Order SVU</i> faz parte do chamado “Universo de séries Dick Wolf”, o aclamado produtor de séries estadunidense é responsável por mais de 30 séries, como <i>Law & Order</i> (1990 - Presente),<i> Law & Order SVU</i> (1999 – presente), <i>Miami Vice</i> (1984 - 1989), <i>Chicago PD</i> (2014 – presente) e <i>Chicago Fire</i> (2012 – presente). O produtor sempre busca em suas séries uma representação da realidade, apesar de no início de todos os episódios da franquia <i>Law & Order</i> um aviso piscar na tela dizendo: <i>“The following story is fictional and does not depict an actual person or event.”</i> (A história a seguir é ficcional e não retrata pessoas ou eventos reais.), em entrevista¹ dada ao jornalista Michael Rosen (Março & Abril, 2003), Dick Wolf admite que a “bíblia” que utilizara para os episódios era a primeira página do jornal <i>Washington Post</i>. Ou seja, mesmo não tendo nomes ou eventos reais na íntegra, toda a produção é baseada em eventos reais, porém, com alguns toques ficcionais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><a href="https://vivacello.org/img/celebs/42/dick-wolf-who-createdlaw-orderhas-faced-plenty-ups.jpg"></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://vivacello.org/img/celebs/42/dick-wolf-who-createdlaw-orderhas-faced-plenty-ups.jpg"></a><a href="https://vivacello.org/img/celebs/42/dick-wolf-who-createdlaw-orderhas-faced-plenty-ups.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white;"><span> </span><span> <span> </span> </span><span> </span></span><img border="0" data-original-height="340" data-original-width="650" height="241" src="https://vivacello.org/img/celebs/42/dick-wolf-who-createdlaw-orderhas-faced-plenty-ups.jpg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E nesse momento você leitor que já assistiu algumas vezes <i>Law & Order</i> com toda certeza parou para pensar naquele crime que você já ouviu falar, leu sobre ou até viveu e acabou vendo uma representação dele na TV. Talvez um crime comum como o assassinato de alguém que anda a noite por um local deserto ou algo mais especifico como no 16º episódio da 14ª temporada intitulado<i> Funny Valentine</i> (2013, Universal Television) em que um Rapper famoso agride sua namorada diversas vezes e a mesma se recusa a denunciar (qualquer alusão ao caso de Rihanna e Chris Brown não é mera coincidência). De fato, nos vermos representados na televisão traz um reconhecimento por meio daquela narrativa ou personagem, o que leva o espectador a um interesse muito maior, como bem explica Bulhões (2009, p.114),</div><blockquote>Não são poucas as narrativas midiáticas que favorecem o reconhecimento. Quando os personagens representam dramas bastante críveis, vivem conflitos e situações plausíveis, nos reconhecemos como seres ficcionais cuja estampa é de “gente como a gente”. Seus dramas e alegrias são admissíveis, pois parecem fazer parte de um padrão perfeitamente verificável na nossa vida ou naquelas pessoas que conhecemos. [...] Muitas narrativas de televisão exemplificam bem essa atitude.</blockquote><div style="text-align: justify;">Sobre as narrativas policiais Brudy (2006) destaca o amor que os estadunidenses têm pelo tribunal, as séries policiais já em 2006 dominavam o horário nobre, sendo que a “court TV” (algo similar a nossa TV justiça), é um sucesso e transmite julgamentos dia e noite, todos os dias na semana. A autora explica ainda que John Grisham, famoso romancista, escrevera quinze livros policiais que figuraram entre os <i>Best Sellers</i> pelo <i>New York Times</i> e sete ainda viraram filmes. Acontece que todo esse amor que os estadunidenses nutrem pelos tribunais, romances e séries policiais, não se refletiu em números ou nas políticas penais do país em si. Segundo a revista Superinteressante (2019) metade dos estadunidenses têm um familiar próximo que foi preso e eles são o país com a maior população carcerária do mundo, o que mostra que a criminalidade não é baixa nos EUA.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Provavelmente você está se perguntando como um seriado policial que trata de problemas penais pode fazer algum mal? Trazer uma alusão qualquer que vá contra o direito ou a justiça? Talvez não seja o seriado em si, mas como aquele que o assiste recepciona o conteúdo. Observem que quando estamos em frente à TV assistindo nossa série favorita conjecturar sobre “quem é o assassino? ” Ou “quem matou a Fulana? ” é um exercício de diversão, um entretenimento que nos deleita e, diga-se de passagem, acho muito divertido. Contudo frente a um caso concreto aquela pessoa que tem “cara de assassino”, “com certeza é culpado” ou “está gaguejando muito na frente do Juiz” não necessariamente é o culpado, o produto televisivo que você assiste pode lhe dar um falso herói ou um falso vilão, observem que toda uma geração cresceu admirando um anti-herói, o Capitão Nascimento (Tropa de Elite, 2007) que retratava a figura fictícia de um policial torturador que fazia justiça com as próprias mãos, de acordo com a lei policiais só podem atacar outras pessoas quando estiverem em risco, ou seja, em legítima defesa.</div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://64.media.tumblr.com/aba0121b2db5ca4218fcbba0f55d95f9/100aadf0b21131f9-c4/s250x400/388f87f6bd628c3cfcdc59d024645a2325eb16e5.gifv" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span></span><img border="0" data-original-height="152" data-original-width="245" height="220" src="https://64.media.tumblr.com/aba0121b2db5ca4218fcbba0f55d95f9/100aadf0b21131f9-c4/s250x400/388f87f6bd628c3cfcdc59d024645a2325eb16e5.gifv" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Conforme Brudy (2006, p.18) pontua, as pessoas internalizam as crenças apresentadas pelos dramas policiais que assistem na televisão. A professora da Universidade do Colorado Edie Greene (1990) no início da década de noventa estudando o efeito da mídia nos Júris, já afirmara em suas pesquisas que pessoas que tinham como sua única fonte de informação a televisão expressavam uma maior crença no uso da força policial, pena de morte e em uma prisão menos reabilitadora. Tais informações são necessárias para entendermos que se trata de uma via de duas mãos, os mesmos produtos midiáticos que podem denunciar problemas sociais e relatar injustiças, podem em seu escopo trazer uma abordagem que afirme atitudes nocivas à sociedade, é necessário a sabedoria daquele que assiste para interpretar a mensagem passada e refletir sobre a situação, a qual, estamos vivendo como seres humanos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><b>Law & Order: SVU em dois episódios</b></div></b><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A partir deste contexto, iremos analisar dois episódios do já referido seriado <i>Law & Order: SVU</i>, com o intuito de extrair sentidos e significados que podem ser depreendidos deles, além de levar o leitor a uma reflexão acerca dos temas abordados. Ambos os episódios tratam em épocas diferentes as nuances da violência policial. O primeiro retrata um jovem negro brutalmente assassinado pela polícia em 2015 e o segundo retrata um jovem negro preso injustamente pela polícia em 2020. Lembrando que apesar de se tratarem de histórias fictícias guardam suas similaridades com casos reais.</div><div style="text-align: justify;"><span> </span><span> </span><br /></div><div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"> <span> </span> <span> </span><span> </span><span> </span><a href="https://media0.giphy.com/media/c7S0ucsdLzSvchaOdW/source.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="338" data-original-width="600" height="225" src="https://media0.giphy.com/media/c7S0ucsdLzSvchaOdW/source.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O primeiro deles é o 5º episódio da 17ª temporada, exibido em 14 de outubro de 2015, com o nome de <i>“</i>Community Policing<i>”</i>, no episódio um jovem negro que é confundido com um suspeito de estupro em um bairro periférico, corre dos policiais e tenta ingressar em casa, ao se virar é alvejado por disparos mesmo sem portar arma de fogo. Os policiais que o perseguiam alegam que atiraram em legitima defesa, mas nenhuma arma é encontrada com o jovem negro que foi atingido por 9 das mais de 30 balas disparadas. Para demonstrar ainda mais o corporativismo e a quão caótica pode ser uma investigação o detetive Carisi (Peter Scanavino) adentra sem mandado judicial na casa do jovem e só encontra uma pequena quantidade de drogas. Além de tudo o suspeito do estupro tem cabelo longo e o jovem tinha cabelo curto. Olivia Benson (Mariska Hargitay) que chefia as investigações e é uma policial exemplar acredita que os policiais envolvidos são inocentes. O promotor Rafael Barba (Raúl Esparza) pressionado por seus superiores e pelo prefeito, discorda de Olivia e denuncia os policiais, o que gera uma crise dos policiais entre eles e da polícia com a promotoria.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No referido episódio algumas cenas merecem destaque, como em frente ao tribunal o movimento <i>“Black Lives Matter”</i> fazendo uma manifestação, o chefe de polícia ser um homem negro, mas mesmo diante de um vídeo mostrando o suspeito sendo alvejado sem portar arma, continuar defendendo os policiais, um dos policiais continuar defendendo seus parceiros mesmo ele tendo disparado somente 3 vezes enquanto seus parceiros esvaziaram os pentes das respectivas armas. Fato importante é que mesmo com todo o ocorrido os policiais são denunciados por descuido e negligência (crimes leves), mas o Júri (população comum) opta por denunciar os policiais por um crime mais grave, homicídio culposo (sem a intenção de matar) e o policial que atirou 3 vezes por descuido irresponsável (delito da legislação americana menos grave). Ao final do episódio, quando parece que teremos uma crítica pura à atuação das forças policiais, um jovem policial de 24 anos é assassinado em uma abordagem simples de trânsito, dando a entender que o mesmo ficou com medo de exagerar devido a comoção que se instalou na cidade e acabou sendo assassinado.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><a href="https://cdn.newsbusters.org/images/SVUBLM.png"></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://cdn.newsbusters.org/images/SVUBLM.png"><span style="color: white;"> <span> <span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span> </span></span></a><a href="https://cdn.newsbusters.org/images/SVUBLM.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="430" data-original-width="800" height="215" src="https://cdn.newsbusters.org/images/SVUBLM.png" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O segundo episódio se trata do 1º episódio da 22ª temporada nomeado “<i>Guardians and Gladiators</i>”, que é de novembro de 2020, tal episódio já vem ao ar dentro de uma realidade diferente, em meio aos protestos pelo assassinato de George Floyd. Vários grupos de direitos civis estão criticando a atuação policial não só nos EUA mas em vários países do mundo, inclusive no Brasil.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nesse episódio que o drama inicial foi retirado de uma matéria real publicada em outubro no <i>Washington Post²</i> (lembram da bíblia de Dick Wolf?), uma mulher branca liga para a polícia dizendo que um homem negro de nome Jayvon Brown (Blake Morris) está ameaçando ela e seu filho, sendo que Jayvon simplesmente caminha pelo parque depois que saiu do trabalho, a polícia chega rapidamente. Dentro da trama do episódio, o filho da mulher vai pegar uma bola em meio à confusão e acaba avistando um homem desmaiado. A mulher acusa Jayvon dizendo que deve ter sido ele quem atacou o homem que se encontrava desmaiado, a agora Capitã, Olivia Benson da ordem para levar o homem pois ele tem uma intimação pendente por protesto, esse vídeo da prisão de um homem negro sem mais provas acaba por viralizar na internet. No decorrer das investigações a polícia descobre que o homem caído no parque tinha sido estuprado e que na verdade Jayvon não estava lá na hora do crime. Quem acompanhava o homem que foi abusado era um homem branco que inclusive filmou a prisão de Jayvon e ainda postou na internet criticando a polícia (como eu adoro os Plot twists dessa série!).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><a href="https://media0.giphy.com/media/4adSNAHXKlchPeVRq1/giphy.gif?cid=e1bb72ff5be81a75497577384d9b092e"></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://media0.giphy.com/media/4adSNAHXKlchPeVRq1/giphy.gif?cid=e1bb72ff5be81a75497577384d9b092e"></a><a href="https://media0.giphy.com/media/4adSNAHXKlchPeVRq1/giphy.gif?cid=e1bb72ff5be81a75497577384d9b092e" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white;"><span> </span><span> <span> </span><span> </span><span> </span> </span><span> </span></span><img border="0" data-original-height="281" data-original-width="500" height="225" src="https://media0.giphy.com/media/4adSNAHXKlchPeVRq1/giphy.gif?cid=e1bb72ff5be81a75497577384d9b092e" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Durante a trama Jayvon processa a polícia e a Capitã Benson tem que responder a um processo na corregedoria, inclusive é um episódio marcado por conversas fortes na corregedoria, o nome de George Floyd é mencionado mais de uma vez, uma membra negra da corregedoria diz que Olivia talvez seja racista e não saiba, pois muitos o são e que é necessária uma reflexão sobre isso, o que estarrece a Capitã Benson (uma reflexão válida a todos não só sobre o racismo, mas também sobre o sexismo, homofobia e outras formas de preconceito).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A polícia tem provas contundentes que o homem, o qual, foi visto com a vítima é realmente o culpado do estupro, mas no julgamento o Júri começa a desacreditar os policiais e a promotoria, uma vez que, eles já erraram no mesmo caso prendendo Jayvon Brown que era inocente, o júri inclusive acredita que eles só prenderam Jayvon Brown pelo fato de ele ser negro e também que a polícia está mentindo com relação ao verdadeiro culpado, sendo que o verdadeiro culpado do crime testemunha se dizendo uma vítima das mentiras policiais e se comparando a Javyon Brown. Ao fim o verdadeiro culpado é absolvido, o que mostra o descrédito da população com a polícia frente aos acontecimentos atuais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><a href="https://media2.giphy.com/media/FfpKvdYKmwmKuGHrZX/source.gif"></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://media2.giphy.com/media/FfpKvdYKmwmKuGHrZX/source.gif"></a><a href="https://media2.giphy.com/media/FfpKvdYKmwmKuGHrZX/source.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white;"><span> </span><span> </span><span> <span> </span><span> </span><span> </span> </span><span> </span></span><img border="0" data-original-height="281" data-original-width="500" height="225" src="https://media2.giphy.com/media/FfpKvdYKmwmKuGHrZX/source.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ao analisar os dois casos em tela que foram ao ar em <i>Law & Order: SVU</i>, não venho até aqui trazer uma solução mágica, ou dizer que a série em análise é boa ou ruim, tão pouco que defende o lado A ou o lado B, isso eu deixo para a sua reflexão. Podemos extrair diferentes conclusões, inclusive conflitantes e que estariam igualmente corretas. De fato, não podemos negar que o preconceito racial, o abuso policial e o corporativismo acontecem todos os dias nos mais diferentes lugares, é importante a discussão desse tema. Não podemos negar também que o abismo de descrédito em que instituições legais como a polícia mergulharam é prejudicial para a sociedade como um todo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em ambos os episódios vimos situações cruéis que jovens negros e suas famílias foram submetidos, vimos igualmente o sistema penal americano, que guarda suas particularidades, mas também suas similaridades com o sistema brasileiro, tratar os casos com desdém. Casos que são manchete tanto no Brasil como nos EUA todos os dias, foram retratados e reforçam que precisamos de uma mudança na maneira como pensamos. Será que basta que eles sejam mostrados na mídia? Minha resposta é NÃO! Precisamos de muito mais para que um efeito social surja por parte da população e das autoridades.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Assistir aos episódios de <i>Law & Order: SVU</i> que nos trazem questões tão complexas sobre problemas sociais nos quais estamos inseridos, nos revela que precisamos cada dia mais de uma educação midiática. Como pontua Santos Neto (2020), se trata de entender os produtos comunicacionais aos quais estamos submetidos, se trata de receber os produtos de maneira coerente, devemos ter consciência crítica de quais problemas eles estão abordando e como esses problemas devem ser discutidos dentro de nossas realidades, precisamos nos capacitar para um posicionamento como cidadãos dentro do audiovisual. O audiovisual, que por sua vez, a cada dia que passa deixa mais de ser um mero instrumento de entretenimento e vem se transformando em um instrumento de mudança social.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Realizar críticas rasas e vazias perante assuntos tão complexos como racismo, preconceito, violência policial... é desprezar as infinitas nuances que existem dentro de assuntos da mais alta complexidade e igualmente desprezar o tanto de vidas que são perdidas diariamente para essa realidade. É de suma importância que todos aqueles que recebem um produto comunicacional tenham a capacidade de discuti-lo socialmente, buscando um bem maior e não somente um “é bom” ou “é ruim”. Não basta assistir, não basta observar, não bastar dar uma opinião sobre o produto, é necessário refletir e agir sobre aquilo que somos provocados.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><b>NOTAS</b></div></b><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">¹ Entrevista disponível em: <a href="https://interviews.televisionacademy.com/interviews/dick-wolf">https://interviews.televisionacademy.com/interviews/dick-wolf</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">² Matéria disponível em: <a href="https://www.washingtonpost.com/national-security/central-park-hearing-amy-cooper-christian/2020/10/14/ae30110c-0e27-11eb-8a35-237ef1eb2ef7_story.html">https://www.washingtonpost.com/national-security/central-park-hearing-amy-cooper-christian/2020/10/14/ae30110c-0e27-11eb-8a35-237ef1eb2ef7_story.html</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><b><div style="text-align: justify;"><b>REFERÊNCIAS</b></div></b><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">AZEVEDO, Ana. Law & Order SVU: a cor do problema. <b>Valkirias</b>, Online, 2021. Disponível em: <a href="https://valkirias.com.br/law-order-svu-a-cor-do-problema/">https://valkirias.com.br/law-order-svu-a-cor-do-problema/</a> . Acesso em: 25 jun. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">BATTAGLIA, Rafael. Quase metade dos americanos tem um familiar próximo que já foi preso. <b>Superinteressante</b>. São Paulo: Abril, mar. 2019. Disponível em: <a href="https://super.abril.com.br/sociedade/quase-metade-dos-americanos-tem-um-familiar-proximo-que-ja-foi-preso/">https://super.abril.com.br/sociedade/quase-metade-dos-americanos-tem-um-familiar-proximo-que-ja-foi-preso/</a> . Acesso em: 25 jun. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">BRUDY, Kristin K. <b>The Drama of the Courtroom</b>: <i>Media Effects on America Culture and Law.</i> Dissertação (Psychology Honor Thesis). Georgetown University, Georgetown, 2006. Disponível em: <a href="https://repository.library.georgetown.edu/handle/10822/551693">https://repository.library.georgetown.edu/handle/10822/551693</a> Acesso em: 25 jun. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">BULHÕES, Marcelo M. <b>A ficção nas mídias</b>: um curso sobre a narrativa nos meios audiovisuais. São Paulo: Ática, 2009.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">GREENE, Edith. Media Effects on Jurors. <b>Law and Human Behavior</b>, v.. 14, n. 5. p. 439 – 450, out. 1990. Disponível em: <a href="https://www.researchgate.net/publication/226752055_Media_effects_on_jurors">https://www.researchgate.net/publication/226752055_Media_effects_on_jurors</a>. Acesso em 07 Jun. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">SANTOS NETO, José Leite dos. <b>O que é educação midiática?</b> Um campo de interação entre cinema e educação. Revista Educação, Pesquisa e Inclusão, v. 1, p. 156-168, 2020. Disponível em: <a href="http://dx.doi.org/10.18227/2675-3294repi.v1i0.6528">http://dx.doi.org/10.18227/2675-3294repi.v1i0.6528</a> . Acesso em 08 Jun. 2021.</div></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCewDQQx87Pvld4Vs7ROaX1xn0m6CAPJ9xoMo_Y1zVJLXsNas3GiTtrz3JlDaQI03CzM-1kabp49rnGQr6398etAwLJPFRhu0YIpzoGAxT7jrOpS0EhqAqvVF1W3dwYN_aH2S0M0FrFGc/s500/Card+Helom.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span></span><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="500" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCewDQQx87Pvld4Vs7ROaX1xn0m6CAPJ9xoMo_Y1zVJLXsNas3GiTtrz3JlDaQI03CzM-1kabp49rnGQr6398etAwLJPFRhu0YIpzoGAxT7jrOpS0EhqAqvVF1W3dwYN_aH2S0M0FrFGc/w400-h160/Card+Helom.jpeg" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-18217323620748158772021-06-20T17:30:00.105-07:002021-06-21T08:22:28.925-07:00 As linhas tensas da construção feminina na série A amiga genial<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">A Nápoles dos cenários coloridos, praias brilhantes e sorvetes em casquinha ficará para trás no imaginário daqueles que se aventurarem na série “A amiga genial” (My Brilliant Friend, HBO, 2018 - atual). Ambientada na Itália pós Segunda Guerra, a história de Lila e Lenu se desenvolve em uma sociedade amargurada pela escassez e violência, onde os atos da geração passada parecem guiar o destino de todos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">A série é uma produção da HBO em parceria com a RAI e TIMvision, e tem como base a tetralogia homônima de Helena Ferrante. Até o momento, “A amiga genial” é composta por duas temporadas, de oito episódios, que acompanham dois livros iniciais da trama. A terceira temporada já está sendo gravada em Nápoles e ainda não tem data de lançamento.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">A série se constrói em torno da amizade de Elena Greco, a Lenu, interpretada por Margherita Mazzucco e Rafaella Cerullo, a Lila, interpretada por Gaia Girace. Ambas nasceram em um bairro pobre de Nápoles, de famílias que também lá se formaram com perspectivas que não vão muito além dos limites daquele lugar. Mas é na quebra desses limites, tanto geográficos, quanto invisíveis, que as duas se conectam. As atitudes ousadas de Lila inspiram Lenu a transpor muros que a classe e o gênero impuseram. Busca esta que a guiará pelo resto da vida.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">A partir daí se inicia a saga da amizade que acompanhará as duas até a velhice. Helena é a narradora, e nos mostra sua visão dos fatos ao longo da infância e juventude das meninas. A relação, permeada por altos e baixos é como um fio, que mesmo tensionado nunca se rompe. Na visão parcial dos fatos que Lenu nos apresenta, nunca fica claro o quão cruel ou o quão brilhante é essa amizade, o fato é que ela nos parece real e profunda, capaz de imprimir também em nós a sua marca.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><span style="font-family: inherit;"><a href="https://media.giphy.com/media/KctdYeeB1mPhzDNOVb/giphy.gif"></a></span><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><a href="https://media.giphy.com/media/KctdYeeB1mPhzDNOVb/giphy.gif"></a><a href="https://media.giphy.com/media/KctdYeeB1mPhzDNOVb/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span></span><img border="0" data-original-height="225" data-original-width="400" src="https://media.giphy.com/media/KctdYeeB1mPhzDNOVb/giphy.gif" /></a></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><b><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: inherit;">Amizade narrada como ela é</span></b></div></b><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">A amizade na série está longe de ser uma relação banal, ela é apresentada em sua versão mais real, com infinitas nuances e explorando a profundidade das personagens que as afastam de diversos estereótipos. Como a história é ambientada nos anos 1950, o papel assumido pelas personagens vai de acordo ao usualmente retratado nas produções dessa época. Em que as mulheres eram “[...] definidas por seus relacionamentos familiares (esposa, mulher, filha), ou por profissões ou ocupações femininas, como a busca de um marido” (DOW, 2005, p. 379 (tradução nossa).</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Lila e Lenu estão imersas em uma cultura onde, não somente a sociedade espera que elas se encaixem nesse padrão, como também elas acreditam ser esse o único caminho a seguir. Apesar de ambas apresentarem desde início, uma inteligência e esperteza que as tiram do lugar comum, as pressões sociais essencialmente machistas asfixiam suas possibilidades de ascensão.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Ao longo da trama, no entanto, Lenu usa de seus estudos como uma ferramenta que a afasta, em certa medida, dessa subordinação à figura masculina. Já Lila, em outro contexto, precisa zelar pelo bem estar da família desde muito cedo e sacrifica sua liberdade em razão disso. Porém, mesmo com realidades que se afastam ao longo da série da HBO, Lenu nunca consegue se livrar da sensação de ser menos do que Lila - menos bonita, menos interessante, menos inteligente. Esse sentimento de falta é o principal combustível que move Lenu a extrapolar seus limites, tentando estar sempre ao mesmo nível da melhor amiga.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://media.giphy.com/media/MeIUnnHJ5TUabu2oj5/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white; font-family: inherit;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><img border="0" data-original-height="225" data-original-width="400" src="https://media.giphy.com/media/MeIUnnHJ5TUabu2oj5/giphy.gif" /></span></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><span style="font-family: inherit;"></span><div><span><span style="font-family: inherit; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><div style="text-align: justify;"><br /></div></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">A amizade entre duas mulheres é retratada em “A amiga genial” com uma profundidade que é rara no audiovisual (PRESS, 2018) O relacionamento de Lila e Lenu trilha nos limites entre a sororidade e a competitividade, a parceria não se coloca em uma visão utópica da aliança entre duas mulheres, mas sim com todos os percalços e intrigas que uma amizade pode gerar.</span></div> <div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">A construção de personagens femininos complexos é um fenômeno ainda novo, a chamada “era de ouro da televisão” das últimas décadas foi moldada, em sua maioria, por protagonistas masculinos (LOTZ, 2006). Como o mafioso Tony Soprano, em uma lista que figuram ainda Walter White de “Breaking bad” e Don Draper de “Mad men”. Como Martin (2013) os define, os “homens difíceis” da ação, isto é, humanos, mas capazes de atos atrozes, que precisavam lidar com o próprio mal que colocavam no mundo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">De acordo com Lotz (2006) historicamente há uma escassez de dramas centrados na mulher. “Antes do final da década de 1990, a televisão dos Estados Unidos havia confinado principalmente representantes de mulher a comédias, (I Love Lucy, That Girl, The Mary Tyler Moore Show, Roseanne, Murphy Brown), e a personagens individuais colocadas em cenários dominados por homens (Capitã Janeway em Star Trek: Voyager, por exemplo)” (LOTZ, 2006, p. 2).²</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">O cenário hoje é diferente, com o público feminino sendo um alvo lucrativo para diversos canais, as narrativas focadas em mulheres têm crescido exponencialmente, o que colabora para o surgimento de personagens mais complexas.</span></div> <div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><a href="https://media.giphy.com/media/fvpt5Fk1DQQaXPq4f0/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: inherit;"><span style="color: white;"> </span><img border="0" data-original-height="225" data-original-width="400" src="https://media.giphy.com/media/fvpt5Fk1DQQaXPq4f0/giphy.gif" /></span></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><span style="font-family: inherit; font-weight: bold;"><div style="text-align: justify;">Lila como a anti-heroína da saga?</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Por mais que os fatos nos sejam apresentados sob a ótica de Lenu, na primeira cena nos deparamos com o comportamento conflituoso de Lila. Já idosa, a mulher parece apagar todo o seu vestígio no mundo, nenhuma roupa, nenhum documento, até as fotos em que aparecia foram recortadas. Lila some sem dar satisfações e deixando para trás o filho adulto, Rino. “Como sempre, Lila exagerou”, é o que diz Lenu diante desse acontecimento.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Teria sido o seu misterioso desaparecimento o ápice de uma trajetória conturbada? Ao longo da narrativa, a personagem assume certos posicionamentos que nos permite questionar o seu enquadramento na categoria dos anti-heróis, ou melhor, na categoria de <span id="docs-internal-guid-7889bd42-7fff-6cc2-e6bb-9cf1c8e7f1f9"><span style="text-align: justify; white-space: pre-wrap;">anti-heroína. De acordo com Smith (1995) o anti-herói é um personagem com o qual o espectador possui um tipo específico de alinhamento: ao conhecer suas motivações, suas ações e comportamentos o levam a firmar o que chama de “aliança moral ambígua”. </span></span></span></div><div><div style="text-align: justify;"><span id="docs-internal-guid-a65a1476-7fff-bbaf-8be4-cc4e9eb1b598"><div><span style="font-family: inherit; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div><span style="font-family: inherit;">Quem assistiu ou leu os livros de “A amiga genial” pode afirmar que o sentimento que ronda Lila é, no mínimo, intenso. Ao sermos guiados pela narrativa de Lenu, nos aproximamos de seus pensamentos mais íntimos e podemos ver ela mesma lidando com essa “moralidade ambígua” de Lila, e certamente formando uma aliança com a mesma.</span></div><div><span style="font-family: inherit; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline;"><p dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; white-space: pre-wrap;"><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify; white-space: pre-wrap;"><a href="https://media.giphy.com/media/XdVS0GvWhBkdAIPEEb/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> <span> </span><span> </span> </span></span><img border="0" data-original-height="225" data-original-width="400" src="https://media.giphy.com/media/XdVS0GvWhBkdAIPEEb/giphy.gif" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify; white-space: pre-wrap;"><br /></div>Smith (1995,1999), Vaage (2010), Vermeule (2010), Mittell (2015) e Castellano e Meimaridis (ANO?) destacam quatro características recorrentes nos anti-heróis. São elas: inteligência maquiavélica, protagonistas carismáticos, moralidade relativa e aliança ambígua. A inteligência maquiavélica é a primeira que, de cara, já podemos associar a Lila. No primário era o destaque da turma, aprendeu a ler antes de todos sem nenhuma ajuda, teve destreza para vencer competições até com alunos mais velhos. Características de uma criança prodígio, que Lila muitas vezes desprezava, como se a escola e os estudos não fossem coisas reais o suficiente para impactar seu mundo. <br /><br />O conceito de inteligência maquiavélica é originalmente criado na ciência cognitiva (BRYNE; WHITEN, 1988; 1997) e aplicado aos anti-heróis por Vermeule (2010). O autor afirma que os espectadores de narrativas ficcionais se interessam por tentar ler a mente de personagens maquiavélicos, para, assim, desenvolver suas próprias habilidades sociais. Na trama, podemos ver Lenu assumindo esse comportamento em relação a Lila, tentando desvendar seu modo de pensar e agir, e imprimir tais características em si mesma. <br /><br />Isso fica claro na primeira temporada, quando Lenu é assediada por garotos na escola e, em reação, age da forma como Lila teria agido. “Naquele momento me dei conta que Lila agia sobre mim como um fantasma exigente. Em sua ausência, me pus no lugar dela. Ou melhor, abri espaço para ela em mim” (S01E03 “The Metamorphoses”). <br /><br />Outro traço relacionado aos anti-heróis é o carisma que, de acordo com Mittell (2015), pode vir da performance do ator ou por “deixas narrativas”. Ao falarmos de Lila, carisma não é a primeira palavra que vem à mente. Por termos contato com a perspectiva de Lenu, nos tornamos muito mais próximos desta personagem, inclusive tomando suas dores em sua relação com Lila. Porém, é pelas “deixas narrativas” que o carisma da personagem pode ser notado. <br /><br /><a href="https://media.giphy.com/media/Xxp6sDngucTnqkF9Gl/giphy.gif"></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://media.giphy.com/media/Xxp6sDngucTnqkF9Gl/giphy.gif"></a><a href="https://media.giphy.com/media/Xxp6sDngucTnqkF9Gl/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> <span> </span></span><img border="0" data-original-height="225" data-original-width="400" src="https://media.giphy.com/media/Xxp6sDngucTnqkF9Gl/giphy.gif" /></span></a></div><br />Mittel (2015) afirma que nas “deixas narrativas”, nota-se que a forma como o anti-herói é tratado por outros personagens na série e proporciona ao espectador pistas de como o protagonista deve ser encarado. Enquanto Lenu é vista pelos moradores do bairro como uma pessoa distante, “melhor” do que eles por seus estudos, Lila muitas vezes é tida como uma representante dos anseios do bairro, corajosa e leal aos que lá moram. Sua personalidade a faz ser respeitada e invejada pelos demais personagens, o que imprime ao espectador, e a Lenu, a sensação de que Lila é, de fato, uma pessoa que merece o destaque. <br /><br />No entanto, os mesmos ideais que a personagem tanto preza vão sendo sufocados. Seus esforços para não cometer os erros do passado, o desprezo pelo dinheiro sujo que move a economia local, e o pequeno poder das famílias que acham que o “bairro é o mundo e o mundo é o bairro”, vão se diluindo, sendo quebrados por incidentes que parecem pôr em prova todas suas convicções. <br /><br />A “moralidade relativa” da personagem fica mais clara na segunda temporada da série, em seu comportamento, principalmente perante Lenu. Nuances que já davam as caras na infância, como o episódio em que Lila joga a boneca favorita da amiga em um porão escuro, calham em atitudes concretas no qual Lila parece agir exclusivamente para prejudicar a amiga. Podemos chamar de traição, inveja ou competitividade, o certo é que em muitos pontos chegamos a duvidar da sinceridade dos sentimentos de Lila por Lenu. E, claro, sentir raiva de Lenu por ser tão passiva e benevolente diante tais incidentes. Essa passividade, durante as primeiras temporadas, dá ainda mais força a dualidade entre as amigas, reforçando a dicotomia entre o “bem” e o “mal”, assumida inclusive pelas personagens no momento em que Lila admite que Lenu é sempre boa, enquanto ela, é má. <br /><a href="https://media.giphy.com/media/WnBU2hpWqMotwsNmv7/giphy.gif"><br /></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://media.giphy.com/media/WnBU2hpWqMotwsNmv7/giphy.gif"></a><a href="https://media.giphy.com/media/WnBU2hpWqMotwsNmv7/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span></span><span style="color: white;"> </span><img border="0" data-original-height="225" data-original-width="400" src="https://media.giphy.com/media/WnBU2hpWqMotwsNmv7/giphy.gif" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div> No entanto, não é possível considerar Lila apenas a vilã da série ou a pedra no sapato na vida de Lenu. Com suas limitações, a personagem conquista a simpatia do público e o perdão contínuo da amiga. Para compreender como os personagens conquistam a “simpatia” dos espectadores Smith (1995) propôs um sistema de engajamento denominado “Estrutura da Simpatia”. Tal estrutura se divide em três níveis: reconhecimento, alinhamento e aliança. <br /><br /></span></div><div><span style="font-family: inherit; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline;">A construção da narrativa vai nos apresentando a realidade de Lila e ,com isso chegamos a conclusão de que ela, de fato, é uma mulher genial, presa na única vida que foi capaz de ter. Sem o peso da narrativa de Lenu, podemos ver que seus sonhos e ideais asfixiados, resultaram na amargura, e a levaram a buscar incessantemente janelas de fuga para a realidade cruel na qual se encontrava. Ao vermos a personagem tomando decisões erradas e lidando com as consequências, cria-se uma atmosfera de empatia, afinal, nada mais humano que cometer erros e lidar com eles. É na construção dessa humanidade que se forma uma aliança. <br /><br /></span></div><div><span style="font-family: inherit; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline;">Como duas faces da mesma moeda, Lila e Lenu são as melhores, e as vezes piores amigas. Ambas brilhantes, geniais a sua maneira, Lenu centrada, metódica, já Lila autodidata e anárquica. A relação intensa e verdadeira entre essas duas mulheres mostra uma outra face retratada no audiovisual que se afasta da mera competitividade ou do pacto utópico e idealizado que se pode ter em uma amizade. <br /><br />A construção da anti-heroína apresenta aspectos complexos, principalmente se levarmos em conta a narrativa de Lenu em primeira pessoa. Pois, assim como Bentinho narra Capitu, na obra de Machado de Assis, Lila também se encontra encoberta por um véu de idealização da amiga. Suas atitudes, como um todo, podem sim ser julgadas como moralmente ambíguas, porém em um contexto no qual a própria moralidade é posta em cheque a todo momento. O universo criado por Ferrante nos entrega a profundidade em relações cotidianas, sem uma proposta revolucionária, da simples, ou não tão simples, amizade entre duas mulheres, a série explora os aspectos mais intensos que uma relação pode tomar. <br /><a href="https://media.giphy.com/media/gdkBLUT2LMm7Astf7R/giphy.gif"><br /></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://media.giphy.com/media/gdkBLUT2LMm7Astf7R/giphy.gif"></a><a href="https://media.giphy.com/media/gdkBLUT2LMm7Astf7R/giphy.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span></span><img border="0" data-original-height="225" data-original-width="400" src="https://media.giphy.com/media/gdkBLUT2LMm7Astf7R/giphy.gif" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div></div><div><span style="white-space: pre-wrap;"><br /></span></div><div><span style="white-space: pre-wrap;">¹Entre os anos 1950 e 1960, as personagens femininas eram “definidas por seus relacionamentos familiares (esposa, mulher, filha), por profissões ‘femininas’ e/ou preocupações ‘femininas’ (como a busca por um marido)” (Dow, 2005, p. 379, tradução nossa)</span></div><div><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline;"><div style="text-align: left;"><span><span></span></span></div></span></div><div><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline;"><br /></span></div><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">²</span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Prior to the late 1990s, U.S. network television primarily had confined complex representations of women to situation comedies (I Love Lucy, That Girl, The Mary Tyler Moore Show, Roseanne, Murphy Brown) and to individual characters placed in male-dominated dramatic settings (Captain Janeway in Star Trek: Voyager, for example) (LOTZ, 2006, p. 2) </span></span></div><div><span style="font-family: inherit; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; vertical-align: baseline;"><span style="white-space: pre-wrap;"><br /></span><b>Referências:<br /></b><br /><span>Castellano, Mayka e Meimaridis, Melina. “MULHERES DIFÍCEIS”: A anti-heroína na ficção seriada televisiva americana. Famecos, 2018. Disponível em: file:///C:/Users/User/Downloads/A%20anti-hero%C3%ADna%20na%20fic%C3%A7%C3%A3o%20seriada%20televisiva%20americana%20(2).pdf<br /><br />DOW, B. J. Hegemony, feminist criticism and the Mary Tyler Moore show. Critical Studies in Media Communication, v. 7, n. 3, p. 261-274, 1990. <br /><br />D. Lotz, Amanda. Redesigning Women. University of Illinois Press, EUA, 2006.<br /><br />MARTIN, B. Difficult men: behind the scenes of a creative revolution: from The Sopranos and The Wire to Mad Men and Breaking Bad. Penguin, 2013.<br /><br />MITTELL, J. Narrative complexity in contemporary American television. Velvet Light Trap, v. 58, p. 29-40, 2006. <br /><br />______, J. Television and American Culture. Oxford University Press, USA, 2009.<br /><br /> ______, J. Lengthy Interactions with Hideous Men: Walter White and the Serial Poetics of Television Anti-Heroes. In: Storytelling in the Media Convergence Age. Palgrave Macmillan UK, 2015a, p. 74-92. <br /><br />______, J. AnTENNA, UnREAL: Anti-Heroes, Genre and Legitimation. Antenna. 2015b. Disponível em: < http://migre.me/w1Ilj>. Acesso em: 30 mar. 2017.<br /><br />SMITH, M. Engaging characters: Fiction, emotion, and the cinema. Oxford: Clarendon Press, 1995.</span><span><br /><br />______, M. Gangsters, cannibals, aesthetes, or apparently perverse allegiances. Passionate views: Film, cognition, and emotion, 1999, p. 217-38. <br /><br />VAAGE, M. B. Blinded by Familiarity: Partiality, Morality and Engagement in Television Series. In NANNICELLI, T.; TABERHAM, P. (Eds.) Cognitive Media Theory, New York, Routledge, 2014, p. 268–284.<br /><br />VERMEULE, B. Why do we care about literary characters? JHU Press, 2010.</span></span></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5W6HXCnCDb4SbZovjI3dlecQeUqh1Mo77Xa8eV4R0BFueFwZgwL-nWI-faCfDgcuLVvlv5k1TWv1YtyL2Qs1L81WWbHDQ_NlgjYh-hs9ReT0_4LIZqEVL31CJrfESh0ObXge002dUFUg/s500/Card+MARIANA+FLORIANO.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: inherit;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="500" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5W6HXCnCDb4SbZovjI3dlecQeUqh1Mo77Xa8eV4R0BFueFwZgwL-nWI-faCfDgcuLVvlv5k1TWv1YtyL2Qs1L81WWbHDQ_NlgjYh-hs9ReT0_4LIZqEVL31CJrfESh0ObXge002dUFUg/s320/Card+MARIANA+FLORIANO.jpeg" width="320" /></span></a></div><br /></div></span></div></div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-3402709870924173942021-06-13T17:01:00.003-07:002021-07-06T09:57:27.166-07:00Dattebayo! A Cultura de Fãs de Naruto <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://37.media.tumblr.com/tumblr_lljb0lJB2M1qktfddo1_r1_500.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="275" data-original-width="500" height="220" src="http://37.media.tumblr.com/tumblr_lljb0lJB2M1qktfddo1_r1_500.gif" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os estudos realizados entre 1970 e 1980 analisavam as práticas da cultura de fãs a partir de uma perspectiva em que o público ávido era visto como imaturo, acrítico e incapaz de separar a fantasia da realidade. Lançado em 1992, o livro Invasores do Texto (“Textual Poachers: Television Fans & Participatory Culture”), Henry Jenkins, teve um papel fundamental na quebra dessa estigmatização do fã. Posteriormente, as segunda e terceira onda dos estudos reforçavam e ampliavam a abordagem Jenkins (2015), explorando e aprofundando o caráter crítico e criativo das práticas da cultura de fãs.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“Cultura de fãs” é um termo utilizado para identificar fãs de produtos culturais, que criam novos conteúdos dessas obras sem se preocupar com restrições legais ou direitos autorais. O avanço tecnológico possibilitou que milhares de pessoas em torno do mundo criassem diversas formas de expressão, linguagem e interação com base em diversas áreas de entretenimento como cinema, livros, música, animes e mangás. A partir deste contexto, Bennett (2014) ressalta quatro pontos, no âmbito da cultura de fãs, que ganharam novas possibilidades na cultura da convergência, são eles: a comunicação, a criatividade, o conhecimento e o poder organizacional e cívico.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">De acordo com Castanheira (2 kkkk 012) a cultura de fãs de animes e mangás, era muito restrita ao seu país de origem, o Japão, que possui uma grande indústria de produção que atinge distintas faixas etárias, e engloba diversos tipos de pessoas e classes sociais. No entanto, aqueles produtos antes restritos apenas aos japoneses, passaram a ganhar grande popularidade com a chegada da Internet. O atual ecossistema de conectividade facilitou o acesso e o compartilhamento desses conteúdos que puderam, por exemplo, ser traduzidos para vários idiomas (CASTANHEIRA, 2012)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Naruto é um anime e mangá japonês criado pelo autor Masashi Kishimoto. Seu mangá foi lançado pela editora Shueisha, na Weekly Shounen Jump, em 1999, e começou a ser exibido em anime na televisão japonesa pela emissora TV Tokyo em 3 de outubro de 2002, sendo transmitida no Brasil pela Cartoon Network e no SBT em 2007. A obra escrita por Kishimoto conta a história do ninja Naruto Uzumaki habitante da Vila da Folha que sonha em se tornar o próximo Hokage, o maior ninja e governante de sua vila. O personagem conta com a ajuda de seus amigos Sakura Haruno, Sasuke Uchiha e do professor Kakashi Hatake para enfrentar grandes vilões, proteger a vila e realizar seu sonho. O universo ficcional encerrou em 2017 com 72 volumes em mangá e 720 episódios em anime, além de 11 filmes e especiais. Abrindo espaço para uma nova fase da obra que traz o filho do protagonista Naruto, Boruto, como arco principal da nova geração.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://coisasdojapao.com/wp-content/uploads/2017/04/capanaruto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="267" src="https://coisasdojapao.com/wp-content/uploads/2017/04/capanaruto.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A popularidade do ninja se deu principalmente com ajuda dos fãs que se identificam com a história do protagonista, impulsionando a criação de conteúdo sobre os personagens da obra. Naruto é composto por diversos personagens complexos, que fazem com que muitos fãs se apeguem em suas histórias e conflitos pessoais. Apesar de ser voltada para um público masculino, a obra apresenta uma representatividade feminina forte, com personagens poderosas e bem construídas como a personagem Sakura Haruno. Este aspecto atrai o público feminino, além de inspirar e passar valores como da amizade, lealdade, coragem e força de vontade, que acabam ajudando pessoas em torno do mundo. Dessa forma, o sucesso de Naruto é evidente, fazendo com que o fandom seja um dos maiores do mundo dos animes criando oportunidades de produção desde fanarts, fanfics até grandes produções audiovisuais como animações, curtas em live-action e apresentações de musicais, teatros e programas de TV.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Segundo Bennett (2014) o conhecimento compartilhado é uma das principais características da cultura de fãs. Em Naruto, o ponto destacado pela autora pode ser observado na criação de conteúdos coletivos, assim como a antecipação e proteção de informações, muito comum nos lançamentos de episódios de animes ou dos novos capítulos dos mangás. Atualmente, as principais produções de fãs de animes e mangás estão em sites especializados, Wikis, blogs, canais no YouTube e nas redes sociais. As wikis, como a Naruto Wiki: A Grande Enciclopédia Ninja, os fãs trabalham coletivamente catalogando e agrupando todo tipo de conhecimento individual sobre a obra e criam um grande fórum com informações, o que reforça a ideia da inteligência coletiva.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><img height="251" src="https://lh3.googleusercontent.com/jU7COSY4kb9y6PtX_1mTYEa2sxzRQFu2U9WahMXLvYByacqiHzK0zkpYXcgjJ12xU7MxleX85A4ZsuxbzGWcsT31uYWYFzXSniYg2xvTpJL5wy-OwEDXHAV7b6lguE4fe5yAlk8M=w543-h251" width="543" /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://naruto.fandom.com/pt-br/wiki/Wiki_Naruto">Wiki Naruto</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Outra característica importante abordada por Bennett (2014) é a criatividade. Neste contexto, os fãs apresentam a capacidade de criar diversos conteúdos tais como músicas, desenhos, histórias, além de produções coletivas como legendas e traduções. Naruto é um dos temas mais utilizados para criação de fanfics, apresentando ramificações focadas nos casais da história que não são muito explorados na obra original, sendo essa de um gênero de luta e aventura que não se enquadra profundamente em romance. Na plataforma Spirit Fanfiction, no tópico de animes/mangás, Naruto está em primeiro lugar com mais de 75 mil histórias publicadas por fãs, podendo ser divididas em várias categorias, sejam elas, casais ou ships, personagens, classificação indicativa, atualização, comentários, favoritos, seguidores, popularidade, gêneros, além de ter a liberdade de escolher fanfics AU (Universo Alternativo) e universo original da obra podendo ser divididas em longfics, histórias longas com mais de 40 capítulos, shortfics, histórias de 20 ou menos capítulos e oneshots, histórias de capítulo único.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com o avanço da internet e das novas tecnologias, juntamente com o crescimento da popularidade das redes sociais, muitos escritores de fanfic passaram a utilizar desses meios para divulgar suas histórias. Nas fanfics de Naruto, as histórias mais populares são do ship SasuSaku que corresponde aos personagens Sasuke e Sakura, dois dos protagonistas da obra original.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os escritores das fanfics do tópico SasuSaku, como Plutoniana e Cereijinha famosas na plataforma Spirit Fanfiction, trazem um método que tem ficado bastante popular entre os fãs de Naruto e leitores de fanfic, ao criar playlists no Spotify para suas histórias, muitas vezes correspondentes com a personalidade dos personagens, criação de capas personalizadas, book trailers, montagem de cronograma para publicações, perfis no Twitter, Facebook e Instagram não só para divulgação como também, uma forma de interagir com seus leitores.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No entanto, o mundo das fanfics tem se expandido, com a chegada das Socmeds, uma união de social media em inglês, que correspondem a histórias de fãs feitas em formatos de redes sociais e publicadas nas próprias redes. As Socmeds consistem na criação de histórias feitas como posts de redes sociais, contadas por meio de memes, chats e interação dos personagens pelas plataformas sociais, tais histórias são em maioria montagens e postadas como se fossem threads tendo o Twitter atualmente como a rede social mais utilizada.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A comunicação abordada por Bennett (2014) sempre foi essencial para a cultura dos fãs. Porém, a contemporaneidade possibilitou que todo os conteúdos pudessem ser compartilhados de forma instantânea, além de permitir um contato mais direto dos fãs com criadores, roteiristas e produtores das obras. Na comunidade de fãs de Naruto, é comum o uso do Twitter para se comunicar com membros da equipe de produção da obra que se encontram ativos e em constante comunicação com o público nas redes sociais. Dentre eles possuem desenhistas e animadores como ChengXi Huang, escritores das novelas de Naruto como Jun Esaka e os próprios roteiristas da obra Boruto, Ukyo Kodachi e Honda Masaya.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os fãs começaram a utilizar as diversas plataformas digitais para homenagear a obra, desde a criação de fanarts, cosplay, transformações de maquiagem até animações e curtas em live-action que representam grandes lutas do mangá e do anime. As plataformas mais utilizadas atualmente são redes sociais como Instagram, Twitter, Facebook, TikTok e YouTube. Nas redes sociais, os fãs criam páginas de memes, ou hashtags de divulgação, trazem sorteios, edições, lives e parcerias. No entanto, são os YouTubers que mais auxiliam na popularização da obra ao criarem conteúdos completos e bem planejados que alcançam fãs no mundo todo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Dentre eles temos o canal Voice Makers que produz animações de conteúdo humorístico de Naruto, assim como uma redublagem dos episódios contendo milhões de visualizações no YouTube, assim como os canais do Tauz e 7minutoz que fazem rap com a história de cada um dos personagens de Naruto, e canais de animes como Fred Anime Whatever que produz reacts, comentários, análises e notícias dos animes.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://i.pinimg.com/originals/a7/61/d2/a761d207cc082a96243ae80be555582b.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="231" data-original-width="498" height="226" src="https://i.pinimg.com/originals/a7/61/d2/a761d207cc082a96243ae80be555582b.gif" width="487" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">O poder organizacional e cívico abordado por Bennett (2014) está relacionado com o ativismo, ou seja, a capacidade de mobilização dos fãs desde protestos, cancelamentos, questões cívicas até políticas. Alguns eventos e mobilizações de Naruto, por exemplo, se popularizaram pelo mundo chamando atenção até de famosos, um desses eventos é a Corrida Naruto realizada em várias partes do mundo contando com milhares de fãs da obra como participantes. O evento é uma corrida, onde todos os integrantes devem correr como os ninjas do anime Naruto com os braços para trás.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Toda a manifestação teve repercussão online e da imprensa sendo transmitida em canais de televisão pelo mundo, principalmente após a manifestação que reuniu mais de 2 milhões de pessoas nas redes sociais em 2019 ao organizarem uma Corrida Naruto na área 51 nos Estados Unidos após serem confirmados a aparição de OVNIS pela marinha americana, onde foram compartilhados memes sobre a invasão, e segundo a descrição do evento, poderiam ser evitadas se corressem mais rápido que as balas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/jOspuVRZWqvEzDQ28A/giphy.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="270" data-original-width="480" src="https://media.giphy.com/media/jOspuVRZWqvEzDQ28A/giphy.gif" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/JRlqKEzTDKci5JPcaL/giphy.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="226" data-original-width="480" src="https://media.giphy.com/media/JRlqKEzTDKci5JPcaL/giphy.gif" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;">Os mangás da obra Naruto chegaram no Brasil muito antes do anime estrear nas emissoras brasileiras. Os Scanlations e ficheiros são sites criados por fãs com o objetivo de traduzir os capítulos de mangás assim que são lançados no Japão. Desde que os animes e os mangás se popularizaram no país, a internet possibilitou que os fãs compartilhassem os conteúdos que antes eram restritos aos japoneses.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os mangás de Naruto eram lançados uma vez por semana no Japão, durante sua serialização. Dessa forma, muitos fãs se mobilizaram para trazer esses capítulos de forma rápida e traduzida para sua língua nativa por meio das Scanlations e ficheiros, que possuem apoio de fãs estrangeiros, staffs da obra ou donos de livrarias que têm fácil acesso aos capítulos lançados na nação japonesa, quem divulgam para essas comunidades algumas páginas como spoilers e, após o lançamento oficial, recebem o capítulo completo para tradução, muitas vezes usando as redes sociais como Twitter para divulgação, usufruindo de hashtags para o compartilhamento. Existem Scanlations em vários países com traduções em várias línguas que trabalham em união para divulgar pelos sites e redes sociais os capítulos da obra, tal prática exercida até hoje, por sites como NarutoSenpou ou Boruto Explorer que mesmo após o fim de Naruto, divulgam traduções da série atual da obra Naruto: Boruto Next Generations.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">No Brasil, a publicação oficial em volumes físicos de Naruto é feita pela Editora Panini desde 2007, possuindo atualmente 72 volumes já publicados em diversos estilos de reedição, como Naruto Pocket para bolso, Naruto Gold, que contém posters exclusivos da série, além de Databooks com informações essenciais dos personagens e novelas, todos também encontrados em sites, ficheiros e Scanlations. Atualmente, a editora oficial de Naruto, Shueisha, lançou um aplicativo chamado Manga Plus que possui todos os mangás da Shonen Jump para smartphones e tablets, porém ainda é restrito a poucas línguas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ao mesmo tempo em que a cultura de fãs possui pontos positivos, é notória a preocupação quanto aos direitos autorais do autor e o prejuízo das empresas que produzem os conteúdos e produtos oficiais da obra. No entanto, é importante ressaltar que grande parte da popularidade das obras é graças aos fãs, que mesmo produzindo e compartilhando conteúdos de uma forma não oficial, acabam fazendo com que milhares de pessoas tenham acesso facilitado e instantâneo àqueles conteúdos, em métodos mais rápidos e eficazes em expansão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/g4N6wTrf1v6yQ/giphy.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="269" data-original-width="477" src="https://media.giphy.com/media/g4N6wTrf1v6yQ/giphy.gif" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>REFERÊNCIAS</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">BENNETT, L. Tracing Textual Poachers: reflections on the development of fan studies and digital fandom. <b>Journal of Fandom Studies</b>, v. 2, n.1, p.5-20, 2014. Disponível em: <<a href="http://williamwolff.org/wp-content/uploads/2015/01/lbennett_1-libre.pdf">http://williamwolff.org/wp-content/uploads/2015/01/lbennett_1-libre.pdf</a>>. Acesso em: 26 mai. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">CASTANHEIRA, I. <b>Comunidade de Fãs e Formas de Expressão Online</b>: a Indústria do Anime e Mangá Japonês na Internet. 2012. 59f. Dissertação (Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação), Instituto Universitário de Lisboa, Lisboa, 2012. Disponível em: <https://bit.ly/3pJ6Ifb> Acesso: 26 mai. 2021.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JENKINS, H. <b>Invasores do Texto</b> - Fãs e cultura participativa. Rio de Janeiro: Marsupial Editora, 2015. Nova York: Routledge, 1992.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5sgj_K1geJSZtfXqlNFxafm5mUxs74MXKbTQNGKXqCC9alJEDLRyBynPInv4NPG7sTEUBGAIg4kE8-GYvg4ZdaFY2ElSCeS3xqvyQQe0Ewryn0Y0a0zgr9vhpIxJCFyqvJ6SPT2DAdfI/s500/perfil_mediabox.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="500" height="174" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5sgj_K1geJSZtfXqlNFxafm5mUxs74MXKbTQNGKXqCC9alJEDLRyBynPInv4NPG7sTEUBGAIg4kE8-GYvg4ZdaFY2ElSCeS3xqvyQQe0Ewryn0Y0a0zgr9vhpIxJCFyqvJ6SPT2DAdfI/w435-h174/perfil_mediabox.png" width="435" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><br /></div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6448538347865256027.post-49106676596510297742021-06-05T08:10:00.010-07:002022-02-02T08:58:33.749-08:00Quebrando a quarta parede com Fleabag e High Fidelity<div style="text-align: justify;">Ei, você! É você mesmo que está lendo este texto. Sabe aquele momento em que o personagem para de realizar a ação na cena e dirige a atenção diretamente para você, indagando ou explicando alguma situação, fazendo de tudo para chamar a sua atenção? Sim, ele está falando com você, espectador. E esse recurso é conhecido como a quebra da quarta parede.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Atualmente muitas produções audiovisuais estão apostando nesta técnica de <i>storytelling</i> para construir uma narrativa diferenciada e o resultado, na maioria das vezes, atrai a atenção do público e fideliza o comprometimento deste com a complexidade da trama. Como é o caso das séries <i>House of Cards</i> (2013 - 2018, Netflix), <i>Fleabag</i> (2016 - 2019, BBC/Amazon), <i>High Fidelity</i> (2020, Hulu) e <i>I May Destroy You</i> (2020, HBO/BBC).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Neste texto você irá entender o que é a quarta parede, por que quebrá-la e, claro, qual o motivo de tanto sucesso.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/fAc3ByGhVRn4qUul1s/giphy.gif"><img src="https://lh6.googleusercontent.com/1GBzuOf71QODtZ6WLtTB5HfVI_MsuDtF8QS9kV_qKbiwhCIGCoo8Z_u32FrA3EIAy3R9rrowjb-ujGNCXGM8b61oN-EcZBsEeYYK4j0WWJhsDYobTkl-_v6kB8XYf_UkbeZrVI-3" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Do teatro ao cinema ninguém vê a quarta parede!</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O termo ”quarta parede” surgiu no teatro com a ideia de criar uma realidade paralela. Isto é, consideraram que o palco possuía quatro dimensões, as três paredes sólidas representadas pelas laterais e o fundo do cenário e, uma quarta parede invisível que seria justamente essa divisão entre o público e os atores. Em um primeiro momento, a regra era ignorar essa parede invisível para reforçar a existência desse outro universo, no qual não existia contato entre os personagens e os espectadores. Em seguida essa técnica foi aplicada na literatura, no cinema e na ficção seriada. De acordo com Metz (1985), a quarta parede no cinema também deve ser ignorada para obter a separação desses dois mundos, o personagem deve construir a ideia da sua existência antes e para além da narrativa, criando assim a sensação de que o telespectador está vivenciando a situação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"></div><blockquote><div style="text-align: justify;">O cinema dá a impressão de que é a própria vida que vemos na tela, brigas verdadeiras, amores verdadeiros. Mesmo quando se trata de algo que sabemos não ser verdade, como o Pica-pau Amarelo ou O Mágico de Oz, ou um filme de ficção científica como 2001 ou Contatos Imediatos do Terceiro Grau, a imagem cinematográfica permite-nos assistir a essas fantasias como se fossem verdadeiras; ela confere realidade a essas fantasias. [grifos do autor] (BERNARDET, 2001, p.12 apud PICCININ; STEINDORFF, 2017)</div><div style="text-align: justify;"></div></blockquote><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A principal intenção ao invisibilizar a quarta parede é promover a identificação do público com os personagens e os acontecimentos da narrativa, como se fosse ele que estivesse passando por aqueles dilemas apresentados na tela. No momento em que o telespectador é movido para dentro do universo ficcional, se colocando no lugar do personagem - compreendendo os seus sentimentos e pensamentos -, acredita-se não ser necessário verbalizar essas informações na cena, já que o narratário é conduzido a sentir o que o personagem sente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Mas afinal, por que quebrar a quarta parede?</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Se distanciar das produções convencionais inovando na forma de contar histórias é um dos motivos que levam ao rompimento da quarta parede. Segundo Mittell (2012), às narrativas complexas geralmente rompem com a quarta parede, seja ela representada visualmente ou em uma referência direta (<i>Malcolm in the Middle, The Bernie Mac Show</i>) ou de maneira mais ambígua com voz over obscurecendo a separação entre o diegético e não-diegético (<i>Scrubs, Arrested Development</i>), colocando em destaque a própria quebra de convenções que promove.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As narrativas que utilizam esse recurso de <i>storytelling</i> tem em si mesma o seu referente, seja quando o personagem fala sobre suas questões psicológicas ou quando a voz over relata a cena. A quebra da quarta parede pode produzir diversos sentidos, o recurso pode ser usado para explorar o humor, dar um valor dramático ou irônico à ficção, humanizar o personagem, entre outras.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Além disso, a ausência de setas chamativas é um recurso utilizado na quebra da quarta parede para que o público produza sentido em cima do que está sendo exposto apenas para ele, completando assim a história. No momento em que o diálogo entre o narrador e o telespectador é estimulado, a série deixa um espaço intencionalmente não preenchido, ao mesmo tempo em que proporciona informações necessárias para que o próprio telespectador desenvolva diversas interpretações do conteúdo e preencha essa lacuna.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"></div><blockquote><div style="text-align: justify;">“A seta chamativa é uma paródia, claro, mas é simplesmente uma versão exagerada de um artifício que histórias populares usam o tempo todo. É uma espécie de cartaz narrativo, disposto convenientemente para ajudar o público a entender o que está acontecendo. Quando o vilão aparece pela primeira vez em um filme, surgindo das sombras com uma música atonal sinistra ao fundo – isso é uma seta chamativa que diz: “Bandido.” Quando um roteiro de ficção científica faz alguém que não é cientista entrar em um laboratório avançado e ficar perguntando aos cientistas o que é que eles estão fazendo com aquele acelerador de partículas – isso é uma seta chamativa que dá ao público justamente a informação necessária para entender a sequência do enredo. (“Aconteça o que acontecer, não derrame água nisso, ou você vai provocar uma explosão imensa!”) “ (JOHNSON, 2005, p. 34)</div><div style="text-align: justify;"></div></blockquote><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As setas chamativas servem como um guia narrativo, em sua ausência o espectador é incentivado a interpretar os sinais, abrindo espaço para ambiguidade, mistério e criatividade. Dessa maneira, as narrativas complexas se pautam no esforço analítico necessário para o entendimento da história e nesse quesito a quebra da quarta parede se posiciona muito bem.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em <i>House of Cards</i>¹ a ausência desse recurso pode ser observada na construção do personagem anti-herói Frank Underwood. Frank usa do rompimento da quarta parede para se tornar cúmplice do público, por meio de confissões sobre seus medos, comentários com seu verdadeiro ponto de vista sobre as situações e os demais personagens. Além do artifício de confiar no telespectador informações que não seriam bem vistas caso ele contasse para os outros personagens. Essa personalidade do narrador promove diferentes interpretações por parte do público, alguns questionam sua ética e outros admiram seu comportamento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/kCwOAiFe96wUg/giphy.gif"><img src="https://lh3.googleusercontent.com/IWGdtMYfnVI4vHA59JIjLyk4q7J5g8TEydz--hlT0gPG1vW9Nn8QXe37QW9kE96yauwuHxnkDlBlUKMAzmY7CyD3FSOUxI2qWGK62oTVR-s7c49voi8cj5pegCb_v31QxKYzvvXJ" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">De acordo com Steindorff (2015), o narrador promove diversas interações com o seu público, chamado de espectador ideal - aquele que compreende as informações destinadas exclusivamente a ele e utiliza disso para produção de sentido -, tais interações podem ser de forma diegética confessional e gestual.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"></div><blockquote><div style="text-align: justify;">“A categoria diegética trata-se de antecipações e lembranças de acontecimentos da diegese. Já a categoria confessional trata de emoções, segredos e juízos do narrador que são revelados somente ao espectador/ narratário. A categoria gestual, é aquela em que o narrador intradiegético utiliza apenas expressões faciais e gestos para comunicar alguma coisa ao espectador/narratário.” (PICCININ; STEINDORFF, 2017, p.7)</div><div style="text-align: justify;"></div></blockquote><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em relação a postura do espectador, notamos que essa se diferencia de apenas telespectador da narrativa, sem ser estimulado diretamente pela produção, para um participante ativo, que alcança um controle mais significativo da interpretação da história justamente por ter informações exclusivas que os próprios arcos narrativos não possuem. Dessa maneira, o telespectador passa a fazer parte da narrativa, sendo confidente do personagem e criando uma intimidade entre o narrador e o narratário.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os acontecimentos da trama são conduzidos ao espectador de forma direta por meio do narrador. Nesse sentido, o narrador interrompe com frequência a história para falar com seu público, independente da presença de outros personagens, muitas vezes com comentários sobre suas impressões a respeito daqueles personagens. O narrador parece saber bem o que o telespectador está pensando, além de mostrar o seu ponto de vista sem cortes, demonstrando que ele está no controle da narrativa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A criação de um mundo paralelo, no qual o narrador e o espectador dividem informações que somente eles têm acesso transformou a forma de produzir as narrativas. Ao longo das temporadas da série, o telespectador consegue captar rapidamente (e até antecipar) quando o personagem irá fazer um comentário para a câmera e obter uma melhor compreensão dos gestos que foram emitidos em determinado momento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Quebrando a quarta parede com <i>Fleabag</i> e <i>High Fidelity</i></b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Caro leitor, se você acha que o uso deste recurso nas ficções seriadas televisivas estadunidenses é algo recente, terei que refrescar sua memória. “Now this is a story all about how my life got flipped, turned upside down and I'd like to take a minute, just sit right there. I'll tell you how I became the prince of a town called Bel-Air...”, a letra icônica do seriado <i>Um Maluco no Pedaço</i> (1990 - 1996/ NBC) nos transporta para uma outra época, na qual nós telespectadores tínhamos uma relação de cumplicidade com o protagonista Will, interpretado por Will Smith, que contava as suas experiências na mansão em que morava com seus parentes, como se estivesse conversando com um amigo. O rompimento da quarta parede é usado em alguns momentos específicos para focar nas reações de Will e gerar uma situação cômica.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Outras produções que marcaram décadas usando o recurso foram <i>The Office</i> (2005 - 2013, NBC) e <i>Mr. Robot</i> (2015 - 2019, USA Network). A primeira constrói grande parte da sua narrativa usando o rompimento da quarta parede, por ser um mocumentário que acompanha o dia a dia dos funcionários da Dunder Mifflin, olhar para câmera se tornou um meio dos personagens demonstrarem desconforto com determinada situação. Dessa forma, em <i>The Office</i> todos os personagens trocam olhares com a câmera ou até mesmo falam com ela, isso acontece nas cenas das entrevistas com cada personagem para discutir os temas abordados no episódio. Já em <i>Mr. Robot</i> a quebra da quarta parede está relacionada com o <i>plot twist</i> da série. No começo da história o telespectador tem acesso a visão do protagonista e ao que este relata para seu público, no entanto, em um determinado momento descobrimos que todo enredo compartilhado até então era uma ilusão criada pelo Elliot (Rami Malek), como a relação do personagem com o telespectador sempre foi de confissão, ambos descobrem a verdade juntos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nos últimos anos, a quebra da quarta parede foi usada em diversas produções com protagonismo feminino. Neste texto vamos analisar a produção de sentido proposta pelo uso dessa técnica em duas séries que se enquadram em diferentes gêneros, com certeza você já assistiu ou ouviu falar de alguma!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>“He's a bit annoying , actually”, <i>Fleabag</i></b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/lnsExQFzLCYtlgjE3G/giphy.gif"><img src="https://lh4.googleusercontent.com/iZxTyo6cHS_e05AIPZEQu_OJyYjDXvj4EU4SGVCoVYR42O-t1KbYQ3yfUgZ30l7cwH0GDirAISt0TBP00TvaqSyI3BRNtgyuztqugb8xfa6uGmzEISNaKZy-bcx7QroTki5MXUGO" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Estava aqui pensando em como descreveria <i>Fleabag</i> para você, leitor que não assistiu a série, acho que as palavras original, carismática e sincera seriam bons adjetivos. O primeiro episódio foi ao ar no dia 21 de julho de 2016 e o último em 8 de abril de 2019, deixando alguns fãs satisfeitos com o momento em que o fim chegou, enquanto outros não se conformaram tão facilmente com o final do seriado. A história se desenvolve nos dilemas da protagonista que recebe o mesmo nome que a série <i>Fleabag</i> - cujo significado remete a algo negativo, em tradução livre “saco de pulgas”, que pode ser entendido por uma pessoa desagradavel - , lidar com o luto, solidão, expectativas do futuro, noção de sucesso e relacionamentos amorosos são algumas das temáticas trabalhadas na obra.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A narrativa nos transporta para dentro da mente de uma mulher inteligente, sexual, inquieta, engraçada, entre várias outras definições, que enfrenta diferentes obstáculos nos seus relacionamentos familiares, amorosos e nas amizades, desmistificando o papel da mulher na ficção seriada. Com autoria e atuação de Phoebe Waller Bridge, a série produzida para a BBC ganhou 6 Emmys - incluindo o de melhor série de comédia, melhor atriz e melhor roteiro de comédia - , no Brasil a trama pode ser assistida pelo streaming Amazon Prime Video.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://media.giphy.com/media/Z9PsiS1Sg88XvwGxdV/giphy.gif"><img src="https://lh6.googleusercontent.com/jmZWM7mBCsxAdushEv8x8L1fotkf0zIFFV3i46WUsVJOKFSGDxv1YF8Dn9kB0mcobMH9bJKzQA533U-XLXvE0nkrn2hEBt7lU6QNQ-Gp46iMCOYrx80Y-Xq1tFIwPe7w-TQOTNen" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A quebra da quarta parede é o grande destaque da série, pois ela promove o ritmo da história. Usada constantemente para transmitir os pensamentos e impressões da protagonista sobre os personagens e as situações, e também ajudando o telespectador a completar lacunas que ficam propositalmente soltas durante os episódios, como comentários nas cenas de <i>flashbacks</i> do que aconteceu com sua melhor amiga e sócia na cafeteria. O olhar de Fleabag para a câmera se tornou algo marcante, por meio dele a personagem transmite um sentimento ao mesmo tempo em que apenas com um olhar ela se comunica com o público e incentiva camadas interpretativas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A produção de sentidos varia entre o humor irônico e o drama, muito drama. As rápidas interações ocorrem de forma natural como, por exemplo, em uma conversa com a sua irmã a protagonista antecipa o que Claire irá dizer e, logo após confirma que estava certa. A produção se sustenta com muito diálogos e todos rápidos, precisos, intensos e cômicos. A personagem relata seu dia a dia se tornando cúmplice do telespectador que a esta altura já se identificou diversas vezes com ela e com as situações.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Novamente inovando, a 2° temporada de Fleabag adiciona uma nova camada ao rompimento da quarta parede, o personagem conhecido como “o padre” percebe que a protagonista está conversando com a câmera e tenta entrar no universo de intimidade dela com o telespectador, buscando entender o motivo dessa ação.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>Fleabag</i> conecta o personagem ao telespectador, como se fossem duas pessoas reais conversando. Promovendo diálogos que geram discussões e reflexões sobre questões de valores e ideologias importantes na sociedade, como o feminismo, religião e como lidar com o luto. O seriado cumpre uma função relevante na dramaturgia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>“Making a playlist is a delicate art. You get to use someone else's poetry to express how you feel”, <i>High Fidelity</i></b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://78.media.tumblr.com/ccbc28b69b22fa93f7e82482eda2001a/d746ba3020c16fd3-fe/s500x750/de166dbeac952e291db279eaeb1a011c95d2ee81.gifv"><img src="https://lh6.googleusercontent.com/Ua5H5XMBl3W4gqSExQS-7YDq9gWjPP5-mi7tv_4IJww0DEIP2LeswK6qxkNWaze-x-RmSVCcZrTJuOjJ1WxnqFt14VsLY6O8xs4yW_2IaIzSJcWlKcO5mOYeWnrSfsu4JdMdq3B8" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A primeira cena de <i>High Fidelity</i> já nos mostra duas coisas que podemos esperar da série, o diálogo da protagonista diretamente com o público e a partir deste primeiro contato descobrimos também a temática a ser explorada: a lista com os términos mais memoráveis - em ordem cronológica - de Rob (Zoë Kravitz). Com uma trilha sonora impecável, a série, baseada no livro homônimo de Nick Hornby, conta a história de Rob, dona de uma loja de discos de vinil no Brooklyn e apaixonada pelo universo musical. Ao longo dos 10 episódios conhecemos mais sobre o seu cotidiano, o qual ela mesma vai contando enquanto a acompanhamos no trabalho, saindo com os amigos e, claro, indo a encontros amorosos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A comédia romântica estreou em 2020, na plataforma Hulu nos Estados Unidos com distribuição no Brasil pelo serviço de streaming StarzPlay. Acompanhamos o amadurecimento dessa personagem feminina complexa, compartilhando de suas confusões, inseguranças, momentos de fragilidades, da forma mais sincera possível, ao mesmo tempo em que a vemos feliz com a sua carreira, com um bom gosto artístico, entre outras conquistas. A dramédia se sustenta com o apoio dos amigos de Rob, Cherise (Da'Vine Joy Randolph) e Simon (David H. Holmes), que divertem o público.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://i.pinimg.com/originals/2e/8d/5c/2e8d5cb073dbd4bd26f4a113ec472949.gif"><img src="https://lh4.googleusercontent.com/dbZkN9HTAB4xSf9PKb7z7jzrdpYpo3jgLO_osSCN0YcrioQUy3mgItHUKlQ7cN-Tg8VMz4qF0VrayVTwrjxdHgX4jmY74UWrm-BNS5ywGESobdbMRl_10QPSYgT03LeYDA-lzG-Q" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O rompimento da quarta parede ocorre desde o primeiro frame, com o seu 5° término, até o último, finalizando a temporada com Rob expressando seu sentimento a respeito do fim de seu 6° relacionamento. A narrativa usa o recurso para criar uma identificação do público com a personagem, o telespectador entra na mente da protagonista e compreende seus sentimentos e os motivos que a levaram a agir de uma determinada maneira.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Dessa forma, mergulhamos no top 5 das suas decepções amorosas, descobrindo como ela conheceu as pessoas, entendendo o tipo de relação que tinham até o rompimento e focando, principalmente, em como lidar com esse término. A conversa de Robyn com a câmera é o que mantém o telespectador atento e curioso para descobrir o desenrolar das histórias. Já deu para perceber que é uma trama sobre relacionamentos, né? A música e seu relacionamento com ela, eu diria, é como se fosse um personagem. Presente em todos os momentos, tristes, alegres, reflexivos, literalmente todos. Ouvir música, pensar nas letras e criar playlists são uma forma que a personagem encontra de conseguir expressar seus sentimentos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Bom, leitor, o texto vai chegando ao fim. Espero que você tenha se interessado por alguma das séries ou entendido um pouco sobre as funções da quebra da quarta parede, ou, ainda melhor, ambas as alternativas. Eu vou ficando por aqui e aguardo ansiosamente as próximas produções que seguirão com este formato e adicionarão novas camadas a esta técnica.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">¹ House of Cards é uma série estadunidense baseada no livro homônimo do escritor e político britânico Michael Dobbs. Frank Underwood é um político que deseja se tornar o Presidente dos Estados Unidos e para isso não mede esforços, passando por cima diversas vezes da ética.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Referências:</b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">JOHNSON, S. <b>Tudo que é ruim é bom para você</b>: como os games e a TV nos tornam mais inteligentes. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">PICCININ, F; STEINDORFF, G. <b>O narratário como confidente</b>: metaficção e a quebra da quarta parede em House of Cards. Linguagens, v. 11, n. 1, p. 148-160, 2017. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/317994737>.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">MITTELL, J. <b>Narrative Complexity in Contemporary American Television</b>. The Velvet Light Trap, n. 58, p. 29-40, 2006. Disponível em: <https://muse.jhu.edu/article/204769></div>Observatório da Qualidade no Audiovisualhttp://www.blogger.com/profile/13893119452938373890noreply@blogger.com0